sábado, 28 de março de 2015

OBVIOUS MAGAZINE - 26 DE MARÇO DE 2015

OBVIOUS - Escolhas do editor‏

OBVIOUS - Escolhas do editor

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26-03-2015
 
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abenÇoados sejam os inimigos que nos fortalecem

por Ana Macarini em Mar 26, 2015 09:00 am   share on Twitter Like abenÇoados sejam os inimigos que nos fortalecem on Facebook Google Plus One Button

A cada escolha que fazemos, abrimos mão de algo que também nos era valioso; é uma questão de atribuir valor à escolha. A cada decisão que tomamos, angariamos a admiração de uns e o repúdio de outros; é o preço que pagamos por sermos fiéis ao que acreditamos. A cada opinião que emitimos, encontramos eco nos semelhantes e críticas nos divergentes; é a consequência imediata por admitirmos uma posição, por não cabermos no conforto da alienação. Jamais estaremos em acordo completo com todos. E, muitas vezes, o simples fato de existirmos dentro de um conceito social e humano, pode despertar a ira alheia. Que venha a ira! É melhor sermos odiados do que sermos ignorados.

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um sanatório para roteiristas insanos

por celiosg em Mar 26, 2015 09:00 am   share on Twitter Like um sanatório para roteiristas insanos on Facebook Google Plus One Button

Algumas das histórias em quadrinhos mais inusitadas do mundo

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ser homem nos dias de hoje

por Sílvia Marques em Mar 26, 2015 09:00 am   share on Twitter Like                                  ser homem nos dias de hoje on Facebook Google Plus One Button

Este artigo objetiva analisar os novos papeis sociais masculinos diante dos novos papeis femininos.

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mau por natureza. e você me fez assim

por Piero de Sá em Mar 26, 2015 09:00 am   share on Twitter Like mau por natureza. e você me fez assim on Facebook Google Plus One Button

Se o homem é criado perfeitamente, então, como ele pode ser mau e causar danos aos outros? E, quando ele age de maneira errada, ele só está agindo de acordo com a sua natureza, ou, ao contrário, a está corrompendo?
Estranhamente, o Conde de Lemongrab, da Hora da Aventura, e o personagem Iago da ópera Otello de Giuseppe Verdi têm a mesma resposta para essa pergunta.
E qual é a sua?

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a arte nascida da vida: roteiro marcante por ser história real ou história real por ser marcante?

por Manuela Pérgola em Mar 26, 2015 09:00 am   share on Twitter Like a arte nascida da vida: roteiro marcante por ser história real ou história real por ser marcante? on Facebook Google Plus One Button

O filme Being Flynn (2011), apesar de pouquíssimo conhecido, tem atuações incríveis de Paul Dano, Julianne Moore e Robert de Niro. Inspirado no livro “Another bullshit night in suck city”, do escritor americano Nick Flynn, retrata um drama familiar e pessoal que vai além do que se vê e nos mostra, parafraseando Pablo Neruda, como a arte nos salva da vida, já que nada nos salva da morte.

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a caverna que insistimos em permanecer

por Carlos Beloto em Mar 26, 2015 09:00 am   share on Twitter Like a caverna que insistimos em permanecer on Facebook Google Plus One Button

Acredito que se fosse dado a todos os seres humanos a oportunidade de pensar da maneira mais autônoma possível, teríamos saído da caverna (referência ao mundo das aparências), conforme Platão ilustra em sua obra A República, na passagem sobre o “Mito da Caverna”. A grande questão é: Estamos dispostos a sair de nossas cavernas e nos deixar guiar pela luz do sol que ilumina o mundo exterior a essas cavernas?

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sobre pessoas que não encontramos todos os dias no ônibus

por Rosita Rose em Mar 26, 2015 09:00 am   share on Twitter Like sobre pessoas que não encontramos todos os dias no ônibus on Facebook Google Plus One Button

Ás vezes o passageiro, aquele que utiliza o transporte público, não passa. Algo fica depois de uma conversa rápida.

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nina simone: a completude humana pela arte, amor, talento e convicção.

por Élida Regina Pereira em Mar 26, 2015 09:00 am   share on Twitter Like nina simone:  a completude humana pela arte, amor, talento e convicção. on Facebook Google Plus One Button

Nina Simone, ícone da música norte americana, foi completude de amor, alma, política e genialidade musical. Teve sua música e alma expostas pelo mundo e expôs suas emoçōes e opniões de uma forma destemida. Nascida na década de trinta, viveu um período triste da história norte americana e mundial, e consequentemente, colheu seus dejetos. 

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o tédio é apenas um sintoma

por Bruno Braz em Mar 26, 2015 09:00 am   share on Twitter Like o tédio é apenas um sintoma on Facebook Google Plus One Button

Podemos explicar o fenômeno do tédio a partir de alguns elementos: ansiedade, culpa, ânsia por controle e entretenimento. Porém, o que sentimos como "tédio" é apenas um sintoma de algo muito maior...

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o nascimento da escrita é a história da imagem

por Bruna Regina Pietta Abrão em Mar 25, 2015 07:00 am   share on Twitter Like o nascimento da escrita é a história da imagem on Facebook Google Plus One Button

Toda escrita começa com uma imagem. toda imagem é condensação de um texto que ainda não pôde ser dito...E os diálogos de um filmes são a superfície que dão contorno a cena que assistimos, porque o texto, o texto todo, está no contexto exposto nas imagens...E a pintura. a pintura é o movimento primário do homem...

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teoria geral do esquecimento

por J. Douglas Alves em Mar 25, 2015 06:50 am   share on Twitter Like teoria geral do esquecimento on Facebook Google Plus One Button

É um dever ético e moral não deixar a memória coletiva ser apagada, esquecida ou manipulada em mãos daqueles que detêm o poder – econômico, político e social. José Eduardo Agualusa nos esclarece que a história pode ser modificada, reorientada e até ressignificada, porém jamais apagada quando nos propomos a não deixar isso acontecer.

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porque boyhood foi esnobado pelo oscar

por Bruna Kalil Othero em Mar 25, 2015 06:40 am   share on Twitter Like porque boyhood foi esnobado pelo oscar on Facebook Google Plus One Button

Difícil compreender porque a Academia não reconheceu a sensibilidade tão humana que Richard Linklater pôs em seu “Boyhood”. Sei que a “award season” já passou, mas o filme demorou 12 anos pra ser feito, então acho que estou perdoada.

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"o exorcista" : um clássico sensorial

por Sílvia Marques em Mar 25, 2015 06:30 am   share on Twitter Like                         "o exorcista" : um clássico sensorial on Facebook Google Plus One Button

Este artigo comenta o filme "O exorcista" sob o viés narrativo e temático.

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la belle personne

por Núbia Ferreira em Mar 25, 2015 06:30 am   share on Twitter Like la belle personne on Facebook Google Plus One Button

"Se nós somos duas pessoas normais, por quanto tempo nosso amor vai durar? Amor eterno não existe, nem mesmo nos livros. Então amar significa por um tempo determinado. Seria um milagre para nós, não somos diferentes de nenhuma outra pessoa.”

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quem nada tem

por Carolina Vila Nova em Mar 25, 2015 06:20 am   share on Twitter Like quem nada tem on Facebook Google Plus One Button

A miséria que tomou conta da nossa sociedade não consiste na falta de bens materiais dos mais desfavorecidos, mas na falta de humanidade que inunda a percepção e comportamento de tantos de nós.

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amenizando os danos: cÃes na praia (e outras elucubraÇÕes praianas)

por Viviane Rodrigues em Mar 25, 2015 06:20 am   share on Twitter Like amenizando os danos: cÃes na praia (e outras elucubraÇÕes praianas) on Facebook Google Plus One Button

Eu sempre torci o nariz para cães na praia. Sempre achei muito complicado levá-los porque, geralmente, quem o faz, é sempre despreparad@. No entanto, hoje – depois da Barbarella - me parece que é como ir para um lugar muito legal e não levar alguém que você ama e sabe que vai curtir demais. Quem é a Barbarella? Ela é uma cadelinha SDR (sem raça definida) pequena, muito frágil e [...]

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batalha real - filme e mangá

por Cuffman em Mar 24, 2015 09:40 am   share on Twitter Like batalha real - filme e mangá on Facebook Google Plus One Button

Imagine um futuro distópico onde de repente você foi obrigado por um governo totalitário a entrar em um jogo onde você tem que matar todos os seus amigos de infância para sobreviver. Esta é a premissa da obra "Batalha Real". Primeiramente lançada em livro no Japão, ganhou versões em cinema e quadrinhos (mangá) que acabaram ficando mais famosas.

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manual moderno de como conseguir um amor

por Cristina Souza em Mar 24, 2015 07:20 am   share on Twitter Like manual moderno de como conseguir um amor on Facebook Google Plus One Button

Como assim você ainda não sabe como conquistar seu amor? Se você tá aí sozinho(a) é porque não está fazendo a coisa certa! Clica aqui no texto que eu te ensino como!

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a ficção como lugar da fantasia – luigi pirandello

por Andressa Barichello em Mar 24, 2015 07:20 am   share on Twitter Like a ficção como lugar da fantasia – luigi pirandello on Facebook Google Plus One Button

A vida prescinde de qualquer verossimilhança. Por que a nossa dificuldade em aceitar na arte o absurdo? Uma perspectiva de leitura a partir do ensaio "Sobre os escrúpulos da fantasia".

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o que você faz com o que fazem com você?

por Vanessa Rossi em Mar 24, 2015 07:20 am   share on Twitter Like o que você faz com o que fazem com você? on Facebook Google Plus One Button

Começo esse texto com uma frase do Lacan, outrora atribuída a Sartre que diz assim: “ Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você.” Carrego essa frase no bolso. Uma verdadeira lição de vida. Me alinho muito com esse pensamento porque todos nós passamos por arranhões e quedas na vida. Nesse filme chamado existência humana, torna-se [...]

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gotham city antes de batman

por Rita Ribeiro em Mar 24, 2015 07:20 am   share on Twitter Like gotham city antes de batman on Facebook Google Plus One Button

Gotham, série de TV americana baseada em série de HQs, retrocede no tempo e mostra ao telespectador como surgiram os vilões mais famosos dos quadrinhos e do cinema

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a triste história de guernica, a obra-prima de pablo picasso

por Eudes Bezerra em Mar 24, 2015 07:20 am   share on Twitter Like a triste história de guernica, a obra-prima de pablo picasso on Facebook Google Plus One Button

Conta-se que durante a ocupação da França pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial, um oficial alemão, diante de uma retratação do painel Guernica, teria perguntado a Picasso se ele havia feito o famoso e trágico painel, no que rapidamente foi respondido pelo pintor: "Não, foram vocês!".

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um passeio pelas canções de amor dos beatles

por Bruno Inácio em Mar 24, 2015 07:20 am   share on Twitter Like um passeio pelas canções de amor dos beatles  on Facebook Google Plus One Button

Mulheres e até sua cachorra serviram como inspiração para Paul McCartney compor algumas das mais belas músicas do quarteto de Liverpool

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brasÍlia - ilusÕes da vida capital

por Wallace Pantoja em Mar 24, 2015 07:20 am   share on Twitter Like brasÍlia - ilusÕes da vida capital on Facebook Google Plus One Button

A capital do Brasil, reconhecida por sua monumentalidade banhada em luz profissional, se apresenta como movimento, água e pilhas de livros. Anônimos que, no centro, criam para si uma ilusão quente, sem a qual, talvez, nenhum brasileiros se reconheceria como membro da nação. O que temos aqui é um exercício de tensões vividas no "nervo motor" dessa comunidade concretamente imaginária.

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a jornada de lucy (conclusão)

por André Camargo em Mar 24, 2015 07:20 am   share on Twitter Like a jornada de lucy (conclusão) on Facebook Google Plus One Button

Você já recebeu um Chamado que o/a impelisse na direção de um mundo novo e desconhecido? Veja aqui a conclusão do texto sobre o filme 'Lucy' e descubra o que Neo, Nietzsche e Jesus Cristo têm a ver com isso.

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ANTÓNIO FONSECA



OBSERVADOR - MACROSCÓPIO - 26 DE MARÇO DE 2015

Macroscópio – Regresso à “lista VIP” (e também a Herberto Helder)‏

Macroscópio – Regresso à “lista VIP” (e também a Herberto Helder)

Para: antoniofonseca40@sapo.pt
 


Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!
 
Portugal é Portugal e os Estados Unidos são os Estados Unidos. Mas sabia que nos Estados Unidos todos os anos são abertos cerca de quinhentos inquéritos a funcionários da administração fiscal por acesso não autorizado aos ficheiros dos contribuintes? E que, em 2008, um funcionário que tinha acedido às declarações de mais de duzentos actores e desportistas foi condenado a três anos prisão com pena suspensa? Pois é. Eu também não sabia, descobri-o ao ler hoje João Taborda da Gama no Diário de Notícias, num texto com um título relativamente críptico: 2 128 419,00 euros. 
 
Para o colunista do DN, e professor de Direito na Universidade Católica, há uma razão para esse título: é quanto ganhou em 2005 Umberto Eco. Isto porque, nesse ano, “o tonto do Prodi em 2008 [pôs] na internet 38 milhões de declarações de IRS”. Estiveram lá por pouco tempo, mas ainda há por aí cópias a circular. O suficiente para que o autor se sirva do caso como pretexto para tentar colocar algum bom senso numa discussão onde este não tem abundado. Recomendo a leitura de todo o texto, mas deixo-vos mais este aperitivo, até porque ele contém mais informação:
Se tiver tempo, desculpe maçá-lo com isto, mas sei que gosta deste tipo de coisas, se tiver tempo, dizia, veja as regras UNAX (unauthorized access to taxpayer data) em vigor desde 1997 e a "Publication 1075" do fisco norte-americano, de outubro passado. Estas são 160 páginas sobre a segurança da informação fiscal dos contribuintes. Nos EUA é um assunto sério, como sabe2C já levou a muitos despedimentos e condenações, e ainda por cima com o escândalo de 2013 em que se suspeita que o fisco perseguiu deliberadamente organizações e empresas ligadas aos setores mais conservadores. Mas nesse documento, precisamente, sugerem a criação de uma "Do Not Acess List" em que um conjunto de pessoas, capazes de despertar maior curiosidade, tenham uma maior proteção. Mas em Portugal a coisa foi logo boicotada, porque, naturalmente, não estamos na América...
 
Por isso repito: Portugal é Portugal, e em Portugal há regras políticas e mediáticas que, por vezes, assustam. Tanto que Francisco Assis decidiu escrever, no Público de hoje, sobre a A coragem de desagra dar. O seu ponto de partida é de novo este caso porque entendeu que “Um acontecimento aparentemente banal pode ter o condão de revelar o verdadeiro estado de saúde mental e moral de um a sociedade”. Isto por causa de um mal, “o terror mediático reinante”, um diagnóstico que recupera de um texto já citado no Macroscópio, o de Miguel Sousa Tavares no último Expresso. Para Assis, há entre nós “escasso amor pela liberdade, doentia tendência para a confusão entre o valor primacial da igualdade e a sua forma degenerada que constitui o igualitarismo, vertiginosa atracção por um discurso moralista de baixíssima qualificação ética”. Isso levou o Governo a andar à deriva, “numa permanente hesitação e num passa-culpas impróprios de quem tem a obrigação de assumir em toda a plenitude a responsabilidade pelos actos da administração que tutela”, ao mesmo tempo que “As oposições, num coro beat&iacu te;fico e desproporcionado, lançaram-se em absurdas invocações de um supostamente ofendido princípio da igualdade que em nada abona a favor do seu sentido de responsabilidade institucional.” O seu veredito sobre a generalidade dos comentadores não é mais meigo: preocupam-se mais em “atender àquilo que julgam ser os preconceitos das suas audiências do que em obedecer aos imperativos das suas consciências”.
 
Mas se comecei por destacar estes dois textos, devo sublinhar que não foram os únicos a distanciarem-se do registo de uma polémica que, induzida por um sindicato, acabou afinal por colocar em segundo plano o que nos devia preocupar: a ausência de respeito pelo mais elementar sigilo fiscal. Hoje, por exemplo, soubemos que o Processo fiscal de Passos teve 106 acessos indevidos em menos de um ano e que a maior parte dos funcionários alegou “curiosidade” para o fazer, um voyeurismo (no mínimo) que pareceu não incomodar ninguém. Talvez por isso, durante todo o dia de hoje, a auditoria de que resultou essa constatação foi praticamente ignorada nos noticiários, que preferiram sempre privilegiar a informação – de origem sindical – de que apenasPassos, Portas, Cavaco e Núncio na Lista VIP.
 
O que não quer dizer que exista uma unanimidade mediática. O jornalista Bruno Faria Lopes, no Diário Económico, em Lista VIP é um mau nome para uma medida razoável, defende aí o seguinte:
Se considerarmos que a informação fiscal é um bem sensível e valioso para qualquer cidadão - porque, além de poder revelar infrações e afins, pode conter um grande manancial de dados sobre o padrão de consumo, a saúde, etc. - então concordamos que cai num campo cujo acesso deve ser controlado. Se considerarmos que há diferenças entre um titular de cargo público e um cidadão anónimo então concordamos que deve ser criado um nível qualquer de escrutínio do acesso. A admissão por parte de dirigentes do Fisco de que não se consegue prevenir acessos indevidos para a generalidade dos cidadãos - uma das ilações que podemos tirar deste caso - é precisamen te uma razão para criar um filtro para os titulares de cargos públicos (a par do dever de melhorar o controlo para todos os contribuintes). 
 


Mas deixemos agora este tema para passarmos a Herberto Helder, já que é dever do Macroscópio chamar a atenção para três textos em especial, dois do Observador e um do Público:
  • Começando precisamente pelo Público, a minha referência vai para Miguel Esteves Cardoso e o seu belíssimo Morreu alguém: “A beleza e o poder, a mentira, a invocação, a propaganda da poesia, a abertura da cabeça para o corpo: todas estas magias só eram humanas nele. Para ele apenas faziam parte da prática de viver. Para ele - apetece-me exagerar, como ele exagerará sempre - eram apenas pela poesia.”
  • Sigo para o Observador e para Rui Ramos e o seu sensívelAprender a ler com Herberto Helder: “O resultado de todas estas tentativas de compreender a poesia foi uma certa maneira de fazer poesia, de modo que toda a poesia portuguesa de hoje, com duas ou três excepções (uma delas, para ter nome, é Adília Lopes), parece escrita pelo mesmo autor: escrever poesia é escrever à maneira de um poeta. Herberto Helder não é isso. A prova é a bilha de gás. Há aqui uma desenvoltura a que nenh um poeta de doutoramento se atreveria.”
  • Ainda no Observador, termino com Paulo Tunhas e o seu emocionado Herberto Helder, o poeta: “a poesia de Herberto Helder, sendo grande poesia, nada deixa intacto. Desorganiza, porque o caos é necessário para a criação, e a partir dessa desorganização surge um organismo composto por sentidos transformados e como que magicamente coerentes entre si, onde, no entanto, se encontra sempre, presente e não recalcado, o caos inicial, espécie de advertência da vida. A grande poesia não se pode dar ao luxo da gentileza, e a poesia de Herberto Helder é tudo menos uma poesia da gentileza, exceptuando aquela gentileza feroz que olha de frente a vida do enigma e procura – e co nsegue – dar forma a um espanto informe.” 

Antes de terminar sinto-me obrigado a passar por mais três textos de hoje, até porque são textos de autores que suscitam amores e ódios (e sabemos como os ódios, em Portugal, são por regra mais intensos).
 
O primeiro é uma paródia de João César das Neves em torno do tema de hiper-regulação das nossas vidas, empresas, até hábitos vulgares. Chama-se A lei dos pobres e dele vos deixo a seguinte passagem: “Imagine que alguém ousa vender produtos alimentares. Nada mais perigoso, nocivo e prejudicial do que esse terrível desplante. Ter um restaurante ou café é hoje um descaramento mais severamente vigiado, regu lado e castigado do que a maior parte dos ladrões ou meliantes. Se os comerciantes são perseguidos, os produtores ainda serão tolerados, desde que não se atrevam a vender fruta, legumes, lacticínios e outros produtos perigosos sem as devidas cautelas. Se não se sujeitarem a inúmeras regras, processos, custos e licenças, tais substâncias só servem para consumo próprio ou ofertas a amigos. É mais complicado vender pão do que pornografia ou armas de fogo.”
 
O segundo é o delicioso (e fundamentado) texto com que João Miguel Tavares, no Público, desfaz a forma como José Lello reagiu ao anúncio da candidatura presidencial de Henrique Neto. Aqui fica um pouco de O irmão Lello:
José Lello foi consultor da Capgemini entre Setembro de 2006 e Novembro de 2012 e administrador da DST entre Janeiro de 2007 e Fevereiro de 2012. O Governo Sócrates caiu em Junho de 2011, e com ele parecem ter caído também — curiosa coincidência — as notáveis capacidades administrativas de José Lello, um homem cujo talento insiste em manifestar-se apenas na órbita do Estado socialista. E é este pobre Lello que vem agora chamar Beppe Grillo a Henrique Neto, que enriqueceu no privado, tomou posições corajosas e tem um pensamento estruturado sobre o país. Caro porteiro Lello: não dá para gerir a clientela com a boca fechada?”
 
O terceiro é de Camilo Azevedo e, contra a conrrente, ele trata de explicar no Jornal de Negócios – não só à opos ição, mas também ao Governo, o sentido de “ter os cofres cheios”. O título já diz muito - Os cofres estão cheios… de dívida! – mas a argumentação vai mais longe:
A ministra das Finanças quis assinalar a diferença entre 2015 (todo o mundo nos empresta dinheiro) e 2011 (ninguém se chegava à frente). Mas cometeu um deslize: não realçou que os cofres estão cheios... de dinheiro alheio. Que tem de ser devolvido. Com isso estimulou a oposição a explorar a questão num registo vergonhosamente eleitoralista. Com argumentos idiotas como: "O país tem os cofres cheios, mas as pessoas continuam desempregadas". Quem o fez (Costa, Galamba...) sabe perfeitamente que cofres cheios de dívida não resolvem o problema do desemprego.
 


Por aqui me ficaria por hoje, desta vez com um Macroscópio excclusivamente em português, mas não posso deixar de vos chamar a atenção para mais um Conversas à Quinta, com Jaime Gama e Jaime Nogueira Pinto, que hoje foi dedicado a um centenário que se assinalava precisamente hoje: o da revista “Opheu”. Como sempre, a sua conversa - Porque foi tão importante a revista “Orpheu”? - é uma delícia e uma fonte de saber. Também, se preferir, pode ouvir o Podcas t do programaaqui. (E, claro, ler o muito completo Especial da Rita Cipriano,"Orpheu acabou. Orpheu continua").
 
Boa noite, boas leituras e até amanhã.
 
 
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