Vídeo mostra fundador do grupo de mercenários a discursar no pátio de uma prisão russa, onde promete comutação de penas para os reclusos que se ofereçam para servir com o Grupo Wagner na Ucrânia

Imagem do vídeo em que Yevgeniy Prigozhin surge numa prisão da República russa de Mari El a tentar recrutar reclusos para combater na Ucrânia
Imagem do vídeo em que Yevgeniy Prigozhin surge numa prisão da República russa de Mari El a tentar recrutar reclusos para combater na Ucrânia© D.R.

O fundador do Grupo Wagner foi filmado a tentar recrutar numa prisão russa. Num vídeo posto a circular na internet, Yevgeny Prigozhin surge a falar para os reclusos, que tenta convencer a que se juntem à luta armada na Ucrânia em troca da sua liberdade.

Não se sabe quando foi filmado ou por quem, assim como em que circunstâncias é que este foi posto a circular. A BBC verificou as filmagens, conseguindo geolocalizar o conteúdo, fazendo uma busca inversa por uma igreja que é visível ao fundo. Segundo o canal britânico, as imagens foram captadas numa prisão da República russa de Mariy El.

As imagens confirmam a especulação dos observadores internacionais, que há muito suspeitam que a Rússia tem a intenção de reforçar as suas fileiras na Ucrânia com reclusos retirados diretamente do seu sistema prisional. Isto apesar de a lei do país não permitir comutar sentenças por trabalho mercenário.

“Se servirem seis meses, estão livres. Se chegarem à Ucrânia e decidirem que não é para vocês, vamos executar-vos"

A discursar no que aparenta ser o pátio da prisão, Yevgeny Prigozhin identifica-se como um “representante de uma empresa de guerra privada”. “Talvez já tenham ouvido o nome - Grupo Wagner”.

Aos reclusos diz estar à procura de homens “em boa forma física” e garante que quem optar por servir no Grupo Wagner não “voltará para trás das grades”. “Se servirem seis meses, estão livres. Se chegarem à Ucrânia e decidirem que não é para vocês, nós vamos executar-vos", afirma.

Durante o discurso, o líder dos mercenários informa também os potenciais recrutas das regras do Grupo Wagner, que diz proibirem álcool, drogas e “contactos sexuais com mulheres, flora, fauna e homens locais - com tudo”.

E alerta os reclusos para as dificuldades enfrentadas pela Rússia no longo conflito. “Isto é uma guerra difícil, nem de perto semelhante à Chechénia e outras.”

Yevgeny Prigozhin acrescenta que os primeiros 40 recrutas de uma prisão de São Petersburgo foram destacados para o ataque à central elétrica de Vuhlehirska, no leste da Ucrânia, em junho. O mercenário afirma que os presos atacaram as trincheiras ucranianas com facas e que três deles (incluindo um homem de 52 anos que passou mais de 30 detido) foram mortos.

Por fim, informa ainda que daqueles que se decidirem juntar ao grupo é esperado que tirem a sua própria vida com granadas de mão caso estejam em risco de ser capturados.

Empresa de Yevgeny Prigozhin recusa negar que é o próprio oligarca no vídeo

A BBC confirmou também que o homem no vídeo é efetivamente Yevgeny Prigozhin, recorrendo tanto a software de reconhecimento facial (que confirmou a identificação com uma probabilidade entre 71% e 75%) como a fontes anónimas (que destacaram a verosimilhança da voz e maneirismos consistentes com o perfil do mercenário).

A própria Concord, empresa de catering do líder dos mercenários, recusou negar ser Yevgeny Prigozhin no vídeo. Os média estatais russos destacam inclusivamente a semelhança “monstruosa” do homem filmado com o seu fundador.

Yevgeny Prigozhin, de 61 anos, é um oligarca russo próximo do Presidente russo, sendo mesmo conhecido como o “chef de Putin” (dada o facto de os seus restaurantes e serviços de catering serem frequentemente utilizados pelo Presidente quando recebe dignitários estrangeiros). A sua rede de negócios estende-se por várias áreas e inclui o Grupo Wagner.

A origem deste grupo não é totalmente clara, embora há oito anos que haja relatos da sua existência. Trata-se de uma organização paramilitar, que é também uma empresa privada. Presta serviços de segurança e tem atuado sobretudo em países de África, embora tenha também presença na Síria e Ucrânia. Em todos estes países tem sido associado a crimes de guerra.