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CRISTINA PERES
JORNALISTA DE INTERNACIONAL
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Turistas? Moradores? Quantos passam? Onde ficam? Quem decide?
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Turismo, moradores, quantos entram, onde ficam? A presidência da câmara de Lisboa está em tempo de balanço de final de mandato e há moradores a deitar as mãos à cabeça. Que a capital está mais bonita não restam dúvidas, mas a pergunta diz respeito a muito agente: e como viver nela? Fecha comércio em zonas pedestres às quais os carros deixaram de ter acesso e a polémica do alojamento local continua ao rubro desde que o PS propôs num diploma que seja a assembleia de condomínio a autorizar (ou não) que os proprietários disponham das suas casas para alojamento local. Certo é que a questão não deveria ser resolvida por quem não sabe como se vive nos bairros mais procurados pelos turistas. Serão estes bairros mais atrativos por terem mais oferta ou porque estão nas zonas nobres da cidade das quais muitos lisboetas estão a ser corridos? Miguel Sousa Tavares põe o dedo em várias feridas concluindo que Lisboa não pode ser uma cidade só para turistas.
As opiniões dividem-se em várias frentes, dos proprietários aos moradores, da hotelaria ao comércio. Regular? Sim, talvez, mas como? A Conceição Antunes e a Helena Pereira explicam como é que a associação dos hotéis acha positiva a proposta do PS (a deliberação pela assembleia de condomínio) achando por bem isentar quem faça alojamento local apenas 60 dias por ano, tendo enviado a proposta à Secretaria de Estado do Turismo. A Associação do Alojamento Local de Portugal (ALEP) considera esta proposta uma guerra aberta com o objetivo de acabar com a concorrência. Muita água correrá ainda até ao texto final da proposta do PS para o segundo semestre, porém não faltam avisos ao impacto certo nos rendimentos totais ou complementares de 22.500 famílias que optaram por este recurso.
Sempre que uma atividade nova desponta, levantam-se uma série de vozes, escrevia há dias Henrique Monteiro. Recorde-se como Manuela Ferreira Leite acusou o PS de querer que este negócio se torne exclusivo de ricos.
Quem conhece a realidade dos condomínios sabe que é praticamente impossível aprovar algo que a maioria dos condóminos não veja como um ganho pessoal e imediato. A título de exemplo, basta lembrar a dificuldade que é aprovar obras no telhado que afetam apenas alguns proprietários, lembra a ALEP. Os pontos de vista não são unívocos, lembra a APEL. As queixas dos inquilinos também são de ter em conta, como escreve a Christina Martins. |
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OUTRAS NOTÍCIAS A manhã foi explosiva na Praça Zanbaq, em Cabul, onde um engenho colocado num carro rebentou na zona das embaixadas e do Palácio Presidencial. O primeiro balanço das autoridades fala em nove mortos e 84 feridos.
Mais de um milhão de pessoas estão a ser evacuadas das zonas costeiras do Bangladesh para evitarem os deslizamentos de terra provocados pelas chuvas torrenciais que acompanham o ciclone Mora. Já morreram seis pessoas. Com 700 quilómetros de costa, o país é extremamente vulnerável às violentas tempestades tropicais que assolam a região.
O Iémen está a braços com um surto de cólera “sem precedentes” que poderá vir a afetar 300 mil pessoas dentro de seis meses. É a Organização Mundial de Saúde que lança o alerta na altura em que entre os 23,500 casos identificados já se registaram 242 mortes. Em dois anos de guerra morreram dez mil pessoas e milhões foram obrigadas a abandonar as suas casas. A velocidade a que se espalha a doença é consequência da ausência de meios e medicamentos nas frágeis estruturas de saúde.
Hoje, o Presidente queniano Uhuru Kenyatta lança o “Expresso Lunático”, uma retoma da era dos caminhos de ferro em África, com o lançamento da linha que une Mombaça a Nairobi (e que, no futuro, quer chegar ao Uganda). A linha, que foi construída com empréstimo chinês (cerca de €4.000 milhões) corre ao lado toma a alcunha da original, que, no século XIX, abriu o interior da África Oriental ao comércio e povoação colonial. Os críticos dizem que a primeira coisa a aumentar é a divida pública queniana…
O Instituto de Medicina Molecular (iMM) lidera um projeto internacional para criar uma vacina inovadora contra a malária com 80% ou mais de eficácia. O coordenador do projeto, Miguel Prudêncio, diz que a vacina se baseia numa “ideia revolucionária” e os testes em humanos voluntários saudáveis vão começar na Holanda, como explica o Virgílio Azevedo. A invenção destes portugueses poderá salvar meio milhão de pessoas.
É oficial! São cada vez mais as colunas de opinião em que Angela Merkel é reconhecida pela sua dimensão de estadista europeia desde que, no domingo, as suas declarações provocaram uma tempestade, principalmente nos media de língua inglesa e na Twitteresfera: “A era em que podíamos confiar completamente noutros terminou”. “Angela Merkel is taking back control” recupera o slogan do Brexit e aplica-o ao caso da chanceler, com a nota “ao estilo alemão”. É o que escreve Katya Adler na BBC, Susanne Moore no The Guardian e Natalie Nougayrède, também no Guardian. Henry Farrel analisa no Washington Post o que “a desastrosa visita de Trump à Europa” permitiu à chanceler alemã. Trump ripostou lançando a artilharia de tweets. Em resumo: Trump queixou-se do défice comercial maciço que os Estados Unidos têm em relação à Alemanha e de que os alemães pagam menos do que deviam à Aliança Atlântica. Leia aqui o que chama a Vox a Donald: “The Bullshiter-in-chief” (grande cognome): desprezar a verdade é muito mais sinistro do que a mentira comum.
A Amnistia Internacional lançou esta madrugada um relatório em que denuncia abusos cometidos pelas autoridades francesas a cobro do estado de emergência que está vigente em França. O relatório intitula-se “Um direito, não uma ameaça: Restrições desproporcionadas a manifestações sob o estado de emergência em França” e revela que centenas de medidas injustificadas de restrição da liberdade de movimento e de direito a reunião pacífica têm entrado em vigor em nome do combate ao terrorismo.
De passagem por Lisboa, o economista Joseph Stieglitz crucificou as políticas da troika chamando-lhes “custo enorme e desnecessário”, leia aqui no JE. Bruxelas trata regras europeias como se tivessem sido dadas por Deus, defende o Prémio Nobel norte-americano.
Falando de eleições autárquicas, a Raquel Albuquerque explica, a partir de um estudo divulgado nesta terça-feira, que a existência de listas de independentes candidatas a uma eleição é um dos motivos capazes de levar mais cidadãos a irem votar. Isto acontece porque o facto de estas serem compostas por cidadãos locais leva a que haja maior identificação com os eleitores.
Um surto de sarna conseguiu paralisar o serviço de ortopedia do hospital de Viseu, desde que um doente com sarna foi hospitalizado naquele hospital no dia 19 de maio. Apesar dos cuidados, escapou ao controlo, como reporta o JN.
Como amanhã é Dia Mundial da Criança, consulte aqui algumas sugestões com as quais poderá surpreender os seus filhos. Se quiser pensar nos milhares de outras mais desfavorecidas a Save the Children tem sugestões de como contribuir para futuros melhores.
Terminou ontem a 29ª Cimeira Ibérica e o primeiro-ministro português tweetou o conjunto de acordos que foram assinados entre Portugal e Espanha. Portugal e Espanha a meio caminho, escreve o Público, com avanço na ferrovia e sem acordo no gás.
Tem apenas mais quatro dias para visitar a exposição de Almada Negreiros que está patente na Fundação Gulbenkian até 5 de junho. Agora em horário alargado às quintas e sábados, das 10h às 21h.
FRASES “Não podemos ficar à espera de um político que nos salve. Somos nós, enquanto sociedade, que temos de resolver os problemas. É preciso metermos mãos à obra, agirmos e mudarmos o mundo. Passo a passo”, Edward Snowden, Analista de sistemas declarado inimigo público depois de ter revelado abusos cometidos pela Agência Nacional de Segurança (NSA) num testemunho em video-conferência a partir da Rússia durante as Conferências do Estoril
“O euro criou um sistema divergente em que os ricos ficam mais ricos e os pobres mais pobres”, Joseph Stiglitz, Conferências do Estoril
“Aquele é o seu país e é por isso que estão dispostos a bater-se pela Venezuela, tal como fizeram em sucessivas crises que o país atravessou nas décadas de 1980 ou 1990”, José Luís Carneiro, Secretário de Estado das Comunidades citado pelo Público
“A luta contra a corrupção tem um custo que por vezes é muito alto”, Baltasar Garzón, Juiz que ficou famoso por ter pedido a Londres a extradição do ditador chileno Augusto Pinochet e líder da defesa de Julian Assange ao DN
O QUE ANDO A LER “Um intelectual ascendente sem medo de fazer ligações entre o passado e o presente” é como o “The New York Times” descreve o historiador Timothy Snyder, lê-se na contracapa da edição da Timdugganbooks.com (a Penguin também o editou) do seu último livro “On Tyranny - Twenty Lessons from the Twentieth Century”. O lançamento da primeira edição americana deste livrinho de pequeno formato (ainda sem edição em português), e só por isso de 126 páginas, data de 27 de fevereiro deste ano. Snyder já tinha (pre)visto muito mais de metade do filme que Donald Trump começou a desenrolar perante os olhos do mundo logo após a tomada de posse. “On Tyranny” é dividido em 20 capítulos com um prólogo e um epílogo, estrutura clássica (também) de um manual para defesa contra a supressão das liberdades fundamentais. É um tema que voltou infelizmente a estar na ordem do dia e Snyder, um autor norte-americano especialista no leste da Europa e no que se seguiu à II Guerra Mundial, sabe do que fala. É ele o autor de “Bloodlands/Terra Sangrenta”, onde se descreve o destino dos judeus a partir de 1945. O assunto foi praticamente tabu até ao trabalho de Snyder, nascido de muita documentação inédita sobre tempos (também) muito sombrios, quando a maioria dos europeus preferiu acreditar na proposta de felicidade das imagens dos soldados norte-americanos a beijarem jovens mulheres europeias, comemorando a libertação do jugo nazi.
Snyder escreve um livro com instruções para um americano médio abstrato lidar com “o presidente” sem usar uma só vez o nome do eleito em 8 de novembro de 2016. Os capítulos têm títulos como Não obedeça à partida, Tenha cuidado com o Estado de partido único, Acredite na verdade, Aprenda com os seus pares de outros países, Mantenha a calma quando acontecer o impensável e, finalmente o número 20, Seja tão corajoso quanto possível. A atitude certa é munir-se tanto de capacidade argumentativa como de endurance porque vai levar tempo, muito tempo, avisa Snyder.
“Os americanos hoje não são mais sábios que os europeus que viram a democracia ceder ao fascismo, nazismo ou comunismo no século XX. A nossa única vantagem é que podemos aprender com a experiência deles. Agora é uma boa altura para fazê-lo”. Como Snyder é um grande admirador de Hannah Arendt, autora aqui citada várias vezes, remato com uma citação de “As Origens do Totalitarismo”: “O sujeito ideal da regra totalitária não é o nazi convicto ou o comunista dedicado, mas as pessoas para as quais a distinção entre facto e ficção, verdadeiro e falso, já não existe”.
Fim do café curto de hoje, o Miguel Cadete tirará o próximo. Mantenha-se informado em www.expresso.pt até que saia a síntese e análise preparada para as 18h, no Expresso Diário. Use e abuse do site e passe uma ótima quarta-feira.
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