Nossa Senhora de Nazaré
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Nossa Senhora Nossa Senhora de Nazaré | |
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Representação da aparição de Nossa Senhora da Nazaré, em Portugal, e do milagre com o nobre guerreiro D. Fuas Roupinho | |
Venerada pela | Igreja Católica |
Nossa Senhora de Nazaré é um dos títulos dados a Maria, mãe de Jesus. A devoção teve início com uma famosa aparição e milagre ocorridos em Portugal e espalhou-se pelas colónias portuguesas. No Brasil, a devoção a Nossa Senhora de Nazaré tem grande expressão em vários locais, nomeadamente Belém e Saquarema.
É a denominação conferida a uma imagem esculpida em madeira, com cerca de 25 centímetros de altura, representando a Virgem Maria sentada num banco baixo a amamentar o Menino Jesus, com as caras e as mãos pintadas de cor "morena". Conforme a tradição oral terá sido esculpida por São José Carpinteiro quando Jesus era ainda um bebé, sendo as caras e as mãos pintadas, décadas mais tarde, por São Lucas. É venerada no Santuário de Nossa Senhora da Nazaré, no Sítio da Nazaré, em Portugal.
A história da imagem foi publicada pela primeira vez em 1609 por Frei Bernardo de Brito, na Monarchia Lusytana. Esse monge de Alcobaça, cronista-mor do reino, relata ter encontrado no cartório do seu mosteiro uma doação territorial de 1182, na qual constava a história da imagem, a qual terá sido venerada nos primeiros tempos do cristianismo em Nazaré na Galileia, cidade natal de Maria.[carece de fontes] Daí a invocação de Nossa Senhora da Nazaré. Da Galileia terá sido trazida, no século V, para o Mosteiro de Cauliana [es], perto de Mérida, em Espanha, e dali, em 711, após a batalha de Guadalete para o Sítio da Nazaré por Rodrigo, o último rei visigodo.[1][2]
A história dessa imagem é indissociável do milagre que salvou D. Fuas Roupinho, em 1182, um episódio conhecido como Lenda da Nazaré.
Durante a Idade Média apareceram centenas de imagens de Virgens Negras por toda a Europa a maioria das quais, tal como esta, esculpidas em madeira, de pequenas dimensões e ligadas a uma lenda miraculosa. Hoje, existem cerca de quatrocentas destas imagens, antigas ou as suas réplicas, em igrejas por toda a Europa, bem como algumas mais recentes no resto do mundo.
A verdadeira e sagrada imagem de Nossa Senhora da Nazaré ainda não foi sujeita a uma perícia laboratorial para a datar cientificamente e paralelamente obter a confirmação de se estar perante uma imagem bimilenar ou de uma réplica produzida posteriormente.[3]
Devoção em Portugal
Segundo a tradição, após ter sido levada de Mérida, a imagem permaneceu escondida, quase ignorada numa gruta do litoral, até ao ano de 1182, quando o cavaleiro Fuas Roupinho foi salvo milagrosamente por sua intercessão, conforme conta a Lenda da Nazaré. O título desta invocação veio a dar o nome à vila da Nazaré, onde a imagem é venerada no Santuário de Nossa Senhora da Nazaré. Esta devoção foi conhecida em todo o Império Português, sobretudo devido à acção evangelizadora dos Jesuítas que consagraram a Nossa Senhora da Nazaré a sua principal casa de noviciado em Lisboa, a capital do Império.
Devoção no Brasil
Em Saquarema
No ano de 1630, no dia 8 de setembro, após uma forte tempestade, um pescador saiu para ver suas redes perto do mar de Saquarema. Ao passar pela colina, onde hoje está erguida a Matriz encontrou próximo ao Costão, um morro de pedras que fica localizado no centro da cidade, uma forte luz. Decidiu então chegar mais perto e encontrou uma imagem de Maria, e deu-lhe o título Nossa Senhora de Nazaré.
Decidiu então levar a imagem a para sua casa, para protegê-la do tempo. Reunindo toda vila de pescadores e índios. Após guardarem a imagem, foram dormir. No dia seguinte descobriram que a imagem não estava no mesmo lugar e iniciou-se uma grande procura em toda a aldeia, achando-a horas depois no mesmo morro onde fora encontrada; levaram-na novamente para a casa, mas na manhã seguinte ela desapareceu novamente, sendo achada no mesmo morro. Isso ocorreu por mais duas vezes.
Decidiram então construir naquele morro uma pequena capela em homenagem à imagem, que logo deram o nome de Nossa Senhora de Nazaré, mas a fama dos milagres espalharam-se por toda a região, fazendo com que a capela no alto do morro ficasse pequena. Rapidamente foi construída uma igreja de maiores dimensões, que foi inaugurada em 1837. Desde aquele tempo até hoje a Virgem de Nazaré realiza seus milagres, o que atrai a cada anos mais devotos fazendo com que hoje a sua festa realizada no dia de seu encontro, 8 de setembro, seja a terceira maior festa do Brasil e o primeiro Círio de Nazaré do Brasil.
Saquarema é o berço da devoção à Senhora de Nazaré no Brasil. Até aos dias de hoje esta verdadeira e única imagem encontra-se na sua matriz sendo cercada de amor, e encontra-se revestida com seu tradicional e rico manto, símbolo desta devoção, reinando através dos séculos com quase 400 anos de história, fé e devoção. Existe uma comoção popular para que a Excelsa Virgem um dia seja proclamada Padroeira do Estado do Rio de Janeiro.[4]
No Pará
Introduzida no Pará pelos jesuítas, há mais de 200 anos, devoção a Nossa Senhora de Nazaré é cultuada na festa do Círio de Nazaré.[5] Consta que a imagem de Nossa Senhora de Nazaré foi encontrada pelo caboclo Plácido José de Souza no ano de 1700, às margens do igarapé Murucutu. Plácido levou-a para sua casa e no dia seguinte a imagem havia desaparecido. O caboclo tornou a encontrá-la no igarapé, recolhendo-a novamente. O fato repetiu-se duas vezes até que foi construída uma pequena capela no local. Com o aumento da devoção, foi construída a Basílica de Nossa Senhora de Nazaré nesta localidade, hoje Belém do Pará.
A festa anual do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, padroeira do Pará e rainha da Amazónia, reúne mais de dois milhões de fiéis que seguem esta imagem que é levada para a Casa de Deus, onde termina a procissão e há uma missa com todos os devotos.
Procissões semelhantes ocorrem no estado e noutras partes da Região Norte em Viseu, Bragança, Marabá, Cametá, Muaná, Parauapebas, Aurora do Pará, Mãe do Rio, São Miguel do Guamá, Primavera, Souré, Castanhal, São João de Pirabas, Vigia, Manaus, Macapá, Porto Velho, Rio Branco, Boa Vista e na ilha de Marajó.
São Luís (Igreja de Nossa Senhora de Nazaré, onde é realizado anualmente o Círio de Nazaré, segunda maior festa religiosa da capital), Viana (Maranhão), Luís Domingues (Maranhão), Balsas, Riachão, Dom Pedro (Maranhão), no Piauí nas cidades de Nossa Senhora de Nazaré (Piauí) e Nazaré do Piauí, Cruz de Rebouças na cidade de Igarassu (Pernambuco), Círio de Fortaleza - Paróquia Nossa Senhora de Nazaré (Montese - Fortaleza (Ceará)), Capistrano (Ceará), Parazinho (Rio Grande do Norte).
Além do Círio de Saquarema, na cidade do Rio de Janeiro ocorrem os círios de Anchieta, no qual a paróquia que a tem como padroeira completou 100 anos de existência em 2020, Tijuca e de Copacabana, introduzidos por paraenses residentes na cidade.
Existe ainda a devoção a Nossa Senhora de Nazaré em Acari, bairro do subúrbio carioca, onde anualmente a Arquidiocese do Rio de Janeiro desde 2009 encerra o Círio de Nazaré Itinerante. A corda é distribuída aos fiéis anualmente. E a imagem é uma réplica doada pela Basílica Santuário de Nossa Senhora de Nazaré (Belém/PA).
No estado de São Paulo, há procissões em Jardim Arpoador e no Sumaré. Na cidade de Santos, o círio ocorre desde 1950, introduzido por paraenses que viviam na cidade. Já em Nazaré Paulista, Nossa Senhora de Nazaré é a patrona da cidade. O culto é o mais antigo do estado, trazido por Mathias Lopes, um colonizador português.
Em Nazareno, Minas Gerais, acontece anualmente o Jubileu de Nossa Senhora de Nazaré. Emigrado de Portugal para o Brasil, Manuel de Seixas Pinto, trouxe consigo sua família e uma imagem milagrosa da Virgem de Nazaré. Estabeleceu-se em Minas Gerais, próximo à São João del-Rei, à margem direita do Ribeiro Fundo. Na Ermida familiar de Seixas Pinto, a Virgem de Nazaré era venerada pelos familiares e vizinhos. Seixas Pinto construiu uma igreja, em estilo rococó para a Virgem, para onde familiares, vizinhos e romeiros se dirigiam agradecendo e pedindo bênçãos; atrás da capela havia um cemitério. A capela de Nossa Senhora de Nazaré foi afiliada à Paróquia de Nossa Senhora do Pilar. Dom Antonio Gurgel, bispo do Rio de Janeiro, credenciou o Pároco de São João del-Rei a benzer a capela de Nossa Senhora de Nazaré, fundar a confraria de Nossa Senhora de Nazaré e dar posse à Mesa Administrativa da Confraria. A capela de Nossa Senhora de Nazaré, no Distrito do Ribeiro Fundo foi elevada, em 1850 à dignidade de Matriz da Paróquia de Nossa Senhora de Nazaré, Diocese de Mariana, sendo seu primeiro pároco o Padre Firmiano (1850 – 1859). O Papa Pio IX, em 19 de fevereiro de 1864, concedeu a graça do Jubileu a quem visitar o Santuário de Nossa Senhora de Nazaré em um dos dias 07, 08 e 09 de setembro, observando as condições que estão, no “Breve Pontifício”; graça esta alcançada por Dom Antonio, bispo de Mariana. Em estilo neo-clássico, o atual Santuário de Nossa Senhora de Nazaré foi construído por Antonio dos Reis Maia. A bênção da nova Matriz/Santuário de Nossa Senhora de Nazaré foi realizada, em 1885, por Dom Antônio Corrêa de Sá Benevides, Bispo de Mariana. A matriz velha de Nossa Senhora de Nazaré retornou-se, por decreto de Dom Antônio Benevides, ao status de capela, titular Santo Antônio.
Em Brasília
Em Brasília, um grupo de paraenses introduziu o círio em 1960.
Em Salvador
Localizada no bairro de Nazaré da capital baiana, a igreja foi construída na primeira metade do século XVIII, por volta de 1751, fundada por uma irmandade que hospedava viajantes pobres por caridade.
A Paróquia Nossa Senhora de Nazaré, através das atribuições a ela conferidas pela Arquidiocese de Salvador, tem desenvolvido, há mais de 110 anos, projetos e ações beneficentes em favor da comunidade e dos desfavorecidos.
Em Tocantins
Na cidade de Nazaré, em Tocantins, acontece todos os anos o Festejo de Nossa Senhora de Nazaré, sendo 10 noites de missas e festas. O encerramento do festejo acontece no dia 08 de setembro.
Devoção nas religiões afro-brasileiras
Nossa Senhora de Nazaré é sincretizada nas religiões afro-brasileiras da região Norte do Brasil com a orixá Oxum.[6]
Ver também
Referências
- ↑ Moreno de Vargas 2005, pp. 319–320.
- ↑ Nossa Senhora da Nazaré [ligação inativa].
- ↑ Página da Basílica de Nazaré [ligação inativa]
- ↑ Revista História - "Dias de Alegria e muita fé", nº 13, pg. 42. Rio de Janeiro-RJ (Outubro 2006).
- ↑ Araújo et al. 2015
Bibliografia
- Alão, Brito, Antiguidade da Sagrada Imagem de Nossa Senhora de Nazaré; Lisboa, 1628.
- Alves, I. (2005). «A festiva devoção no Círio de Nossa Senhora de Nazaré». Revista de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo. 19 (54). ISSN 0103-4014
- Araújo, Patrício Carneiro; Vergolino, Maria Célia P.; Lucena, Francisco Almeida de (2015). «As Água de Nazaré: Análise Psico-Antropológica da Simbologia Afro-Religiosa Presente na Festa de Nossa Senhora de Nazará em Belém do Pará». Anais do XIV Simpósio Nacional da ABHR, 15 a 17 de abril de 2015. Consultado em 31 de agosto de 2017. Arquivado do original em 1 de setembro de 2017
- Boga, Padre Mendes; D. Fuas Roupinho e o Santuário de Nossa Senhora da Nazaré; Porto, 1988.
- Brito, Frei Bernardo de; Monarquia Lusitana, Tomo II, pgs 272-283; Lisboa, 1609.
- Costa, Padre António Carvalho da; Corografia Portuguesa; Lisboa, 1712.
- Granada, João António Godinho, Nossa Senhora da Nazaré e D. Fuas Roupinho, Lenda - História - Tradição; Batalha, 1998.
- Monteiro, João Filipe Oliva, Nossa Senhora da Nazaré, Confraria de Nossa Senhora da Nazaré, 2012.
- Moreno de Vargas, Bernabé (2005), Historia de la Ciudad de Mérida, ISBN 9788497612012 (em espanhol), Maxtor, consultado em 24 de novembro de 2021
- Navarro del Castillo, Vicente (1964), «El monasterio visigótico de Cauliana, hoy ermita de Santa María de Cubillana», Deputação Provincial de Badajoz, Revista de estudios extremeños, ISSN 0210-2854 (em espanhol), 20 (3): 513-531, consultado em 24 de novembro de 2021
- Santa Maria, Frei Agostinho de; Santuário Mariano, tomo II; Lisboa, 1707.
- Santos, Frei Manoel dos; Alcobaça Ilustrada; Coimbra, 1710.
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