“Sinto o coração pesado pela situação que se está a passar no mundo. Tu jogas um jogo de futebol e percebes o que se está a passar no mundo, com todas estas pessoas doentes e a morrer. Todas estas coisas em todo o lado e depois nós a jogar um jogo de futebol. É absurdo”, Nuno Espírito Santo.
Este deveria ser mais um fim de semana de manhã à noite para a secção de Desporto do Observador. Literalmente, de manhã à noite – na madrugada de domingo começava também a Fórmula 1 com o Grande Prémio da Austrália. E muitos jogos da NBA, daqueles que servem como última companhia antes de umas horas de descanso. Ah, e a decisiva jornada do Torneio das Seis Nações com Inglaterra e França na luta taco a taco. E futebol, muito futebol e um pouco mais de futebol porque além de jogos propícios a surpresas na Primeira Liga (Famalicão-FC Porto, Benfica-Tondela, V. Guimarães-Sporting e Santa Clara-Sp. Braga) havia encontros grandes como o Tottenham-Manchester United, a possibilidade de se fazer a festa em Liverpool pelo título e as últimas partidas dos oitavos da Champions e da Liga Europa. No final, até o Europeu de 2020, entre junho e julho, está em risco.
O surto de coronavírus, ou Covid-19, que entretanto subiu a pandemia global pela Organização Mundial de Saúde, mudou o mundo. Para onde e até quando, ninguém consegue prever.
Mas mudou. E o desporto não foi exceção. Aliás, pode servir até de exemplo paradigmático dos tempos que se vivem. Hoje não se escreve sobre jogos ou sobre demais eventos, escreve-se sobre as suas restrições e cancelamentos. Que, de forma mais ou menos célere, caem em catadupa, como se pode
ler no liveblog feito esta quinta-feira por uma extensa, sempre prestável e multidisciplinar equipa no Observador. A soma de provas deveria dar uma multiplicação de resultados; ao invés, há uma diminuição crescente de eventos e uma divisão de males em todos os países. É esta a atual matemática.
Quando esta
newsletter acabou de ser escrita, a jornada da Premier League estava muito, muito, muito tremida e a Bundesliga e da Ligue 1 iriam realizar-se à porta fechada.
Tudo o resto foi suspenso. Uma jornada, duas jornadas, por tempo indeterminado. Veja-se, por exemplo, o que aconteceu na NBA: o Oklahoma City Thunder-Utah Jazz foi cancelado depois do aquecimento dos jogadores, pouco mais de meia hora a seguir a recolherem aos balneários surgiu o anúncio aos espetadores, quando todos tinham saído do pavilhão
a organização informou que a competição estava suspensa após o primeiro resultado positivo de coronavírus de um jogador (Rudy Golbert – o mesmo que tinha gozado com as medidas preventivas tomadas 48 horas antes…), entretanto houve um segundo caso também dos Utah Jazz, neste caso de Donovan Mitchell.
Em Portugal ou em Espanha, nem foi preciso haver casos; em Itália, quando foram conhecidos os dois primeiros positivos, já estava tudo cancelado até abril.
Na próxima semana, é provável, quase inevitável, que
mais casos positivos de coronavírus apareçam, como na noite desta quinta-feira com
Mikel Arteta, treinador do Arsenal, depois de Rugani (central da Juventus) ou de Gabbiadini (avançado da Sampdória) – a que se juntou já de madrugada mais um jogador da Premier League, neste caso Hudson-Odoi, do Chelsea. Mas a frase em discurso direto supracitada resume tudo. E deve não só abrir como fechar esta
newsletter. Porque, de forma inevitável, esta será a realidade do mundo nos próximos tempos.
“Sinto o coração pesado pela situação que se está a passar no mundo. Tu jogas um jogo de futebol e percebes o que se está a passar no mundo, com todas estas pessoas doentes e a morrer. Todas estas coisas em todo o lado e depois nós a jogar um jogo de futebol. É absurdo”, Nuno Espírito Santo.