terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

DIA DE ENTRUDO (CARNAVAL) - 25 DE FEVEREIRO DE 2020

Entrudo

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entrudo, à semelhança de outras festividades cíclicas do calendário, como manifestação tipicamente carnavalesca, tem origem que remonta às festas imperiais da Antiguidade, mais concretamente nas Saturnalia, realizadas em Roma em louvor de Saturno (primitivo soberano dos deuses e depois importante divindade agrária), que decorriam entre o dia 17 e o dia 23 de Dezembro (no reinado de Júlio César), marcando o final do ano dos Romanos e o princípio de um novo ano agrícola.
Estas celebrações teriam o propósito de lembrar o tempo em que Saturno (expulso do Olimpo por seu filho Júpiter) veio habitar o Lácio – antiga região da Itália Central, hoje Roma –, onde fez florescer a paz, a abundância e a igualdade entre os homens.
Durante as Saturnais, os escravos tomavam o lugar dos senhores, vestiam como eles, satirizavam o seu comportamento ou as suas singularidades, e chegavam a ser servidos à mesa pelos próprios amos. Abolida, temporariamente, a diferença entre escravos e homens livres, uns e outros, nesta espécie de Carnaval pagão, jogavam, comiam e bebiam juntos, em alegre convívio.
Os combates em tempo de guerra eram suspensos, os presos amnistiados, as penas capitais adiadas, os tribunais fechavam e cessavam todas as hostilidades nas cercanias das fronteiras.
Festividades semelhantes tinham lugar na Grécia com o nome de Kronia, onde os escravos, tal como em Roma, usufruíam de um curto tempo de liberdade durante as celebrações. Posteriormente, os próprios reis e faraós eram substituídos por pessoas de classes muito humildes, ou de aparência grotesca, que tomavam, no espaço de alguns dias, o seu lugar, correspondendo este tempo ao rompimento com as regras estipuladas e vigentes.
Vamos encontrar também o Carnaval associado às Bacanais ou Grandes Dionisíacas (festa da terra, do vinho e das florestas), efectuadas em Roma e na Grécia em louvor de Baco ou Dioniso (com a prova do vinho novo), que decorriam nos três meses de Inverno, celebradas, principalmente, pelos camponeses, que se apresentavam mascarados durante as festividades e dançavam uma dança chamada "Conguita" que era tradição.
As Dionisíacas rurais contavam ainda com a exibição de danças, a cargo das bacantes (adoradoras do deus grego e romano do vinho), restando hoje, supostamente, dessas remotas festividades, os actuais cortejos (incluindo as procissões), acompanhados por música.
Daí, o Carnaval, conforme se supõe, ter sido, no seu início, tão-só uma manifestação de carácter processional ligada a vários rituais do final do Inverno e princípio da Primavera. Não se exclui ainda a hipótese de representar uma reminiscência das festividades consagradas a Ísis, a mais ilustre das deusas do Antigo Egipto, comemoradas no Outono e nos primeiros dias de Março, em Roma.
Adorada pelos Gregos e pelos Romanos, Ísis era considerada a deusa universal e suprema, a iniciadora, aquela que detinha o segredo da fecundidade, da vida, da morte e da ressurreição. Das cerimónias com as quais a celebravam, destacava-se a de lançar ao mar uma barcaça – o carrus navalis (carro naval) – repleta de oferendas, após ter sido abençoada por um sacerdote, tendo o ritual por objectivo a purificação e a fecundidade das terras.
A multidão assistia mascarada à partida da barca, prosseguindo depois em procissão pelas ruas, crente nos favores de Ísis, isto é, na generosidade da terra com o germinar das novas sementeiras e o provir de colheitas abundantes. O carrus navalis fazia-se representar nas procissões e nas mais diversas manifestações festivas, ficando o seu nome, com o passar do tempo, associado, com ou sem razão, ao do Carnaval.
Outra versão sobre a origem longínqua e pagã desta quadra é a de que remonta a outra das festas imperiais da antiga Roma: as Lupercais, consideradas das mais importantes do calendário romano, realizadas a 15 de Fevereiro, em louvor de Luperco ou Fauno, deus dos pastores e protector dos rebanhos contra os lobos, ao qual se associavam sua mulher, Fauna – indigitada pelos Romanos como «Boa Deusa», numa festa interdita aos homens –, e Ops, antiquíssima divindade sabina, perfilhada por Roma.
As Lupercais organizadas com o propósito de captar a simpatia dos lobos (lupercales), iniciavam-se com o sacrifício de cabras e bodes brancos, cuja carne era oferecida, simbolicamente, à loba que amamentou Rómulo e Remo (fundadores de Roma), e aos lobos para assegurar a sua inocuidade face aos rebanhos.
Na era cristã, a explicação etimológica para o termo «Carnaval» aponta para a palavra carnisvalerium (carnis de carne, valerium, de adeus), o que designaria o «adeus à carne» ou à «suspensão do seu consumo», em função da quadra seguinte: a Quaresma, em que a carne é abolida da alimentação na religião cristã.
A própria designação «Entrudo» – ainda muito utilizada entre nós, principalmente no meio rural –, do latim introitus (intróito), apresenta igual significado: o de introduzir, dar entrada, começo ou anunciar a aproximação da quadra quaresmal. Em Portugal, uma das primeiras referências ao Entrudo, encontra-se num documento datado de 1252, no reinado de D. Afonso III, embora não propriamente relacionado com as festividades carnavalescas, mas com o calendário religioso.
Na época de D. Sebastião, são várias as menções que salientam as brincadeiras do Entrudo, entre elas a do «lançamento de farelos», que nem sempre acabavam bem.«Entrudos» (ou «entruidos») é também o nome atribuído em diversos lugares aos próprios mascarados, consoante as regiões de Portugal.
In “Festas e Tradições Portuguesas”, Vol.II Ed. Círculo de leitores
O costume de se brincar no período do carnaval foi introduzido no Brasil pelos portugueses, provavelmente no século XVI, com o nome de 'Entrudo.
Já na Idade Média, costumava-se comemorar o período carnavalesco em Portugal com toda uma série de brincadeiras que variavam de aldeia para aldeia. Em algumas notava-se a presença de grandes bonecos, chamados genericamente de "entrudos".
A denominação genérica de Entrudo, entretanto, engloba toda uma variedade de brincadeiras dispersas no tempo e no espaço. Aquilo que a maioria das obras descreve como Entrudo, é apenas a forma que essas brincadeiras adquiriram a partir de finais do século XVIII na cidade do Rio de Janeiro. Mesmo aí, a brincadeira não se resumia a uma única forma. Havia, na verdade vários tipos de diversões que se modificavam de acordo com o local e com os grupos sociais envolvidos.
Atualmente, como explica o pesquisador Felipe Ferreira, em O livro de ouro do carnaval brasileiro, entende-se que existiam, no Rio de Janeiro do início do século XIX, duas grandes categorias de Entrudo: O Entrudo Familiar e o Entrudo Popular.

Os diferentes "Entrudos"[editar | editar código-fonte]

O Entrudo na Família[editar | editar código-fonte]

Jogos durante o entrudo no Rio de JaneiroAquarela de Augustus Earle, c.1822
  • Acontecia dentro das casas senhoriais dos principais centros urbanos. Era caracterizado pelo caráter delicado e convivial e pela presença dos limões de cheiro que os jovens lançavam entre si com o intuito de estabelecer laços sociais mais intensos entre as famílias.

O Entrudo Popular[editar | editar código-fonte]

  • Era a brincadeira violenta e grosseira que ocorria nas ruas das cidades. Seus principais autores eram os escravos e a população das ruas, e sua principal característica era o lançamento mútuo de todo tipo de líquidos (até sêmen ou urina) ou quaisquer pós que estivessem disponíveis. Além de que se os brancos também brincassem, os negros que estavam participando não podiam "melá-los" pois poderiam ser presos.
Entre esses dois extremos havia toda uma variedade de "Entrudos" que envolviam em maior ou menor grau grande parte da população dos principais centros urbanos do país.

A batalha contra o Entrudo[editar | editar código-fonte]

A partir dos anos 1830, uma série de proibições se sucedem na tentativa, sempre infrutífera, de acabar com a festa grosseira.
Combatido como jogo selvagem, o entrudo continuou a existir com esse nome até as primeiras décadas do século XX e existe até hoje no espírito das brincadeiras carnavalescas mais agressivas, como a "pipoca" do carnaval baiano ou o "mela-mela" da folia de Olinda.
O Entrudo de ARRAIAS-TO
Atualmente o Entrudo, mais próximo de suas origens, é o que sobrevive na cidade de Arraias, estado do Tocantins, a 446 km de Palmas. A presença do Entrudo no Carnaval arraiano é tradição antiga, que vem desde o século XVIII, caracterizado pela alegria, espontaneidade, pacífico, onde participam crianças, jovens, adultos e terceira idade; acontece com o envolvimento quase total da comunidade local.
A festa é conhecida regionalmente como o carnaval mais animado do estado do Tocantins, os blocos são formados por amigos, familiares, conhecidos e convidados - coordenados pela Comissão local organizadora do Entrudo. A cada dia de carnaval a Comissão e todos os blocos participantes iniciam marcha carnavalesca que sai por volta das 7h da manhã da casa do folião responsável por um dos blocos integrantes do Entrudo.
A tradição preconiza que todos os participantes da marcha devem ser molhados com água, antes do início da mesma. Após atendido este quesito, os carnavalescos tomam caldo quente, geralmente feito a base de mandioca e carne para aquecer o corpo, oferecido pelo dono da casa; em seguida, a marcha percorre o itinerário do entrudo, passa pelas casas dos foliões responsáveis pelos demais blocos, e também pelos principais pontos históricos da cidade até finalizar na Praça da Matriz de Arraias, onde junta-se ao grande baile público de carnaval. Durante toda a festa é comum observar o ato de jogar água em quaisquer pessoas presentes, conhecidas ou não. Sendo que tanto os locais, quanto visitantes estão com o espírito aberto para a brincadeira, sem direito à apelação. Durante toda a marcha há o consumo de bebida e farofa. Interessante lembrar que toda essa marcha termina por volta das 5 ou 6h da tarde, e que o percurso é composto por ladeiras sinuosas e estreitas com piso tipo paralelepípedo.
Há vários blocos do Entrudo, mas nem todos participam da marcha, sendo que alguns apenas esperam a chegada do Entrudo na Praça da Matriz ou mantém suas atividades concentradas no centro da cidade.
Alguns blocos do Entrudo arraiano são: Godelas de Lucim; Comissão do Entrudo; Alvorada; CPI da Cevada; Soberanos e muitos outros.
A festa é muito divertida, mas não esqueça de levar seu pequeno balde com alça (para carregar e jogar água nos demais), a pequena sombrinha colorida (que imita aquela utilizado no frevo), roupa leve que seque rápido, e calçado que não acumule água e aguente o percurso do Entrudo, sem prejudicar os pés.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

CESÁRIO VERDE - POETA - NASCEU EM 1855 - 25 DE FEVEREIRO DE 2020

Cesário Verde

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Cesário Verde
Nome completoJosé Joaquim Cesário Verde
Nascimento25 de fevereiro de 1855
MadalenaLisboaReino de Portugal Portugal
Morte19 de julho de 1886 (31 anos)
LumiarLisboaReino de Portugal Portugal
ResidênciaLinda-a-PastoraLisboa
NacionalidadePortuguesa
OcupaçãoEscritor, comerciante
Género literárioPoesia
Magnum opusO Livro de Cesário Verde
Carreira musical
Período musicalSéc. XIX
Assinatura
AssinaturaCesárioVerde.svg
José Joaquim Cesário Verde (LisboaMadalena25 de Fevereiro de 1855 — LisboaLumiar19 de Julho de 1886) foi um poeta português, sendo considerado um dos pioneiros, precursores da poesia que seria feita em Portugal no século XX.

Vida e Obra

Assento de baptismo de José Joaquim Cesário Verde, datado de 2 de Junho de 1855. Paróquia de MadalenaLisboa.
Filho do lavrador e abastado comerciante e ferrageiro José Anastácio Verde (1813-1888) e de sua mulher Maria da Piedade David dos Santos (1821-1890), aos 18 anos de idade Cesário matriculou-se no Curso Superior de Letras, mas apenas o frequentou alguns meses. Ali conheceu Silva Pinto, que ficou seu amigo para o resto da vida. Dividia-se entre a produção de poesias publicadas em jornais, destacando-se o semanário Branco e Negro [1] (1896-1898) e as revistas O Occidente [2] (1878-1915), Renascença [3] (1878-1879) e no periódico O Azeitonense [4] (1919-1922), e as actividades comerciais na Rua dos Fanqueiros herdadas do pai, descendente de comerciantes genoveses de nome Verdi. Era sobrinho-neto de João Baptista Verde e de D. Mariana Benedita Victória Verde, que foi casada com o pintor Domingos Sequeira.
Em 1877 começou a apresentar sintomas de tuberculose pulmonar, doença que já tinha levado a sua irmã Maria Júlia Verde (1853-1872) e posteriormente seu irmão Joaquim Tomás Verde (1858-1882). Estas mortes inspiraram contudo um de seus principais poemas, Nós (1884). Tinha mais um irmão, Jorge dos Santos Verde (1861-1941), que casou com uma das filhas de Manuel Pinheiro Chagas, e uma irmã, Adelaide Eufémia Verde (1856-1859), falecida de anginas.
Tenta curar-se da tuberculose mas, sem sucesso, vem a falecer no dia 19 de Julho de 1886, no lugar do Paço do Lumiar, aos 31 anos, sendo sepultado em jazigo no Cemitério dos Prazeres. No ano seguinte Silva Pinto organiza O Livro de Cesário Verde, compilação das suas poesias publicada em 1901. O seu pai faleceria dois anos depois, em 30 de Setembro de 1888, aos 75 anos, em Linda-a-Pastora, e a mãe em 26 de Janeiro de 1890, aos 68 anos, na Lapa.
No seu estilo delicado, Cesário empregou técnicas impressionistas, com extrema sensibilidade ao retratar a cidade e o campo, que são os seus cenários predilectos. Evitou o lirismo tradicional, expressando-se de uma forma mais natural.
Em 1933 a Câmara Municipal de Lisboa homenageou o poeta dando o seu nome a uma rua na Penha de França.[5]

O Binómio cidade/campo

A supremacia exercida pela cidade sobre o campo leva o poeta a tratar estes dois espaços em termos dicotómicos. O contacto com o campo na sua infância determina a visão que dele nos dá e a sua preferência. Ao contrário de outros poetas anteriores, o campo não tem um aspecto idílico, paradisíaco, bucólico, susceptível de devaneio poético, mas sim um espaço real, concreto, autêntico, que lhe confere liberdade. O campo é um espaço de vitalidade, alegria, beleza, vida saudável… Na cidade, o ambiente físico, cheio de contrastes, apresenta ruas macadamizadas/esburacadas, casas apalaçadas (habitadas pelos burgueses e pelos ociosos)/quintalórios velhos, edifícios cinzentos e sujos… O ambiente humano é caracterizado pelos calceteiros, cuja coluna nunca se endireita, pelos padeiros cobertos de farinha, pelas vendedeiras enfezadas, pelas engomadeiras tísicas, pelas burguesinhas… É neste sentido que podemos reconhecer a capacidade de Cesário Verde em trazer para a poesia o real quotidiano do homem citadino.
Ao ler-se o poema "De Tarde", pertencente a "Em Petiz", é visível o tom irónico em relação aos citadinos, mas onde o tom eufórico também sobressai, ao percorrer os lugares campestres ao lado da sua "companheira". A preferência do poeta pelo campo está expressa nos poemas "De Verão" e "Nós" (o mais longo), onde desaparecem a aspereza e a doença ligadas à vida citadina e surge o elogio ao ambiente campesino. A arte de Cesário Verde é, pois, reveladora de uma preocupação social e intervém criticamente. O campo oferece ao poeta uma lição de vida multifacetada (por exemplo, os camponeses são retratados no seu trabalho diário) que ele transmite com objectividade e realismo. Trata-se, pois, de uma visão concreta do campo e não da abstracção da Natureza.
A força inspiradora de Cesário é a terra-mãe, sendo nela que Cesário encontra os seus temas. É por isto que, habitualmente, se associa o poeta ao mito de Anteu.

A mulher em Cesário Verde

A vendedeira de "Num Bairro Moderno" (1877) representa a mulher do campo, desgraçada, trabalhadora e inocente. ("Rapariga com cesto ao ombro", por Teresa de Saldanha).
Milady de "Deslumbramentos" é um tipo feminino calculista, destrutivo e frívolo, associado com a aristocracia e a sociedade citadina ("Retrato equestre de Ana de Áustria", por Jean de Saint-Igny).
Deambulando pelos dois espaços, depara com dois tipos de mulher, que estão articulados com os locais. A cidade maldita surge associada à mulher fatal, frívola, calculista, madura, destrutiva, dominadora, sem sentimentos. Em contraste com esta mulher predadora, surge um tipo feminino, por exemplo em "A Débil", que é o oposto complementar das esplêndidas aristocráticas, presentes em poemas como "Deslumbramentos" e "Vaidosa". Essa mulher é frágil, terna, ingénua e despretensiosa.
A mulher (desfavorecida) do campo é-nos mostrada numa perspetiva diferente. A vendedora em "Num Bairro Moderno", ou a engomadeira em "Contrariedades" mostram as características da mulher do povo no campo. Sempre feias, pobres e por vezes doentes, ou em esforço físico, as mulheres trabalhadoras são objecto da admiração de Cesário.
"Depois de referir o cenário geral da acção em "Num Bairro Moderno", os olhos do sujeito poético retêm, como uma objectiva, um elemento novo - a vendedeira. A sua caracterização é de uma duplicidade contrastante: ela é pobre, anémica, feia, veste mal e tem de trabalhar para sobreviver, mas aparece envolvida numa força quase épica, de "peito erguido" e "pulsos nas ilhargas", encarnando, pela sua castidade, a força genuína do povo trabalhador, que Cesário tão bem defende."

A poética de Cesário e as escolas literárias

Podemos afirmar a sua aproximação a várias estéticas, embora seja visível a proximidade com Baudelaire, por retratar realidades quotidianas, o que o aproxima dos poetas portugueses do século XX e o fez incompreendido em seu tempo.
Embora Cesário Verde não pudesse ser enquadrado em nenhuma das escolas poéticas dos países de língua portuguesa da época podemos dizer que ele não poderia não estar relacionado às estéticas do seu tempo de alguma forma. Se se tiver em conta o interesse pela captação do real, por exemplo, ao considerarmos o tipo de cena a serem retratadas pelas quais o poeta optou, seus quadros e figuras citadinos, concretos, plásticos e coloridos, é fácil detectar aqui a afinidade ao Realismo. A ligação aos ideais do Naturalismo verifica-se na medida em que o meio surge determinante dos comportamentos. Se considerarmos o facto do poeta figurar plasticamente uma cena, poderia aproximá-lo, inclusive, do Parnasianismo. Porém, sua obra ainda tem um certo sentimentalismo que remete ao Romantismo e as imagens retratadas, muitas vezes de personagens doentes ou pobres, jamais poderiam ser retratadas por um parnasiano.
Aproxima-se dos impressionistas que captam a realidade mas que a retratam já filtrada pelas percepções, o que, definitivamente, o inscreve no quadro dos poetas fundadores da modernidade. Ecos de sua obra podem ser vistos nos poemas de Fernando Pessoa, parecendo Cesário Verde o predecessor do heterónimo Álvaro de Campos de Opiário e sendo citado várias vezes por Alberto Caeiro e Bernardo Soares.

Importância da representação do quotidiano na poesia de Cesário Verde

Cesário Verde por Columbano, reproduzido em O Livro de Cesário Verde.
A observação das situações do quotidiano é o ponto de partida preferencial para os poemas de Cesário Verde. É o mundo real, rotineiro, que é retratado e analisado, servindo de suporte às ideias e sentimentos do poeta.
Os sujeitos poéticos criados por Cesário Verde são atentos ao que se passa. Aquilo que para outro transeunte seria uma banalidade é, na perspectiva do poeta, parte de um quadro do real. Veja-se que antes de se focar numa situação particular, que prenda a atenção, o poeta dá-nos uma visão geral do ambiente: "Dez horas da manhã, os transparentes/Matizam uma casa apalaçada(…)E fere a vista, com brancuras quentes, a larga rua macadamizada" (em "Num bairro moderno"). Mas, apesar de existirem situações particulares, estas poderiam ser integradas no movimento quotidiano de uma rua de uma cidade onde "(…) rota, pequenina azafamada,/Notei de costas uma rapariga" (em "Num bairro moderno"), mas que para o sujeito poético tomam uma nova dimensão. Um processo análogo pode verificar-se em "Cristalizações", onde as primeiras estrofes constituem uma visão panorâmica, para se focar mais à frente nos "calceteiros" ou na "actrizita". É essencialmente destacado o quotidiano urbano, onde o sujeito poético deambula, sendo o poema "O sentimento de um ocidental" aquele em que é mais clara a descrição do dia-a-dia como ponto de partida para a revolta contra a vivência desumana da cidade. Aliás, Cesário Verde está longe de se deixar na passividade da observação casual, e repara naquilo, que tendo-se tornado parte de cada dia, é um factor de animalização e doença. Outras vezes, partindo da realidade, transfigura-a, num impulso salutar, em que tudo parece tomar formas orgânicas e vivas em oposição ao emparedamento das ruas da cidade: "Se eu transformasse os simples vegetais, num ser humano que se mova e exista/Cheio de belas proporções carnais?!".

Linguagem e estilo

Eis algumas das características estilísticas e linguísticas: vocabulário objectivo; imagens extremamente visuais de modo a dar uma dimensão realista do mundo (daí poeta-pintor-calceteiro b ); pormenor descritivo; mistura o físico e o moral; combina sensações; usa sinestesias, metáforas, comparações, hipálage; emprega dois ou mais adjectivos a qualificar o mesmo substantivo; quadras, em versos decassilábicos ou versos alexandrinos; utilização do "enjambement".

Ver também

Ligações externas

Bibliografia

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CommonsImagens e media no Commons
  • O Livro de Cesário Verde, Lisboa: Elzeveriana, 1887.
  • Helder Macedo, Nós, uma leitura de Cesário Verde, Lisboa: Plátano, 1975.
  • Cesário Verde, Obra Completa, Lisboa: Livros Horizonte, 1983.
  • João Pinto de Figueiredo, A vida de Cesário Verde, Lisboa: Presença, 1986.
  • Fernando Cabral Martins, Cesário Verde ou A Transformação do Mundo, Lisboa: Comunicação, 1988.
  • Fátima Rodrigues & Maria Paula Morão, Cesário Verde: recepção oitocentista e poética, Lisboa: Cosmos, 1998.
  • Cesário Verde, Poesia Completa, Lisboa: Dom Quixote, 2001.
  • Helena Carvalhão Buescu & Maria Paula Morão (eds.), Cesário Verde: visões de artista, Porto: Campo das Letras, 2007.

Referências

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