Comemoração das
CINCO CHAGAS DO SENHOR
"Encomendada a Mãe Santíssima, não faltava por se cumprir em Cristo mais que a última profecia. Como todo o Sangue do Corpo se tinha esvaído pelos açoites, pela coroa e pelas chagas dos cravos, era extraordinária a sede que o Senhor padecia, de que estava estalando; mas não por alívio dela, que bem sabia que Lho não havia de dar a impiedade de seus inimigos, mas para dar cumprimento à Profecia, disse: Tenho sede.
Acudiram logo com uma esponja molhada em fel e vinagre, aplicaram-na à boca do Senhor, o qual tanto que gostou, disse: Já tudo está acabado e consumado. Faltava só o fel e o vinagre para complemento dos tormentos da Paixão do Senhor; porque todos os outros membros, todas as outras potências e sentidos tinham padecido seu tormento particular, só o sentido do gosto não.
A cabeça estava atormentada com a coroa; as mãos e os pés com os cravos; os ombros com a cruz; as costas com os açoites; (...) a pele estava esfolada; as veias rasgadas; os nervos estalados; (...) o sangue derramado...
A Vida tinha padecido os tormentos na honra com as afrontas; (...) a memória padecia na lembrança dos pecados (dos homens); o entendimento na consideração das tiranias presentes; a vontade na dor das ingratidões futuras.
Os olhos tinham, padecido na vista da desconsolada Mãe; os ouvidos nas invejas e blasfémias; o olfacto no cheiro dos horrores e corrupção doi calvário; o tacto nas penas de todo o Corpo; só faltava tormento particular para o gosto, que foi o fel e vinagre, e neste se consumaram todos os tormentos.
Tendo o Senhor assim consumado todas as acções e obrigações de Redentor, recolheu-Se o Senhor Consigo e com Deus no silêncio do seu espírito, esperando que acabasse de chegar a morte, e dando este exemplo para nos ensinar a morrer.
Cristãos:
~Quereis morrer cristãmente? - Acabai antes de morrer... Primeiro disse o Senhor: Já se acabou tudo; e então esperou pela morte. (...) O que havemos de fazer na enfermidade e na morte, façamo-lo na saúde e na vida. Examinemos muito de propósito nossa consciência; façamos uma confissão muito bem feita, como quem se confessa para dar contas a Deus; compúnhamos nossas coisas; digamos: Tudo está acabado, e então esperemos pela morte, como Cristo fez.
Passado algum espaço neste profundo silêncio, levantou o Senhor a voz e os olhos ao Céu, dizendo: Pai, em vossas mãos encomendo o meu Espirito. E inclinando a cabeça, expirou. (...)
Perguntam os santos porque inclinou no Senhor a cabeça?
E respondem alguns contemplativos que foi para o Senhor nos dar um Sim
universal para todas (as) nossas petições.
Pedis a um Cristo crucificado vos perdoe vossos pecados? Sim.
Pedis a um Cristo crucificado que vos livre das tentações do demónio? Sim
Pedis a um Cristo crucificado que vos acuda em todas (as) vossas necessidades, ainda temporais? Sim
É possível, Senhor, que ainda que ajudei aos que Vos crucificaram, me fazeis participante do preço desse sangue? Sim.
É possível, Senhor, que ainda que Vos tenha ofendido tanto em minha vida, me recebereis nesses braços que tendes abertos? Sim.
É possível, Senhor, que ainda que eu seja tão infiel e tão ingrato, abrireis esse Coração para me meter nele? Sim.
Oh bendito seja tal Coração, benditos sejam tais braços, bendito seja tal Sangue, bendita seja tal Misericórdia" (...)
Os Lusíadas (1,7) afirmam ser Portugal mais devoto de Cristo que os outros países do Ocidente europeu, como se deduz de lhe terem sido dadas como escudo as Chagas ou Quinas.
Vede-o no vosso escudo, que presente
Vos amostra a vitória já passada,
Na qual vos deu por armas e deixou
Às que Ele para si na Cruz tomou.
Sem comentários:
Enviar um comentário