sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

FERNANDO NAMORA - MÉDICO E ESCRITOR - MORREU EM 1989 - 31 DE JANEIRO DE 2020

Fernando Namora

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Fernando Namora
Fernando Namora
Nome completoFernando Gonçalves Namora
Nascimento15 de abril de 1919
Condeixa-a-NovaPortugal
Morte31 de janeiro de 1989 (69 anos)
LisboaPortugal
NacionalidadePortugal Português
OcupaçãoEscritor ,médico
PrémiosPrémio Ricardo Malheiros (1953)
Medalha de Ouro da "Societé d'Encouragement au Progrés" (1979)
Prémio D. Dinis (1982)
Magnum opusDeuses e demónios da medicina
Assinatura
Assinatura Fernando Namora.svg
Fernando Gonçalves Namora GO SE • GCIH • GCL (Condeixa-a-NovaCondeixa-a-Nova15 de abril de 1919 – Lisboa31 de janeiro de 1989) foi um médico e escritor português, autor duma extensa obra, das mais divulgadas e traduzidas nos anos 70 e 80.[1] Existe uma escola secundária com o seu nome em Condeixa-a-Nova.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Licenciado em Medicina (1942) pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, pertenceu à geração de 40, grupo literário que reuniu personalidades marcantes como Carlos de OliveiraMário DionísioJoaquim Namorado ou João José Cochofel, moldando-o, certamente, como homem, à semelhança do exercício da profissão médica, primeiro na sua terra natal depois nas regiões da Beira Baixa e Alentejo, em locais como TinalhasMonsanto e Pavia, até que, em 1951, acabaria por se instalar em Lisboa - onde, curiosamente, muito jovem estudara no Liceu Camões -, como médico assistente do Instituto Português de Oncologia.[2]
O seu volume de estreia foi Relevos (1937), livro de poesia, porventura sob a influência de Afonso Duarte e do grupo da Presença. Mas já publicara em conjunto com Carlos de Oliveira e Artur Varela, um pequeno livro de contos Cabeças de Barro. Em (1938) surge o seu primeiro romance As Sete Partidas do Mundo que viria a ser galardoado com o Prémio Almeida Garrett no mesmo ano em que recebe o Prémio Mestre António Augusto Gonçalves, de artes plásticas - na categoria de pintura. Ainda estudante e com outros companheiros de geração funda a revista Altitude e envolve-se ativamente no projeto do Novo Cancioneiro (1941), coleção poética de 10 volumes que se inicia com o seu livro-poema Terra, assinalando[3] o advento do neo-realismo, tendo esta iniciativa coletiva, nascida nas tertúlias de Coimbra, de João José Cochofel, demarcado esse ponto de viragem na literatura portuguesa. Na mesma linha estética, embora em ficção, é lançada a coleção dos Novos Prosadores (1943), pela Coimbra Editora, reunindo os romances Fogo na Noite Escura de Namora, Casa na Duna de Carlos de OliveiraOnde Tudo Foi Morrendo de Vergílio FerreiraNevoeiro de Mário Braga ou O Dia Cinzento de Mário Dionísio, entre outros.[4]
Com uma obra literária que se desenvolve ao longo de cinco décadas é de salientar a sua precoce vocação artística, de feição naturalista e poética, tal como a importância do período de formação em Coimbra, mais as suas tertúlias e movimentos estudantis. Ao dar-se o amadurecimento estético do neo-realismo e coincidente com as vivências dos anos 50, enveredaria por novos caminhos, através de uma interpretação pessoal da narrativa, que o levaria a situar-se entre a ficção e a análise social. Os muitos textos que escreveu, nos diferentes momentos ou fases da vida literária, apresentam retratos com aspetos de picaresco, observações naturalistas e algum existencialismo. Independentemente do enquadramento, Namora foi um escritor dotado de uma profunda capacidade de análise psicológica, inseparável de uma grande sensibilidade e linguagem poética.[3] Escreveu, para além de obras de poesia e romancescontos, memórias e impressões de viagem, com destaque para os cadernos de um escritor, que proporcionam um diálogo vivo com o leitor, a abertura a outras culturas, terras e gentes, a visão de um mundo em transformação, de uma realidade emergente, expressa em Estamos no Vento (Fevereiro de 1974).
Entre os muitos títulos que publica em prosa contam-se Fogo na Noite Escura (1943), Casa da Malta (1945), As Minas de S. Francisco (1946), (capítulo inédito publicado no nº 16 da revista Mundo Literário [5] existente entre 1946 e 1948), Retalhos da Vida de um Médico (1949 e 1963), A Noite e a Madrugada (1950), O Trigo e o Joio (1954), O Homem Disfarçado (1957), Cidade Solitária (1959), Domingo à Tarde (1961Prémio José Lins do Rego), Os Clandestinos (1972), Resposta a Matilde (1980) e O Rio Triste (1982Prémio Fernando ChinagliaPrémio Fialho de Almeida e Prémio D. Dinis). Ou, as biografias romanceadas de Deuses e Demónios da Medicina (1952). Além dos títulos já referidos, publicou em poesia Mar de Sargaços (1940), Marketing (1969) e Nome para uma Casa (1984) . Toda a sua produção poética seminal foi reunida numa antologia(1959) denominada As Frias Madrugadas. Escreveu ainda sobre o mundo e a sociedade em geral, na forma de narrativas romanceadas ou de anotações de viagem e reflexões críticas, sendo disso exemplo Diálogo em Setembro (1966), Um Sino na Montanha (1968), Os Adoradores do Sol (1971), Estamos no Vento (1974), A Nave de Pedra (1975), Cavalgada Cinzenta (1977), URSS, Mal Amada, Bem Amada e Sentados na Relva, ambos de (1986). Porém, foram romances como os Retalhos da Vida de um MédicoO Trigo e o JoioDomingo à TardeO Homem Disfarçado ou O Rio Triste, que vieram a ser traduzidos em diversas línguas, tendo inclusive, em 1981, sido proposto para o Prémio Nobel da Literatura, pela Academia das Ciências de Lisboa e pelo PEN Clube.[6]
Se quisermos contextualizar, sistematizar a sua obra em fases distintas de criação literária, podemos identificar: (1) o ciclo de juventude, principalmente enquanto estudante em Coimbra, coincidente com o livro-poema Terra e o romance Fogo na Noite Escura; (2) o ciclo rural, entre 1943 e 1950, representado pelas novelas Casa da Malta (escrita em 8 dias) e Minas de San Francisco, ou pelos romances A Noite e a MadrugadaO Trigo e o Joio sem esquecer os Retalhos da Vida de um Médico, cuja edição espanhola (1ª tradução) apresenta o prefácio de (Gregório Marañón); (3) o ciclo urbano, coincidente com a sua vinda para Lisboa, marcado pela solidão e vivências do quotidiano, e que se terá refletido no romance O Homem Disfarçado, em Cidade Solitária ou no Domingo à Tarde; (4) o ciclo cosmopolita, ou seja, dos cadernos de um escritor, balizado no final dos anos 60 e década de 70, explicado pelas muitas viagens que fez, nomeadamente à Escandinávia, e pela sua participação nos encontros de Genebra; (5) o ciclo final, entre a ficção contemporânea, onde se insere o romance O Rio Triste ou Resposta a Matilde, intitulado pelo próprio divertimento, e as reflexões íntimas de Jornal sem Data (1988).[6]
Sendo talvez uma das suas obras mais conhecidas, Retalhos da Vida de um Médico, foi a primeira a ser adaptada ao cinema, por intermédio do realizador Jorge Brum do Canto (em 1962, filme selecionado para o Festival de Berlim), seguindo-se a série televisiva, da responsabilidade de Artur Ramos e Jaime Silva (1979-1980).
Trigo e o Joio foi adaptado para o cinema em 1965, por Manuel Guimarães, com Manuel da Fonseca. Do mesmo realizador, para televisão e em 1969, tem-se o documentário Fernando Namora.
Domingo à Tarde (selecionado para o Festival de Veneza), foi realizado por António de Macedo em 1965 e contou com atores como Isabel de CastroRuy de Carvalho e Isabel Ruth.
Em 1975, surge Fernando Namora – Vida e Obra, realizado por Sérgio Ferreira. Também em 1975 Namora colaborou na publicação periódica Jornal do Caso República[7] (1975)
A Noite e a Madrugada, de 1985, deve a sua realização a Artur RamosResposta a Matilde, de 1986, foi adaptado a televisão por Dinis Machado e Artur Ramos, com a participação de Raúl Solnado e Rogério Paulo. Em 1990, regista-se O Rapaz do Tambor, curta metragem de Vítor Silva.
Foi sepultado no Talhão dos Artistas do Cemitério dos Prazeres, em Lisboa.[carece de fontes]

Casa Museu Fernando Namora[editar | editar código-fonte]

Casa onde nasceu Fernando Namora em Condeixa-a-Nova
Ali, a dois passos da Vila, o Rio de Mouros. Nasceu de um fio de água, do suor de uma rocha, entre urzes e montes. Ainda a meio da serra, é um ribeirito que não dá para matar a sede a um rebanho. Mas depois, a terra começa, subitamente, a ficar brava, com penedos que têm o ar de montanhas, e o rio despenha-se entre os silvais e as fragas em som e espuma, com um fragor que, de Inverno, com as cheias, estremece os ouvidos da serra e dos homens. – texto de 1941.[8]
É possível visitar a casa onde Fernando Namora nasceu, e onde os seus pais abriram um pequeno estabelecimento comercial, situada no centro da vila de Condeixa-a-Nova, distrito de Coimbra.
Inaugurada em 30 de junho de 1990, esta iniciativa resultou da ideia de um grupo de amigos, seus conterrâneos, que quiseram homenageá-lo através da proposta da criação de uma Casa-Museu, de modo a recordar a todos, e nas palavras do Sr. Ramiro de Oliveira, que é Condeixense e que aqui viveu a sua infância e parte da mocidade.[8]
Aberta ao público desde então, nela se pode encontrar o seu escritório, tal qual estava em Lisboa, com todos os seus livros e objetos pessoais, e que acabou por ser o destino do que fui acumulando ao longo dos anos, coisas minhas, coisas do que vi e vivi e ainda valiosas coisas alheias que de algum modo se relacionam comigo. - carta de 7 de junho de 1984.[8]

Obras[editar | editar código-fonte]

  • As Sete Partidas do Mundo, romance – 1938
  • Terra, romance, 1941
  • Fogo na Noite Escura, romance – 1943
  • Casa da Malta, romance – 1945
  • Minas de San Francisco, romance – 1946
  • Retalhos da Vida de um Médico, narrativas / primeira série – 1949
  • A Noite e a Madrugada, romance – 1950
  • Deuses e Demónios da Medicina, biografias romanceadas – 1952
  • O Trigo e o Joio, romance – 1954
  • O Homem Disfarçado, romance – 1957
  • Cidade Solitária, narrativas – 1959
  • As Frias Madrugadas', poesia / antologia – 1959
  • Domingo à Tarde, romance – 1961
  • Retalhos da Vida de um Médico, narrativas (segunda série) – 1963
  • Diálogo em Setembro, crónica romanceada – 1966
  • Um Sino na Montanha, cadernos de um escritor – 1968
  • Marketing, poesia – 1969
  • Os Adoradores do Sol, cadernos de um escritor – 1971
  • Os Clandestinos, romance – 1972
  • Estamos no Vento, narrativa literário-sociológica – 1974
  • A Nave de Pedra, cadernos de um escritor – 1975
  • Cavalgada Cinzenta, narrativa – 1977
  • Encontros, entrevistas – 1979
  • Resposta a Matilde, divertimento – 1980
  • O Rio Triste, romance – 1982
  • Nome para uma Casa, poesia – 1984
  • URSS mal amada, bem amada', crónica – 1986
  • Sentados na Relva, cadernos de um escritor – 1986
  • Jornal sem Data, cadernos de um escritor – 1988

Prémios e honras[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1.  Agência Lusa (2009), “Aquando dos 20 anos do falecimento do autor. ”, Lisboa: http://noticias.sapo.pt/lusa/artigo/f9441e482aa808c72c6a95.html Arquivado em 3 de fevereiro de 2009, no Wayback Machine. Notícia da Lusa.
  2.  Namora (1987), “Autobiografia”, Lisboa: ed. O Jornal.
  3. ↑ Ir para:a b Vieira Reis, Carlos (2000), “Fernando Namora- Médico, Escritor, Artista, Argumentista e Humanista Universal: 1919-1989”, Lisboa: http://vidaslusofonas.pt/namora.htm Arquivado em 9 de junho de 2010, no Wayback Machine..
  4.  Arquivo Fernando Namora (2011), “Fotografias e documentação bio-bibliográfica.”, Lisboa: http://fernando-namora.blogspot.com.
  5.  Helena Roldão (27 de janeiro de 2014). «Ficha histórica: Mundo literário : semanário de crítica e informação literária, científica e artística (1946-1948).» (pdf)Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 3 de Novembro de 2014
  6. ↑ Ir para:a b Biblioteca Nacional (2010), “Doação do espólio de Fernando Namora. ”, Lisboa: http://www.bnportugal.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=507%3Adoacao-do-espolio-de-fernando-namora&catid=49%3Aaquisicoes&Itemid=560&lang=pt
  7.  Jornal do Caso República (1975) [cópia digital, Hemeroteca Digital]
  8. ↑ Ir para:a b c Pessoa, Miguel e Rodrigo, Lino (1999), “Crescer em Condeixa com Fernando Namora”, Condeixa: ed. Câmara Municipal de Condeixa.
  9. ↑ Ir para:a b c «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Fernando Gonçalves Namora". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 10 de outubro de 2019
Precedido por
Manuel Gonçalves Cerejeira
Olivenkranz.png Sócio correspondente da ABL - fundador da cadeira 10
1978 — 1989
Sucedido por
Agustina Bessa-Luís

REVOLTA REPUBLICANA NO PORTO - (1891) - 31 DE JANEIRO DE 2020

Revolta de 31 de janeiro de 1891

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Placa evocativa na Rua de 31 de Janeiro, no Porto.
Revolta de 31 de Janeiro de 1891 foi o primeiro movimento revolucionário que teve por objectivo a implantação do regime republicano em Portugal. A revolta teve lugar na cidade do Porto.

História[editar | editar código-fonte]

As causas[editar | editar código-fonte]

O Mapa Cor-de-Rosa, que originou o ultimato britânico de 1890.
No dia 31 de Janeiro de 1891, na cidade do Porto, registou-se um levantamento militar contra as cedências do Governo (e da Coroa) ao ultimato britânico de 1890 por causa do Mapa Cor-de-Rosa, que pretendia ligar, por terra, Angola a Moçambique.
A 1 de Janeiro de 1891 reuniu-se o Partido Republicano em congresso, de onde saiu um directório eleito constituído por: Teófilo BragaManuel de Arriaga, Homem Cristo, Jacinto Nunes, Azevedo e Silva, Bernardino Pinheiro e Magalhães Lima.
Estes homens apresentaram um plano de acção política a longo prazo, que não incluía a revolta que veio a acontecer, no entanto, a sua supremacia não era reconhecida por todos os republicanos, principalmente por aqueles que defendiam uma acção imediata. Estes, além de revoltados pelo desfecho do episódio do Ultimato, entusiasmaram-se com a recente proclamação da República no Brasil, a 15 de Novembro de 1889.
As figuras cimeiras da "Revolta do Porto", que sendo um movimento de descontentes grassando sobretudo entre sargentos e praças careceu do apoio de qualquer oficial de alta patente, foram o capitão António Amaral Leitão, o alferes Rodolfo Malheiro, o tenente Coelho, além dos civis, o dr. Alves da Veiga, o actor Miguel Verdial e Santos Cardoso, além de vultos eminentes da cultura como João ChagasAurélio da Paz dos ReisSampaio BrunoBasílio Teles, entre outros.

O acontecimento[editar | editar código-fonte]

A proclamação da República das janelas da Câmara Municipal.
A guarda municipal atacando os revoltosos entrincheirados na casa da Câmara.
Os presos a bordo do transporte «Índia».
A revolta tem início na madrugada do dia 31 de Janeiro, quando o Batalhão de Caçadores n.º 9, liderados por sargentos, se dirigem para o Campo de Santo Ovídio, hoje Praça da República, onde se encontra o Regimento de Infantaria 18 (R.I.18). Ainda antes de chegarem, junta-se ao grupo, o alferes Malheiro, perto da Cadeia da Relação; o Regimento de Infantaria 10, liderado pelo tenente Coelho; e uma companhia da Guarda Fiscal. Embora revoltado, o R.I.18, fica retido pelo coronel Meneses de Lencastre, que assim, quis demonstrar a sua neutralidade no movimento revolucionário.
Os revoltosos descem a Rua do Almada, até à Praça de D. Pedro, (hoje Praça da Liberdade), onde, em frente ao antigo edifício da Câmara Municipal do Porto, ouviram Alves da Veiga proclamar da varanda a Implantação da República. Acompanhavam-no Felizardo Lima, o advogado António Claro, o Dr. Pais Pinto, Abade de São Nicolau, o Actor Verdial, o chapeleiro Santos Silva, e outras figuras. Verdial leu a lista de nomes que comporiam o governo provisório da República e que incluíam: Rodrigues de Freitas, professor; Joaquim Bernardo Soares, desembargador; José Maria Correia da Silva, general de divisão; Joaquim d'Azevedo e Albuquerque, lente da Academia; Morais e Caldas, professor; Pinto Leite, banqueiro; e José Ventura Santos Reis, médico.
Foi hasteada uma bandeira vermelha e verde, pertencente a um Centro Democrático Federal.[1] Com fanfarra, foguetes e vivas à República, a multidão decide subir a Rua de Santo António, em direcção à Praça da Batalha, com o objectivo de tomar a estação de Correios e Telégrafos.[2]
No entanto, o festivo cortejo foi barrado por um forte destacamento da Guarda Municipal, posicionada na escadaria da igreja de Santo Ildefonso, no topo da rua. O capitão Leitão, que acompanhava os revoltosos e esperava convencer a guarda a juntar-se-lhes, viu-se ultrapassado pelos acontecimentos. Em resposta a dois tiros que se crê terem partido da multidão, a Guarda solta uma cerrada descarga de fuzilaria vitimando indistintamente militares revoltosos e simpatizantes civis. A multidão civil entrou em debandada, e com ela alguns soldados.
Os mais bravos tentaram ainda resistir. Cerca de trezentos barricaram-se na Câmara Municipal, mas por fim, a Guarda, ajudada por artilharia da serra do Pilar, por Cavalaria e pelo Regimento de Infantaria 18, sob as ordens do chefe do Estado Maior do Porto, General Fernando de Magalhães e Menezes força-os à rendição, às dez da manhã. Terão sido mortos 12 revoltosos e feridos 40.

O desfecho[editar | editar código-fonte]

Alguns dos implicados conseguiram fugir para o estrangeiro: Alves da Veiga iludiu a vigilância e foi viver para Paris: o jornalista Sampaio Bruno e o Advogado António Claro alcançaram a Espanha, assim como o Alferes Augusto Malheiro, que daí emigrou para o Brasil.
Os nomeados para o "Governo Provisório" trataram de esclarecer não terem dado autorização para o uso dos seus nomes. Dizia o prestigiado professor Rodrigues de Freitas, enquanto admitia ser democrata-republicano: "mas não autorizei ninguém a incluir o meu nome na lista do governo provisório, lida nos Paços do Concelho, no dia 31 de Janeiro, e deploro que um errado modo de encarar os negócios da nossa infeliz pátria levasse tantas pessoas a tal movimento revolucionário."[3]
A reacção oficial seria como de esperar, implacável, tendo os revoltosos sido julgados por Conselhos de Guerra, a bordo de navios, ao largo de Leixões: o paquete Moçambique, o transporte Índia e a corveta Bartolomeu Dias . Para além de civis, foram julgados 505 militares. Seriam condenados a penas entre 18 meses e 15 anos de degredo em África cerca de duzentas e cinquenta pessoas. Em 1893 alguns seriam libertados em virtude da amnistia decretada para os então criminosos políticos da classe civil.
Em memória desta revolta, logo que a República foi implantada em Portugal, a então designada Rua de Santo António foi rebaptizada para Rua de 31 de Janeiro, passando a data a ser celebrada dado que se tratava da primeira de três revoltas de cariz republicano efectuadas contra a monarquia constitucional (as outras seriam o Golpe do Elevador da Biblioteca, e o 5 de Outubro de 1910).

Referências

  1.  De fundo vermelho com um grande círculo verde ao centro, esta bandeira ainda hoje existe, e está exposta no Museu Soares dos Reis, no Porto.
  2.  Tamanha havia sido a improvisação da revolta, que não se começou por tomar os telégrafos, para impedir que se avisassem as autoridades.
  3.  Rocha Martins, 1926, "D. Carlos, História do seu Reinado", Lisboa, Edição do Autor,Oficinas do "ABC"

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Redacção Quidnovi, com coordenação de José Hermano SaraivaHistória de Portugal, Volume VII, Ed. QN-Edição e Conteúdos,S.A., 2004
  • Rocha Martins, 1926, "D. Carlos, História do seu Reinado", Lisboa, Edição do Autor, Oficinas do "ABC"

Ver também[editar | editar código-fonte]

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