Bárbara de Nicomédia (Nicomédia, c. 280 – Nicomédia, c. 317) foi uma virgem mártir do século III comemorada como santa cristã na Igreja Católica Romana, na Igreja Ortodoxa e na Igreja Anglicana. Em Portugal e no Brasil, tornou-se popular a devoção a Santa Bárbara, invocada como protetora por ocasião de tempestades, raios e trovões, dando origem à expressão "Só se lembram de Santa Bárbara quando troveja".
Ela é comemorada no dia 4 de dezembro de cada ano.
História
Santa Bárbara foi, segundo a Tradição católica, uma jovem nascida na cidade de Nicomédia (na região da Bitínia), atual İzmit, Turquia nas margens do Mar de Mármara, isto nos fins do século III da Era cristã. A moça era a filha única de um rico e nobre habitante desta cidade do Império Romano chamado Dióscoro.[1]
Por ser filha única e com receio de deixar a filha no meio da sociedade corrupta daquele tempo, Dióscoro decidiu fechá-la numa torre. Santa Bárbara na sua solidão, tinha a mata virgem como quintal, e questionava-se se de fato, tudo aquilo era criação dos ídolos que aprendera a cultuar com seus tutores naquela torre.[1]
Por ser muito bela e, acima de tudo, rica, não lhe faltavam pretendentes para casamentos, mas Bárbara não aceitava nenhum.
Desconcertado diante da cidade, Dióscoro estava convencido que as "desfeitas" da filha justificavam-se pelo fato dela ter ficado trancada muitos anos na torre. Então, ele permitiu que ela fosse conhecer a cidade; durante essa visita ela teve contato com cristãos, que lhe contaram sobre os ensinamentos de Jesus sobre o mistério da união da Santíssima Trindade. Pouco tempo depois, um padre vindo de Alexandria a batizou.[1]
Em certa ocasião, seu pai "decidiu construir uma casa de banho com duas janelas para Bárbara. Todavia, dias mais tarde, ele viu-se obrigado a fazer uma longa viagem. Enquanto Dióscoro viajava, Bárbara ordenou a construção de uma terceira janela na torre, visto que a casa de banho ficara na torre. Além disso, ela esculpira uma cruz sobre a fonte".[1]
O seu pai Dióscoro, quando voltou, reparou que a torre onde tinha trancado a filha tinha agora três janelas em vez das duas que ele mandara abrir. Ao perguntar à filha o porquê das três janelas, ela explicou-lhe que isso era o símbolo da sua nova Fé. Este fato deixou o pai furioso, pois ela se recusava a seguir a Religião da Roma Antiga.[1]
Sentença de Morte
Debaixo de um impulso e fúria, e obedecendo a suas tradições romanas, Dióscoro denunciou a própria filha ao prefeito Marciniano que a mandou torturar numa tentativa de a fazer renunciar sua fé, fato que não aconteceu. Assim, Márcio condenou-a à morte por degolação".[1]
Durante sua tortura em praça pública, uma jovem cristã de nome Juliana denunciou os nomes dos carrascos, e imediatamente foi presa e entregue à morte juntamente com Bárbara.[1]
Ambas foram levadas pelas ruas de Nicomédia por entre os gritos de raiva da multidão. Bárbara teve os seios cortados, depois foi conduzida para fora da cidade onde o seu próprio pai a executou, degolando-a. Quando a cabeça de Bárbara rolou pelo chão, um imenso trovão estrondou pelos ares fazendo tremer os céus. Um relâmpago flamejou pelos ares e atravessando o céu fez cair por terra o corpo sem vida de Dióscoro.[1]
Santa Bárbara passou a ser conhecida como "protetora contra os relâmpagos e tempestades" e é considerada a Padroeira dos artilheiros, dos mineiros e de todos quantos trabalham com fogo.
Santa Bárbara é frequentemente retratada com correntes em miniatura e uma torre.
Como uma das catorze santas auxiliares, Bárbara continua a ser uma santa popular nos tempos modernos.
Veneração
O nome de Santa Bárbara era conhecido em Roma no século VII; seu culto pode ser rastreado até o século IX, primeiro no Oriente. Como não há menção a ela nos martirológicos anteriores, sua historicidade é considerada duvidosa.
Várias versões, que incluem duas peças de mistério sobreviventes, diferem na localização de seu martírio, que é dado de várias maneiras como Toscana, Roma, Antioquia, Baalbek e Nicomedia.
Santa Bárbara é um dos catorze santos auxiliares. Sua associação com o raio, que matou seu pai, fez com que ela fosse invocada contra raios e fogo; por associação com explosões, ela também é a patrona da artilharia e mineração.
Sua festa em 4 de dezembro foi introduzida em Roma no século XII e incluída no calendário tridentino. Em 1729, essa data foi designada para a celebração de São Pedro Crisólogo, reduzindo a de Santa Bárbara a uma comemoração em sua missa. Em 1969, foi removida desse calendário, porque os relatos de sua vida e martírio foram considerados inteiramente fabulosos, sem clareza até sobre o local de seu martírio.
No século XII, as relíquias de Santa Bárbara foram trazidas de Constantinopla para o Mosteiro com Cúpula Dourada de São Miguel em Kiev, onde foram mantidas até a década de 1930, quando foram transferidas para a Catedral de São Volodymyr na mesma cidade. Em novembro de 2012, seu patriarca de santidade, Filaret, da Igreja Ortodoxa Ucraniana — Patriarcado de Kiev, trouxe uma pequena parte das relíquias de Santa Bárbara à Catedral Ortodoxa Ucraniana de Santo André, em Bloomingdale, Illinois.
Nas religiões afro-brasileiras ela é sincretizada com Iansã, a Orixá dos ventos, tempestades, trovões e guerra. Esse sincretismo é o tema do filme O Pagador de Promessas. Já para as religiões afro-caribenhas, a santa é sincretizada com Xangô, o Orixá da justiça.[2]
Seu dia de festa para os católicos romanos, anglicanos e umbandistas é 4 de dezembro.
Ver também
Referências
- ↑ ab c d e f g h Guiley, Rosemary (2001). The Encyclopedia of Saints. Fourteen Holy Helpers (em inglês). [S.l.]: Infobase Publishing. p. 109. 419 páginas
- ↑ Pubillones, Joseph (13 de dezembro de 2015). «Celebrating dual traditions in Cuba: Santa Barbara and Chango». Daily Herald (em inglês). Consultado em 6 de junho de 2021. Cópia arquivada em 6 de junho de 2021
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