segunda-feira, 17 de julho de 2017

ALETEIA

Segunda-feira 17 Julho 2017

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OBSERVADOR

360º

Por Filomena Martins, Diretora Adjunta
Bom dia!
Enquanto dormia... 
... mais de 7 milhões de venezuelanos votaram contra Maduro. O plebiscito ao governo para travar a reforma da Constituição teve uma votação massiva, que acabou com pelo menos um mulher morta às mãos dos grupos paramilitares.

O professor de Harvard Peter Boone vai processar o Estado português. Foi acusado de ter ganhado 800 mil euros com títulos da dívida portuguesa por suposta manipulação do mercado depois de ter escrito em 2010 uma série de artigos em que previa o colapso da economia portuguesa. Acabou absolvido e agora quer ser compensado.

Aconteceu outra vez. Um mês depois de Pedrógão Grande, o SIRESP voltou a falhar em Alijó (Vila Real), onde ontem um incêndio obrigou a evacuar aldeias com crianças e idosos e fez cair um helicóptero. Em Mangualde, o fogo também levou a evacuações. Vale a pena por isso voltar ao Explicador sobre o sistema de comunicações das forças de segurança: afinal o que é o SIRESP e porque falha tanto?

Marques Mendes, no seu comentário na SIC, deixou por isso duras críticas à ministra (não remodelável) da Administração Interna. Mas acusou também Costa de ter "tiques socráticos" e da oposição estar fraca.

O Governo vai abandonar o projeto-lei do PS sobre alojamento local (já criticado por Fernando Medina e Rui Moreira)Costa opõe-se frontalmente à ideia dos condomínios terem poder de veto e mandou a nova secretária de Estado começar de novo, escreve o Público.

No caso da morte nos Comandos, as famílias das vítimas exigem 650 mil euros de indemnização ao Estado.

Duas mortes no cinema: a do actor Martin Landau; e a do realizador George A. Romero.




Outra informação importante 
São verdadeiras "portas giratórias" entre o sector público e privado aquelas por onde passaram os protagonistas do caso EDP. O Luís Rosa mergulhou na investigação a nove dos suspeitos do processo e conta como as suas  ligações se cruzam no mercado da energia.

Foi a polémica do fim de semana. Gentil Martins deu uma entrevista ao Expresso onde considerou a homossexualidade uma "anomalia" e criticou Ronaldo (e a mãe) por ter filhos de barrigas de aluguer. O médico teve de se explicar (e pedir desculpa a CR7 e a D. Dolores), mantendo contudo as declarações sobre os homossexuais. A Ordem abriu um inquérito e viu o bloquista João Semedo falar em dualidade de critérios.

Sócrates aproveitou os microfones para voltar a atacar o Ministério Público. Não só criticou as notícias de mais um possível adiamento da acusação na Operação Marquês para depois do verão, como negou o testemunho de José Maria Ricciardi sobre Manuel Pinho e a EDP e acabou a arrasar o caso das viagens ao Euro pagas pela Galp. O ex-primeiro-ministro, cujo governo aprovou a lei do recebimento indevido de vantagem, acha que são "suspeições estapafúrdias" e que os secretários de Estado que se demitiram só deviam ser acusados de "excesso de patriotismo".

O caso Galp continua aliás a dividir opiniões. Fernando Medina confessou em entrevista ao DN e à TSF que não aceitou o convite para ir ver jogos do Euro a convite da petrolífera. ao explicar porquê, condenou quem o fez. Já Carlos César está no polo oposto: considerou a investigação "um mistério" e foi acusado pelo PSD e CDS de ignorar o princípio de separação de poderes.

O outro tema que se prolongou pelo fim de semana foi o da compra da TVI pela Altice, a empresa que Costa criticou duramente no debate do Estado da Nação. Passos e Assunção Cristas atacaram o primeiro-ministro, Jerónimo e Catarina Martins disseram estar a seguir o negócio (privado, sublinhe-se) com preocupação. Eis as seis perguntas para perceber se o negócio Altice vai mesmo ser uma guerra e o perfil de Armando Pereira, o português dono da empresa que começou como feirante, canalizador e servente.

Foi um grande fim de semana para a canoagem portuguesaFernando Pimenta ganhou ouro e prata e Joana Vasconcelos e Francisca Laia sagraram-se vice-campeãs europeias.

No ténis, Roger Federer fez história. Somou o seu 8º título de Wimbledon, chorou ao ver os filhos e confirmou que velhos são os trapos. Aliás, os velhos são mesmo os novos campeões da moda. (na final feminina de Londres houve uma vitória surpresa de Garbiñe Muguruza).

Um salto até aos EUA onde Trump está com o nível de aprovação mais baixo de um presidente em 70 anos.




Os nossos especiais
Sobrinho Simões é um dos maiores patologistas mundiais e um dos grandes investigadores do cancro. Numa imperdível entrevista de vida à Marlene Carriço, o médico que nunca viu doentes confessa o seu egoísmo, a falta de jeito para se vestir, conduzir ou usar telemóvel e o terror que tem da doença que mais estuda: o cancro. Por isso mentiu ao pai. "Percebi que o meu pai ia morrer. Ele não porque o aldrabei". Foi uma entrevista histórica a que Maria Filomena Mónica fez a Américo Amorim para o livro "Os Grandes Patrões da Indústria Portuguesa" de 1989. No dia do seu funeral, republicámos a conversa intemporal na fábrica de Mozelos onde Amorim falou dos primeiros negócios, dos comunistas, do snobismo e da herança.



A nossa opinião
  • Alexandre Homem Cristo escreve sobre o caso Gentil Martins em "Anomalias Democráticas": "Gentil Martins, médico, não pode falar como cidadão e dar a sua opinião. Mas Ferro Rodrigues, presidente da AR, pode ter “posições pessoais” com críticas ao Ministério Público. Algo não bate certo".
  • Helena Matos também escreve sobre Gentil Martins em "O que será feito da deputada cigana?": "Em meados de Junho no tempo em que tudo corria bem rebentou a crise da deputada cigana. Depois aconteceram Pedrogão e Tancos e o caso da deputada cigana foi encerrado. Agora é a vez de Gentil Martins".
     
  • João Marques de Almeida escreve sobre o fim do "namoro entre Marcelo e Costa": "“2017” não é, claramente, “2016” O estado de graça de Costa acabou-se. Regressado das férias, cometeu um erro enorme: para relativizar o roubo das armas de Tancos, traiu o Presidente da República".
     
  • Alberto Gonçalves escreve sobre rir ser "o único remédio": "Embora sem descurar a habitual concentração de intrujices, descaramento e prepotência, existem sinais nítidos de que o PS decidiu deixar-se de meias medidas e começar a gozar abertamente com o pagode".
     
  • Seis especialistas deixam "Dez propostas para Portugal não arder": "Umas mais restritas e de custo limitado, outras que exigem alterações profundas ao modo como o país está organizado".
     
  • João Carlos Espada escreve sobre livros para as férias: "A nossa vida cultural e espiritual será — está a ser — drasticamente empobrecida. E não é seguro que a democracia consiga sobreviver à ditadura do capricho sem entrave".



Notícias surpreendentesEstreou ontem nos EUA a 7ª temporada da Guerra dos Tronos, que chega esta noite a Portugal.
Se ficou com água na boca... sugiro-lhe um moscatel. Ou melhor, a Ana Cristina Marques leva-o a cinco quintas onde pode provar o famoso vinho de Setúbal.

Existem há dois anos e têm muito estilo. Afinal, quem são e o que vestem os Portuguese Dandys?São a grande tendência do momento: as bóias gigantes. Se quer um flamingo, um unicórnio ou um donut para a piscina nesta férias, saiba onde comprar.

Já imaginou o lixo que faz durante sete dias? O fotógrafo norte-americano Gregg Segal quis mostrá-lo e convidou 21 famílias. O resultado, em fotos, é chocante.


Penso que já tem informação suficiente para começar a semana (e bons textos para ler). Mas vá passando pelo Observador para se manter a par de toda a atualidade (e das histórias que valem a pena)

Boa segunda-feira, feliz e produtiva
 
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Rui Gustavo
RUI GUSTAVO
EDITOR DE SOCIEDADE
 
O fogo que não se apaga
17 de Julho de 2017
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“Quando mexemos uma peça há milhões de opções mas só uma é a jogada certa.” Não quero ser tão determinista como Bobby Fisher, o perturbado xadrezista americano que foi campeão do mundo e só seria derrotado pela paranóia e mania da perseguição. Mas de tantos milhões de palavras só uma me parece certa para começar este expresso curto: fogo. Ou então, inferno. Juro que preferia falar da vitória de Roger Federer, do regresso de A Guerra dos Tronos ou do europeu feminino de futebol que desta vez vai ter a participação de uma seleção portuguesa.

Mas não dá para fugir da triste efeméride: há precisamente um mês, a 17 de junho de 2017, um fogo que parecia igual aos outros rebentou em Pedrógão Grande, tornou-se incontrolável, matou 64 pessoas e destruiu 200 casas perante a impotência e a desorganização de bombeiros e da Proteção Civil e de quem fez um contrato connosco para nos proteger (estou a falar do Estado, sim). O país só tinha uma opção: uniu-se, juntou dinheiro para doar às vítimas e até Governo e oposição fizeram tréguas para cuidar dos vivos e enterrar os mortos. Trinta dias chegaram para apagar o fogo?

Sara morreu. Tinha 35 anos e foi apanhada pelo fogo. Sarita, como era conhecida na aldeia de Vila Facaia deixou um filho de sete anos e uma irmã com um coração tão grande como fraco. Apesar dos 15 milhões de euros que se juntaram em donativos e fundos e de o Governo já ter definido as regras de acesso aos fundos, Catarina não tem dinheiro nem recebeu ajuda para pagar o funeral da irmã. A história foi contada pela Christiana Martins na edição de sexta-feira do Expresso Diário. Catarina escreveu ao presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa a pedir ajuda. Espero que a carta seja lida por todos os que viram o inferno pela televisão. Ajuda a perceber como foi na terra.
Dois dias depois de enviar a carta, Catarina recebeu um telefonema da Segurança Social de Leiria a garantir que se a seguradora não a ressarcisse, seria o Estado a pagar a despesa. O presidente da República ligou-lhe a partir do México a garantir que ele próprio trataria das despesas se o problema não se resolvesse. “Eu atrapalhei-me toda, chamei-o uma série de vezes de professor, e fiquei, mais uma vez, revoltada, porque este telefonema nunca deveria ter partido inicialmente dele.” Exemplar.

De acordo com o Jornal de Notícias, “não há apoios” e o dinheiro não chegou a uma única vítima.o Governo promete que até ao final de julho, daqui a uma semana, a situação estará resolvida.
António Costa disse no fim-de-semana que é preciso “humildade” para “aprender com os erros” e a verdade é que o Governo tem-se esforçado por continuar a errar bastante. A comissão independente nomeada para perceber o muito que correu mal ainda não começou a trabalhar depois de um processo- não lhe queria chamar surreal mas acho que não tenho outra opção - em que os partidos escolhem os seus representantes “independentes”, negoceiam e só depois se começa a trabalhar (neste caso ainda não se começou). A IGAI também ainda não começou qualquer inspeção ao que correu mal e a PJ e o Instituto Português do Mar e da Atmosfera não se entendem sequer sobre a origem do fogo. Um raio invisível ou mão criminosa? Se não fosse trágico até podia ter piada.

Podia ser a lei a valer-nos: o pacote legislativo com que o Governo se propõe fazer a tão esperada e eternamente adiada reforma das florestas vai a discussão no parlamento daqui a dois dias. Mas corre o risco de ser chumbada porque não há acordo com os parceiros da geringonça (sem ofensa) sobre os poderes e competências da Entidade da Gestão Florestal. Mesmo que seja aprovada, a lei só entrará em vigor no final do ano, depois do verão e da época dos incêndios. Num mês nada mudou.
Indiferente, o inferno continua a arder: no Alijó as chamas obrigaram à evacuação de uma aldeia. Um helicóptero caiu e houve casas e pessoas em risco. Hoje de manhã o fogo ainda não tinha sido extinto. E, adivinhem, o Siresp, o sistema de comunicações que nos custa 40 milhões de euros por ano, voltou a falhar. Com grande humildade o Governo encomendou um estudo a um escritório de advogados para perceber se o contrato feito por um escritório de advogados não lesa os direitos do Estado. Ainda temos mais um mês e meio de verão e calor. Quem acredite, reze. Às vezes é a única opção para escapar ao inferno.
 
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OUTRAS NOTÍCIAS
Começam a faltar os adjetivos para classificar Roger Federer por isso vou usar um inventado: espantabulástico. O tenista suíço ganhou o torneio de Wimbledon pela oitava vez, tornou-se o maior campeão de sempre da prova inglesa e já tem 19 títulos do grand slam, Um recorde do ténis masculino. Tem quatro filhos adoráveis que viram a coroação do pai com relativa indiferença e aos 35 anos está de volta à forma que fazem dele o maior de sempre (já tinha dito isto), o Mozart das raquetas.A oitava maravilha do planeta. Na final de domingo esmagou facilmente o croata Cilic e venceu o torneio sem perder um único set. Houve lágrimas de impotência de Cilic e de felicidade de Federer quando viu os filhos nas bancadas. O suíço já viveu o inferno das lesões, das derrotas improváveis e da queda anunciada. No fim do jogo, disse que “quem sonha” consegue tudo. Ele sonhou e conseguiu.
A seleção portuguesa de futebol começa a disputar na quarta-feira o europeu que se joga na Holanda desde ontem. Isto não seria notícia não fosse o facto de a equipa ser formada por mulheres e de ser a primeira vez que uma equipa feminina portuguesa consegue apurar-se para um grande torneio de futebol feminino. O que é que o Eder tinha escrito naquela luva branca que tirou dos calções quando marcou o golo a França que valeu o título no euro 2016? Believe, não era?
Os venezuelanos ainda acreditam que podem sair pacificamente da situação de pré-guerra civil em que vivem desde o regime do falecido Hugo Chavez. Ontem participaram num plesbicito promovida pela oposição, que controla o parlamento, para dizerem se concordam com as alterações à constituição proposta pelo Governo de Nicolas Maduro e se aceitam um governo de transição. O presidente condena a consulta que considera “ilegal”, mas sete milhões de venezuelanos foram votar. Uma mulher foi assassinada a tiro.

Na Polónia, milhares de pessoas manifestaram-se contra a iniciativa governamental que dá mais poder ao Estado para nomear e destituir juízes. “A Polónia é uma democracia baseada no Estado de direito, não é uma ‘tribunalocracia’”, justificou o ministro da Justiça, Zbigniew Ziobro. “É assim que a ditadura começa”, avisou o deputado da Plataforma Cívica, Borys Budka. A Polónia é um país da união europeia e a história do endurecimento do regime tem passado mais ao menos entre os intervalos da chuva.

Na Turquia, o presidente Erdogan não deixou muito espaço a interpretações no discurso de comemoração do suposto golpe de Estado falhado do ano passado: “Vamos cortar a cabeça aos traidores.” Não é uma figura de estilo: o presidente quer reintroduzir a pena de morte num país que quer aderir à União europeia.

Manchetes.
Público: “Governo abandona projeto de lei do PS sobre alojamento local”. Notícia sobre habitação, a mais recente paixão do Governo, como António Costa anunciou este fim-de-semana.
Correio da Manhã: “Carros rendem 23 milhões /dia ao Estado”. Uma paixão de qualquer Governo: receitas recorde nos impostos.
Jornal de Notícias: “Siresp volta a falhar”. Uma manchete que provavelmente será escrita várias vezes este verão.
Diário de Notícias: “Lutamos contra o sistema que perpetua esta violência e não contra a polícia”. Entrevista com uma das vítimas da alegada violência racista da PSP. Infelizmente não é caso único. A IGAI está a investigar 11 queixas de casos policiais de racismo.
I: “Um mês depois Pedrógão já não arde mas ainda queima”. Por baixo o candidato do PSD à Câmara de Loures faz por provar que o racismo está longe de poder ser declarado como extinto: “Os ciganos vivem quase exclusivamente dos subsídios do Estado”

O que ando a ver
“Agora é tempo de tristeza”. Documentário do Expresso sobre “uma ferida aberta”, a tragédia de Pedrógão Grande. Sei que sou suspeito, mas é um trabalho notável da Joana Beleza.
É mais o que vou ver logo à noite: Winter is coming e essa não é a única má notícia da sétima temporada de A Guerra dos Tronos: a série só vai ter sete episódios por causa das restrições orçamentais e esta é a penúltima temporada da série que andamos a ver há dez anos. O primeiro episódio chama-se “Daenerys Regressa a Casa”. Se não sabe o que o que isto quer dizer não merece saber.
Por hoje é tudo. E apetece-me fechar com uma canção foleira. “Dont stop believing”, dos Journey. Tenho de deixar de ouvir tanto a M80.
 
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“Quando mexemos uma peça há milhões de opções mas só uma é a jogada certa.” Não quero ser tão determinista como Bobby Fisher, o perturbado xadrezista americano que foi campeão do mundo e só seria derrotado pela paranóia e mania da perseguição. Mas de tantos milhões de palavras só uma me parece certa para começar este expresso curto: fogo. Ou então, inferno. Juro que preferia falar da vitória de Roger Federer, do regresso de A Guerra dos Tronos ou do europeu feminino de futebol que desta vez vai ter a participação de uma seleção portuguesa.

Mas não dá para fugir da triste efeméride: há precisamente um mês, a 17 de junho de 2017, um fogo que parecia igual aos outros rebentou em Pedrógão Grande, tornou-se incontrolável, matou 64 pessoas e destruiu 200 casas perante a impotência e a desorganização de bombeiros e da Proteção Civil e de quem fez um contrato connosco para nos proteger (estou a falar do Estado, sim). O país só tinha uma opção: uniu-se, juntou dinheiro para doar às vítimas e até Governo e oposição fizeram tréguas para cuidar dos vivos e enterrar os mortos. Trinta dias chegaram para apagar o fogo?

Sara morreu. Tinha 35 anos e foi apanhada pelo fogo. Sarita, como era conhecida na aldeia de Vila Facaia deixou um filho de sete anos e uma irmã com um coração tão grande como fraco. Apesar dos 15 milhões de euros que se juntaram em donativos e fundos e de o Governo já ter definido as regras de acesso aos fundos, Catarina não tem dinheiro nem recebeu ajuda para pagar o funeral da irmã. A história foi contada pela Christiana Martins na edição de sexta-feira do Expresso Diário. Catarina escreveu ao presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa a pedir ajuda. Espero que a carta seja lida por todos os que viram o inferno pela televisão. Ajuda a perceber como foi na terra.
Dois dias depois de enviar a carta, Catarina recebeu um telefonema da Segurança Social de Leiria a garantir que se a seguradora não a ressarcisse, seria o Estado a pagar a despesa. O presidente da República ligou-lhe a partir do México a garantir que ele próprio trataria das despesas se o problema não se resolvesse. “Eu atrapalhei-me toda, chamei-o uma série de vezes de professor, e fiquei, mais uma vez, revoltada, porque este telefonema nunca deveria ter partido inicialmente dele.” Exemplar.

De acordo com o Jornal de Notícias, “não há apoios” e o dinheiro não chegou a uma única vítima.o Governo promete que até ao final de julho, daqui a uma semana, a situação estará resolvida.
António Costa disse no fim-de-semana que é preciso “humildade” para “aprender com os erros” e a verdade é que o Governo tem-se esforçado por continuar a errar bastante. A comissão independente nomeada para perceber o muito que correu mal ainda não começou a trabalhar depois de um processo- não lhe queria chamar surreal mas acho que não tenho outra opção - em que os partidos escolhem os seus representantes “independentes”, negoceiam e só depois se começa a trabalhar (neste caso ainda não se começou). A IGAI também ainda não começou qualquer inspeção ao que correu mal e a PJ e o Instituto Português do Mar e da Atmosfera não se entendem sequer sobre a origem do fogo. Um raio invisível ou mão criminosa? Se não fosse trágico até podia ter piada.

Podia ser a lei a valer-nos: o pacote legislativo com que o Governo se propõe fazer a tão esperada e eternamente adiada reforma das florestas vai a discussão no parlamento daqui a dois dias. Mas corre o risco de ser chumbada porque não há acordo com os parceiros da geringonça (sem ofensa) sobre os poderes e competências da Entidade da Gestão Florestal. Mesmo que seja aprovada, a lei só entrará em vigor no final do ano, depois do verão e da época dos incêndios. Num mês nada mudou.
Indiferente, o inferno continua a arder: no Alijó as chamas obrigaram à evacuação de uma aldeia. Um helicóptero caiu e houve casas e pessoas em risco. Hoje de manhã o fogo ainda não tinha sido extinto. E, adivinhem, o Siresp, o sistema de comunicações que nos custa 40 milhões de euros por ano, voltou a falhar. Com grande humildade o Governo encomendou um estudo a um escritório de advogados para perceber se o contrato feito por um escritório de advogados não lesa os direitos do Estado. Ainda temos mais um mês e meio de verão e calor. Quem acredite, reze. Às vezes é a única opção para escapar ao inferno.
 
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Começam a faltar os adjetivos para classificar Roger Federer por isso vou usar um inventado: espantabulástico. O tenista suíço ganhou o torneio de Wimbledon pela oitava vez, tornou-se o maior campeão de sempre da prova inglesa e já tem 19 títulos do grand slam, Um recorde do ténis masculino. Tem quatro filhos adoráveis que viram a coroação do pai com relativa indiferença e aos 35 anos está de volta à forma que fazem dele o maior de sempre (já tinha dito isto), o Mozart das raquetas.A oitava maravilha do planeta. Na final de domingo esmagou facilmente o croata Cilic e venceu o torneio sem perder um único set. Houve lágrimas de impotência de Cilic e de felicidade de Federer quando viu os filhos nas bancadas. O suíço já viveu o inferno das lesões, das derrotas improváveis e da queda anunciada. No fim do jogo, disse que “quem sonha” consegue tudo. Ele sonhou e conseguiu.
A seleção portuguesa de futebol começa a disputar na quarta-feira o europeu que se joga na Holanda desde ontem. Isto não seria notícia não fosse o facto de a equipa ser formada por mulheres e de ser a primeira vez que uma equipa feminina portuguesa consegue apurar-se para um grande torneio de futebol feminino. O que é que o Eder tinha escrito naquela luva branca que tirou dos calções quando marcou o golo a França que valeu o título no euro 2016? Believe, não era?
Os venezuelanos ainda acreditam que podem sair pacificamente da situação de pré-guerra civil em que vivem desde o regime do falecido Hugo Chavez. Ontem participaram num plesbicito promovida pela oposição, que controla o parlamento, para dizerem se concordam com as alterações à constituição proposta pelo Governo de Nicolas Maduro e se aceitam um governo de transição. O presidente condena a consulta que considera “ilegal”, mas sete milhões de venezuelanos foram votar. Uma mulher foi assassinada a tiro.

Na Polónia, milhares de pessoas manifestaram-se contra a iniciativa governamental que dá mais poder ao Estado para nomear e destituir juízes. “A Polónia é uma democracia baseada no Estado de direito, não é uma ‘tribunalocracia’”, justificou o ministro da Justiça, Zbigniew Ziobro. “É assim que a ditadura começa”, avisou o deputado da Plataforma Cívica, Borys Budka. A Polónia é um país da união europeia e a história do endurecimento do regime tem passado mais ao menos entre os intervalos da chuva.

Na Turquia, o presidente Erdogan não deixou muito espaço a interpretações no discurso de comemoração do suposto golpe de Estado falhado do ano passado: “Vamos cortar a cabeça aos traidores.” Não é uma figura de estilo: o presidente quer reintroduzir a pena de morte num país que quer aderir à União europeia.

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O que ando a ver
“Agora é tempo de tristeza”. Documentário do Expresso sobre “uma ferida aberta”, a tragédia de Pedrógão Grande. Sei que sou suspeito, mas é um trabalho notável da Joana Beleza.
É mais o que vou ver logo à noite: Winter is coming e essa não é a única má notícia da sétima temporada de A Guerra dos Tronos: a série só vai ter sete episódios por causa das restrições orçamentais e esta é a penúltima temporada da série que andamos a ver há dez anos. O primeiro episódio chama-se “Daenerys Regressa a Casa”. Se não sabe o que o que isto quer dizer não merece saber.
Por hoje é tudo. E apetece-me fechar com uma canção foleira. “Dont stop believing”, dos Journey. Tenho de deixar de ouvir tanto a M80.
 
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