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POR Ricardo Marques
Jornalista
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Bom dia, Não há escola como a vida e não há manhã como a de sábado para arrumar os cadernos e rever a matéria dada. Que lições podemos tirar da semana que passou? Que nunca é tarde mudar, como provam os miúdos que saltaram da cadeia para o palco da Gulbenkian. Que a vitória às vezes tem o sabor horrível da derrota, como se viu no atentado desta semana na Turquia. Que uma novidade absoluta pode perder-se na absoluta banalidade dos dias, como prova o protesto inédito dos magistrados. Que o crime não compensa, como mostra uma história que vem do Brasil. Que o trabalho, ainda que feio, compensa, como tem conseguido Fernando Santos em França. Que ninguém escapa à morte, nem os que melhor conhecem o futuro — e Tofler conhecia-o como poucos. Aprendemos também que haverá sempre coisas que não compreendemos. Comecemos por essas. Comecemos pela morte de uma rapariga de 19 anos
que a mãe encontrou no quarto, estendida na cama, a televisão ainda
ligada. Comecemos por lembrar o que dizia a autópsia: a jovem, que esteve várias vezes no hospital e a quem nunca foi feito um TAC ou uma ressonância magnética, tinha um tumor de 1,6 quilos na cabeça. Comecemos por lembrar que isto aconteceu há três anos e que ainda nada se sabe.
Há quatro entidades do Estado a investigar uma suspeita de erro médico
mortal. Mas não há resultados. A Isabel Paulo e a Raquel Moleiro
descrevem um caso que é difícil de compreender nos dias de hoje. “Nós não nascemos aqui, não vamos morrer aqui” é um grito contra o destino.
É também parte da letra do rap em crioulo que fechou um especial "Don
Giovanni" — com exibição única no palco da Gulbenkian na quinta-feira à
tarde. Lado a lado, reclusos do Estabelecimento Prisional de Leiria,
integrados num projeto com três anos, e bailarinos de uma escola de
dança deram nova vida à ópera de Mozart. Mostraram que, sendo possível refazer uma peça musical com mais de duzentos anos, nada é impossível. Uma reportagem surpreendente Luciana Leiderfarb. À hora da ópera, houve jogo em Marselha. Mais do mesmo, dirão os céticos. A equipa não joga bonito, não deslumbra, só empata. Não ganha, mas não perde — o mais importante agora que estamos na fase do “quem perde vai para casa”.
Fernando Santos é o homem no centro de tudo e, antes do jogo com a
Polónia, o Pedro Candeias fez um exercício arriscado: “escrever sobre um
jogo que ainda não se viu e esperar que continue a fazer sentido quando
este acabar”. Fez sentido, faz sentido. Para ler e guardar e ler outra vez antes da meia-final. Nem,
ou vã glória de traficar. É impossível resistir e por isso o trocadilho
vem primeiro na hora de lançar a história de Antonio Francisco Bonfim
Lopes, o vendedor de revista que se tornou num dos maiores
traficantes do Rio de Janeiro. Chamam-lhe Nem. A Christiana Martins
conta-lhe a história de um homem que se fez criminoso para ajudar a filha doente. Uma história bonita, que virou feia e não teve final feliz. A Joana Azevedo Viana escreve uma história sem traço de felicidade.
No rescaldo do violento atentado desta semana no aeroporto de Istambul
(a Turquia sofreu sete ataques terroristas nos últimos nove meses, de
que resultaram 238 mortos), a Joana Azevedo Viana explica como o Daesh se tornou ainda mais perigoso agora que está a perder a guerra. É cedo para saber como será o desfecho, mas esta semana chegou um protesto inédito dos magistrados. Pela primeira vez na história, o sindicato do Ministério Público vai recorrer aos tribunais para tentar travar a colocação de magistrados
nos tribunais portugueses. Em causa, segundo o sindicato, está o fim da
especialização dos procuradores que, por falta de quadros, vão ter de
trabalhar em várias áreas em simultâneo. Como explica o Rui Gustavo, com
a entrada da providência cautelar em tribunal a Justiça portuguesa fica em “pause”. Uma linha para destacar o artigo de opinião de George Soros sobre o Brexit. É díficil encontrar “pause” mais “pause” do que o país que inventou a língua em que se escreve a palavra “pause”. Ficou para o fim Alvin Tofler, o homem que pensava o futuro. Morreu esta semana, aos 87 anos. O Luís M. Faria traça o perfil do pensador e de uma obra que parece mais atual do que nunca.
“Devemos procurar formas totalmente novas de nos ancorarmos”, diz
Tofler, “pois todas as velhas raízes, religião, nação, comunidade,
família e profissão, estão agora a ser abaladas pelo impacto do furação
do impulso acelerador”. Faça o contrário. Abrande. Leia. Tenha um bom fim de semana
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