Oposição síria fala em civis mortos em primeiro ataque aéreo da Rússia
Em atualização
Rússia diz que bombardeou alvos do Estado Islâmico, mas a oposição
síria diz que foram atingidos civis, incluindo crianças, e fala em 36
mortos.
Autores
- Agência Lusa
Depois de ter dado sinais concretos de que ia agir nesse sentido, a
Rússia lançou o primeiro ataque aéreo na Síria, mais concretamente na cidade de Homs e arredores, na manhã de quarta-feira. O presidente da
Coligação Nacional da Síria, principal órgão oposição democrática ao regime, Khaled Khoja,
escreveu que os
bombardeamentos russos resultaram na morte de 36 civis e que a
zona afetada pelo raide não é dominada nem pela Al-Qaeda nem
pelo autoproclamado Estado Islâmico. A zona afetada terá um forte domínio do Exército Sírio Livre e outros grupos rebeldes.
Entretanto já surgiram
vídeos no YouTube
que indicam terem sido filmados em Talbisa, uma vila que fica a 10
quilómetros de Homs. Embora não tenham ainda sido confirmados, estes
vídeos amadores mostram
civis feridos e atingidos pelo bombardeamento russo, tal como
imagens de caças a sobrevoar aquela zona.
Além disso, um
habitante de Talbisa disse a um correspondente do The Guardian no Médio Oriente que há “hoje um
estado de terror e de medo entre as pessoas [da vila]
como nunca tinha havido antes“. Os relatos no local apontam para um grau de destruição sem precedentes naquele local.
O
ministério da Defesa russo apresenta outra versão, adiantando que a missão, que contou com aviões pilotados por sírios, iraquianos e russos,
atingiu alvos do Estado Islâmico,
nomeadamente armazéns de armamento, munições, postos de comunicação e
de armazenamento de combustível. O mesmo órgão oficial de Moscovo
divulgou um vídeo que diz ser da ação militar desta manhã.
Por outro lado, os
EUA estão a avançar a informação de que o território afetado pelo
bombardeamento de Moscovo
não foi dirigido contra o Estado Islâmico.
Em declarações no Conselho de Segurança da ONU, o secretário do Estado norte-americano,
John Kerry,
comentou o assunto. “Se as ações recentes da Rússia representarem um
compromisso genuíno para derrotar o Estado Islâmico então nós saudamos o
gesto e encontraremos uma maneira de multiplicá-lo”, começou, para
depois contrapor:
“Mas não devemos, e não vamos, confundir a nossa luta contra o Estado Islâmico com apoio por Assad”.
Da
Casa Branca, a palavra de ordem é
prudência.
“Os líderes das duas nações [Rússia e EUA] reconhecem que há um
problema político fundamental na Síria que resultou neste caos”, disse à
imprensa o porta-voz do governo norte-americano Josh Earnest.
“Esperamos uma contribuição construtiva da Rússia para combater o Estado Islâmico. Há prioridades clara que partilhamos.”
Controlo de Homs é crucial para Assad
Segundo explica a Reuters,
o controlo de Homs é essencial para o regime do Presidente Bashar Al-Assad. Sem esta cidade debaixo da sua alçada, o regime deixa de controlar o
corredor a Oeste no país, separando
Damasco de outras cidades como
Tartous e
Latakia, o principal bastião de Assad. “Atingir Homs e grupos da oposição em vez de atingir o Estado Islâmica demonstra que o primeiro
objetivo do Kremlin é o de fortalecer Assad“, disse à Reuters uma fonte diplomática francesa.
O ataque surge dois depois de o Presidente russo,
Vladimir Putin, ter
apelado à formação de uma coligação militar entre a Rússia e outros países do Ocidente para
combater grupos terroristas e radicais na Síria, com especial atenção ao Estado Islâmico. Para
Putin, bombardear alvos do regime sírio, liderado pelo Presidente Bashar al-Assad, está fora de questão.
“Não há outra solução para a crise na Síria sem o fortalecimento das
estruturas do governo efetivo e sem lhes dar ajuda na luta contra o
terrorismo”, disse Putin ao canal norte-americano CBS.
Além disso, este ataque surge poucas horas depois de o Parlamento russo ter
autorizado
Vladimir Putin a utilizar as forças armadas no estrangeiro. Terá sido o
Presidente sírio, Bashar al-Assad, a pedir ao homólogo russo ajuda no
combate ao autoproclamado Estado Islâmico.
França mata, pelo menos, 30 jihadistas no primeiro ataque aéreo na Síria
O primeiro
ataque aéreo levado a cabo na Síria pela
França contra o autoproclamado Estado Islâmico
matou pelo menos 30 jihadistas, incluindo 12 crianças-soldado, revela esta quarta-feira um grupo humanitário.
“O
ataque aéreo francês (no domingo) num campo de treino do Estado
Islâmico (EI) localizado no oriente da Síria matou pelo menos 30
combatentes, incluindo 12 dos ‘Filhos do Califado'”, disse Rami Rahman,
do Observatório Sírio dos Direitos Humanos.
O Observatório Sírio
dos Direitos Humanos (OSDH), que tem uma vasta rede de fontes na Síria,
avançou que entre os mortos se encontravam combatentes estrangeiros,
revelando também que o ataque feriu 20 pessoas.
O ataque francês tinha como
alvo um campo na província oriental de Deir Ezor, perto do posto de fronteira Boukamal, usado pelo
grupo radical Estado Islâmico para estabelecer
comunicação com as suas forças presentes no
Iraque e na Síria.
A
França indicou que realizou estes
ataques conta o EI na Síria em nome da
“legítima defesa” contra a ameaça terrorista e por ter uma voz no jogo diplomático e militar atualmente em curso sobre esta questão.
Cinco
aviões Rafale, um avião de patrulha marítima Atlantique 2 e um outro de
abastecimento de aeronaves C-135 estiveram envolvidos na operação.
“Atingimos
uma base militar num local extremamente sensível para o Estado
Islâmico”, afirmou o ministro francês da Defesa, Jean-Yves Le Drian.
Paris participa nos ataques da coligação anti-Estado Islâmico no Iraque, mas
até agora tinha recusado intervir na Síria por receio de fortalecer o Presidente Bashar al-Assad.
«««««««««««««««««««««««««««««««««
ANTÓNIO FONSECA