|
|
VALDEMAR CRUZ
JORNALISTA
|
|
|
|
|
|
|
Ontem, já a caminho do final da tarde, recebi um e-mail de uma amiga, também ela jornalista. Muito lacónica, escrevia apenas: “Isto é que é mesmo um soco no estomago! E um excelente trabalho do NYT”. Abri a ligação e deparei-me com uma extraordinária reportagem do New York Times sobre o drama migratório no Mediterrâneo. O choque suscitou-me interrogações. O que é a agenda mediática? O tema do meu Curto de hoje deve ser o absurdo noticioso à volta de uma mirabolante não história sobre hipotéticos €500/hora que um hipotético médico aparentemente pretenderia cobrar como condição para trabalhar no Natal? Porque é que persistimos em não querer ver os muros, reais ou imaginários, constantemente levantados à nossa volta? Precisamos de estar imbuídos do espírito natalício paracombater no dia a dia a barreira intransponível de muros, só vencida, no espaço mediático, quando o espetáculo da desgraça humana consegue ser, em termos de audiências, mais aliciante que o espetáculo de algumas misérias humanas?
A história contada pelo NYT tem data: 6 de novembro de 2017. Mas podia ser de ontem. Pode estar a acontecer hoje, neste dia dedicado aos Santos Inocentes, Mártires, no exato momento em que escrevo, às 6 horas e 15 minutos deste dia 28 de dezembro de 2018. Fala-nos de um confronto Europa vs Europa. Narra-nos a história de, escreve o jornal, “voluntários lutando para salvar vidas, boicotados pelas políticas da União Europeia que depositam as responsabilidades pelo controlo de fronteiras na guarda costeira líbia”. Em vez de operações de salvamento, tivemos “20 pessoas que se afogaram e 47 outras capturadas”, que sofreram abusos, “incluindo violação e tortura”.
Trump quer dinheiro para financiar a construção do muro. Os democratas não aprovam e o impasse está a fazer com que, por causa de um muro, um quarto dos departamentos públicos do país não esteja a funcionar e muitos milhares de trabalhadores não estejam a receber salário. Não importa. Porque o presidente dos EUA quer construir um muro. Um grupo de fotojornalistas foi para a fronteira com o México fotografar os muitos ângulos possíveis do drama provocado pelo muro a milhares e milhares de latino-americanos que se dispõem a caminhar milhares de quilómetros à procura de um sonho. Chegam, e esbarram num muro. Às vezes morrem. Junto ao muro. Ou para lá do muro.
|
|
OUTRAS NOTÍCIAS
A Provedoria de Justiça promete definir, o mais rapidamente possível, os critérios e os montantes para a atribuição das indemnizações no caso do acidente de Borba. O Governo decidiu esta quinta-feira atribuir indemnizações às famílias das cinco vítimas do acidente na pedreira, depois de o relatório preliminar não ter excluído uma "responsabilidade indiciária concorrente e indireta do Estado".
O Estado está a pagar todos os meses a pensão de alimentos a mais de 20 mil crianças, escreve o JN. Segundo dados fornecidos ao jornal pelo Ministério da Segurança Social, em 2017, o Estado despendeu €31,3 milhões.
A dimensão da injustiça vivida pelos professoresfica bem expressa na notícia divulgada pelo jornal I, ao revelar que todos os professores que tenham dado aulas na Madeira, durante o período de congelamento, podem ver contabilizados esses anos de serviço para efeitos de progressão na carreira. Por outro lado, acrescenta o jornal, professores que regressem à Madeira recuperam o tempo de serviço. Por sua vez, o JN assegura que a solução para os professores pode vir do PSD.
A história dos €500/hora contada pelo Expresso.Ministério e administração da Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, afirmam que foi recebida uma proposta, de um único especialista, através de uma empresa de prestação de serviços, para o reforço da Urgência durante o Natal. Bastonário dos médicos diz que o valor de que falam é falso e exige desmentido à ministra. Só o acesso aos documentos pode provar de que lado está a verdade.
Hoje, às 18h30, a pianista Maria João Pires dará um recital de Natal no Centro de Artes de Belgais (Granha de Belgais, Escalos de Baixo). Será acompanhada pela pianista arménia Lilit Grigoryan.
A despedida de 2018 e as boas-vindas ao Ano Novo terá como convidado especial no Porto, na Avenida dos Aliados, o músico Pedro Abrunhosa. Este será o seu primeiro grande concerto após o lançamento do seu último e grande disco, intitulado “Espiritual", no qual conta com a participação de Lila Downs, Lucinda Williams, Ana Moura e Carla Bruni.
LÁ FORA
Pelo menos 769 migrantes morreram este ano quando tentavam chegar, por mar, às costas de Espanha, país que em 2018 se tornou na principal rota marítima para a Europa, indicou esta quinta-feira a Comissão Espanhola de Ajuda ao Refugiado (CEAR).
Parecem ser remotas as hipóteses de que possam ser resgatados vivos 15 mineiros que ficaram encurralados numa mina ilegal de carvão em Meghalaya, Índia, a 13 de dezembro. Ao 15º dia, apenas a fé desafia a falta de meios adequados.
O rei Salmán da Arábia Saudita anunciou mudanças importantes tanto no seu Governo como na área de segurança nacional. Estas medidas parecem reforçar a posição do seu filho e herdeiro, o príncipe Mohamed bin Salmán, e são as primeiras após o caso “caso Khashoggi”.
Poderá o populismo baralhar as eleições europeias de 2019? Esta é a pergunta lançada pelo Guardian a partir de um texto de reflexão sobre o que pode acontecer no continente europeu no próximo ano.
A cantora e compositora brasileira Miúcha morreu esta quinta-feira com 81 anos, no Rio de Janeiro, vítima de cancro.. Irmã de Chico Buarque e mãe de Bebel Gilberto, Miúcha estava em tratamento devido a um cancro . Faleceu no Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro.
Aqui pode ver as notícias que marcaram o ano de 2018 na perspetiva do El País.
PRIMEIRAS PÁGINAS
Inquérito a Borba conclui que câmara sabia desde 2014 e não tomou medidas – Público
Estado substitui pais e paga mais de 20 mil pensões de alimentos – JN
Duarte Lima perde o último recurso e fica á beira da prisão – I
Professores forçam governo com greves – Correio da Manhã
Bic leva Banco de Portugal a tribunal por causa do BES –Negócios
FRASES
“Estão em causa opções políticas antigas, partilhadas pelo núcleo duro do actual Governo que as validou no tempo de Sócrates”. Paulo Guinote, professor, no Público
O QUE ANDO A LER
Toda a minha vida escutei episódicas referências a Maria Judite de Carvalho. Toda a minha vida passei ao lado de uma entusiasmante obra literária que, afinal, poderia ter conhecida há muito tempo. Está a acontecer agora e sinto-me rendido, abismado com o fulgor, a sensibilidade, a acutilância do detalhe, a pertinência da observação, a rara capacidade de reflexão, a ironia luminosa com que olha para o modo como no mundo, de ontem e de hoje, se tratam, se acondicionam, se menorizam as mulheres.
A prosa de Maria Judite de Carvalho, editada a partir do final dos anos de 1950, mantém uma frescura, uma elegância, e uma pertinência que está para lá de todos os tempos, e esse é um dos elogios maiores que se podem fazer a um escritor. Para mais alguém a quem o frenesim mediático – a que não se prestava – remeteu durante décadas ao esquecimento.
Vinte anos após a sua morte, a obra daquela que para muitos, e muito erradamente, era apenas a mulher de Urbano Tavares Rodrigues, regressa às livrarias. A Almedina, via chancela Minotauro, lançará, até final de 2019, os seis volumes em que foi agrupada a obra completa de Maria Judite de Carvalho (1921-1988), constituída no essencial por novelas, contos e crónicas
O primeiro volume, que acabei ontem de ler, contém, entre outros contos, o magistral “Tanta Gente, Mariana” (1959) e “As Palavras Poupadas” (1961), vencedor do Prémio Camilo Castelo Branco.
Uma das particularidades desta edição reside nas capas. São constituídas por belíssimos retratos da autora, pintados por ela própria, que só não foi para as Belas Artes porque, ouviu da família à época, nenhuma rapariga séria iria para Belas Artes.
Conta a pequena história que Urbano Tavares Rodrigues era sempre o seu primeiro leitor e terá sido ele e o seu entusiasmo, às vezes desmedido, que a levou a publicar “Tanta Gente. Mariana”. A mulher que preferia estar na sombra e fugia dos holofotes, publicou um total de 13 livros. A sua obra, à exceção de um ou outro conto inserido em manuais escolares, é uma preciosidade que não podemos dar-nos ao luxo de ignorar. Como tem acontecido ao longo de todos estes anos.
Despeço-me. Desejo-lhe um bom ano, num mundo, apesar de tudo, feito de uma diversidade maravilhosa. Comprovam-no as fotos submetidas ao prémio Travel Photographer of the Year. Fotógrafos de 142 países enviaram mais de 20 mil imagens fantásticas. O vencedor absoluto foi Stefano Pensottias com as suas oito fotografias que nos mostram como cidadãos comuns de diferentes continentes se relacionam com o seu ambiente. Veja aqui a galeria dos vencedores. e aproveite para sonhar com a infinitas possibilidades contidsa na ideia de viagem. Sonhar não paga imposto. Acredite.
|
|
|