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CRISTINA FIGUEIREDO
EDITORA DE POLÍTICA DA SIC
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Fogo (e fúria?) em dia de tempestade
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Ontem, ao início da noite, a Proteção Civil emitiu um aviso à população, dando conta do agravamento das condições meteorológicas para os próximos dias. A depressão Gisele promete "aumento da agitação marítima (em toda a costa), precipitação (pontualmente forte), instabilidade (trovoada), vento forte (possibilidade de ocorrência de fenómenos extremos), e queda de neve". Mas é com este cenário por pano de fundo que António Costa leva esta tarde até à Assembleia da República, para mais um debate quinzenal, o tema dos incêndios florestais.
Talvez porque hoje é o dia em que termina o prazo (o jornal i diz que o Governo vai prorrogá-lo) para os proprietários limparem os terrenos. Daqui a pouco, de resto, o primeiro-ministro e o presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses reúnem-se em São Bento e farão uma declaração sobre "a necessidade de limpeza de mato".
Talvez porque ontem Xavier Viegas, autor do relatório sobre os incêndios de Pedrogão, foi à Assembleia da República falar (à porta fechada) sobre o capítulo 6 (o tal que não foi divulgado publicamente) e o que disse não pode deixar ninguém indiferente: "Faltou em Pedrógão o trabalho de busca e salvamento, ou seja, a prestação de socorro médico falhou porque houve falhas nas buscas, que não foram coordenadas”. E sobre isto, e porque não podemos deixar que a chuva e o vento nos ofusquem a memória daqueles dias trágicos de calor e chamas, é ler esta discreta mas tocante reportagem (publicada no último domingo no Notícias magazine) sobre o rasto traumático que os incêndios de 17 de junho e 15 de outubro de 2017 deixaram nos bombeiros envolvidos.
Talvez, por fim, porque este é o primeiro debate quinzenal depois do congresso do CDS de que Assunção Cristas saiu com ganas de conquistar o mundo e o PS não esconde a ânsia de a "por no sítio". O tema dos incêndios serve que nem uma luva para esse fim, como bem se antevê lendo este artigo publicado no Jornal de Notícias onde a secretária-geral adjunta socialista, Ana Catarina Mendes, não poupa críticas à líder centrista acusando-a de, enquanto ministra da Agricultura (entre 2011 e 2015), pouco ou nada ter feito pelo ordenamento e limpeza florestais. O debate (com início marcado para as 15h) promete.
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OUTRAS NOTÍCIAS, CÁ DENTRO...
Pedro Santana Lopes regressou ao comentário político na SIC Notícias, ontem à noite. Ia falar do PSD e do Montepio. Acabou por só ter tempo de falar no PSD, usando alguns paninhos quentes mas sem deixar de passar a mensagem de que as suas impressões sobre o primeiro mês de Rui Rio (seu ex-adversário) na liderança do partido não são as melhores. "Tem sido um mês complicado", reconheceu, na mesma intervenção onde admitiu (numa frase com o seu quê de autobiográfico) que "às vezes se fazem escolhas na melhor das intenções e não correm bem" e lamentou "quando as pessoas dão cabo elas próprias do (seu) estado de graça". Não resistiu a lembrar a Rio que "as afirmações de superioridade moral são sempre muito complicadas" e terminou a classificar o episódio Feliciano Barreiras Duarte (que incluiu no seu curriculum vitae uma referência a uma passagem pela Universidade norte-americana de Berkeley que nunca aconteceu) como "uma história embaraçosa".
Pena Santana, também ex-provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, já não ter tido tempo de falar sobre o Montepio e comentar a decisão do Governo de conceder um crédito fiscal à associação mutualista que permitirá salvar a instituição até aqui tecnicamente falida. A solução indignou o diretor do Expresso, é considerada "criatividade contabilística para tapar os olhos" pelo antigo ministro das Finanças Bagão Felix, mas Mário Centeno foi ontem ao Parlamento dizer que só está "a aplicar a lei" e o PS fala em "normalidade". Numa daquelas alianças estranhas mas que de vez em quando acontecem, PSD, BE e PCP criticam todos a decisão do Governo - e os dois primeiros querem mesmo ver tudo muito bem explicado.
Há um novo surto de sarampo, desta vez a norte. Em 34 casos suspeitos, a Direção Geral de Saúde já confirmou sete.Três estão internados.
A greve dos professores continua, hoje na região centro, depois de a FENPROF falar que, ontem, na região sul, houve níveis de adesão na ordem dos 70%. Os docentes protestam, recorde-se, contra o facto de o Governo não querer contabilizar a totalidade do tempo em que as carreiras estiveram congeladas agora que retomaram as progressões. Henrique Monteiro, no seu Expresso Longo semanal, disserta sobre "Para que serve uma greve da função pública?"
As autoridades marítimas aguardam por nova preia-mar para tentar desencalhar o navio Betanzos, encalhado há uma semana nos bancos de areia do Bugio, na foz do Tejo.
O Sporting defronta o Plzen às 18h00, na Doosan Arena, na República Checa. É a segunda mão dos oitavos de final da Liga Europa. Se passarem aos quartos de final (e as perspetivas são boas pois venceram a primeira mão, em Alvalade, por 2-0), os leões encaixam um prémio de um milhão de euros(atribuído pela UEFA). Pode seguir o antes, o durante e o depois do desafio na SIC Notícias, em emissão especial a partir das 17h.
...E LÁ FORA
Triste efeméride a que se celebra hoje: sete anos de guerra na Síria. Foi a 15 de março de 2011 que milhares de sírios saíram à rua em protesto contra a prisão de 15 jovens que tinham escrito na parede da escola "o povo quer a queda do regime". Desde então o regime tem feito tudo para destruir o povo. E, infelizmente, tem sido bem sucedido. Os números da guerra são impressionantes: mais de meio milhão de mortos, entre eles 24 mil crianças.
A guerra diplomática entre o Reino Unido e a Rússia está nas manchetes dos jornais ingleses. Depois da primeira-ministra britânica, Theresa May, ter anunciado ontem a expulsão de 23 diplomatas russos - na sequência da tentativa de envenenamento, em solo inglês, do ex-espião Sergei Skripal e da sua filha -, a Rússia prepara-se para retaliar. Um tweet da embaixada russa em Londres mostra que o estilo Trump está a fazer escola: "A temperatura das relações Rússia-Reino Unido desceu para 23 graus negativos, mas nós não receamos tempo frio".
A notícia é esta: o parlamento espanhol proibiu as esterilizações forçadas em pessoas com deficiência. Tive de ler e voltar a ler antes de conseguir fechar a boca de espanto: eram permitidas até aqui?
O Barcelona goleou o Chelsea por 3-0 e qualificou-se assim para os quartos de final da Liga dos Campeões. No lado B da competição, o Manchester United ficou de fora ao ter perdido em casa, na terça-feira, frente ao Sevilha, o que deu pretexto ao Pedro Candeias para escrever este texto: "Já ninguém quer ser Mourinho". De bestial a besta ou, noutra versão, de como a vida é como os interruptores.
AS MANCHETES DOS JORNAIS
"Pausas para rezar tiram têxteis portugueses em àfrica" (Jornal de Notícias) "Fogos: Governo quer abrir 2400 km de caminhos em terrenos privados" (Público) "Função Pública envelhecida: um quarto dos funcionários tem mais de 55 anos" (Diário de Notícias) "Santa Casa entra no Montepio com participação simbólica" (i) "Benfica esconde cartilha de rivais" (Correio da Manhã) "221 milhões de euros - sem bónus no IRC seria este o prejuízo do Montepio" (Jornal de Negócios) "O mundo negro da fraude alimentar" (Visão) "Gato Fedorento - eles voltarm (só por um dia, só para nós)" (Sábado) "Vieira segurou Paulo Gonçalves" (A Bola) "Jesus dá a receita" (Record) "Herrera: renovação alinhavada" (O Jogo)
O QUE ANDO A LER E A VER
Faz hoje exatamente dois meses que assumi funções como editora de Política na SIC. "A caixa que mudou o mundo" está a mudar, e de que maneira, a minha vida (de quase trinta anos na imprensa escrita). E confesso: na voragem destas primeiras semanas à descoberta do "maravilhoso mundo" da televisão, os livros têm ficado para trás, amontoando-se em pilha num "stand by" sem fim à vista. Serve este intróito para me desculpar: não tenho conseguido ler nada para além dos jornais do dia. E mesmo nestes há tanto para ler que exige tempo que não tenho tido! Só de ontem para hoje, esta espécie de "mesa de cabeceira" virtual acumulou vários artigos/dossiês sobre Stephen Hawking, o físico inglês que morreu ontem, aos 76 anos. Há-os no Expresso - comece por "o homem que nos explicou o espaço morreu sem lá ter ido" -, no Observador, no Público, no Diário de Notícias, no francês Le Monde, no americano New York Times. A Universidade de Cambridge, onde Hawking foi professor toda a vida, também lhe dedica uns quantos textos (além de um vídeo tocante). Mas foi no inglêsThe Guardian que encontrei uma abordagem diferente (e este texto li mesmo) para uma pergunta que me surgira logo de manhã, quando ouvi a notícia da sua morte: e se Stephen Hawking tivesse nascido noutra época, ou noutro país? A colunista Zoe Williams ensaia uma resposta (obviamente política) para concluir algo arrepiante: o cientista nunca teria sobrevivido, no seu próprio país,na época atual de austeridade. Zoe é implacável: "Capaz de comunicar usando apenas os músculos de uma das bochechas, ele usava um dispositivo discursivo impossível de imaginar ser fornecido por um sistema [nacional de saúde] que tem tão pouco interesse no que as pessoas com deficiência têm para dizer"; conta que Hawking estava neste momento "em campanha contra a crise no SNS, a sua suborçamentação, a sua privatização, o congelamento dos salários públicos e outras pressões sobre os funcionários", com uma argumentação muito definida: "Ele sabia que não poderia ter sido o físico que foi sem os cuidados médicos que recebeu. E defendia (...) que estes cuidados estavam debaixo de um ataque político sustentado". Vale a pena ler, porque vale muito a pena pensar exatamente nisto: quantas pessoas incapacitadas passam ao lado de uma vida realizada, numa época em que a ciência já pode tanto, simplesmente porque - reocnheça-se - continuam longe de ser prioridade para os políticos?
Uma curiosidade ou, melhor dizendo, uma coincidência cósmica: Hawking nasceu no exato dia em que se completavam 300 anos sobre a morte de Galileu (8 de janeiro de 1942) e morreu no dia do 139º aniversário de Albert Einstein. E sobre o génio que concebeu a Teoria da Relatividade o diário britânico The Guardian dava conta ontem de uma série de cartas escritas pelo físico à sua irmã Maja que vão ser tornadas públicas entre 18 e 20 de abril e leiloadas pela Christie's entre 2 e 9 de maio. Numa delas, em 1925, Einstein escreveu este desabafo algo surpreendente para quem tinha então apenas 46 anos: “Estou feliz no meu trabalho, mesmo se neste e noutros assuntos começo a sentir que o brilhantismo da juventude já é passado.”
E por falar em brilhantismo na juventude, sugestão para o próximo fim-de-semana: se vive em Lisboa ou perto, dê um salto ao cinema S.Jorge onde, no sábado, às 17h, é exibido, no âmbito do festival de animação Monstra, o filme "The yellow submarine", comThe Beatles. Não é a cópia remasterizada que assinala os 50 anos da película e que será exibida (numa única vez), a 8 de julho no Reino Unido. Mas vale sempre a pena ver no grande ecrã (eu nunca vi) uma "obra-prima subsersiva", como a classificou em tempos o argumentista dos Simpsons Josh Weinstein. Numa das canções da banda sonora, o "It's all too much" (de George Harrison), encontrei as frases perfeitas para encerrar este Curto com um convite a que se faça ao mundo, através dos jornais, das televisões, das rádios, na medida da sua curiosidade (a força motriz de qualquer génio): "All the world is birthday cake. So take a piece but not too much". Tenha um dia bom.
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