Língua russa
O russo (русский язык, transl. russkij jazyk ou russkiy yazyk, IPA: [ˈruskʲɪj jɪˈzɨk], lit. "língua russa") é uma língua eslava falada como língua materna na Rússia, Bielorrússia, Cazaquistão, Azerbaijão, Quirguistão, Moldávia e em diversos outros países que formavam as repúblicas constituintes da extinta União Soviética.[13]Embora sem carácter oficial após o fim da União Soviética, é utilizada amplamente em países como Letónia, Ucrânia, e Estónia.
Idioma mais difundido, em termos geográficos, de toda a Eurásia, a mais falada das línguas eslavas e a língua materna mais falada na Europa, o russo pertence à família linguística indo-europeia, e é um dos três (ou quatro, com a inclusão do russino) membros ainda existentes das línguas eslavas orientais; foram encontrados exemplos de inscrições feitas no antigo eslavônico oriental que datam do século X. O idioma é atualmente uma das seis línguas oficiais da Organização das Nações Unidas.
A literatura russa é particularmente rica e inclui célebres escritores de diversos períodos, como Alexandre Pushkin, Nikolai Gogol, Fiodor Dostoiévski, Liev Tolstói, Anton Tchekhov, Máximo Gorki, Vladimir Maiakovski e Boris Pasternak. Por conta da grande influência da União Soviética e Rússia nas ciências, uma grande quantidade de textos científicos também é encontrada em russo, que atualmente é a segunda língua mais popular da Internet.[14][15]
O russo distingue entre os fonemas consonantais que têm articulação secundária palatal e aqueles que não têm, os chamados sons suaves e duros. Esta distinção pode ser encontrada em quase todas as consoantes, e é uma das características mais marcantes do idioma. Outro aspecto importante é a redução das vogais átonas, semelhante a outros idiomas ocidentais, como o inglês. O acento tônico, que não é regular, não costuma ser indicado ortograficamente,[16] embora um acento agudo opcional possa ser utilizado para indicar o acento tônico, com a finalidade de distinguir palavras de grafia idêntica ou indicar a pronúncia correta de palavras ou nomes pouco comuns. Outra característica relevante é o papel essencial e imprescindível exercido pela complexa gramática na língua. A escrita destaca-se pelo uso do alfabeto cirílico.
Índice
Classificação[editar | editar código-fonte]
O russo é uma língua eslava, pertencente à família linguística indo-europeia. Do ponto de vista do idioma falado, seus parentes mais próximos são o ucraniano e o bielorrusso, outras duas línguas nacionais pertencentes ao grupo eslavas orientais. Em diversos locais no leste e sul da Ucrânia e por toda a Bielorrússia estes idiomas são falados de maneira intercambiável, e em determinadas regiões o bilinguismo tradicional resultou numa mistura de idiomas, resultando por exemplo no surjyk falado no leste da Ucrânia e o trasianka da Bielorrússia. Acredita-se que um dialeto da Antiga Novgorod, também pertencente ao grupo eslavo oriental, e desaparecido durante o século XV ou XVI, teria desempenhado um papel importante na formação da língua russa atual. Os idiomas mais próximos atualmente deste dialeto seriam as línguas eslavas ocidentais, especialmente o polonês e o eslovaco, seguidos pelas línguas eslavas meridionais - embora o búlgaro, em especial, tenha uma gramática relativamente diferente.
O vocabulário, com destaque a palavras abstratas e literárias, princípios de formação de palavras e, até certo ponto, inflexões e o estilo literário do russo também foram influenciados pelo eslavônico eclesiástico, uma forma desenvolvida de um ramo do eslavo meridional, o antigo eslavônico eclesiástico, utilizado pela Igreja Ortodoxa Russa. As formas eslavas orientais, no entanto, tendem a ser usadas exclusivamente nos diversos dialetos que passam por um processo rápido de declínio. Em alguns casos, tanto a forma eslava oriental quanto a eslavônica eclesiástica estão em uso, embora com significados diferentes.
A fonologia e a sintaxe do russo, especialmente em seus dialetos mais setentrionais, também foram influenciadas - até certo ponto - pelas diversas línguas fino-bálticas, pertencentes à subfamília fino-úgrica, como o merya, o moksha, o muromiano, o idioma falado pelos meshcheras, o veps, entre outros. Estes idiomas - muitos dos quais já foram extintos - costumavam ser falados no centro e no norte da atual Rússia europeia, e entraram em contato com os idiomas eslavos orientais no início da Idade Média, servindo posteriormente como substrato para a língua russa atual. Os dialetos russos falados a norte, nordeste e noroeste de Moscou apresentam um número considerável de palavras de origem fino-úgrica.[17][18] Ao longo dos séculos, o vocabulário e o estilo literário do russo também foram influenciados pelos idiomas europeus ocidentais e centrais, como o polonês, o latim, o holandês, o alemão, o francês e o inglês.[19]
Distribuição geográfica[editar | editar código-fonte]
Durante o período da União Soviética, a política em relação às línguas dos diversos outros grupos étnicos variou na prática. Embora cada uma das repúblicas constituintes tivesse seu próprio idioma oficial, o papel unificador e um status superior eram reservados ao russo, ainda que ele tenha sido declarado língua oficial apenas em 1990.[20] Logo após a dissolução da União Soviética, em 1991, diversos dos Estados recém-independentes encorajaram e estimularam o uso de seus idiomas nativos, o que reverteu parcialmente o status privilegiado do russo, embora seu papel como idioma do discurso nacional pós-soviético em toda a região ainda persista.
O longo domínio russo sobre os demais povos da URSS estabeleceu, entre os falantes de outras línguas, uma controvérsia acerca da cultura russa. Na Letôniao reconhecimento oficial do russo e sua legalidade nas salas de aula têm sido alvo de um debate considerável, num país em que mais de um terço da população é formado por russófonos. Da mesma maneira, na Estônia, os falantes do russo constituem 25,6% da população atual do país, e 58,6% da população nativa estoniana também fala o russo.[21] No total, 67,8% da população da Estônia fala o idioma.[21] O domínio do russo, no entanto, está diminuindo rapidamente entre os estonianos mais jovens, já que está sendo substituído primordialmente pelo domínio do inglês. Por exemplo, enquanto 53% dos estonianos entre 15 e 19 anos de idade alegam ter algum conhecimento de russo, entre o grupo que vai dos 10 aos 14 anos de idade o domínio do idioma cai para 19%, cerca de um terço da percentagem daqueles que alegam falar o inglês.[21]
Indivíduos que falam o russo como língua materna ou secundária na Lituânia representam aproximadamente 60% da população do país. Mais da metade da população dos países bálticos fala o russo, seja como primeiro ou segundo idioma.[21][22][23] Desde que o Grão-Ducado da Finlândia fez parte do Império Russode 1809 a 1918, diversos falantes do idioma permaneceram no país. Existem atualmente 33 400 finlandeses russófonos, que totalizam 0,6% da população da Finlândia. Cinco mil deles (0,1%) descendem dos imigrantes russos que foram para o país no fim do século XIX e início do século XX, enquanto o resto faz parte de ondas migratórias recentes, chegados depois da década de 1990.[carece de fontes]
No Cazaquistão e no Quirguistão o russo continua a ser um idioma co-oficial, juntamente com o cazaque e o quirguiz, respectivamente. Grandes comunidades russófonas ainda existem no norte do Cazaquistão, e pessoas de etnia russa totalizam 25,6% da população total do país.[24]
No decorrer do século XX, o russo foi amplamente ensinado nas escolas dos países-membros do antigo Pacto de Varsóvia, bem como nos países que eram aliados da União Soviética, em especial a Polônia, Bulgária, Tchecoslováquia, Hungria, Albânia e Cuba. As gerações mais jovens, no entanto, não costumam dominá-lo com fluência, uma vez que o ensino do russo não é mais obrigatório nos sistemas escolares destes países. No entanto, de acordo com uma pesquisa de 2005 do Eurobarômetro,[25] a fluência no idioma continua a ser relativamente alta (de 20 a 40%) em alguns países, em especial naqueles em que os povos locais falam alguma língua eslava, e por isso têm algum tipo de facilidade no aprendizado do russo, com destaque à Polônia, República Tcheca, Eslováquia e Bulgária. O russo é atualmente a língua estrangeira mais ensinada na Mongólia, onde seu ensino é obrigatório a partir do sétimo ano de escolaridade, desde 2006.[26][27]
De acordo com o censo de 1999, o russo também é falado em Israel por pelo menos 750 000 imigrantes judaicos da antiga União Soviética. Existem diversos meios de comunicação e sites de internet publicados em russo no país. O idioma também é falado como língua estrangeira por um número reduzido de pessoas no Afeganistão, que em 1979 sofrera uma intervenção de tropas soviéticas.[28] De acordo com uma matéria da BBC de outubro de 2009, refugiadosafegãos estariam aprendendo o russo nas escolas, o que criaria uma pequena população de falantes do russo em caso de uma eventual repatriação.
Existem grandes comunidades de russófonos na América do Norte, especialmente em grandes centros urbanos dos Estados Unidos e Canadá, como Nova Iorque, Filadélfia, Boston, Los Angeles, Nashville, São Francisco, Seattle, Spokane, Toronto, Baltimore, Miami, Chicago, Denver e Cleveland. Em diversos destes locais estes falantes do russo publicam seus próprios jornais, e vivem em enclaves étnicos, especialmente a geração de imigrantes que começou a chegar no início da década de 1960. Apenas um quarto deles, no entanto, pertence à etnia russa. Antes da dissolução da União Soviética, a maioria esmagadora dos russófonos na América do Norte era formada por judeus. Posteriormente, o influxo de imigrantes vindos dos países constituintes da União Soviética alterou estas estatísticas, trazendo maiores números de russos e ucranianos, juntamente com mais judeus russos. De acordo com o censo de 2000 dos Estados Unidos, o russo é a língua materna falada nos lares de mais de 700 000 pessoas que vivem no país.
Diversos grupos russófonos existem na Europa Ocidental, estabelecidos por meio de sucessivas ondas de imigração ocorridas desde o início do século XX. Alemanha, Reino Unido, Espanha, Portugal, França, Itália, Bélgica, Grécia, Brasil, Noruega e Áustria também têm populações significativas de populações falantes do russo, bem como as grandes cidades australianas de Sydney e Melbourne, que tem a maior concentração de russófonos da Austrália, particularmente nos subúrbios de Carnegie e Caulfield. Os sino-russos também formam um dos 56 grupos étnicos reconhecidos oficialmente pelo governo da República Popular da China.
Fonte | Falantes nativos | Ranking nativo | Total de falantes | Ranking total |
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Top Languages[29] | 160 000 000 | 8 | 285 000 000 | 5 |
World Almanac (1999) | 145 000 000 | 8 | 275 000 000 | 5 |
SIL (2000 WCD) | 145 000 000 | 8 | 255 000 000 | 5–6 Empatado com oárabe. |
CIA World Factbook(2005) | 160 000 000 | 8 | — | — |
Status oficial[editar | editar código-fonte]
O russo é a língua oficial da Rússia, embora também tenha este status a nível regional em diversas unidades autônomas étnicas dentro do país, como o Bascortostão, o Tartaristão e a Iacútia. Também é um dos idiomas oficiais da Bielorrússia, Cazaquistão, Quirguistão, bem como o idioma preponderante de facto nos países não reconhecidos da Transnístria, Ossétia do Sul e Abecásia. O russo é uma das seis línguas oficiais da Organização das Nações Unidas, e mais de um quarto da literatura científica do mundo é publicada em russo.[30] O russo também é um idioma de referência no mundo dos sistemas de comunicação mundiais (transmissões, comunicação aeroespacial, etc.).[30]
O estudo na Rússia ainda é uma escolha popular tanto em termos de russo como segundo idioma como para falantes nativos do idioma, e o russo ainda é visto como uma língua importante para ser ensinada às crianças em diversas das ex-repúblicas soviéticas.[31][32]
94% [33] dos estudantes escolares na Rússia, 75% na Bielorrússia, 41% no Cazaquistão, 20% na Ucrânia,[34] 23% no Quirguistão, 21% na Moldávia, 7% no Azerbaijão, 5% na Geórgia e 2% na Armênia e Tajiquistão são educados única ou majoritariamente em russo. A porcentagem de indivíduos pertencentes à etnia russa é de 80% na própria Rússia, 10% na Bielorrússia, 36% no Cazaquistão, 27% na Ucrânia, 9% no Quirguistão, 6% na Moldávia, 2% no Azerbaijão, 1,5% na Geórgia e menos de 1% tanto na Armênia quanto no Tajiquistão.[35]
O ensino do russo nas escolas também existe na Letônia, Estônia e Lituânia. No entanto, devido a recentes reformas no ensino feitas na Letônia, através das quais o governo passou a pagar uma quantia considerável para as escolas que lecionassem em letão, o número de aulas ensinadas em russo no país foi drasticamente reduzido.[36][37] O idioma tem um status co-oficial, juntamente com o romeno, nas unidades autônomas da Gagaúzia e da Transnístria, na Moldávia, e na República Autônoma da Crimeia, na Ucrânia, é reconhecido como idioma regional, juntamente com o tártaro da Crimeia. De acordo com uma sondagem realizada pela FOM-Ukraina, o russo é o idioma mais falado na Ucrânia, superando o próprio ucraniano por uma pequena diferença.[38][39] Apesar de sua ampla utilização, no entanto, ativistas do uso do idioma na Crimeia reclamam da obrigatoriedade do uso do ucraniano nas escolas, cinemas, tribunais, bulas de remédio e do seu uso na mídia e nos documentos oficiais.[40][41]