Não é um mal português. Um pouco por todo o mundo houve quem deixasse as compras de Natal para o último momento. Em Londres, por exemplo, previa-se que
hoje à hora de almoço se alcançasse um record de transações eletrónicas, sinal de que também por lá se espera sempre pela última oportunidade e pelo último (possível) desconto.
Espero que os leitores do Macroscópio já tenham dado todas as suas voltas e que, agora, se possam dedicar à preparação da Consoada e, claro está, dedicar algum tempo à leitura.
A minha primeira sugestão vem muito a propósito desta quadra. O Observador entrevistou D. Manuel Clemente, Patriarca de Lisboa, que nos falou da forma como decorreu o recente Sínodo de Roma e de como vão as discussões sobre as políticas de família. Dividimos a entrevista em quatro artigos diferentes:
- O Papa pediu-nos para falar à vontade, com coragem, onde D. Manuel explica a forma como decorreu o recente Sínodo de Roma, com uma certeza: “desta vez foi diferente”;
- Conhecemos melhor os limites da natureza humana, no qual se discute a doutrina da Igreja relativamente à família, assim como a evolução que se pode esperar nesta frente;
- "Os portugueses conseguiram dar a volta à crise", uma incursão por Portugal, pela recente crise, pelas extraordinárias manifestações de solidariedade que esta desencadeou e pela forma como, ajudando-se, os portugueses estão a superá-la;
- "Este Papa é um homem encantador", onde o Patriarca de Lisboa fala da próxima mensagem do Papa Francisco no Dia Mundial da Paz e deixa um voto para este Natal de 2014: “que todos pudessem ‘ser um presépio’, ‘que nos reconduzíssemos àquelas circunstâncias de despojamento e simplicidade’. Apenas.”
Para além destes artigos, onde se referem as principais passagens da nossa conversa, é possível ver o vídeo de toda a entrevista em
Como é trabalhar com o Papa Francisco? Mas se esta leitura pode ser inspiradora, há muitas que, sempre a propósito do Natal, podem ser instrutivas, divertidas ou simplesmente surpreendentes. Como esta,
When Santa Claus Showed Up on U.S. Currency, onde ficamos a saber que antes de o Tesouro dos Estados Unidos ter centralizado a produção e impressão das notas de dólar (o que sucedeu em 1861), era frequente alguns bancos imprimirem notas com imagens de São Nicolau e, depois, do Pai Natal. Digamos que, nesse tempo, os bilhetes verdes eram menos monótonos do que são hoje, onde quando muito podemos esperar encontrar o rosto de um antigo Presidente dos Estados Unidos.
Mais profundo, mas também com muitas revelações surpreendentes, é o ensaio da Economist sobre a figura dos Rei Magos. Em
Christmas characters - The rule of three a revista leva-nos por onde longa viagem onde se recorda aquilo que sabemos, e não sabemos, sobre essas míticas figuras e que não hesita em traçar paralelos com algumas figuras da cultura contemporânea. Conclusões? Não tinha de haver, mas a Economist arrisca:
For those who feel deprived of the mystical significance of the kings, however, there is a more profound dimension to the rule of three to ponder. For three encompasses everything: past, present, future; here, there, everywhere; earth, sea and air; positive, negative, neutral; this, that and the other. Through these trinities the kings, who might be any Tom, Dick or Harry, wander in search of answers (yes, no, maybe) to mysteries even older than that of Father, Son and Holy Ghost: the birth of light, the dawn of life and the primacy of love. A força do Natal, apesar da origem nem sempre clara de muitas das suas tradições, em especial daquelas que se distanciam mais da pura celebração do nascimento de Jesus Cristo, quase sempre foi suficiente para criar momentos especiais mesmo no meio das maiores dificuldades. Um desses momentos ocorreu há exactamente 100 anos, quando a Europa já estava mergulhada na imensa catástrofe da I Guerra Mundial mas as tropas cumpriram uma trégua de Natal. É esse episódio que o Wall Street Journal recorda em
The Spirit of the 1914 Christmas Truce, discutindo o seu significado na altura e o que ele nos pode ensinar sobre a forma como os homens podem cooperar mesmo em situações de conflito extremas. E também como não podem. Pequeno extrato:
Why did the 1914 Christmas truce work? The static nature of trench warfare meant that soldiers faced each other day after day. Sometimes, friendly shouting across the lines in the period before Christmas established a vague sense of connection. And the stationary fighting meant that, if you betrayed the truce, the other side knew where to find you for revenge. The truce mostly involved British and German troops, and its success was aided by shared religious traditions, racial identity and culture; many knew the others’ language, had visited their country. Num registo mais leve, mas muito interessante, o Telegraph apresenta-nos uma outra viagem ao passado, esta em Londres. Um fotógrafo recuperou uma mão cheia de imagens antigas da capital do Reino Unido em tempos de natal e realizou a sua sobreposição digital a imagens da Londres de hoje. Algumas dessas imagens são de épocas de natal nos anos da II Guerra Mundial, e é muito curioso ver, por exemplo,
um Pai Natal com um capacete de aço a carregar um saco de presentes por entre alguns espantados transeuntes de hoje.
Claro que também há aqueles que não gostam do Natal, e o Observador foi à procura deles e dos seus motivos. Em “
Há quem não goste do Natal e preferisse saltar a data” a Marlena Carriço conta-lhe, citando a a psicóloga clínica Margarida Alegria, que "
a maior parte das pessoas que não gosta do Natal - tirando as que não gostam por um motivo religioso - tem muito a ver com a perda de alguém nesta altura”. Mais concretamente:
"Aqueles que cada vez gostam menos do Natal são os divorciados. O primeiro e segundo anos depois do divórcio são muito complicados. Quando há filhos pior ainda. Tenho uma pessoa que vai estar o dia 24 com o filho e está toda contente, mas no dia 25 o filho vai passar o dia com o pai e ela já disse que vai vestir o robe e acaba o Natal para ela", conta a psicóloga. Depois também há aqueles para quem uma refeição natalícia, com toda a família à mesa, pode ser uma prova de resistência psicológica, sobretudo quando as conversas se dirigem para temas que se deseja evitar. Para esses o El Pais esteve a reunir “
14 consejos de dos psicólogas para esquivar preguntas y pasar unas Navidades tranquilas”. Talvez o melhor desses conselhos seja logo o primeiro: “
Sé comprensivo con tu familia”. E por hoje fico-me por aqui. Com ou sem compras, calculo que o tempo não seja muito. Regresso sexta-feira, dia 26. Até lá, boas festas e boas leituras. E não se esqueça
o Natal vai ser sem chuva, mas com frio e nevoeiro.