sexta-feira, 2 de março de 2018

Hotel Saraiva de Carvalho e outros disparates in OBSERVADOR


El-Rei D. Sebastião desapareceu em Alcácer do Sal e outros disparates dos alunos de História. O que tem que mudar?

01 Março 2018475
Hotel Saraiva de Carvalho. Marquês de Pombal Presidente. E um general Inverno.Dois professores coleccionaram as respostas mais disparatadas dos alunos de História, que tem das piores médias. Porquê?
A pergunta era daquelas de algibeira e vinha num teste de História: “Qual a batalha em que desapareceu D. Sebastião?” A resposta está parcialmente correta e parcialmente… confusa. “D. Sebastião desapareceu quando estava a combater os mouros na cidade marroquina de Alcácer do Sal.” Não, o facto de esta batalha, memorável batalha, ter ocorrido no distante ano de 1578 não explica a (imemorial) troca do aluno de “Quibir” por “Sal”.
Mas esta é apenas uma das muitas, mesmo muitas respostas “disparatadas” que Isabel Moreira de Brito, há duas décadas professora de História, recolheu e publica agora no livro “D. Sebastião desapareceu em Alcácer do Sal?”. São sobretudo respostas em testes do Ensino Básico ou do Secundário. Mas outras há que surgiram também nos Exames Nacionais do 12.º ano. A explicação dos equívocos, acredita Isabel Moreira de Brito, é muitas vezes a ansiedade decorrente das provas e a falta de estudo do próprio aluno. Mas o atual programa de História, demasiado extenso sobretudo no Secundário, também pode contribuir para que haja tantos (e tão divertidos quanto inenarráveis) enganos.
“O próprio exame de História também é um problema, porque englobava apenas a matéria do 12.º ano e, agora, engloba a matéria de três anos, o que tornou o exame bastante difícil. E muitas vezes o que é lecionado nos programas de História não vai ao encontro da realidade que estão a viver e acaba por se tornar pouco apelativo. Eles começam [no Secundário] pela civilização grega e só depois, no 12.º, chegam à História contemporânea. É evidente que, no início, não é fácil que um aluno de 14 anos, ainda algo imaturo pela idade que tem, se interesse pela Idade Média ou pelas instituições medievais.E o professor tem de encontrar estratégias para despertar a curiosidade – mas nem sempre é fácil”, explica ao Observador a professora do Agrupamento de Escolas de Alpendorada, em Marco de Canaveses.
Voltando a D. Sebastião e a Alcácer-Quibir. Um outro livro agora lançado — sim, há dois –, “História de Portugal em Disparates”, de Luís Mascarenhas Gaivão, outrora professor de História e hoje aposentado, reúne igualmente respostas (pouco conseguidas, claro) sobre esta famigerada batalha. Ou melhor, opiniões. Uns alunos opinam que, “como não tinha homens”, D. Sebastião “não devia ter ido para a guerra”. Mas o que é que aconteceu em Marrocos? “Era burro [D. Sebastião] e borrou-se, armando-se em bom”. Outro estudante, incrédulo, é mais parco em palavras na hora de responder: “Foi tudo tão mal organizado e tão absurdo que contado ninguém acredita.”
“Sinto que os alunos chegam mal preparados ao Ensino Básico”, lamenta Luís Mascarenhas Gaivão. “E vão para o Secundário com falhas graves na língua portuguesa. Tudo se complica na História, claro, porque muitas vezes os textos que servem de base às perguntas são, por exemplo, medievais e por aí fora, longe da linguagem dos alunos hoje. E como é que os alunos, que mal sabem ler, vão saber interpretar e escrever? Não vão. Então, a disciplina torna-se mal-amada”.
É verdade que os Abba venceram na Eurovisão com “Waterloo”. Mas Napoleão foi derrotado na batalha — e era a isso que se referia a pergunta (Créditos: Hulton Archive/Getty Images)
Há enganos que dificilmente podem ser explicados pela extensão do programa lectivo. Durante um teste, e à pergunta “refira a importância da Batalha de Waterloo para a História da Europa”, respondeu o aluno, ignorando que a batalha ocorreu em 1815 e resultou na derrota (e fim da hegemonia) de Napoleão Bonaparte: “Waterloo foi muito importante para a Europa, pois com este tema os Abba venceram o Festival Eurovisão da Canção”. Uma resposta com potencial para levar o general prussiano Gebhard von Blücher e o Duque de Wellington a voltarem-se no túmulo às gargalhadas.
“Também há alunos que vão para o exame sem estudar. E estas situações mais descabidas acabam por acontecer. Vão para exame sem estudar porque nem precisam da nota da disciplina. Fazem lá as contas deles, sabem que têm um 12 ou um 13 na frequência, a nota do exame é 30% da nota final, e não se preocupam. E depois acontecem situações como esta. É preocupante”, explica Isabel Moreira de Brito.
Preocupantes são igualmente as respostas a perguntas relacionadas com a religião, por exemplo. No livro “História de Portugal em Disparates”, de Luís Mascarenhas Gaivão, e à pergunta “o que é a Era Cristã”, há respostas (e equívocos) de bradar aos céus. “Os cristãos são todos os que acreditam num só Deus: Alá.” Haverá certamente um teólogo ou outro que discorde do aluno em causa. Mas dificilmente deixará de se rir da seguinte resposta: “Era Cristã era uma palavra que os cristãos usavam muito: era Cristã”.

O famoso “general” que é uma estação do ano

“Indique o nome da Aliança criada na Europa após a derrota de Napoleão Bonaparte”, pedia-se num teste. A resposta? “A Santa Aliança, da responsabilidade de Deus, do Filho e do Espírito Santo.” Não era bem, bem. Era uma “Santa Aliança”, sim, mas nada tinha a ver diretamente com a Santíssima Trindade da doutrina cristã. Tratou-se de um tratado político-religioso elaborado pelo czar russo Alexandre I, sendo assinado em Paris, em setembro de 1815, pelo czar, pelo rei da Prússia, Frederico Guilherme III, e pelo imperador da Áustria, Francisco I, e resultou da união dos três ramos da família cristã europeia: os ortodoxos russos, os protestantes prussianos e os católicos austríacos.
E à pergunta “quais as causas da derrota de Napoleão Bonaparte na Rússia?”, o que respondeu um aluno de Isabel Moreira de Brito? “Napoleão foi derrotado por um general chamado Inverno numa batalha ocorrida perto de Moscovo. O general Inverno, um dos mais importantes de toda a Rússia, conduziu os seus exércitos à vitória e obrigou Napoleão a retirar-se da Rússia.” Se a resposta era uma metáfora, está… meio correta. De facto, o Inverno, a estação e não um general, foi importante (fundamental na verdade) na derrota das tropas de Napoleão. Após a rejeição, por parte do czar Alexandre I, do Bloqueio Continental proposto por Napoleão, este último invadiu a Rússia. Isto em 1812. As tropas comandadas pelo general Mikhail Kutuzov recuavam queimando tudo à sua passagem, tática de guerra a que se chamaria de “terra queimada”. No dia 14 de setembro, o exército de Napoleão entrava em Moscovo. A cidade tinha sido também incendiada. Não tardaria, chegava o Inverno e 40 graus abaixo de zero. Os franceses bateram em retirada. Mas cerca de seiscentos mil soldados morreram durante a invasão napoleónica da Rússia.
A “Universidade Sénior” onde estudaram Platão ou Aristóteles? Na verdade, trata-se de um fresco de Rafael sobre a continuidade do pensamento filosófico (Créditos: Wikimedia Commons)
A professora também se diverte com as correções. E uma resposta disparatada que contenha um raciocínio correto é valorizada. Não é certamente o caso da resposta à pergunta “identifique o tema representado na obra A Escola de Atenas, de Rafael”. Trata-se, na verdade, de um dos frescos mais conhecidos do período renascentista, ilustra a Academia de Platão, e foi encomendado a Rafael pelo Papa Júlio II, que pretendia demonstrar a continuidade histórica do pensamento filosófico, sendo igualmente uma alegoria complexa ao conhecimento profano – pois estão nele representados, além de filósofos, matemáticos, astrónomos, humanistas ou artistas. O aluno não sabia a resposta de todo em todo. Então, resolveu “analisar” a pintura à sua maneira. “A obra representa uma espécie de Universidade Sénior da época. No centro do quadro, os homens representados são velhos, têm uma barba branca. Além disso, aparecem mais idosos, alguns com bengala e com livros na mão, por isso é que andam a estudar. A obra chama-se A Escola de Atenas, portanto, seriam idosos de Atenas e, provavelmente, estariam no intervalo de alguma aula. Vemos alguns sentados nos corredores a ler e a escrever, se calhar até estavam a copiar o trabalho para casa.”
Apesar de tudo, esta é talvez a resposta disparatada favorita de Isabel Moreira de Brito: “A capacidade imaginativa foi tão grande e a argumentação tão boa, que eu achei brilhante na altura a forma como ele explicou aquilo. Obviamente não tinha nada a ver com a obra. [Risos] Mas os pormenores da explicação, tudo o que viu no quadro… é delicioso. Claro que é um desconsolo para um professor uma resposta disparatada. Mas nos casos em que a resposta errada não é um disparate total, em que o aluno trocou a informação mas percebeu o essencial, o raciocínio é obviamente aproveitado e tido em consideração na avaliação”.
"Há necessidade de se reduzirem os programas de História A, nomeadamente os seus conteúdos ao que é essencial, acabando-se com a tal ‘ditadura dos conteúdos’, veiculada pelos manuais, que acabam, demasiadas vezes, a substituir-se aos programas disciplinares."
Miguel Monteiro de Barros, presidente da Associação de Professores de História
Rafael, tal como Miguel Ângelo, por exemplo, foi um dos mais importantes pintores do Renascimento. Donatello voltou-se sobretudo para a escultura. À pergunta “em que áreas artísticas se destacaram Rafael, Miguel Ângelo e Donatello?”, um aluno respondeu no teste: “Destacaram-se no cinema, nos filmes das Tartarugas Ninja”.
Mas voltando à pintura. É nesta (e na análise desta) que surgem as respostas mais “inspiradas”. Vejamos um exemplo: “Analise a obre de Hyacinthe Rigaud, em que Luís XIV aparece retratado, destacando os símbolos do poder representados.” O aluno respondeu no respetivo teste de História: “O rei usa sapatos com salto alto, leggings, uma blusa com imensos folhinhos e bordados. Vê-se que a moda era uma das suas preocupações. Na minha opinião, podemos dizer que já naquela época existiam metrossexuais. Luís XIV é um exemplo.” É certo que o Rei Sol gostava que o retratassem como imperador, omnipresente e magnífico, sempre altivo nos retratos, nunca sorrindo – até porque a doença cedo lhe levaria os dentes. Vaidade? Talvez. Avarento? Um pouco, sim. Metrossexualidade? Era cedo para tal…
“D. Sebastião desapareceu em Alcácer do Sal?” estará à venda a partir de 7 março

O Marquês de Pombal que foi Presidente

A classificação média de História A no exame do Secundário é uma das piores entre todas as disciplinas. Nos últimos cinco anos rondou sempre os 10 valores. Foi negativa (9,3) em 2016, subindo em 2017 para 10,2. Mas excluindo o exame nacional do 12.º ano, a média de História A foi mesmo a mais baixa entre todas as disciplinas: 12,98 valores, atrás da Matemática (13,8) ou do Português (13,4).
O presidente da Associação de Professores de História, Miguel Monteiro de Barros, apresenta ao Observador uma das causas principais para este “estado de coisas”: “Os programas da disciplina de História A são demasiado extensos, para mais quando se equaciona a necessidade que professores e alunos sentem de que se lecionem todos os conteúdos que possam vir a estar presentes nas provas de História”. Defende por isso a redução desses programas e o desenvolvimento de competências históricas, “através da interpretação, da reflexão e da crítica de fontes”. Só assim, acrescenta, “se conseguem ultrapassar situações em que os alunos se limitam a cruzar informações avulsas recolhidas nas aulas com informações recolhidas na Internet. Os resultados dos exames refletem esta realidade”.
"Os alunos vão para o Secundário com falhas graves na língua portuguesa. Tudo se complica na História porque muitas vezes os textos que servem de base às perguntas são, por exemplo, medievais. Como é que os alunos, que mal sabem ler, vão saber interpretar e escrever? Não vão."
Luís Mascarenhas Gaivão
Às vezes a “investigação” (feita muitas vezes com recurso a resumos “abrasileirados” encontrados na Internet e pouco aprofundados) acaba por resultar em confusão e respostas com erros de palmatória. “A Internet pode ser prejudicial se não se seguirem as recomendações dos professores. São recomendados determinados sítios que os alunos deverão consultar. Mas nem sempre isso acontece. Muitas destas respostas um pouco absurdas têm mesmo a ver com isso: não se ouviu bem na sala de aula, não se anotou qual era a resposta certa, e depois, em casa, o estudo também não é devidamente feito. Por iniciativa própria tanto podem encontrar o trigo como o joio”, garante Isabel Moreira de Brito.
Luís Mascarenhas Gaivão, que durante três décadas foi professor do Ensino Básico e se aposentou há oito anos, garante que, apesar dos disparates que foi encontrando, os alunos, hoje como anteriormente, são “inteligentíssimos”. E explica: “Que ninguém pense o contrário. Em muitos dos disparares eu percebo que o aluno está a pensar. O problema é que demasiadas vezes preocupam-se em decorar o programa e não entendem a História. O professor esforça-se para que entendam. Mas nem sempre é fácil. Porque os professores estão a lecionar com um cutelo no pescoço.”
Cutelo? “As turmas são grandes demais, os programas extensos demais. O principal problema está no programa. Não está bem elaborado e não se adapta às idades dos alunos. São programas elaborados por ‘eminências’ ministeriais que não conhecem a realidade. É elaborado por professores? Muitas vezes são ‘professores’ que nunca lecionaram. Ou se lecionaram, só lecionaram no começo. Estão nos gabinetes e por lá continuam, não conhecem a realidade. Têm que perceber que uma criança não pode ter a mesma capacidade de raciocínio de um adolescente, por exemplo. Não tem as mesmas noções de tempo, de espaço, são noções ainda incipientes. E é por isso que surgem os erros”, explica o autor do livro “História de Portugal em Disparates”.
Não, este (outrora exilado) Presidente do Conselho não é Salazar mas, sim, Marcello Caetano. Salazar morreu bem antes do 25 de Abril. Mas um aluno não sabia (Créditos: Central Press/Getty Images)
Mas voltando ao “joio” da professora Isabel. Eis exemplos colhidos da História de Portugal. “O que aconteceu ao Presidente do Conselho com a revolução do 25 de Abril?” O aluno, desconhecendo certamente que o ditador morreu a 27 de julho de 1970, respondeu: “Salazar deixou de governar e foi para o exílio”. O presidente era, naturalmente, Marcello Caetano, e Caetano exilou-se mesmo (no Brasil) após a revolução. Já no livro “História de Portugal em Disparates”, de Luís Mascarenhas Gaivão, o 25 de Abril é descrito por um aluno (quase poeticamente, diga-se) como o dia em que os militares “disseram adeus à ditadura e olá à liberdade”. Outro há que garante: “Acabou-se com a PIDE e com a independência”, concluindo depois: “Já se podiam fazer deflamações do Estado e dizer bocas sem ir preso”.
Recuemos na História. “Indique a função desempenhada pelo Marquês de Pombal durante o reinado de D. José I.” A resposta foi: “O Marquês de Pombal era o Presidente da República do rei D. José.” Ser Presidente da República numa… Monarquia é complicado. Sebastião José de Carvalho e Melo era primeiro-ministro. Foi quaaaaase. Adiante. “Qual o nome do militar português responsável pela vitória em Aljubarrota?” O aluno responderia no teste: “Nuno Álvares Pereira, que tinha o título de Conde Estável.” Podia ter respondido apenas Nuno Álvares Pereira e a resposta estaria correta. Mas não: inventou. E trocou “condestável” por “ Conde Estável”. O posto de condestável do Reino foi criado por D. Fernando I, em 1382, e designava o comandante-supremo do Exército. O condestável era a segunda figura da hierarquia militar, logo a seguir ao monarca.
"Claro que é um desconsolo para um professor uma resposta disparatada. Mas nos casos em que a resposta errada não é um disparate total, em que o aluno trocou a informação mas percebeu o essencial, o raciocínio é obviamente aproveitado e tido em consideração na avaliação."
Isabel Moreira de Brito, professora e autora de "D. Sebastião desapareceu em Alcácer do Sal?"
O escritor José Saramago, por exemplo, viajou no tempo (até ao século XVIII) durante um teste de História. “Indique o nome do monarca responsável pela construção do Convento de Mafra.” A resposta: “O Convento de Mafra foi mandado construir por D. João V e o escritor Saramago escreveu num diário todos os pormenores da construção”. Mais uma vez, o aluno é “tramado” pelo excesso de resposta. E disparate, claro.
Como disparatada foi a resposta à pergunta: “Caracteriza o estilo manuelino”. “O estilo manuelino foi criado por D. Manuel I, um rei que era muito estiloso.” É certo que a exuberância das formas (nas áreas arquitectónica, decorativa e escultórica) carateriza o estilo manuelino. Mas o Convento de Cristo, em Tomar, e Mosteiro dos Jerónimos ou a Torre de Belém, em Lisboa, não são propriamente um muppie ambulante com a figura “estilosa” de D. Manuel I lá decalcada, qual anúncio da Benetton. A pergunta é idêntica no livro de Luís Mascarenhas Gaivão e a resposta igualmente um disparate: “O istilo Manuel Lino eram âncoras e cordas, ingreijas e casas com as pontas em bico. Tinham a característica do gosto da arte. Quadros sobre o mar e quadros sobre a Cruz de Cristo. Era feito com plantas, esferas e animais e caracterizava-se com as leis do mar e o material que era usado.”

A Estátua da Liberdade num avião em 1885?

Mas a restante História, que não só a de Portugal, também é maltratada em testes e exames. Num tempo, o século XIX, em que o transporte aéreo intercontinental não existia, à pergunta “refira qual o país que ofereceu a Estátua da Liberdade aos EUA” um aluno respondeu assim: “A Estátua da Liberdade foi feita pelos franceses, que a ofereceram aos americanos e, para isso, tiveram de transportá-la de avião.” Mesmo hoje, transportar uma estátua em bronze com 46 metros de altura e 158 toneladas de peso é missão difícil. Em abril de 1885 a estátua chegou aos Estados Unidos a bordo do navio francês Isère.
Vinte anos antes, a 14 de abril de 1865, o 16.º presidente dos Estados Unidos, Abraham Lincoln, foi alvejado num camarote do Teatro Ford, em Washington, pelo fundamentalista sulista John Wilkes Booth. Morreria. “Mencione em que circunstâncias foi assassinado o presidente norte-americano Abraham Lincoln?” “O presidente foi assassinado quando passava pelas ruas de Dallas num carro descapotável”, respondeu o aluno, confundindo Lincoln com… John F. Kennedy.
Gutenberg é “antigo”, sim, e nasceu em 1398. Mas pré-histórico não. Um aluno acreditava que sim. E que Gutenberg partilhou o tal período com dinossauros (Créditos: Rischgitz/Getty Images)
E à pergunta “defina Pré-História”, o que terá sido respondido? “Foi a época em que viveram os dinossauros e terminou com a invenção da escrita por Gutenberg.” Pobres dinossauros, que viveram na Terra há aproximadamente 245 milhões de anos, durante a era Mesozoica. E pobre Gutenberg, que foi “apenas” o criador do processo de impressão com tipos móveis, a tipografia. Definindo (bem) a Pré-História, é o período que se inicia com o aparecimento dos primeiros seres humanos na Terra e que perdurou até ao surgimento (cerca de 4000 a.C.) da escrita.
No livro “História de Portugal em Disparates” as definições de Pré-História são diferentes em quase tudo menos no erro. “A Pré-História é o que já passou há muitos anos, quando não havia quase nada do que há hoje”, responde um aluno no teste. Outro elabora mais: “Foi um tempo passado à milésimos de anos, onde viviam os povos primitivos e onde ezestiam animais que não há hoje.” E depois há o aluno “darwinista” que se ficou pelo símio, claro: “Foi com o início da terra, quando os animais eram grandes e monstruosos. As pessoas eram descendentes de macacos e, a partir de então, foram-se desenvolvendo, dando origem a novos macacos.”
“O meu disparate favorito? Acho que é este da Pré-História, sim. Acredite, o aluno respondeu-me mesmo isto no teste: que os homens primitivos descendiam dos macacos e que se desenvolveram originando novos macacos. E não é que é a mais pura verdade? Em parte, claro…”, graceja Luís Mascarenhas Gaivão.
“Ao escrever este livro a ideia não era ficar-me apenas pela história disparatada, pelo absurdo, pela história engraçada. Mas também contar um pouco a história como ela é”, garante Isabel Moreira de Brito. “É uma forma de os alunos perceberem que através do erro podem melhorar. É isso que faço na sala de aula. Hoje falei sobre o 25 de Abril ao 12.º ano. Sobre o início da revolução. E estava a falar em Otelo Saraiva de Carvalho. E a partir do erro de um outro aluno — que por acaso nem aparece aí no livro — disse-lhes: ‘Atenção, não é hotel; é o Otelo…’ Porque em mais do que um teste me apareceu ‘Hotel Saraiva de Carvalho’. Riram- se e perceberam, claro. Através de um pequeno erro, de uma história que acaba por ser uma simples graça, aprendem alguma coisa”. Luís Mascarenhas Gaivão tentou sempre fazer o mesmo: utilizar o erro para ensinar. “No livro, a minha ideia foi reescrever a História com os disparates dos alunos. Mas há aqui também uma preocupação didática. Ao citar o disparate, com alguns comentários ad hoc, vou chamando a atenção para aquilo que é o erro. A História é uma ciência. E como ciência que é, tem que ser rigorosa”, lembra.
Mas alunos há que preferem a Internet (e o aparente facilitismo que a mesma lhes proporciona) ao estudo. “Qual a obra criada durante o Iluminismo com o objetivo de compilar diferentes áreas do conhecimento e cultura?” Não, não foi a enciclopédia. Para um aluno da professora Isabel, “foi a Wikipedia”.
“História de Portugal em Disparates” chega às livrarias no dia 7 março

OBSERVADOR

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360º

Por Filomena Martins, Diretora Adjunta
Bom dia!
Enquanto dormia... 
... houve pré-acordo na Autoeuropa sobre os aumentos salariais, mas não sobre os novos horários de trabalho. As subidas de 3,2% (mínimo de 25 euros) eram uma das reivindicações da Comissão de Trabalhadores. A outra -- a dos novos horários que entrarão em vigor em agosto -- ficou para discutir em abril ou maio.

As bolsas afundaram depois dos impostos anunciados por Donald Trump às  importações de aço e alumínio. O Down Jones perdeu 500 pontos e Wall Street voltou a ter um dia para esquecer. "Cada dia é uma nova aventura", escreve o Washington Postsobre as consequências da volatilidade das decisões do presidente norte-americano. Em Portugal as perdas também foram acentuadas. E esta manhã Tóquio abriu a cair 3%.

Depois de Trump ter usado a mãe de todas as bombas, Putin anunciou o pai de todos os mísseis. O presidente russo anunciou uma nova linha de armas nucleares que já estão a ser testadas, podem atingir qualquer parte do mundo, são "indetectáveis e invencíveis". Os EUA desvalorizaram. Mas na CNN há quem fale em algo "arrepiante para todos".

Carles Puigdemont causou surpresa em Espanha e em concreto na Catalunha. A partir do exílio na Bélgica e via redes sociais, renunciou à presidência do governo catalão mas fez questão de indicar o seu substituto: Jordi Sànchez, que não só está preso, como também é inelegível. Em editorial, o El Paísdiz que o "único programa dos independentistas já é só a agitação".
Hoje é dia clássico e de se começar a definir o campeonato. O FC Porto recebe no Dragão o Sporting a partir das 20h30 e uma vitória deixa os sportinguistas a oito pontos e com a luta pelo título muito mais difícil. Mas Jesus não acredita num desaire. Do lado dos leões, além do castigado Gelson, confirma-se a baixa de Bas Dost por lesão. Os portistas continuam sem poder contar com Danilo e Soares.

Fora de campo, as notícias são outras. A PGR confirmou ter recebido uma denúncia anónima a acusar o FC Porto de  corrupção nos segundos 45 minutos do jogo com o Estoril. Os portistas negaram e prometeram responder em campo. E mostraram documentos em como o pagamento de 784 mil euros à equipa do Estoril aconteceu numa outra data e por outros motivos.

Nota ainda para o futebol na televisãoa RTP vai deixar de transmitir os jogos da Liga dos Campeões (que ainda não se sabe em que canal passará, o concurso termina hoje). Mas fica com a Taça e a Supertaça até 2020.




Outra informação importante Começa a pressão para Costa se definir. Mariana Mortágua exige que os socialistas clarifiquem o seu caminho até ao final da legislatura, em entrevista ao Miguel Santos Carrapatoso. “Mais cedo ou mais tarde o PS vai ter de decidir por que lado vai”, diz a bloquista. Que também critica o PSD de Rio e o papel de Marcelo na reaproximação entre PS e PSD.

Bloco que cometeu uma enorme "gaffe". Pediu que fosse ouvido em audição sobre o Portugal 2030 o antigo conselheiro de Estado e ex-presidente do Conselho Económico e Social Alfredo Bruto da Costa. O sociólogo morreu a 11 de novembro de 2016, aos 78 anos.

No PSD, o dia foi movimentado. Enquanto Fernando Negrão pedia desculpas aos deputados pelas críticas e "alguns exageros de linguagem", Rui Rio elogiava-lhe o tom "mais pausado" do primeiro debate e garantia também que a "turbulência no partido está atenuada". Talvez não por muito tempo, pois na reunião com Assunção Cristas (48 horas depois da que teve com Costa), acabou a dizer que o diálogo com o PS é tão natural como com o CDS. Mais tarde, mudaria a trajetória com o alerta de que a "economia está a definhar".

Na lei do financiamento partidário, os partidos decidiram ignorar o veto de MarceloPSD, PS, Bloco e PCP não alteram uma vírgula em relação ao fim do limite para a angariação de fundos. E apenas apresentaram alterações (à exceção do PCP) sobre o reembolso do IVA. A (nova?) lei é discutida e votada hoje de manhã.

Será mais um tema para deixar o Presidente insatisfeito. Ontem Marcelo exigiu que a investigação sobre o roubo (e devolução com bónus) em Tancos “vá mais longe e fundo”. E não se mostrou agradado com as actuais conclusões.

No julgamento da Operação Fizz, o ex-procurador Orlando Figueira revelou ter recebido ameaças de morte. Por isso pediu segurança para si e para a sua advogada.

Em Angola, a PGR vai investigar a administração de Isabel dos Santos à frente da Sonangol.

O mau tempo deixou marcas por todo o paísEstradas cortadasacesso ao Portinho da Arrábida em Setúbal destruído, voos cancelados, milhares de euros em prejuízos na Madeira, e mais de mil chamadas para os serviços de emergência. Por cá, a chuva e o vento vão continuar. Lá fora, a tempestade Emma está agora a provar o caos no Reino Unido, como mostra o The Telegraph, mas as imagens gélidas continuam por toda Europa como se pode ver na BBC.

A revista do Vaticano denunciou um escândalo de exploração do trabalho das freiras"Servem os homens da igreja, levantam-se de manhã para fazer o pequeno-almoço e vão dormir depois de o jantar ser servido", recebendo quase nada por isso. A responsável pelas freiras portuguesas diz que a situação "entristece a igreja". Uma das principais ativistas por um maior papel das mulheres na religião Católica diz que "são tratadas como pessoal de segunda".





Os nossos especiais 
El-Rei D. Sebastião desapareceu em Alcácer do Sal e outros (grandes) disparates dos alunos de História estão sintetizados em pelo menos dois livrosSerá que tantos erros são culpa e devem obrigar a mudar os programas da disciplina que tem as piores médias? Ou vamos continuar a ter respostas que envolvem Hotel Saraiva de Carvalho, o Presidente Marquês de Pombal e um general Inverno? O Tiago Palma falou com os autores, professores e historiadores.

Quem são os chineses que querem comprar o petróleo da Gulbenkian? A Ana Suspiro conta a história da CEFC China Energy, que depois de uma ascensão rápida e de um grande negócio na Rússia, avançou para a compra da Partex e dos seguros do Montepio. O problema são as dúvidas sobre a investigação de corrupção nos EUA.

Na visita a S. Tomé, Marcelo homenageou as vítimas do massacre de Batepá. Mas não pediu desculpaE será que se deve pedir desculpa pela História dos povos? Este foi o tema do Conversas à Quinta desta semana, entre José Manuel Fernandes, Jaime Gama e Jaime Nogueira Pinto.




A nossa opinião
  • Rui Ramos escreve sobre a "normalidade" política em Portugal: "O alargamento da geringonça ao PSD prenuncia um regime de confusão política, baixa participação, e redução do Estado às fortalezas regionais da oligarquia".
  • João Cândido da Silva escreve sobre a eleição de Negrão e a entrada da Santa Casa no Montepio: "Fernando Negrão esteve bem ao escolher o tema do Montepio para confrontar António Costa. A missão da Santa Casa não é a de se comprometer com o resgate de bancos em apuros".
  • Diana Soller escreve sobre o conflito na Síria: "Tornámo-nos um conjunto de países insensíveis que não está preocupado com o resto da humanidade? Não. O que mudou foram sobretudo duas coisas: as lições da história recente e o contexto internacional". 
  • Michel Seufert escreve sobre os apoios públicos a alunos o privado: "O esquema mental é visível no governo desde o início: perante políticas que permitem um acesso mais aberto ao ensino que as famílias livremente escolhem, há que conter o acesso de famílias carenciadas".



Notícias surpreendentesÉ uma das últimas tendências das dietas: as detox. Mas que febre é esta de limpar o corpo? E funciona? A Vera Novais foi falar com especialistas que alertam para fraude, desequilíbrios e até riscos de doenças graves.

Para algo completamente diferente, a partir de amanhã poder aprender a cozinhar com os chefs do hotel RitzHá aulas de pastelaria, cocktails, sushi e muito mais. As inscrições já estão abertas não é Diogo Lopes?

Quais foram os gadjets que mais chamaram a atenção no World Mobile Congress de Barcelona? O Manuel Pestana Machado elegeu sete, entre eles um telemóvel que faz lembrar o filme Matrix, um robot que lê emoções e óculos como os do Vegeta, do Dragon Ball. E testou-os todos.

A funkeira brasileira Ludmilla chegou... chegando. E para quem gosta há concertos em Lisboa e Esposende hoje e amanhã. A 9 e 10 de março é a vez do techno de Detroit para dançar no Beato com os Octave One.

Há uma nova série a conquistar o mundoChama-se "Lua de Papel", é espanhola, passa na Antena 3, e as máscaras à Dalí e os macacões das personagens são já dos acessórios mais procurados. Depois de 13 episódios iniciais, a segunda parte chega à Netflix a 6 de abril. Está tudo na Maag. (ah, e até tem fado na banda sonora).


Vai ser um fim-de-semana em cheio. Começa esta noite com o clássico FC Porto-Sporting e só termina na madrugada de segunda com a cerimónia dos Óscares, depois de um domingo que tem final do festival da Canção, eleições em Itália e referendo no SPD alemão. Se não quer perder pitada de nenhum dos grandes temas é fácil: esteja atento ao Observador

Bom fim-de-semana
Mais pessoas vão gostar da 360º. 

EXPRESSO DIÁRIO

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Valdemar Cruz
VALDEMAR CRUZ
JORNALISTA
 
A parábola do elefante e os massacres na Síria
2 de Março de 2018
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Um dia, um príncipe indiano chamou ao seu palácio seis cegos de nascença. Reuniu-os num pátio e de seguida mandou trazer um elefante, animal cuja existência ignoravam. De seguida convidou-os a apalpá-lo. Cada um ateve-se a uma parte do corpo do paquiderme. Quando tiveram de descrever como era o elefante, as opiniões dividiram-se conforme a parte que cada um tocara. A discussão assumiu proporções inesperadas, ao ponto de uns começarem a acusar os outros de desonestidade. O príncipe interrompeu a algazarra criada para lhes dizer que nada do que cada um deles dizia era mentira. Porém, constituía apenas uma parte da verdade. Sugeriu-lhes a humildade de experimentarem juntar a experiência por cada um deles vivida para, então sim, conseguirem imaginar como a junção das partes poderia formar o todo que é o elefante.

Não deverá haver, na história recente, conflito ao qual com tanta e dolorosa veemência se possa aplicar a parábola dos cegos e do elefante como a tragédia vivida na Síria desde há vários anos. Todos os dias, a todas as horas, são disparadas bombas letais, responsáveis por incontáveis mortes de homens, de mulheres, de crianças.

Quando o sofrimento é tanto, quando a dor é tão indescritível, quando a indiferença é tão cruel, quando a morte é o banal respirar de um quotidiano rasgado por veredas afogadas em tanto sangue, tanta raiva, mais absurda se torna ainda a outra guerra, a decorrer em simultâneo. Não no longe de uma Síria devastada. Mas frente ao nosso olhar. Muito perto. À distância de um ecrã de televisão, de uma primeira página de jornal. É uma guerra mediática sem espaço para a memória, sem inocência, sem tempo para a reflexão, sem lugar para perceber como na Síria decorre “uma guerra com muitas guerras dentro”.

A citação que fecha o parágrafo anterior é parte do título de um dos trabalhos publicados na notável edição especial gratuita do Expresso Diário integralmente dedicado à Síria. É indispensável ler. Para quem se contenta com o retrato fragmentado. Ou para quem prefere o retrato inteiro. Desde artigos de opinião, a depoimentosreportagens e textos de enquadramento, está lá tudo. Ou quase tudo. Outras perspetivas seriam ainda possíveis. O tudo é a impossibilidade de que fala a personagem masculina no primeiro diálogo de “Hiroshima Meu Amor”, de Marguerite Duras (filme de Alain Resnais)? – "Tu não vista nada em Hiroshima. Nada". Ela responde: "Vi tudo. Tudo".

O filósofo britânico, economista e defensor do liberalismo político Jon Stuart Mill (1806-1873),dizia que aquele que só conhece o seu lado do problema, na verdade não conhece nada. E a Síria é um problema com muitos lados. Demasiados lados.

Daí a relevância desta edição do Expresso Diário. Ficará como documento. Como registo de uma memória. Essa mesma memória que nos faz recordar a fala da mulher em “Hiroshima Meu Amor”, quando diz: “Como tu, também eu tentei lutar com todas as minhas forças contra o esquecimento. Como tu, esqueci. Como tu, desejei ter uma memória inconsolável, uma memória de sombras de pedra”.

O esquecimento é tão poderoso como a morte. Por isso é crucial não esquecer. Já que, como se diz no Diário, a Síria é o tabuleiro e os sírios os peões de uma guerra de xadrez que, um dia, será lembrada como o grande conflito mundial deste milénio. Entre motivações estratégicas, financeiras, políticas e religiosas há todo um mapa de interesses que, direta ou indiretamente, contribuíram para a morte de centenas de milhares de pessoas nos últimos sete anos.
 

OUTRAS NOTÍCIAS (DE OUTRAS GUERRAS)

A guerra é a guerra. Mesmo quando julgamos viver um simulacro de paz, há sempre alguém a pensar na pretérita, na presente e nas futuras guerras. Porque a guerra não para. Nunca parou. Agora foi a vez de falar Vladimir Putin. No seu discurso sobre o estado da Nação, o último antes das eleições, anunciou que a Rússia possui novas e invencíveis armas nucleares. Garantiu ter sido testado um míssil nuclear capaz de atingir qualquer ponto do mundo. Putin Assegurou que o novo projétil não pode ser detetado pelos sistemas antimíssil. A guerra é a guerra. Aguardemos a resposta. Chegará do outro lado do Atlântico. Para já, uma amostra. Os EUA acusam Putin de violar os tratados sobre armas de 1987. A guerra segue dentro de momentos.

A guerra encarna muitas variantes. A económica não é das mais brandas. A União Europeia já anunciou uma “resposta firme” às taxas de importação prometidas por Washington sobre o aço (25%) e o alumínio (10%) que entrem nos EUA. Jean-Claude Juncker afirmou que a União não ficará sentada a ver os efeitos de uma medida que, diz, coloca “em risco milhares de postos de trabalho na Europa".

Na guerra pela independência catalãCarles Puigdemont dá um passo ao lado, e renuncia à investidura como presidente da Generalitat para permitir a candidatura de Jordi Sánchez, número dois da sua lista (Junts per Catalunya) e atualmente em prisão preventiva.

A guerra pela igualdade humana é feita de avanços e recuos. (Veja em baixo O que ando a ler). O Guardian publica um artigo de fundo intitulado “O indesejável regresso da ‘ciência da raça’”. É, de alguma forma, a mancha humana de que também falava Philip Roth. O texto explora a defesa que tem vindo a ser feita por alguns antropólogos, psicólogos, ou investigadores, segundo os quais algumas raças são, por inerência, mais inteligentes que outras. Os autores da tese intitulam-se a eles próprios “nobres dissidentes”.

A guerra do clima agrava-se dia a dia. Não é pelas ocasionais chuvas, ainda assim raras e pouco eficazes. Não é pelos ocasionais e inesperados nevões, por exemplo em Londres, como mostra este vídeo do The Independent. É sobretudo por uma política global de cegueiraque pode estar a conduzir o planeta para o abismo. Os sinais estão aí. Todos os dias. Como se vê, neste bom artigo de The New Yorker, sobre o que se passa com a seca na cidade do Cabo e as ameaças do dia zero, ou seja, sem água. Ou como o comprova este fantástico trabalho da NASA sobre os efeitos de um inverno invulgarmente quente no Ártico.

POR CÁ

Mais de 73% dos trabalhadores da Autoeuropa aprovaram em referendo o novo acordo laboral, que prevê aumentos salariais de 3,2%, com um mínimo de 25 euros. O pré-acordo abrange várias questões que faziam parte do caderno reivindicativo da Comissão de Trabalhadores, mas nada adianta em relação aos novos horários de trabalho que entram em vigor a partir de agosto, quando a fábrica passar a um regime de laboração contínua.

A EDP continua a dar lucro. Mas é um lucro que já não reverte a favor dos cofres do Estado português. Isto é, de todos nós. Fechou 2017 com um lucro de 1113 milhões de euros, mais 16% do que em 2016, naquele que foi o melhor resultado dos últimos seis anos.

É a principal notícia do JN. Milhares de trabalhadores portugueses foram burlados com a promessa de empregos falsos no Qatar. Há um réu a ser julgado no Tribunal de S. João Novo, no Porto. A pretexto do Mundial de Futebol de 2022 no Qatar, prometia ordenados entre quatro e seis mil euros. Pelo caminho exigia uma joia de inscrição aos candidatos. O burlão, que usava identidades falsas, tem 15 processos em todo o país.

Já conhece a Biblioteca de Literacia em Saúde? O objetivo é promover o acesso à informação sobre saúde, de modo a podermos ser mais autónomos em relação à nossa saúde e à dos que nos rodeiam. Permite pesquisa por vários temas e abre logo com uma seleção de seis grandes grupos de interesse: nascer com saúde; crescer em segurança; juventude à procura de um futuro saudável; vida adulta produtiva; envelhecimento ativo e fim de vida.

Se gostava de possuir uma aldeia, tem aqui a sua oportunidade. Foi posta à venda uma aldeia na zona de Arouca, que tem o Geopark como Património Geológico da Humanidade, a Serra da Freita ou a muito visitada Frecha da Mizarela. O património em venda é constituído por 11 casas típicas, algumas destinadas a reconstrução. Porventura o único óbice para o comum dos leitores será o preço: 600 mil euros.

PRIMEIRAS PÁGINAS

Portugueses da Califórnia zangados vão ter Costa mas queriam Marcelo – DN

Desemprego real é o dobro do que mostram os números oficiais – Público

Altice acusa Vodafone de colocar pessoas e bens em risco – I

Milhares de trabalhadores burlados com empregos falsos no Qatar – JN

Putin declara-se na posse de um arsenal invencível - El País

Governo sem dinheiro para pagar a professores – Correio da Manhã

Hospitais privados e ADSE chegam a acordo parcial – Negócios

Quarto clássico entre Dragões e Leões aquece a corrida ao título – O Jogo

O clássico é redondo – A Bola

Fome de Título – Record

FRASES

"Não há nenhuma aproximação ao PS, a aproximação é a mesma que há ao CDS”. Rui Rio, presidente do PSD, após almoço com Assunção Cristas

"Este grupo parlamentar foi insultado, maltratado e desrespeitado”. Paula Teixeira da Cruzdeputada do PSD

Todos nós fizemos uma catarse”. Fernando Negrão, líder da bancada do PSD após ter pedido desculpa aos deputados por algum excesso de linguagem

Vieira da Silva foi de longe o ministro com quem avançámos com políticas de ‘direita’”. Francisco van Zeller, ex-presidente da CIP em entrevista ao Negócios

O QUE ANDO A LER

Não somos racistasNão somos racistas? Ou será que gostamos de acreditar que não carregamos a mancha, mesmo se a mancha anda por aí? A relação dos portugueses com o racismo e a ideia muito generalizada de que não alimentamos o gérmen racista é um dos maiores mitos urbanos com o qual convivemos no dia-a-dia.

Duas leituras recentes ajudam a recentrar o problema. Na edição desta semana da revista do El País há um texto dedicado ao preconceito. Aquele preconceito sub-reptício, do qual podemos nem ter consciência, mas que condiciona muitas das nossas decisões. Ou seja, o preconceito que nos leva a excluir ou marginalizar todos quantos não se enquadrem nos nossos esquemas mentais.

Como somos subjetivos, podemos socorrer-nos de mil e uma justificações, mas, na verdade, escreve Pilar Jericó, “a maior parte das vezes movemo-nos por critérios inconscientes”, que nos levam a tomar decisões sem fundamento. Como dar por adquirido que os homens estão melhor qualificados que as mulheres para cargos diretivos. Ou rejeitar alguém no acesso a um emprego devido à sua orientação sexual”.

O preconceito leva-nos a excluir outras pessoas pelo simples facto de serem diferentes. Como os ciganos. E isso leva-nos a dois bem mais longos textos. Estão publicado na edição de janeiro do Le Monde Diplomatique, e confrontam-nos com dados arrepiantes. Daqueles capazes de abalar consciências.

Conhece-se o contexto. Ao longo de séculos os ciganos têm vindo a ser perseguidos. As acusações são, invariavelmente, sempre as mesmas. São catalogados como ladrões e intrujões, desordeiros e preguiçosos. Ou então traficantes e criminosos.

No artigo intitulado “Comunidades ciganas: consistências sociais ao longo dos tempos”, Manuel Carlos Silva e Sílvia Gomes, sociólogos da Universidade do Minho, responsáveis por um estudo sobre o tema em comunidades de Braga e Guimarães, demonstram que a perseguição aos ciganos, materializada em práticas de descriminação e racismo, é ancestral.

As comunidades ciganas vivem em pobreza relativa e, em alguns casos, em pobreza absoluta, “pois estão sujeitas a numerosas formas de estigmatização, marginalização e segregação socioespacial”.

Embora sejam conhecidos casos de envolvimento no tráfico de droga e haja uma percentagem considerável de famílias a receber o Rendimento Social de Inserção, os sociólogos concluem que “a disseminação generalizada de que as famílias ciganas vivem exclusivamente desse rendimento e estão envolvidas no tráfico de drogas é abusiva e estereotipada, uma vez que os dados mostram que a grande maioria vive das suas atividades profissionais”.

Num outro trabalho, Piménio Ferreira, ativista cigano, mestre em Engenharia Física e dirigente do SOS Racismo, defende que “o racismo institucional é sistémico", e assegura que Portugal tem sido profícuo "em produzir leis e decretos que perseguem explicitamente ciganos desde o século XV até ao século XXI, inclusive. Com efeito, é possível encontrar leis ou regulamentos anti-ciganos datados de 2015…”.

Numa nota ao texto, Piménio Ferreira especifica que o regulamento a que se refere é a proibição de usufruto, a pessoas ciganas, das piscinas públicas por parte da Câmara Municipal de Estremoz.

Portugal é muito mais complicado que as três sílabas que o verbalizam. Já o dizia – neste poema– Alexandre O’Neill.

Tenha um bom dia. Para quem gosta, logo há um FC Porto – Sporting. Como aperitivo, leia este belo poema sobre o mágico momento do golo, assinado pelo grande poeta brasileiro Ferreira Gullar, Prémio Camões 2010.
 
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