O ministro das Finanças tinha ontem duas alternativas para tentar não ser mais trucidado pela oposição à direita: ou deixava vingar a tese da mentira ao Parlamento sobre a correspondência com o presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD) ou brindava-nos com a representação do político naîf, um pouco tonto, que cometera um erro involuntário e de boa-fé.
Ao dizer, por escrito, que a hipótese de dispensa de apresentação de declarações de rendimentos da administração de António Domingues terá decorrido de "um erro de apreciação mútuo" sobre os limites do alcance da lei de alteração do estatuto de gestor público, que não abrangia esse tópico mas livrava os administradores da CGD de limites salariais, dando-lhes a possibilidade, ainda, de ganharem prémios de gestão, Mário Centeno optou por fazer figura do tolo que não percebeu aquilo que andou meses a conversar com o homem que saiu do BPI para o ajudar a construir um modelo de recapitalização do banco público.
Porque prefere Mário Centeno passar por tolo do que por mentiroso?
Tem medo de uma acusação de perjúrio, como o CDS ameaçou fazer? Mas alguém acredita que isso teria pés para andar?...
Tem medo dos comentários de Marques Mendes? Ó Nossa Senhora!
Tem medo de ser demitido? Se não fosse o relativismo moral que infeta o país, certamente que seria essa a consequência, mas, na verdade, acho que há uns 300 anos ninguém é demitido de um governo em Portugal por mentir... Porque deveria tal desiderato acontecer agora?
Aliás, se pensasse nas mentiras sucessivas da anterior ministra das Finanças, Centeno teria, logo aí, um belo exemplo: de memória, lembro-me de ela ter garantido ao Parlamento não ter sido informada dos swaps das empresas de transportes e de nunca ter tido contacto com esse tipo de empréstimos de risco quando trabalhou no IGCP, duas mentiras documentalmente comprovadas. Lembro-me ainda de ela ter negado ser autora de uma ordem para alterar o orçamento da Estradas de Portugal por conveniência política. Lembro-me de ela ter feito a promessa de devolver aos portugueses parte da sobretaxa do IRS depois das eleições. Lembro-me de ela esconder ter dito aos mandantes de Bruxelas que os cortes nas pensões e salários eram definitivos e não provisórios como por cá se garantia. Lembro-me, ainda, de ela prometer que a resolução do BES não traria custos aos contribuintes apesar da Caixa, onde está dinheiro nosso, estar metida no Fundo de Resolução que garantiu o financiamento do Novo Banco.
Pois, apesar de tanta mentira demonstrada, a verdade é que Maria Luís Albuquerque cumpriu na íntegra o seu mandato no governo PSD-CDS, partidos que, aliás, nunca se mostraram incomodados com isso e, agora, não se calam por algo que, a ser verdadeiro, tem de qualquer modo uma gravidade política manifestamente inferior aos exemplos que listei.
Centeno poderia ter deixado passar sem resposta a acusação de mentiroso e seguir em frente, como Maria Luís fez. Preferiu fazer de tolo que não se explicou bem a António Domingues. Foi mais uma vez nebuloso e contraditório nas respostas aos jornalistas - o que ficou mesmo bem para dar credibilidade à tolice que decidiu encarnar....
Talvez este sacrifício sirva para ajudar António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa, mas parece-me ineficaz como arma nesta luta de política de pacotilha e nada me ajuda para perceber o que é realmente importante: como e quando vai ser feita a recapitalização da Caixa e como vai ela ajudar a economia real do país? Uma resposta séria e detalhada a isto é que não seria uma tolice.
Centeno prefere ser tolo a mentiroso
O ministro das Finanças tinha ontem duas alternativas para tentar não ser mais trucidado pela oposição à direita: ou deixava vingar a tese da mentira ao Parlamento sobre a correspondência com o presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD) ou brindava-nos com a representação do político naîf, um pouco tonto, que cometera um erro involuntário e de boa-fé.
Ao dizer, por escrito, que a hipótese de dispensa de apresentação de declarações de rendimentos da administração de António Domingues terá decorrido de "um erro de apreciação mútuo" sobre os limites do alcance da lei de alteração do estatuto de gestor público, que não abrangia esse tópico mas livrava os administradores da CGD de limites salariais, dando-lhes a possibilidade, ainda, de ganharem prémios de gestão, Mário Centeno optou por fazer figura do tolo que não percebeu aquilo que andou meses a conversar com o homem que saiu do BPI para o ajudar a construir um modelo de recapitalização do banco público.
Porque prefere Mário Centeno passar por tolo do que por mentiroso?
Tem medo de uma acusação de perjúrio, como o CDS ameaçou fazer? Mas alguém acredita que isso teria pés para andar?...
Tem medo dos comentários de Marques Mendes? Ó Nossa Senhora!
Tem medo de ser demitido? Se não fosse o relativismo moral que infeta o país, certamente que seria essa a consequência, mas, na verdade, acho que há uns 300 anos ninguém é demitido de um governo em Portugal por mentir... Porque deveria tal desiderato acontecer agora?
Aliás, se pensasse nas mentiras sucessivas da anterior ministra das Finanças, Centeno teria, logo aí, um belo exemplo: de memória, lembro-me de ela ter garantido ao Parlamento não ter sido informada dos swaps das empresas de transportes e de nunca ter tido contacto com esse tipo de empréstimos de risco quando trabalhou no IGCP, duas mentiras documentalmente comprovadas. Lembro-me ainda de ela ter negado ser autora de uma ordem para alterar o orçamento da Estradas de Portugal por conveniência política. Lembro-me de ela ter feito a promessa de devolver aos portugueses parte da sobretaxa do IRS depois das eleições. Lembro-me de ela esconder ter dito aos mandantes de Bruxelas que os cortes nas pensões e salários eram definitivos e não provisórios como por cá se garantia. Lembro-me, ainda, de ela prometer que a resolução do BES não traria custos aos contribuintes apesar da Caixa, onde está dinheiro nosso, estar metida no Fundo de Resolução que garantiu o financiamento do Novo Banco.
Pois, apesar de tanta mentira demonstrada, a verdade é que Maria Luís Albuquerque cumpriu na íntegra o seu mandato no governo PSD-CDS, partidos que, aliás, nunca se mostraram incomodados com isso e, agora, não se calam por algo que, a ser verdadeiro, tem de qualquer modo uma gravidade política manifestamente inferior aos exemplos que listei.
Centeno poderia ter deixado passar sem resposta a acusação de mentiroso e seguir em frente, como Maria Luís fez. Preferiu fazer de tolo que não se explicou bem a António Domingues. Foi mais uma vez nebuloso e contraditório nas respostas aos jornalistas - o que ficou mesmo bem para dar credibilidade à tolice que decidiu encarnar....
Talvez este sacrifício sirva para ajudar António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa, mas parece-me ineficaz como arma nesta luta de política de pacotilha e nada me ajuda para perceber o que é realmente importante: como e quando vai ser feita a recapitalização da Caixa e como vai ela ajudar a economia real do país? Uma resposta séria e detalhada a isto é que não seria uma tolice.