José Saramago GColSE |
José Saramago fotografado por Mário António Pena. |
Nome completo | José de Sousa Saramago |
Nascimento | 16 de novembro de 1922 Azinhaga, Golegã, Portugal |
Morte | 18 de junho de 2010 (87 anos) Tías, Província de Las Palmas, Canárias, Espanha |
Nacionalidade | português |
Cônjuge | Ilda Reis (1944-1970)
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Ocupação | Serralheiro mecânico, funcionário administrativo, técnico editorial, escritor, tradutor, jornalista, poeta, cronista, dramaturgo, contista, romancista, teatrólogo, argumentista, ensaísta |
Prémios | Prémio Cidade de Lisboa (1980)
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Religião | Ateu[1] |
Página oficial |
Fundação José Saramago |
Assinatura |
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Nasceu em
Golegã,
Azinhaga, no dia 16 de Novembro, embora o registo oficial apresente o dia 18 como o do seu nascimento. Saramago, conhecido pelo seu
ateísmo e
iberismo, foi membro do
Partido Comunista Português e foi director-adjunto do
Diário de Notícias. Juntamente com
Luiz Francisco Rebello,
Armindo Magalhães,
Manuel da Fonseca e
Urbano Tavares Rodrigues foi, em 1992, um dos fundadores da
Frente Nacional para a Defesa da Cultura (FNDC). Casado, em segundas núpcias, com a
espanhola Pilar del Río, Saramago viveu na ilha espanhola de Lanzarote, nas
Ilhas Canárias.
José Saramago nasceu na
vila de
Azinhaga, no
concelho da
Golegã, de uma família de pais e avós agricultores.
[6] A sua vida é passada em grande parte em
Lisboa, para onde a família se mudou em 1924 quando tinha apenas dois anos de idade. Demonstrava desde cedo interesse pelos estudos e pela cultura, sendo que essa curiosidade perante o Mundo o acompanhou até à morte.
Dificuldades económicas impediram José Saramago de fazer os estudos liceais, que o levariam a frequentar a universidade. Formou-se numa escola técnica e teve o seu primeiro emprego como serralheiro mecânico.
Fascinado pelos livros, visitava, à noite, com grande frequência, a Biblioteca Municipal Central/
Palácio Galveias.
[7]
Aos 25 anos, publica o primeiro romance
Terra do Pecado (1947), no mesmo ano de nascimento da sua filha, Violante dos Reis Saramago, fruto do primeiro casamento com
Ilda Reis – com quem se casou em 1944 e com quem permaneceu até 1970. Nessa época, Saramago era
funcionário público. Viveu, entre 1970 e 1986 com a escritora
Isabel da Nóbrega. Em 1988, casar-se-ia com a jornalista e tradutora espanhola
María del Pilar del Río Sánchez, que conheceu em 1986 e ao lado da qual viveu até à morte. Em 1955 e para aumentar os rendimentos, começou a fazer traduções de
Hegel,
Tolstói e
Baudelaire, entre outros.
[7]
Depois de
Terra do Pecado, Saramago apresentou ao seu editor o livro
Clarabóia que, depois de rejeitado, permaneceu inédito até 2011. Persiste, contudo, nos esforços literários e, 19 anos depois, funcionário, então, da
Editorial Estudos Cor, troca a
prosa pela
poesia, lançando
Os Poemas Possíveis.[6] Num espaço de cinco anos, publica, sem alarde, mais dois livros de poesia:
Provavelmente Alegria (1970) e
O Ano de 1993 (1975). É quando troca também de emprego, abandonando a
Estudos Cor para trabalhar no
Diário de Notícias (DN) e, depois, no
Diário de Lisboa. Em 1975, retorna ao DN como Director-Adjunto, onde permanece por dez meses, até 25 de Novembro do mesmo ano, quando os militares portugueses intervêm na publicação (reagindo ao que consideravam os excessos da
Revolução dos Cravos) demitindo vários funcionários. Demitido, Saramago resolve dedicar-se apenas à literatura, substituindo de vez o jornalista pelo ficcionista:
"(…) Estava à espera de que as pedras do puzzle do destino – supondo-se que haja destino, não creio que haja – se organizassem. É preciso que cada um de nós ponha a sua própria pedra, e a que eu pus foi esta: "Não vou procurar trabalho", disse Saramago em entrevista à revista Playboy, em 1995.
[7]
Da experiência vivida nos jornais, restaram três
crónicas:
Deste Mundo e do Outro, 1971,
A Bagagem do Viajante, 1973,
As Opiniões que o DL Teve, 1974 e
Os Apontamentos, 1976. Mas não são as crónicas, nem os
contos, nem o
teatro os responsáveis por fazer de Saramago um dos autores portugueses de maior destaque – esta missão está reservada aos seus
romances, género a que retorna em 1977.
[8]
Três décadas depois de publicado
Terra do Pecado, Saramago retornou ao mundo da prosa ficcional com
Manual de Pintura e Caligrafia. Mas ainda não foi aí que o autor definiu o seu estilo. As marcas características do estilo "saramaguiano" só apareceriam com
Levantado do Chão (1980), livro no qual o autor retrata a vida de privações da população pobre do Alentejo.
[8]
Dois anos depois de
Levantado do Chão, surge o romance
Memorial do Convento (1982), livro que conquista definitivamente a atenção de leitores e críticos. Nele, Saramago misturou factos reais com personagens inventados: o rei
D. João V e
Bartolomeu de Gusmão, com a misteriosa Blimunda e o operário Baltazar, por exemplo. O contraste entre a opulenta aristocracia ociosa e o povo trabalhador e construtor da história servem de metáfora à medida da luta de classes marxista. A crítica brutal a uma Igreja ao serviço dos opressores inicia a exposição de uma tentativa de destruição do fenómeno religioso como devaneio humano construtor de guerras.
[8]
De 1980 a 1991, o autor trouxe a lume mais quatro romances que remetem a factos da realidade material, problematizando a interpretação da "história" oficial:
O Ano da Morte de Ricardo Reis (1985), sobre as andanças do
heterónimo de
Fernando Pessoa por Lisboa;
A Jangada de Pedra (1986), em que se questiona o papel Ibérico na então CEE através da metáfora da Península Ibérica soltando-se da Europa e encontrando o seu lugar entre a velha Europa e a nova América;
História do Cerco de Lisboa (1989), onde um revisor é tentado a introduzir um "não" no texto histórico que corrige, mudando-lhe o sentido; e
O Evangelho Segundo Jesus Cristo(1991), onde Saramago reescreve o livro sagrado sob a óptica de um Cristo que não é
Deus e se revolta contra o seu destino e onde, a fundo, questiona o lugar de Deus, do cristianismo, do sofrimento e da morte.
[8]
Nos anos seguintes, entre 1995 e 2005, Saramago publicou mais seis romances, dando início a uma nova fase em que os enredos não se desenrolam mais em locais ou épocas determinados e personagens dos anais da história se ausentam:
Ensaio Sobre a Cegueira(1995);
Todos os Nomes (1997);
A Caverna (2001);
O Homem Duplicado (2002);
Ensaio sobre a Lucidez (2004); e
As Intermitências da Morte (2005). Nessa fase, Saramago penetrou de maneira mais investigadora os caminhos da sociedade contemporânea, questionando a sociedade capitalista e o papel da existência humana condenada à morte.
[8]
A ida para Lanzarote conta mais sobre o escritor do que deixa transparecer a justificativa corrente (a medida censória portuguesa). Com o gesto de afastamento rumo à ilha mais oriental das
Canárias, Saramago não apenas protesta ante o cerceamento, como finca raízes num local de geografia inóspita (trata-se de uma ilha vulcânica, com pouca vegetação e nenhuma fonte de água potável). A decisão tem um carácter revelador, tanto mais se se levar em conta que, neste caso, "mais oriental" significa dizer mais próximo de Portugal e do continente europeu.
[carece de fontes]
Mesmo em dias de hegemonia do pensamento pró-mercado, Saramago guardava um olhar abrigado numa ilha europeia mais próxima da
África que do velho centro da civilização
capitalista. Sempre atento às injustiças da era moderna, vigilante das mais diversas causas sociais, Saramago não se cansava de investir, usando a arma que lhe coube usar, a palavra.
"Aqui na Terra a fome continua, / A miséria, o luto, e outra vez a fome.", diz o eu lírico do poema saramaguiano
"Fala do Velho do Restelo ao Astronauta"(do livro
Os Poemas Possíveis, editado em 1966).
[carece de fontes]
Saramago faleceu no dia 18 de Junho de 2010,
[9] aos 87 anos de idade, na sua casa em Lanzarote onde residia com a mulher
Pilar del Rio, vítima de leucemia crónica.
[10] O escritor estava doente havia algum tempo e o seu estado de saúde agravou-se na sua última semana de vida. O seu funeral teve honras de Estado, tendo o seu corpo sido cremado no Cemitério do Alto de São João, em
Lisboa. As cinzas do escritor foram depositadas aos pés de uma oliveira, em
Lisboa em 18 de junho de 2011.
[11][12]
“Dificílimo acto é o de escrever, responsabilidade das maiores.(…) Basta pensar no extenuante trabalho que será dispor por ordem temporal os acontecimentos, primeiro este, depois aquele, ou, se tal mais convém às necessidades do efeito, o sucesso de hoje posto antes do episódio de ontem, e outras não menos arriscadas acrobacias(…)”
— Saramago, A Jangada de Pedra, 1986
José Saramago foi conhecido por utilizar um estilo oral, coevo dos contos de tradição oral populares em que a vivacidade da comunicação é mais importante do que a correcção ortográfica de uma linguagem escrita. Todas as características de uma linguagem oral, predominantemente usada na oratória, na dialéctica, na retórica e que servem sobremaneira o seu estilo interventivo e persuasivo estão presentes. Assim, utiliza
frasese
períodos compridos, usando a pontuação de uma maneira não convencional; os
diálogos das personagens são inseridos nos próprios
parágrafos que os antecedem, de forma que não existem travessões nos seus
livros. Este tipo de marcação das falas propicia uma forte sensação de
fluxo de consciência, a ponto do leitor chegar a confundir-se se um certo diálogo foi real ou apenas um pensamento. Muitas das suas frases (i.e. orações) ocupam mais de uma
página, usando vírgulas onde a maioria dos escritores usaria pontos finais. Da mesma forma, muitos dos seus parágrafos ocupariam capítulos inteiros de outros autores.
[8]
Estas características tornam o estilo de Saramago único na literatura contemporânea, sendo considerado por muitos críticos um mestre no tratamento da
língua portuguesa. Em 2003, o crítico norte-americano
Harold Bloom, no seu livro
Genius: A Mosaic of One Hundred Exemplary Creative Minds ("Génio: Um Mosaico de Cem Exemplares Mentes Criativas", tradução livre), considerou José Saramago "o mais talentoso romancista vivo nos dias de hoje"
[13], referindo-se a ele como "o Mestre". Declarou ainda que Saramago é "um dos últimos titãs de um género literário que se está a desvanecer".
[8]
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ANTÓNIO FONSECA