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ANTÓNIO FONSECA
Muro de Berlim/25 anos: Gorbachov alerta para risco de "nova Guerra Fria"
O último líder da União Soviética, Mikhail Gorbachov, alertou hoje para o risco de "uma nova Guerra Fria", durante as comemorações que assinalam a queda do Muro de Berlim, na Alemanha.
«O mundo está à beira de uma nova Guerra Fria. Alguns dizem mesmo que já começou», declarou Gorbachov, na abertura de uma conferência sobre o mundo, um quarto de século depois da queda do Muro de Berlim.
Num cenário em que as tensões entre Ocidente e Rússia aumentam, o ex-líder soviético exprimiu «profunda preocupação» com a «rutura no diálogo» e a «quebra de confiança» entre os líderes internacionais.
«Não haverá segurança na Europa sem a cooperação de Alemanha e Rússia», recordou o artífice das reformas "perestroika" (reconstrução) e "glasnost" (transparência), que abriram caminho à queda do Muro de Berlim, a 09 de novembro de 1989.
Recuperar o diálogo é «a prioridade máxima», insistiu, considerando que, apesar das «duras críticas» aos Estados Unidos e à Europa, o atual presidente russo, Vladimir Putin, está a tentar «encontrar uma via para baixar as tensões e construir uma nova base de cooperação».
Assinalando que os acontecimentos da década de 1980 são a prova de que, «mesmo para situações aparentemente sem esperança, existe uma saída», Gorbachov sublinhou que a realidade daquela época «não era menos urgente e perigosa» do que a de hoje.
Numa entrevista à radio e televisão suíça RTS, que será transmitida no domingo, Gorbachov considerou que a Europa corre o perigo de «perder a voz nos assuntos internacionais e passar a ser, gradualmente, irrelevante».
O ex-líder soviético concretizou: «Em vez de liderar a mudança num mundo global, a Europa converteu-se numa arena de agitação política, de competição por esferas de influência e de conflito militar. A consequência inevitável é a fragilização da Europa, numa altura em que outros centros de poder e influência ganham força.»
Por seu lado, a NATO «quer provar que pode salvar o mundo», quando já não é sequer necessária, sustentou.
«Veem-se novos muros. Na Ucrânia, querem cavar um enorme fosso», reconheceu, admitindo que na atual situação «é muito difícil ser otimista», mas frisando que não há razão para "sucumbir ao pânico e ao desespero".