Um francês que é um Cristianinho e um uruguaio que tem de vir para o Benfica: Um Azar do Kralj escolhe o melhor 11 (vá, 13) do Mundial
Ederson não jogou mas faz parte do melhor onze do Mundial - Vasco Mendonça explica esta e outras escolhas mais ou menos óbvias
08.07.2018 ÀS 16H00
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Ederson
Afastado da titularidade por um colega com primeiro nome de mulher e apelido de tenista, Ederson foi a ausência que mais ensombrou este Mundial, pelo menos do ponto de vista do benfiquista saudoso. Vimo-lo atropelar Tite nos festejos de uma vitória sobre a Costa Rica e pouco mais. É um crime que o melhor guarda-redes do mundo e sócio nº 103.437 não tenha feito um único minuto na prova. Se não concordam, pode ser o Kasper Schmeichel.
Pavard
Primeiro tem ar de quem deveria ter seguido uma carreira de médico ou arquiteto e o futebol, desporto essencialmente brega, precisa deste diálogo interclassista. Para além disso, marcou o melhor golo do mundial, uma obra de arte que merece ser vista toda a gente a 4 milhões de frames por segundo que é a melhor definição de um Mundial de futebol: quanto mais vezes vemos o golo, mais gostaríamos de viver na trajectória daquela bola para todo o sempre.
Godín
É um daqueles tipos extraordinários que me faz gostar mais das equipas uruguaias a cada jogo que passa. Enquanto a ciência não conseguir criar um espécime humano que combine os atributos de Fernando Santos e Óscar Tabárez, devemos procurar alternativas que transmitam os valores certos às gerações vindouras. Mais do que um mero futebolista, Diego Godin deveria ser um modelo pedagógico, uma escola de homens e mulheres. Montessori, Velaverde, Waldorf, Piaget, e finalmente Godin.
Mina
Devemos considerar um bom sinal que Yerry Mina continue a ser suplente do Barcelona. Significa que ainda não cedeu ao fastidioso jogo catalão. Se o tiki taka é música de orquestra, Yerry Mina é Rage Against the Machine tocado por uma banda filarmónica de bombeiros. Yerry Mina tem coisas muito boas e algumas coisas más. Vai ganhar e perder jogos, vai fazer coisas bonitas e vai causar horrores. É, enfim, um futebolista e não uma máquina. Só nos garante uma coisa: com ele, nunca nos faltarão motivos para saltar da cadeira e voltar a ansiar por um Mundial. Não foi o Barcelona que o descobriu. Foi a Colômbia. Só falta arranjar um clube que reconheça esta personalidade maior que a posição ocupada em campo.
Laxalt
Diz-se que está a caminho do maior clube de Portugal, e ainda bem. Laxalt é puro Uruguai. Alia objectividade e profundidade no ataque à atitude desempoeirada de quem vê o futebol como um jogo em que é literalmente suposto morrer em campo. Laxalt tem a cara de quem se despediu da família antes de cada jogo do Mundial e o penteado de quem levou uma arma branca para o relvado, tudo coisas que fazem falta a este Benfica.
Modric
De todos os jogadores ainda em prova, é o único cujo QI se aproxima dos minutos em campo. Joga, sempre jogou, num nível diferente de todos os outros. As suas estatísticas de jogo deveriam ser milhas aéreas e não quilómetros, novos mundos em vez de assistências, composições de orquestra em vez de golos. Os jogos de Modric deviam estar devidamente registados no Spotify e não no Zerozero.
Hazard de Bruyne
Que bonito foi ver Hazard conduzir a bola ontem por entre brasileiros irritados, até se deixar cair ao mais pequeno toque, ou de Bruyne enfiar um banano numa equipa brasileira demasiado segura de si. Os belgas têm uma equipa formidável que chegou já caiu no passado por excesso de egos e hoje prospera pela ausência dos mesmos. Por isso, são dois jogadores num só. Podem perder contra uma França mais favorita, mas sinceramente já ganharam.
Lozano
Todos os Mundiais têm um jogador que parece literalmente prestes a explodir, tal é a fúria com que joga, a felicidade genuína que empresta a cada lance do jogo, a urgência com que conduz a bola, como se fosse Keanu Reeves em Speed e todos corrêssemos risco de vida caso a bola pare de rolar. Hirving Lozano foi esse jogador e, tal como manda a história, foi para casa cedo demais. O nosso lado mais frio e analítico dirá que foi precisamente essa energia mal gerida que fez a equipa de Lozano cair cedo demais, enquanto o nosso lado romântico agradece ao PSV Eindhoven e à seleção mexicana por ainda não lhe terem estragado a vida com demasiadas ideias de jogo. Dêem-lhe um pátio e espaço para continuar a correr.
Carrillo
Pelas minhas contas isto vai dar um onze com treze jogadores, mas que se lixe. É uma daquelas contas que ninguém percebe, um pouco como os valores da transferência de Carrillo que serão acertados nas próximas semanas, após um Mundial em que mostrou as segundas melhores arrancadas depois de Mbappé. Não é piada. Preparem-se para chorar de inveja quando os 30 milhões da sua transferência para o Guangzhou United forem comunicados à CMVM, que, tal como nós, encolherá os ombros perante a aleatoriedade da vida.
Cristiano
Porque SIIIIIIIIM.
Mbappé
Soube-se ontem que os sprints de Ronaldo foram os mais velozes deste Mundial. Mbappé, um miúdo de 19 anos que não parece ter um único defeito, terá sorrido. Ele sabe que ainda é, de certa forma, o Cristianinho da copa. A não ser que a França ganhe o Mundial, e aí passa a ser o novo Cristiano, com toda a responsabilidade que isso implica. Não que isso parece incomodá-lo.
Cavani
Edinson Cavani contém multitudes. Se o futebol fosse sintetizado num só rosto, seria o dele. Há naquele olhar e nos traços carregados do seu rosto uma história ancestral de felicidade, dor, raça, ascensão e queda, grandes golos e grandes galos. Tudo menos a merda do VAR. Ninguém imita Cavani, porque é difícil imitar tanta coisa de uma só vez. Ninguém é assim tão completo na sua presença em campo, e não há Goalpoint que me convença do contrário. Para um onze do qual se esperavam umas pianolas, deixem-me dizer-vos que termino comovido: porque o fim do Mundial está cada vez mais próximo, porque não nos despedimos condignamente de Cavani, e porque a próxima vez que o vir jogar será numa espécie de equipa de futebol em que se espera que seja um actor secundário para Neymar e Mbappé. É injusto, mas isso é o futebol.