Perdoem-me os leitores do Macroscópio, mas tenho hoje de começar com uma nota pessoal. O Público, o jornal que ajudei a fundar, onde trabalhei durante 20 anos e que dirigi durante 11, comemorou hoje o seu 25º aniversário. Parabéns e um abraço a todos quantos ainda fazem todos os dias um jornal que, como concorrente, nos desafia também todos os dias aqui no Observador.
< br> Para assinalar esse 25º aniversário o jornal fez uma edição especial, dirigida pelo físico João Magueijo (que já entrevistámos aqui no Observador,
lembram-se?) e que tem como mote o tempo. Sendo João Magueijo um cientista e tendo sido a aposta na divulgação científica uma das apostas iniciais do Público, decidi também dedicar este Macroscópio a alguns avanços recentes do conhecimento científico. Até porque houve uma mão cheia de notícias bem interessantes nos últimos dias.
A minha primeira referência, noblesse oblige, vai para um texto dessa edição especial do Público, um texto de uma jornalista que está lá desde a primeira hora, A na Gerschenfeld. Trata-se de
Este ano, o último dia de Junho vai ter mais um segundo e fala-nos de como o planeta está a rodar cada vez mais devagar. É um texto onde se aprende, o que é sempre útil, e de que vos deixo este aperitivo:
A partir de observações astronómicas, os astrónomos árabes tinham subdividido, já na Idade Média, o dia solar em 24 horas, as horas em 60 minutos e os minutos em 60 segundos. E, com base nisso, em 1874, o segundo fora cientificamente definido como um sexagésimo de sexagésimo de vigésimo quarto da duração média do dia solar. Um dia “civil” durava portanto 86.400 segundos. Só que, pouco depois, descobriu-se que o período de rotaç ão da Terra não é assim tão regular: varia de forma imprevisível sob o efeito das marés, dos ventos, dos terramotos. Aqui no Observador também quisemos, logo desde o arranque, ter informação relevante, original e apresentada de forma original sobre Ciência, e um bom exemplo disso é a reportagem especial que editámos ainda ontem sobre o novo Laboratório de Plasmas Hipersónicos do Instituto Superior Técnico. O trabalho da Vera Novais chama-se
Plasmas Hipersónicos ou como as naves atravessam um “bunker” espacial em Lisboa e conta-se como lá se vai simular a reentrada de naves espaciais na atmosfera terrestre. O problema pode ser sintetizado assim:
Uma nave que venha da Esta&cced il;ão Espacial Internacional entra na atmosfera terrestre a seis quilómetros por segundo, mas se vier da Lua entra ao dobro da velocidade. A onda de choque causada por um objeto que entra a grande velocidade na atmosfera faz aumentar a temperatura, que faz queimar os materiais, como no caso do meteoro. E o aumento da temperatura vai fazer com que as moléculas dos gases da atmosfera se agitem mais, colidam umas com as outras e libertem eletrões. Quando os eletrões chocam com as moléculas liberta-se radiação, que pode ser ultravioleta, visível (a luz que vemos) ou infravermelha, e formam-se um plasma – o quarto estado da matéria. Mas já que começámos a falar de tempo, a reboque de um aniversário, voltemos ao tempo para referir a descoberta que, entre ontem e hoje, mais agitou a comunidade científica: é que tudo i ndica que foi
encontrado o humano mais antigo do Mundo. Demos aqui a notícia, mas para vos propor alguma variedade vou indicar-vos dois links onde ela está mais desenvolvida.
- A primeira é do New York Times, Jawbone Fossil Fills a Gap in Early Human Evolution, que sintetiza assim a descoberta:Mr. Seyoum, a graduate student in paleoanthropology at Arizona State University, had made a discovery that vaulted evolutionary science over a barren stretch of fossil record between two million and three million years ago. This was a time when the human genus, Homo, was getting underway. The 2.8-million-year-old jawbone of a Homo habilis predates by at least 400,000 ye ars any previously known Homo fossils. Ou seja, a nossa linhagem mais próxima é 400 mil anos mais antiga do que se pensava até hoje. São muitos anos.
- O outro texto é da National Geographic e tem a vantagem de vir ilustrado com uma árvore geneológica do nosso ramo da evolução. Em Oldest Human Fossil Found, Redrawing Family Tree, relaciona-se esta descoberta – que afinal foi apenas de uma mandíbula e alguns dentes, com uma outra, também revelada esta semana: “The Ethiopian jaw is enough on its own to cause a surge of excitement among paleoanthropologists. But its significance is magnified by the reconstruction of a Homo fossil a million years younger, published Wednesday in the journal Nature. (…) In another plot twist, Spoor and his colleagues digitally reconstructed the braincase of the original H. habilis specimen, which had previously been estimated to hold about 700 cubic centimeters of actual brain—more than a typical australopithecine, but less than later humans. Their new version upped the volume to 800 cubic centimeters, advancing habilis into the same cerebral class as two other Homo species gadding about the East African savanna by two million years ago—Homo rudolfensis and early forms of Homo erectus.”
E assim vamos conhecendo o nosso passado. E quanto ao nosso futuro? Em Silicon Valley, conta-nos a Spiegel, nascem como cogumelos empresas que julgam poder determiná-lo. Em
Tomorrowland: How Silicon Valley Shapes Our Future, a revista alemã interroga-se sobre se não estarão a ir longe demais: “
In the Silicon Valley, a new elite is forming that wants to determine not only what we consume, but also the way we live. They want to change the world, but they don't want to accept any rules. Do they need to be reined in?” Passo agora a um jornal espanhol, o El Pais, para vos falar da evolução das línguas europeias. Já sabíamos que
os olhos azuistinham, muito provavelmente, derivado todos eles de uma única mutação ge nética ocorrida num nosso antepassado que viveria para os lados do Mar Negro e da Ásia Menor, agora o diário espanhol escreve em
Las lenguas indoeuropeas se propagaron sobre ruedas que “Los genomas de 69 europeos antiguos confirman su migración masiva desde el Mar Negro”. Mas esta conclusão ainda é controversa: “
Los resultados no excluyen la existencia de una gran migración desde Oriente Próximo hacia el oeste en los albores del neolítico (8.000 años atrás). De hecho, la confirman por encima de toda duda. Lo que sí excluyen es que ese antiguo movimiento de población fuera el responsable de propagar todas las lenguas indoeuropeas, como sostiene la teoría defendida, sobre todo, por el arqueólogo británico Colin Renfrew.” Para acabar de uma forma um pouco mais divertida e para provar que a Ciência não serve apenas para satisfazer a nossa curiosidade sobre os mistérios do Universo – bem longe disso – faço um salto final para um estudo que nos diz quantas bebidas devemos beber se queremos parecer mais atrativos a um nosso parceiro. A conclusão pode decepcionar muitos dos nossos noctívagos (e quem trabalha no Bairro Alto escreve estas palavras com conhecimento de causa): You
Look Hotter After 1 Drink, But Not 2. Sim, apenas uma bebida. Escreve a Live Science: “
In the study, 40 students at the University of Bristol in the United Kingdom volunteered to get a little tipsy. To see how the students' appearances changed with each drink, the researchers pho tographed their faces three times: when sober, after drinking the equivalent of one glass of wine, and after drinking a second alcoholic drink. (…) A separate group of heterosexual students then rated how attractive they found each headshot in side-by-side comparisons. (…) It turned out that the photos taken after one drink were rated as more attractive than the sober photos, the researchers found. But the trend didn't continue. After two drinks, the participants found the sober photo more attractive than the high-alcohol headshot.”
Hoje é quinta-feira, amanhã é sexta e dia de começar a sair à noite (apesar de quinta já ser um dia forte), pelo que tenham cuidado. Se além de descansarem e lerem, como sempre recomendo, quiserem parecer mais atraentes, já sabem por onde devem ficar.
Até amanhã.