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Publicado em 28.12.2016
Você já deve ter ouvido falar de algo como “mentalidade de bando”. Sabe aquela pessoa que de repente vira muito corajosa quando está cercada de seus amigos?
O racismo opera mais facilmente em grandes números, também. É mais simples odiar alguém quando se está cercado de pessoas que pensam como você. Já quando um racista fica completamente sozinho com sua vítima, naquele momento, é muito mais difícil ignorar o fato de que o seu objeto do ódio é apenas outro ser humano vulnerável com o direito a ser tratado com respeito e decência.
Daryl Davis sabe disso
Segundo Daryl, ele já fez mais de 200 pessoas largarem a organização preconceituosa.
O músico está prestes a lançar uma versão atualizada de suas memórias, “Klan-destine Relationships: A Black Man’s Odyssey in the Ku Klux Klan”, que descreve suas experiências.
Nela, Davis cita Mark Twain ao explicar como todas as viagens que sua família fez quando ele era jovem lhe deram uma visão diferente do racismo e uma paciência incomum com a ignorância subjacente: “A viagem é fatal para o preconceito, a intolerância e a estreiteza de espírito. Visões amplas, saudáveis e caritativas dos homens e das coisas não podem ser adquiridas vegetando em um pequeno canto da Terra toda a vida”.
Racismo em todos os lugares
Davis certamente testemunhou o dano que o racismo causa em todos os lugares, apontando: “Em Israel, é palestino versus judeu. No Líbano, é cristão versus muçulmano. No Iraque, são muçulmanos sunitas versus muçulmanos xiitas. Em certos países africanos, o conflito é tribal. Na Índia, vemos um sistema de castas baseado no tom da pele e no classicismo”.
Sua aproximação com os racistas gerou algumas críticas até hoje. “Nem todas, mas a maioria das críticas vem de negros. Tenho sido chamado de ‘vendido’ e outros nomes terríveis. Isso ocorre porque [os críticos] estão envolvidos no mesmo comportamento odioso que eles acusam os brancos racistas. Posso explicar assim, porque já o vi de ambos os lados”, diz Davis.
Risco que compensa
Davis é músico de R&B e blues, já tendo tocado ao lado de Chuck Berry e Jerry Lee Lewis. De acordo com ele, a música tem sido chave para estabelecer amizades com alguns membros da KKK.
“Uma vez, quando eu estava me apresentando em um local predominantemente branco, um homem branco se aproximou de mim na minha pausa, colocou seu braço em volta de mim e exclamou: ‘Esta é a primeira vez que eu ouvi um homem negro tocar piano como Jerry Lee Lewis’”, conta.
O branco certamente não conhecia as raízes negras do rock’n’roll, nem a origem da música de Jerry Lee (o próprio já contou a Davis que aprendeu esse estilo com pianistas negros). No princípio, o homem não quis escutar Davis, mas ficou curioso e queria saber mais sobre o músico. Com o tempo, eles se tornaram bons amigos, e ele acabou deixando o KKK.
Davis explica que sua abordagem mano a mano é às vezes perigosa. “Houve alguns incidentes em que eu fui ameaçado e um par de casos onde eu tive que lutar fisicamente. Felizmente, eu ganhei”, afirma. “No cerne disso, embora não o admitam, os racistas expressam superioridade, mas sentem verdadeiramente inferioridade e, para se elevarem, precisam empurrar alguém para baixo”, complementa.
Para Davis, porém, o risco tem claramente valido a pena, dadas todas as mentes que ele mudou lentamente ao longo dos anos. [BigThink]