Fui de férias com quatro amigos — para descanso meu e alguma angústia do Miguel Pinheiro, como puderam tão bem ler — e posso resumir a arquitetura financeira dos últimos dias mais ou menos assim:
— Pagaste a viagem? Então, faço-te um MB Way.
— O carro posso reservar eu, vocês fazem-me um MB Way.
— A casa pagamos como? Posso pagar, e vocês fazem-me um MB Way.
— Já pagaste? Então, faço-te um MB Way.
— Temos de pôr gasóleo. Posso pagar e vocês fazem-me um MB Way.
“Faço-te já um MB Way”, disse eu à Rita, já em Lisboa, quando juntámos mais amigos em casa da Ana para jantar, no domingo. “Tens uma prenda no MB Way”, escrevi hoje no WhatsApp à minha irmã para carinhosamente lhe pagar uma dívida fraterna. Desde que o ícone da app MB me entrou no telemóvel que tem sido pagamento para toda a obra: férias, prendas de aniversário coletivas, almoços, jantares e até cervejas. Ou vinho, dependendo do mood e da temperatura lá fora. (“Podes pagar que eu faço-te um MB Way? Esqueci-me de levantar dinheiro.”)
Millennial que é millennial não diz que não a uma app que lhe permite pagar o que quer que seja sem sair do telefone (#ainternetegrande), ainda por cima portuguesa. Millennial que é millennial irrita-se, isso sim, porque afinal isto era possível e ninguém se lembrou disto a tempo de evitar os jantares, almoços, copos e prendas que ficaram para sempre perdidos no perigoso mundo do “eu pago e dás-me amanhã” (#eoamanhanuncachegou). E eis que chega Marc Bayle de Jessé, diretor-geral de pagamentos e infraestruturas de mercados do BCE, e nos dá a todos um valente “puxão de orelhas”. Ups!
Numa conferência em Lisboa, o dirigente do BCE criticou a SIBS — que criou a tecnologia por detrás da
app — por ter desenvolvido uma plataforma que serve apenas clientes de bancos portugueses, quando “deveríamos focar todos os nossos esforços na criação de soluções pan-europeias”. A confusão instalou-se,
como conta o Edgar Caetano, porque o MB Way contrasta com um novo modelo de pagamentos instantâneos que está a ser preparado a nível europeu, chamado TIPS, defendeu Jessé. E porque é um sistema “fechado” que não beneficia a concorrência, acrescentou Sebastião de Lancastre, presidente da Easypay. Ahhh, pois, não… Nisto, não falei nas minhas férias, não.
Não sei o que é que o cofundador do Twitter, Evan Williams, pensa sobre este tipo de plataformas, mas
vou tentar perguntar-lhe na próxima Web Summit. Até lá, fico a rezar para que não me calhe nenhum amigo
millennial inglês, francês, espanhol ou italiano nas próximas viagens, porque a arquitetura financeira vai fazer-se assim: “Não tens MB Way? Mas, como assim, o teu cartão não dá? Como assim, não sabes o que é? Como assim, ainda não resolveram esta coisa das soluções pan-europeias? Como assim?”
Acho que por hoje temos o nosso acerto de contas feito. Sem MB Way nem puxões de orelhas. Para a semana, escrevo-vos outra vez. Até terça!