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Por Pedro Candeias
Coordenador
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4 de Agosto de 2016 |
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Se dançar, não conduza. E se quiser ir à bola, pague
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De todos os lugares onde isto poderia ter acontecido, o Andanças
era o menos provável porque o Andanças é um festival que não é bem um
festival mas, segundo o que nos diz o site da organização, um encontro
que promove "a música e a dança popular enquanto meios privilegiados de
aprendizagem e intercâmbio entre gerações, saberes e culturas".
Não tem Rock nem Roll, Pop, Hip Hop, Trip Hop, e por isso não tem
pirotecnias, geradores do tamanho de casas e maquinarias, os palcos
parecem-se mais com estrados do que com palcos e há até uma Carta de Compromisso de 10 pontos,
entre os quais estão a redução da pegada ecológica, a ligação e o
respeito pela natureza, a alegria, o bem-estar e a celebração da vida.
Mas o que o Andanças tem à semelhança do que os outros têm são as
pessoas - e as pessoas têm carros e, se não têm, pelo menos precisam
deles para irem ao Andanças. Terá sido num dos carros que tudo começou. Talvez tenha sido um curto-circuito,
disse o tenente-coronel Carlos Belchior da GNR de Portalegre, ou talvez
tenha sido outra coisa qualquer, sendo que todas essas coisas estão a
ser estudadas pela Guarda e pela Polícia Judiciária para se apurar a
causa que teve as consequências que estão na primeira página dos jornais de hoje e que abriram os telejornais de ontem: 422 carcaças de automóveis num parque de estacionamento de terra em Castelo de Vide. No Diário de Notícias, Teresa Charata, uma festivaleira, utilizou a melhor expressão
para definir o que viu: "Parecia o êxodo. Houve carros que explodiram".
Quatro mil pessoas foram evacuadas e depois reconduzidas ao Andanças e
nenhuma delas ficou ferida. O Êxodo também foi um milagre. Mas, agora que se percebeu que foi tudo chapa, forros, vidros, borracha, filtros, etcetera, é preciso saber quem paga. Graça Gonçalves, responsável pela Coordenação Executiva e Sustentabilidade do Andanças, garantiu que há um seguro que cobre os danos e por isso a organização já tinha entrado em contacto com as seguradoras. Sobre isto, o Público foi ouvir um especialista e a DECO
e ambos concluíram o seguinte: quem tem um seguro contra todos os
riscos "vai acionar o seu seguro e resolver o seu problema. Depois
caberá à seguradora tentar obter o direito de regresso"; quem não tem,
ficará "dependente do apuramento da causa do incêncido e dos seguros que
existem". Em teoria, serão o seguro do carro que terá originado o
incêndio e o seguro de responsabilidade civil do Andanças a pagar a
fatura.
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Agora, o IMI. Logo que saiu a notíca do aumento do imposto em função da panorâmica e da exposição ao sol, o avaliador que há em cada um de nós pulou do sofá e foi medir o grau de incidência do raio de luz na kitchnette lá de casa e abrir a janela para perceber se a vista era boa ou má. Para evitar confusões e dúvidas, a Raquel Albuquerque foi à lei e perceber o que, de facto, mudou. E foi isto: o
parâmetro de avaliação já vinha de antes e contava 5% (positivo ou
negativo) no valor; agora, o mesmo pode subir até 20%, se for um sítio
desafogueado e luminoso, ou descer 10% se der de caras com uma ETAR ou
um cemitério. Neste artigo do Expresso Diário também cabem as posições dos partidos: o PS diz sim, o BE e o PCP dizem nim, o PSD e o CDS-PP dizem não. "Não" é o que Fernando Rocha Andrade não disse à Galp quando lhe foram oferecidos dois bilhetes para o Euro2016. A Sábado deu a notícia: o secretário
de Estado dos Assuntos Fiscais recebeu uma prenda de uma empresa que
deve €100 milhões à Autoridade Tributária e a Autoridade Tributária está
sob a alçada, lá está, do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais.
Vulgo, Rocha Andrade. À Sábado, o visado disse, primeiro, que
não via nada de anormal em ter aceitado a viagem; depois, em comunicado,
o Ministério das Finanças reforçou essa posição mas garantiu que a Galp
seria reembolsada. O CDS-PP já pediu a sua demissão. Lá nos EUA, Barack Obama pediu ao Partido Republicano que se demitisse de Donald Trump.
O ainda presidente considerou o candidato a presidente "impreparado"
para o efeito. Não podemos levar Obama a peito, porque Trump já fez de
tudo e tudo mal. Vejamos: hostilizou os hispânicos, que eram vistos como um dos pontos chave para os republicanos; criticou uma pivôt da FOX, a cadeia de TV amigada com os republicanos; e disse, no outro dia, que não apoiava Paul Ryan e John McCain, dois pesos-pesados dos republicanos. E vamos descontar os ataques racistas aos muçulmanos e à família Khan, os comentários sexistas, o bebé que teve de sair da sala, e por aí fora. Trump é dado a teorias da conspiração e eu tenho esta sobre isto:
provavelmente, o homem pôs-se na corrida só porque sim, pela piada da
coisa e para voltar a ser o Donald, mas quando se apercebeu que iria até
ao fim entrou em modo auto-sabotagem por não saber patavina de
governação. Mas isto sou eu, que não acredito que alguém seja, genuinamente, o que Trump é. A Espanha é o que é desde dezembro de 2015: um país desgovernado.
O PP e o PSOE não se entendem, o Podemos e o Ciudadanos não ajudam, e
as terceiras eleições podem estar a caminho - num espaço de oito meses.
Ontem, o Rei encontrou-se com Rajoy mas o segundo não tinha grande coisa a dizer ao primeiro, porque está tudo num impasse, o país partido em partidos. O
mais curioso (esquizofrénico, até) é perceber que o PP, envolvido em
escândalos de corrupção e apropriação indevida de fundos que tocam
inclusivamente no líder, continua a ser o mais votado e o que mais deputados elege - o que diz mais do PSOE do que do PP. É um jogo político perigoso. Do jogo político para o jogado: hoje há Portugal-Argentina (22h, RTP), o primeiro encontro da seleção olímpica no Brasil. Se quiser saber um bocadinho mais dos 18 convocados de Rui Jorge, vá por aqui.
O Rio2016 arranca oficialmente amanhã e só depois se perceberá se está
tudo tão mal como se diz - ou se está ainda pior. Ainda no desporto, A BOLA faz manchete (outra vez) com as eventuais vendas de Talisca e de Salvio, O JOGO garante que Alex (ex-Chelsea e ex-AC Milan) é o futuro patrão da defesa do FC Porto, e o Record avança que o Benfica quer ultrapassar o FC Porto na corrida por Rafa, do SC Braga. É a febre do mercado. FRASES "O Brasil consegue organizar aquilo que só um grande Estado, uma grande Nação, uma grande pátria, consegue concretizar". Marcelo, amigo, o povo irmão também está contigo. "Aquilo
que nós temos estado a assistir neste momento são muitos fantasmas
sobre a realidade económica do país. A verdade é que os últimos dados da
execução orçamental demonstram que a rota que nós definimos tem estado a
ser cumprida e tem estado a ser cumprida com êxito” Ana Catarina Mendes, secretária-geral adjunta do PS. Basicamente, a UTAO não manda aqui, certo? "Por
outro lado, coloca-se aqui uma grande instabilidade, e um grande
subjetivismo, [sobre] o que é que é uma paisagem, para uns é uma coisa e
para outros é outra. Creio que é uma lei bizarra" Basílio Horta, presidente da CM de Sintra, sobre o IMI. "Neste
momento devemos manter uma mente aberta quanto a um motivo e
consequentemente o terrorismo como motivação continua a ser uma das
linhas de investigação para explorarmos" Mark Rowley, comissário assistente para operações especializadas da polícia britânica. Houve um ataque no centro de Londres que fez um morto e cinco feridos. O QUE ANDO A LER No "Jesusalém" de Mia Couto
há um pai e dois filhos, Silvestre Vitalício e Mwanito e Ntunzi, um
tio, Zacarias, e um lugar inventado onde as regras, os costumes e as
histórias são as de Vitalício e de mais ninguém. Foi para lá que
Silvestre, que não é Silvestre de nome, levou a família para fugir da
dor, da cidade, do tempo, da escrita e do fantasma da mulher que deixou
de existir. Em "Jesusalém" não há Deus nem mulheres, há uma jumenta e um
camião de entregas de víveres que, de quando em quando, aparece com
poucas novidades do rebuliço urbano. É tudo escrito naquela prosa
poética de Mia Couto, o inventor de palavras que deviam existir, porque
estas fazem sentido depois de as lermos pela primeira vez. Acho
que é a primeira vez que me atraso a entregar o seu Curto, espero que
seja a última. Por hoje é tudo. Vá passando os olhos pelo nosso site, às
18h ligue-se ao Expresso Diário e tenha um bom resto de dia.
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