10 razões pelas quais Hitler foi eleito
Você talvez já saiba disso, mas não custa lembrar: os nazistas não meramente chegaram no congresso alemão e tomaram o poder – eles ganharam uma eleição.
É difícil de imaginar, mas houve um tempo em que Adolf Hitler era apenas um dos nomes em uma votação democrática. Apesar de abertamente fascista e antissemita, o povo o escolheu para ser seu líder.
Os alemães o apoiaram enquanto ele dissolvia a democracia pedacinho por pedacinho. É fácil escrever sobre a ascensão do nazismo como um lapso momentâneo da razão humana, mas a verdade não é assim tão simples.
Como os cidadãos de hoje tomam decisões que consideramos absurdas nas urnas, as pessoas do passado que votaram em Hitler realmente acreditavam que estavam fazendo a melhor escolha.
10. A Cláusula de Culpa
O fusível que desencadeou a Segunda Guerra Mundial foi aceso assim que a Primeira terminou. Quando a paz foi acordada com o Tratado de Versalhes, os alemães foram forçados a assinar uma “Cláusula de Culpa da Guerra”. Eles tiveram que aceitar que a guerra tinha sido culpa deles – e somente deles.
Grandes restrições foram colocadas na Alemanha como resultado. O país foi forçado a conceder grandes partes de seu território. Também foi responsabilizado por todos os danos da guerra e forçado a pagar 132 bilhões de marcos em reparações, uma despesa que tomou até 10% de sua renda nacional anual. O exército alemão foi limitado a 100.000 homens sem nenhuma força aérea permitida.
Para a maior parte do mundo, este foi o início de uma era dourada de paz. Mas para muitos alemães, essas foram restrições injustas que os deixaram “aleijados”. Desde o início, grupos de direita como os nazistas fizeram campanha para derrubar o Tratado de Versalhes – uma “paz ditada que oprimia a nação”.
A princípio, a maioria dos alemães estava tão cansada da guerra que não combateu a cláusula. Mas, conforme as consequências do tratado foram vistas, isso começou a mudar.
9. A ocupação francesa da região Ruhr
O governo alemão não aguentou os pagamentos de reparações. Em 1923, eles estavam dando calotes regularmente, alegando que o fardo financeiro era demais para o país. Os franceses, no entanto, estavam certos de que se tratava de uma ofensa intencional.
Logo, tropas francesas e belgas marcharam sobre a Alemanha e tomaram uma parte do país chamada Ruhr. Este era o principal centro alemão de produção de carvão, ferro e aço. Sem ele, a economia nacional sofreria muito. O povo da região tentou resistir à ocupação de forma pacífica. Eles marcharam em greve, recusando-se a trabalhar para os ocupantes franceses. Não adiantou. Os franceses prenderam os manifestantes e trouxeram seus próprios trabalhadores para operar as minas.
Quando os alemães conseguiram realizar os pagamentos em 1925, os franceses deixaram Ruhr. Neste momento, porém, tinha ficado claro para a Alemanha que suas terras poderiam ser conquistadas e anexadas a qualquer momento. Lentamente, a ideia de rasgar o Tratado de Versalhes estava começando a parecer mais razoável.
8. Hiperinflação
Nos anos depois da guerra, a inflação saiu do controle no país. A moeda alemã caía estupidamente em valor. Durante a Primeira Guerra Mundial, os alemães colocaram 160 bilhões de marcos em suas forças armadas. Agora, tinham 156 bilhões de marcos em dívidas, além dos 132 bilhões de marcos que precisavam pagar em reparações. Tudo piorou quando a região do Ruhr foi tomada, e o governo perdeu uma das forças principais em sua economia.
Em 1914, antes da guerra começar, 1 dólar valia 4,2 marcos alemães. Em 1923, ano em que o Ruhr foi tomado, 1 dólar valia 4,2 trilhões de marcos.
As pessoas estavam morrendo de fome. O dinheiro tornou-se completamente inútil, incluindo cada centavo que um alemão tinha em poupança. Os trabalhadores começaram a insistir em ser pagos com comida, porque nada mais tinha valor.
Nesse ano sombrio, 1923, várias coisas aconteceram: as emigrações da Alemanha triplicaram, obrigando as pessoas a fugir do país que haviam vivido; a taxa de suicídio disparou; e um jovem chamado Adolf Hitler começou sua ascensão ao poder.
7. A ascensão do comunismo alemão
Os nazistas não eram o único partido em ascensão no país na época. O comunismo estava crescendo na Alemanha também. Nenhum grupo fora da Rússia era mais poderoso do que o Partido Comunista da Alemanha, fundado em 1918, ano em que terminou a Primeira Guerra Mundial.
Quando a Revolução Russa explodiu, o partido deu todo o seu apoio a União Soviética. Eles queriam o bolchevismo para a Alemanha também. Cerca de 10 a 15% do país gostava da ideia o suficiente para votar nela. Para o restante, entretanto, o comunismo era uma ameaça perturbadora.
Os nazistas se aproveitaram desse medo. Eles espalharam histórias sobre os perigos do bolchevismo e de uma revolução vermelha – e funcionou. À medida que os comunistas se tornaram mais populares, o resto da população tornou-se mais direitista em resposta.
Os nazistas chegaram até a enviar grupos chamados Sturmabteilung para começar brigas com os comunistas nas ruas, o que não feriu sua popularidade. O povo alemão tinha decidido que o bolchevismo era um perigo real e que Hitler era um homem forte o suficiente para combatê-lo.
6. O escândalo de Barmat
Em 1924, o governo alemão foi pego em um escândalo. O Partido Social Democrata, liderado pelo chanceler Gustav Bauer, estava no poder na época. Eles haviam dado milhões de dólares a dois investidores holandeses, os irmãos Barmat, que prometeram transformá-lo em uma fortuna por meio da especulação cambial.
Os irmãos Barmat falharam. Sua empresa de investimentos entrou em colapso e o governo alemão perdeu milhões. Logo, as pessoas começaram a questionar por que eles tinham sido confiados com o dinheiro da Alemanha. Na investigação que se seguiu, a resposta ficou clara: o chanceler Bauer tinha aceitado subornos dos Barmats por anos.
O chanceler foi chutado do governo, e os nazistas saltaram rapidamente sobre a oportunidade de fazer disto uma propaganda de seu partido. Os irmãos Barmat eram judeus, então os nazistas encheram os papéis de sua campanha com caricaturas de empresários judeus corruptos.
Até 1930, os nazistas ainda publicavam anúncios que remitiam ao escândalo de Barmat. Os socialdemocratas, segundo eles, eram “judeus e lacaios judeus”, votando em favor do “candidato do bloco Barmat”.
5. O ódio generalizado dos judeus
O antissemitismo existia na Alemanha antes do Partido Nazista chegar ao poder. No início do século XX, já haviam partidos baseados em plataformas especificamente antijudaicas. Após a Revolução Russa, a hiperinflação e o escândalo de Barmat, no entanto, isso piorou muito.
Enquanto a maioria dos alemães estava falindo, os judeus eram vistos como privilegiados, ricos e corruptos. Os judeus constituíam apenas 1% da população alemã, mas eram 16% de todos os advogados, 10% de todos os médicos e 5% de todos os editores e escritores. De um modo geral, eram pessoas que tinham dinheiro, enquanto outras estavam morrendo de fome, e isso lhes rendeu muito ressentimento.
Ao mesmo tempo, culpava-se os judeus pela revolução bolchevique na Rússia. Os alemães acreditavam que eles estavam por trás do crescente sentimento comunista na Alemanha, e que seriam uma ameaça para o país.
Não demorou, e o antissemitismo tornou-se generalizado. Não eram apenas os nazistas – quase todos os partidos políticos usavam linguagem antissemita em suas campanhas. Os hotéis começaram a recusar serviço aos judeus. Os sacerdotes começaram a criticar o judaísmo em seus sermões.
Os nazistas eram os piores, é claro: eles prometeram assumir o controle das lojas judaicas e usá-las para reduzir as despesas para os pobres, e iniciaram uma organização de apoio a médicos alemães, ajudando-os a roubar os empregos de judeus. Muitos alemães apreciaram tais medidas.
4. A queda do mercado de ações de 1929
Em 29 de outubro de 1929, o mercado de ações dos EUA caiu. Este foi o início da Grande Depressão, e poucos lugares foram tão atingidos quanto a Alemanha.
O que restou da economia alemã era construída com dinheiro estrangeiro. Suas riquezas provinham do comércio exterior e, desde 1924, seus custos eram cobertos através de empréstimos dos EUA. Quando a Grande Depressão atingiu, esses empréstimos secaram e os americanos começaram a reclamar as dívidas pendentes.
A produção industrial alemã caiu para 58% de seus níveis anteriores. O desemprego disparou. No final de 1929, 1,5 milhões de alemães estavam sem trabalho. Em 1933, esse número era de até seis milhões.
Hitler pareceu adorar o colapso da economia, porque isso fez o povo alemão começar a duvidar de que um governo democrático poderia concertar as coisas. Ele disse: “Nunca em minha vida estive tão bem disposto e interiormente contente quanto nestes dias. Pois a dura realidade abriu os olhos de milhões de alemães”.
3. Os sociais-democratas contornaram o processo democrático
Pouco depois de começar a Grande Depressão, o Partido Social Democrata estava muito impopular. Com um governo minoritário, não podiam tomar decisões sem o apoio das outras partes.
O artigo 48 da constituição alemã permitia que o chanceler fizesse decretos de emergência sem seguir o processo democrático. Os sociais-democratas fizeram uso pesado desse instrumento, tendo iniciado com a aprovação de um orçamento sem maioria no parlamento.
As pessoas ficaram furiosas. O líder socialista Dr. Rudolf Breitscheid chamou o Partido Social Democrata de uma “ditadura velada”. Como resposta, os próprios sociais-democratas convocaram outra eleição em 1930, na esperança de obter uma maioria novamente e não ter que abusar do artigo 48.
Não deu certo. Os nazistas fizeram uma campanha agressiva e cresceram em popularidade. Na eleição de 1928, tinham ganhado somente 12 assentos de 491. Após a reeleição de 1930, tinham até 107 assentos. Ou seja, em pouco tempo, passaram de um partido marginal para a principal oposição.
O Partido Social Democrata continuava sem a maioria. Embora ainda usassem o artigo 48 a torto e a direito, não conseguiram recuperar a economia alemã.
Assim, dois anos mais tarde, quando outra eleição foi realizada, o povo alemão, cansado da pobreza e da corrupção, votou em peso nos nazistas. O que antes era considerado um grupo de extremistas radicais era agora o partido no poder na Alemanha.
2. O incêndio do Reichstag
Os nazistas estavam no poder, mas não tinham maioria. Eles haviam ganho 37,3% dos votos, mas passavam os mesmos apuros que o Partido Social Democrata – até o fogo no Reichstag.
Depois que Hitler se tornou chanceler, um simpatizante comunista chamado Marinus van der Lubbe queimou o Reichstag, o edifício do parlamento alemão. Ele quase certamente trabalhou sozinho, mas os nazistas se aproveitaram enormemente da oportunidade. Isso, eles declararam, era a prova de que os comunistas estavam planejando derrubar violentamente o Estado.
Os nazistas usaram o artigo 48 (sem surpresa nenhuma) para passar um decreto absurdo: liberdade de expressão, liberdade de imprensa, direito de reunião e restrições em investigações policiais estavam todos “suspensos” até que os comunistas pudessem ser controlados.
Ao usar o Artigo 48 durante três anos consecutivos, o Partido Social Democrata já havia estabelecido o precedente. Quando os nazistas invadiram abertamente os escritórios do Partido Comunista e suprimiram suas publicações, muitas pessoas não viram isso como uma perda de direitos. Eles viram o ato como um partido político finalmente assumindo o controle e fazendo algo para tornar a Alemanha um lugar melhor.
Os alemães realizaram outra eleição em 5 de março de 1933. Desta vez, o Partido Comunista não foi autorizado a participar. Com uma oposição fora do caminho, os nazistas conseguiram um governo maioritário.
1. A Lei de Concessão de Plenos Poderes
Os nazistas estavam no poder, mas a Alemanha ainda era uma democracia. Isso precisava ser concertado, não é mesmo?
Assim, eles vieram com a Lei de Concessão de Plenos Poderes, que dava a Hitler o poder de decretar qualquer lei sem passar por nada nem ninguém. Para passar essa única lei, no entanto, eles ainda precisavam de apoio – dois terços do parlamento.
Os nazistas foram trás dos outros partidos e os pressionaram lembrando-os do incêndio no Reichstag. Uma manchete nazista dizia: “Poderes plenos – ou então! Queremos a Lei – ou fogo e assassinato!”.
Hitler prometeu que usaria seus maiores poderes com moderação. Os políticos pareciam acreditar nele. A Lei ganhou apoio quase universal. Só um partido, o Social Democrata, votou contra. Hitler zombou deles, gritando: “Vocês não são mais necessários! A estrela da Alemanha vai subir e vocês vão afundar!”.
Finalmente, Hitler tinha poder absoluto. Os outros partidos políticos foram dissolvidos e, pouco depois, as eleições foram completamente interrompidas. A democracia alemã havia terminado. O fascismo tomou o controle – e as pessoas votaram nele. [Listverse]