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MARTIM SILVA
DIRETOR-EXECUTIVO
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Rui Moreira, Sérgio Moro, George Steiner e Mario Monti. Entrevistas marcantes no Expresso desta semana
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Bom dia, A edição desta semana do Expresso é daquelas que tem uma história para contar. Quando pensamos no jornal, procuramos um equilíbrio entre notícias, grandes entrevistas, histórias que marcam. Tentamos planeá-lo o melhor que podemos. Mas por vezes a realidade ultrapassa-nos. Em benefício do leitor. Não tínhamos pensado ter tantas entrevistas numa só edição. Mas a oportunidade colocou-se, temo-las, e elas valem muito a pena. Do grande pensador europeu George Steiner, ao ex-primeiro-ministro italiano Mário Monti, ao autarca do Porto Rui Moreira e ao juiz brasileiro que tem em mãos o caso Lava-Jato Sérgio Moro. Estes são alguns dos meus destaques.
1. EMIGRANTES NA VENEZUELA Com o agudizar da delicadíssima situação política na Venezuela, a situação dos portugueses, e dos luso-descendentes de segunda e terceira geração, torna-se um problema muito grande. Já há muitos a regressarem para a Madeira, de onde é originário o maior contingente emigrado há décadas naqueles país sul-americano. Na edição desta semana contamos-lhe todos os desenvolvimentos políticos e diplomáticos e o que está a ser feito e previsto nesta matéria, sobretudo se a situação ainda se agravar mais. Além disso, temos uma reportagem no Funchal, intitulada “A minha herança é a nacionalidade portuguesa”. Começa assim: "A vida era boa em Maracay antes da falta de comida, antes daquela luta cega nas filas e tudo por causa de pacote de esparguete ou um quilo de arroz. Os vizinhos deixaram de se respeitar, ninguém queria saber se roubava o lugar a um velhinho, a uma pessoa numa cadeira de rodas ou uma mulher com filho pequeno. Yamilet Pestana, 35 anos, mistura o português com o castelhano enquanto lembra os últimos tempos na Venezuela, o desespero para alimentar o filho recém-nascido e como tudo ficava pior a cada dia que passava."
2. RUI MOREIRA EM ENTREVISTA Outro destaque desta semana é a entrevista a Rui Moreira. O presidente da câmara do Porto tem estado muito presente nas notícias, pelo romper do acordo com o PS, mas sobretudo pelo caso Selminho, a empresa da família que tem relações e negócios e litígios com a autarquia portuense. Este é um tema que queima e que pode ter consequências. Na conversa com a Isabel Paulo e o Valdemar Cruz, Moreira garante que não existe qualquer conflito de interesses e que nunca tomou qualquer decisão que beneficiasse a família. Curiosa é a forma como este independente que varreu as últimas eleições se define politicamente: “Sou portuense… No plano social, em tudo o que que são as minhas preocupações, considero-me seguramente uma pessoa de esquerda. Não sou é jacobino”.
3. MULHERES MUTILADAS Em Portugal há seis mil vítimas de excisão. Uma prática criminosa que se realiza sobretudo fora do país. O Expresso encontrou o primeiro caso feito na Grande Lisboa. "Idrissa é uma jovem franzina que aparenta ter menos que os 14 anos que a mãe garante ter cumprido. Adora tirar selfies e pintar as unhas com as amigas. Mas vive entre os hábitos de uma adolescente da Grande Lisboa e a tradição da família, oriunda da Guiné-Bissau, de etnia fula. Apesar de ainda não ter noção, o corte que há cinco anos lhe fizeram no clítoris irá marcar-lhe a vida."
4. ENTREVISTA A SÉRGIO MORO, O JUÍZ DO LAVA-JATO “Não há risco de retrocesso democrático no Brasil”. Quem o diz é o juiz Sérgio Moro, que esta semana esteve em Portugal a participar nas Conferências do Estorial e deu uma entrevista exclusiva ao Expresso. O principal rosto da Operação Lava-Jato, de 44 anos, fez tremer os alicerces da democracia brasileira ao investigar centenas de políticos e empresários e tocou, até agora, em três Presidentes, Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer. Tranquilo, estabelece logo os limites da conversa: “Não posso falar de casos pendentes nem tenho condições para abordar questões políticas.” Mas falou de tudo, só nunca referiu o nome do mega-processo que o tornou célebre.
5. APOSTAS ILEGAIS NO FUTEBOL No Desporto, destaque para a história sobre apostas ilegais. As autoridades irlandesas investigam suspeitas de apostas ilegais em jogo do Athlone Town, equipa irlandesa por onde já passaram dois treinadores portugueses esta época. Gestor português próximo do clube garante que nada sabe sobre resultados manipulados. Guarda-redes que esteve em Portugal debaixo do radar. Outra vez |
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6. MARIO MONTI E OS RESULTADOS ECONÓMICOS EM PORTUGAL Mario Monti, ex-primeiro-ministro italiano, economista e professor diz em entrevista ao Expresso: “Não queremos que a Europa se torne uma colónia”. A vitória de Macron foi crucial e pode assinalar o regresso do motor franco-alemão na Europa. Com Trump, o continente tem de começar a trabalhar na sua defesa, para não ficar dependente de ditadores. O ex-primeiro-ministro “tecnocrata” italiano (2011-2013) e atual senador vitalício veio a Portugal a convite da Associação Comercial do Porto. Vale a pena ler esta conversa em que se reflete sobre o futuro da Europa e são muito elogiados os resultados da economia nacional... e Passos Coelho.
7. CIMPOR, O QUE SE PASSA COM A CIMENTEIRA? Destaque ainda na Economia é o trabalho sobre a situação agonizante que vive a Cimpor. Uma das maiores cimenteiras portuguesas durante décadas, perdeu 93 por cento do valor em apenas cinco anos. Quase o dobro da dívida, um volume de negócios cerca de €400 milhões mais baixo, uma maior concentração geográfica do risco e um prejuízo de €785,9 milhões, é este o balanço da Cimpor cinco anos depois de ter sido adquirida pela brasileira Camargo Corrêa. E já começou a contagem decrescente para a Assembleia Geral Extraordinária que, a 21 de junho, irá votar a saída da cimenteira da Bolsa de Lisboa — através de um pedido perda de qualidade de sociedade aberta —, comunicado ao mercado a 26 de maio.
8. GEORGE STEINER, UM DOS GRANDES PENSADORES EUROPEUS “O verdadeiro crime é viver demasiado” é o título da entrevista que faz capa da Revista. A casa dele é onde estiver a máquina de escrever. E a máquina de escrever está há décadas em Cambridge, numa vivenda de tijolos, numa rua de flores brancas. Ali, aos 89 anos, um dos maiores pensadores europeus recebeu o Expresso
e falou do “momento crítico” de uma Europa onde o futuro deixou de ser claro. Uma grande entrevista e uma grande conversa com a Luciana Leiderfarb.
9. OS 50 ANOS DOS 100 ANOS DE SOLIDÃO Há 50 anos, num 5 de junho, aconteceu o big bang literário chamado ”Cem Anos de Solidão”. O livro que deu fama a García Márquez e
a uma terra real de tão imaginada — Macondo. O livro que inaugurou uma era e que, antes de
o ser, tinha já uma lenda construída à sua volta. Leiam este parágrafo do texto: A questão é que, chegado a casa, Gabo sentou-se a escrever. “Desta vez não me levantei nos 18 meses seguintes”, diria, mas o intervalo terá sido de pouco mais de um ano, de julho de 1965 a agosto de 1966. Só ao chegar à décima página, quando o primeiro José Arcádio Buendía encontra um galeão espanhol no meio da selva tropical, soube que a saga de quatro gerações da família Buendía a viver em Macondo cem anos da história colombiana — e latino-americana — estava realmente a ser escrita. Desistiu dos empregos, penhorou e depois vendeu o Opel branco, e o livro passou a ser a sua ocupação diária. Mercedes assegurou a sobrevivência dos quatro naqueles meses de reclusão do marido, administrando o parco dinheiro que tinham e, quando este acabou, desfazendo-se da televisão, das joias e do frigorífico, e negociando crédito com o senhorio e com as lojas do bairro. “Sabes que, ao terminar de escrever ‘Cem Anos de Solidão’, Mercedes devia cinco mil pesos ao talhante?”, contou Gabo a Elena Poniatowska, numa entrevista de 1973 onde também admitia que chegaram a dever oito meses de renda. “No bairro todos nos fiaram”, mesmo os três maços diários que o escritor fumava.
10. MEXIA ARGUIDO, AS CRÍTICAS DA CONCERTAÇÃO E SANTANA NO MONTEPIO Propositadamente, deixo para o fim três assuntos que são dos noticiosamente mais fortes nesta edição do Expresso e que merecem mais destaque na primeira página do jornal. Acabo como comecei, andamos meses, semanas e dias a planear como fazer o melhor jornal possível. Mas depois temos de saber ser rápidos perante o que está a suceder e ainda assim levar ao leitor a melhor informação possível. É o que fazemos, penso eu, nestes três casos:
-Dezembro de 2004. Nos últimos dias do ano o Governo de Pedro Santana Lopes publicava um extenso decreto-lei que havia sido aprovado um mês antes em Conselho de Ministros. Aí se definia uma complexa fórmula de cálculo de quanto a EDP viria a receber a título de compensação pela obrigação de passar a vender toda a energia das suas centrais elétricas em condições de mercado. Mas o diploma, na verdade, só produziria efeitos três anos mais tarde. Entretanto mudaria o Governo e também a administração da EDP . Em 2007, já com Manuel Pinho como ministro da Economia, o Executivo aprova a revisão em alta do preço previsto para a venda da energia da EDP face aos termos de 2004. Cinco anos mais tarde, em 2012, a Procuradoria Geral da República recebeu uma queixa sobre as condições aprovadas para a EDP. A PGR chegou a ouvir várias pessoas nos anos que se seguiram. Agora, quase dez anos depois, o Ministério Público decide avançar com a constituição de arguidos, baseado em indícios de práticas de corrupção e participação económica em negócio.
-“Omissão de um conjunto de problemas de fundo.” É desta forma que o Conselho Económico e Social (CES) acusa o Programa Nacional de Reformas 2017 (PNR) de esconder a realidade e tentar passar uma imagem de normalidade que está longe da realidade. Logo nas primeiras páginas do versão provisória do parecer ao PNR, a que o Expresso teve acesso, é possível perceber o tom crítico. O CES, órgão constitucional que é, por excelência, o espaço de diálogo entre representantes do Governo, dos parceiros sociais e demais representantes da sociedade civil, diz que dadas as características estratégicas daquele documento o Governo deveria “definir a forma de enfrentar as grandes mudanças que hoje se verificam na economia à escala global”.
-O governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, juntou-se ao coro dos que tentam convencer Pedro Santana Lopes a dar luz verde à entrada da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) no capital do Montepio Geral. O provedor da Santa Casa não tem escondido o seu ceticismo em relação a este negócio — tem dito que não vê aí qualquer interesse financeiro para a instituição que lidera — e o incómodo pela urgência que tem sido colocada neste processo. Mas “a pressão é fortíssima e vem cada vez mais de cima”, diz ao Expresso uma fonte que conhece bem o processo. E, apesar de querer resistir à pressa do Governo e do BdP, Santana está convencido de que não poderá adiar uma decisão para além do final de julho.
Tenha um grande fim de semana
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