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Por Luísa Meireles
Redatora Principal
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26 de Outubro de 2016 |
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O negócio deles é números
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“Se um número incomoda muita gente, a falta de números incomoda muito mais”. Eis como o meu colega João Silvestre aborda de maneira exemplar a audição do ministro das Finanças, ontem, na Comissão de Orçamento. Como lead de texto tiro-lhe o chapéu, ao ponto de lho roubar. A discussão sobre os dados que normalmente fazem parte do relatório de um Orçamento
mas que, este ano, inexplicavelmente, não foram incluídos pelo Governo,
marcaram a audição e têm sido o tema central da discussão política
nestes últimos dias. Cito: são os (não) números da discórdia.
A direita não perdeu tempo no ataque: “ou o Governo não
tem estes dados, o que é gravíssimo, ou está a querer ocultá-los, o que
a lei não lhe dá essa liberdade”, assim resumiu a deputada Cecília
Meireles, do CDS, a argumentação perante um facto cujo racional não se
entende facilmente. Mesmo que o ministro Centeno alegue que não está a esconder nada e que o Governo prometa agora que todos os números em falta serão disponibilizados
até sexta-feira, não se percebe que, numa primeira reação, tenha dito
que a informação pedida “não contribuía para a qualidade do debate”.
A polémica terá vida curta, pois, mas era escusada, como se infere do facto de o próprio presidente da Assembleia da República se ter empenhado para que a situação fosse corrigida. E é estranho. Aliás, é isso mesmo que estranha o Pedro Santos Guerreiro: “O que esconde quem esconde?”. O ministro garante que não está a esconder nada e que não se pode dizer que “não há falta de números, mas sim de números que agradem à oposição”.
E ainda adiantou:“Aqueles que agora dizem que têm falta de dados têm
feito o diabo a sete para o chamar. Pronunciam planos B, novas medidas,
derrapagens e deslizes. Aparentemente fizeram-no – pasme-se – sem
números”.
Assim vamos. O debate começou crispado, é verdade. Mas também é verdade que o Orçamento, sendo “um dos grandes momentos anuais da vida parlamentar, não pode ficar manchado por qualquer suspeita desta natureza”, como disse Francisco Assis
à Renascença. O ministro há de voltar ao Parlamento para nova audição e
talvez então se possa começar a discutir a substância da coisa, quer
dizer, o próprio Orçamento. Não é o Orçamento que a esquerda queria, mas PS, Bloco e PCP, uniu-se em torno dele. Um deputado do PS, Paulo Trigo Pereira, confirma e explica-o. O movimento Precários Inflexíveis, intransigentes na defesa desta nova classe de trabalhadores, saúda-o: "Pela primeira vez vemos aberto um ciclo de esperança".
Para a semana, quando já todos estiverem na posse de todos os números, ver-se-á. O tempo político é por enquanto o do Orçamento.
E há sê-lo ainda até bem para os idos de novembro, aqui e em Bruxelas,
para onde a proposta de OE já seguiu também na semana passada.
Apesar de não se preverem grandes dramas em torno do Orçamento – a Comissão até fala da boa cooperação com Lisboa – Bruxelas veio pedir esclarecimentos ao Governo e quer essa informação até quinta-feira, porque vê nas contas do OE um desvio de 900 milhões.
Até ser aposto o visto verde no documento central da governação, vai
ser assim, um bate-bola. Mas Portugal não é caso único, seguiram cartas
para sete países ao todo, da França à Finlândia, passando pela Bélgica e
a Espanha. O ministro Centeno encara o processo com normalidade e,
claro, promete responder em tempo.
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OUTRAS NOTÍCIAS
De economia, ainda. A nomeação de António Domingues
para presidente da Caixa Geral de Depósitos já fez correr muita tinta e
não vai ser agora que estanca. Depois do salário milionário, é a isenção
de apresentar contas sobre os rendimentos: “Não há lapso. Domingues só presta contas ao Governo”, dizem os jornais (aqui e aqui)
citando o Ministério das Finanças, que afirma que a retirada do
estatuto de gestor público à Caixa corresponde à ideia de a tratar como
qualquer outro banco. Mas a oposição quer que o Governo recue e, segundo
parece, os gestores da Caixa vão ter mesmo que mostrar os rendimentos, diz a lei.
E de política: Jerónimo de Sousa foi à SIC e disse que, após um ano, a relação na geringonça se não está mais forte, está mais clara: o PM não o seduziu,
mas cada um sabe das divergências que existem, há franqueza e as coisas
são colocadas de modo são. Também se percebeu o recado ao Governo e ao
PS: é preciso ir mais além.
O Presidente da República chegou hoje a Cuba, a primeira de um Chefe de Estado português a este país. Não é um acontecimento mundial, como foi a visita de Obama, mas é histórica, à nossa medida. A embaixadora de Cuba, Johana Tablada de la Torre, sublinha o facto.
O que nós dispensávamos é esta outra notícia, com sabor a velho: a de um adjunto do PM que declarou uma licenciatura que não tinha. Mas onde é que eu já ouvi isto? Rui Roque, assim se chama ele, já se demitiu.
E, enfim, uma história de final feliz, a do pequeno Martim
que foi encontrado ao fim de 24h vivo e de boa saúde, apesar de
encharcado e com fome: “Ouvimos um murmúrio, um choro baixinho e era
ele”. A polícia mantém todas as opções em aberto, porque não se percebe
como percorreu sozinho 2km e resistiu uma noite ao relento, com frio e
chuva. Mas comove-nos.
Outra boa notícia vem-nos do foro desportivo: a seleção feminina de futebol vai pela primeira vez ao Europeu. Mas o jogo foi de arrebenta coração, como escreve a Lídia Paralta Gomes.
A má é ainda a dos jovens comandos que encontraram a morte num treino no princípio de setembro. O caso está sob investigação deste então e levou agora a que dois enfermeiros tenham sido constituídos arguidos, enquanto o médico dos comandos nega qualquer negligência.
Ah, já me esquecia: ao 16º dia, Pedro Dias, o fugitivo de Aguiar da
Beira, ainda não foi encontrado nem é avistado há mais de uma semana.
Agora, a polícia investiga o possível roubo de um jipe no Douro.
Um aviso: se vai viajar, atenção a eventual perturbações nos aeroportos, devido à greve dos trabalhadores das empresas de segurança, prevista para amanhã.
Outro aviso: se vive em Lisboa e está farto de obras, prepare-se para mais uma - as obras da Feira Popular arrancam para a semana. promessa do presidente da Câmara, Fernando Medina.
Se está tentado a ler os jornais, saiba que o I destaca que "Bebé não esteve sozinho durante a noite na serra em Ourém", o Jornal de Notícias que "Ambulâncias do INEM têm dez anos e custam três milhões só para reparar", o Negócios que "Não foi lapso" que o presidente da CGD não tenha que apresentar rendimentos, o Diário de Notícias que, afinal, "Admnistradores da Caixa vão mesmo ter de mostrar os rendimentos", o Público que "Maioria da banca viola lei e omite comissões cobradas anualmente", o Correio da Manhã que "Bebé-milagre resiste 25 horas à chuva e à fome". Os desportivos ficam por sua conta, desculpe.
LÁ FORA
Religiao. Se bem que tenha repercussões cá dentro, esta norma do Vaticano que censura os católicos que espalhem as cinzas dos entes queridos, as lancem à água, ou guardem em casa. A “instrução” só diz respeito aos católicos, mas interpela-nos a todos.
Estados Unidos. Quer saber quais são os swing states,
os estados imprevisíveis e decisivos nas eleições presidenciais que vão
acontecer dentro de 15 dias? São nove: o Colorado, Ohio, Iwoa, Nevada,
Virgínia, Pensilvânia, New Hampshire, Florida e Carolina do Sul. Ao
longo dos próximos dias, o Expresso Diário irá publicar uma reportagem
sobre cada um deles. Ontem foi a vez do Colorado,
hoje será o Iwoa. E Colin Powell, o primeiro secretário de Estado de
George W. Bush, já disse que vai votar em Hillary Clinton. Espreite o minuto-a-minuto da campanha publicada pelo Guardian.
Espanha. Como se previa, o líder do PP, Mariano Rajoy aceitou a tarefa de formar Governo e está confiante que a legislatura possa durar quatro anos, embora pareça um voto pio. Depois da derrocada do PSOE, a ver qué pasa. O debate da investidura começa hoje no Congresso.
Islândia. Este pequeno país gelado surpreende-nos
sempre e, em geral, por bons motivos. Esta iniciativa, se bem que já
tenha dois dias, devia servir de exemplo, por isso a refiro: na
segunda-feira, as islandesas saíram do trabalho mais cedo,
às 14h38 exatas, o momento a partir do qual começam a trabalhar de
graça, em comparação com os seus colegas masculinos. Lutar contra a
desigualdade é isto. A notícia foi referenciada pelo Diário de Notícias, mas pode ver o original aqui.
Fiquei a pensar a que horas as mulheres portuguesas devem largar o
trabalho, para ir trabalhar para casa, claro, é o que dizem os estudos.
Na Islândia, que vai a eleições este sábado, pausa para outra surpresa: o Partido dos Piratas, formado por uma mescla de hackers, ativistas e anarquistas, é o primeiro nas sondagens, mas a líder, uma mulher, diz que não faz questão de liderar o país. Vale a pena ler a Quartz.
FRASES
“O PM não me seduziu”, Jerónimo de Sousa, ontem, em entrevista à SIC
“O nosso problema não é o Bloco”, Idem
"Parece que o vácuo é uma característica típica dos orçamentos do PS", António Leitão Amaro, do PSD, ontem, na audição parlamentar de Mário Centeno
"Miopia política de uns adia o futuro de milhões", o ministro Centeno, no mesmo debate
"Dispersar as cinzas rompe a relação entre os vivos e os mortos. Devemos manter a comunhão", Padre Feytor Pinto
O QUE ANDO A LER
O autor, Jaime Nogueira Pinto, chama-lhe “um guia para perplexos”, embora o título do livro seja “Cinco homens que abalaram a Europa” (Esfera
dos Livros). São eles Estaline, Mussolini, Hitler, Franco e Salazar,
ditadores que mudaram a história da Europa, em maior ou menor medida.
Nogueira Pinto propôs-se cruzar as vidas públicas e privadas destes
homens, porque, como ele diz, “a Historia também vive das histórias dos
homens que a imaginam, a recriam ou a abalam” e, além do mais, o relato
ajuda-nos a entender os fantasmas que há tanto tempo assolam o velho
continente. O empresário e professor fá-lo de um modo simples, com umas
notas de bom humor, deixando entrever alguns pormenores curiosos que de
certeza o leitor não conhece. O que une e separa estes ditadores?
Se gosta de jazz, não perca este artigo. Clicando na foto, terá uma pequena mas ótima surpresa.
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