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Do Tempo da Outra Senhora |
- Vera Magalhães no Reino de Liliput
- A Dama dos Girassóis de Vera Magalhães
- O Peralta sou eu
- Atributos, pormenores e estilo
- Os ganchinhos da Madalena
- Figuras da realidade local e inovação
- Figuras da faina agro-pastoril e inovação
Vera Magalhães no Reino de Liliput Posted: 14 Oct 2020 12:39 PM PDT Ganchos de meia: Senhora de pézinhos (2,5 cm) e Peralta (2 cm). Vera Magalhães (1966- ). Minorcas Uma das questões e porventura das mais simples que se põem ao investigador de barrística de Estremoz é o conhecimento das dimensões dos exemplares estudados, o qual é variável e depende de múltiplos factores. Efectuado o levantamento dessas dimensões nos diversos tipos de Bonecos, põe-se seguidamente a questão de as balizar, o que corresponde a identificar o maior e o menor Boneco conhecidos. No que respeita ao maior, temos que nos reportar a um Presépio de grandes dimensões, manufacturado por Sabina Santos e que esteve patente ao público, na quadra natalícia, à entrada da Igreja dos Congregados nos anos 60-70 do séc. XX. Este presépio integra o acervo do Museu Municipal de Estremoz e por ordem decrescente de altura, as dimensões das figuras em cm são as seguintes: S. José (58,5), Nossa Senhora (52,2) Reis Magos a cavalo (47), Reis Magos de pé (40), Pastor ofertante de pé (38,5), Berço do Menino Jesus (28), Pastor ajoelhado (24,5), Pastor ofertante ajoelhado (23), Vaca (17), Burro (16,5). Face a estes números somos levados a conclui que o maior Boneco de Estremoz até hoje conhecido é a figura de S. José (58,5 cm), pertencente ao referido Presépio. No que concerne ao menor, há que começar por dizer que os Bonecos de Estremoz mais pequenos conhecidos até hoje, são os ganchos de meia, correntemente modelados com tamanhos que variam entre os 4 e os 5 cm. Isto era assim até há bem pouco tempo. Todavia, recentemente, Vera Magalhães modelou dois ganchos de meia com dimensões extraordinariamente pequenas: Uma Senhora de pezinhos com 2,5 cm e um peralta com 2 cm. Trata-se de ganchos de meia de uma outra dimensão: a dimensão de Liliput. Liliputianos porquê? Lilliput é uma ilha imaginária supostamente situada no Oceano Índico onde terá dado à costa e recuperado os sentidos, Lemuel Gulliver, cirurgião de um navio naufragado, personagem principal do romance “As viagens de Gulliver” de Jonathan Swift (1667-1745). Gulliver fica surpreendido com a estatura da população local, a qual não ultrapassa os 15 cm. Por sua vez, os liliputianos, consideram-no um gigante. Tomando como referência a altura média do homem português que é de 1,75 m, os liliputianos eram cerca de 6 vezes mais pequenos que Gulliver. O termo "liliputiano" foi assimilado pelos dicionaristas a nível planetário e integra o léxico português actual como adjectivo aplicável a algo “Que tem dimensões muito reduzidas”. Caganifâncias graciosas Sem sombra de dúvida que os ganchos de meia de Vera Magalhães são verdadeiramente liliputianos, fruto da excelente coordenação motora fina da barrista, que lhe permite modelar com precisão e delicadeza. Lá diz o adágio “Tudo o que é pequeno tem graça” e “Em terra pequena tudo se sabe”. Daí eu me ter assumido como arauto da excelência destas caganifâncias, parcas em minudências, mas graciosas, tanto na modelação como na cromática. A partir de agora os ganchos de meia de Vera Magalhães, adquiriram o estatuto de vedetas e entraram por direito próprio no Livro de Registos da Memória Colectiva. O mérito, esse é da barrista. Parabéns, Vera Magalhães! Agradecimento - Quero agradecer a Isabel Água dos Serviços Educativos do Museu Municipal de Estremoz, ter-me facultado os dados dimensionais, relativos ao Presépio referido no texto. Bem haja! | ||
A Dama dos Girassóis de Vera Magalhães Posted: 22 Oct 2020 12:45 PM PDT Dama dos Girassóis. Vera Magalhães (1966- ). Em jeito de apresentação Vera Magalhães (1966- ) é uma barrista que frequentou o Curso de Formação sobre Técnicas de Produção de Bonecos de Estremoz, que no ano transacto teve lugar em Estremoz, no Palácio dos Marqueses de Praia e Monforte. O seu a seu dono “A Dama das Camélias”, é um romance do escritor francês Alexandre Dumas Filho, publicado pela primeira vez em 1848. “A Dama dos Girassois” é um Boneco de Estremoz criado pela barrista Vera Magalhães em 2020. A Dama de Vera Magalhães A Dama traja um distinto vestido comprido, a demarcar os contornos de um corpo a que corresponde uma silhueta graciosa. O vestido revela confecção em tecido estampado com padrão de girassóis em campo verde seco. É fechado em cima por uma gola branca e larga, fechada por um botão amarelo no centro e orlado de castanho, cor que também é a dos punhos do vestido e da banda ajustada à cintura e atada atrás, em jeito de laço com duas airosas pontas pendentes. A cabeça encontra-se adornada por um elegante chapéu castanho, que pompeia à frente três plumas de cor verde seco matizada de castanho, os quais sublinham o garbo do chapéu. O cabelo é castanho puxado para trás e enrolado em forma de carrapito. De cada lado do rosto, aquilo que aparenta serem pendentes de ouro, reforçam a requinte e a distinção ligadas à figura. Os sapatos negros, de bico, rematam na base, a distinção do modelo. O simbolismo das cores - Verde, cor fria que é a cor da natureza viva, sobretudo a cor da Primavera que é a estação da fertilidade. Está associada à frescura, ao crescimento, à juventude, à renovação, à plenitude, à alegria, à esperança, à liberdade, à saúde, à vitalidade, à estabilidade, à tranquilidade, ao equilíbrio, à harmonia, à ponderação, à coerência e à riqueza. É uma cor litúrgica usada nos Ofícios e Missas do Tempo Comum, pois ao simbolizar a cor das plantas e árvores, prenuncia a esperança da vida eterna. - Amarelo, cor quente que está associada ao Sol, à luz, à claridade, ao brilho, ao calor, ao Verão, à temperatura morna. É uma cor que desperta, transmite energia, traz leveza, descontracção, vitalidade, optimismo, felicidade, alegria, juventude, recreação e prosperidade. É uma cor inspiradora e que desperta a criatividade, estimulando as actividades mentais e o raciocínio. - Castanho,que por ser uma cor neutra sugere estabilidade, calma, conforto, maturidade e responsabilidade. Além disso é a cor da terra e da madeira e por isso está associada à natureza, aos produtos naturais, ao estilo de vida saudável, à simplicidade, à conservação, à qualidade e à seriedade. Finalmente e por ser a cor da terra, está associada à fertilidade e à feminilidade. Branco, que é uma cor neutra e pura associada à infância, à pureza, à inocência, ao bem, à espiritualidade, à harmonia, à simplicidade, à tranquilidade, à calma, à paz, à juventude, à virtude, à virgindade, à limpeza, à frescura, à luminosidade, à dignidade, à elegância. É uma cor que harmoniza com todas as outras. O girassol e o seu simbolismo O girassol é uma planta imponente e de porte majestoso, cujas flores arredondadas e radiadas constam de um disco floral castanho e de pétalas amarelo-douradas, que aparentam ser o Sol. Daí que em inglês seja designada por “sunflower”. Entre nós é designada por “girassol”, já que goza duma propriedade conhecida por “heliotropismo” e que consiste no movimento da planta em relação ao Sol. Ao amanhecer os girassóis têm as flores viradas para oriente. Ao longo do dia, seguem o Sol no seu movimento aparente de oriente para ocidente e à noite estão voltados para oriente. O girassol não é uma flor anónima, já que marca presença na Poesia Portuguesa. Do girassol nos fala Fernando Pessoa (1888-1935), no poema “PASSA UMA NUVEM PELO SOL": “Passa uma nuvem pelo sol / Passa uma pena por quem vê. / A alma é como um girassol: / Vira-se ao que não está ao pé. // Passou a nuvem; o sol volta. / A alegria girassolou. / Pendão latente de revolta, / Que hora maligna te enrolou?”. Do girassol nos fala também Maria Alberta Menéres (1930- ), no poema “O GIRASSOL”; “Girassol, Girassol, / Põe as pestanas ao sol! // O Girassol parece um olho aberto / Amarelo a olhar para tudo. // Passa uma perdiz e diz: / – Girassol, Girassol, / Põe as pestanas ao sol! // Passa uma abelha e diz: / – Girassol, Girassol,/ Põe as pestanas ao sol! //Passa a tarde e anoitece… / Girassol, Girassol, / Fecha as pestanas ao sol! // E o Girassol adormece…” O girassol é um símbolo de felicidade, já que a sua cor amarela transmite energia, juventude e vitalidade, à semelhança do Sol. O girassol é também um símbolo de instabilidade, em virtude da sua mobilidade em relação ao Sol. Por outro lado, de acordo com a mitologia grega simboliza a adoração a Hélio, o Deus grego do Sol, visto que o seu disco floral se assemelha a uma cabeça que virada sempre para o Sol, parece prestar-lhe culto. Finalmente, como o Sol é uma das formas de representar Cristo, que para os cristãos trouxe a esperança da salvação, o girassol partilha também do seu significado e é um símbolo pascal. Epílogo Vera Magalhães modelou a sua Dama com grande rigor formal e com uma estética muito própria, que incluiu uma decoração cromaticamente harmoniosa e de elevado valor simbólico. O rosto e o olhar da figura parecem constituir marcas identitárias da barrista. No seu todo, a Dama de Vera Magalhães é uma figura na qual está patente a simplicidade e a espiritualidade, aliadas à distinção e à alegria, da qual irradia imensa frescura e luminosidade. Creio que por isso tudo, a barrista é merecedora que lhe demos todos os nossos parabéns: - Parabéns Vera! | ||
Posted: 08 Oct 2020 04:21 PM PDT Peralta. Joana Oliveira (1978- ). Uma pedrada no charco Colecciono Bonecos de Estremoz há mais de quatro décadas e como é sabido sou um coleccionador da velha escola. Significa isso que tenho vindo a reunir exemplares desde o séc. XVIII até aos dias de hoje, de todos os barristas conhecidos e desconhecidos, o que me permite conhecer as marcas identitárias e os estilos de cada um, bem como aqueles que no modo de produção ao modo de Estremoz, foram mais conservadores e os que foram mais inovadores. Estou pois à vontade para falar do assunto e nele “navego como peixe na água”. Foi em 2020 que tive o prazer de conhecer o trabalho da barrista Joana Oliveira e confesso-vos que foi “amor à primeira vista”. Concluí de imediato estar em presença de uma barrista de primeira linha, disposta a “dar pedradas no charco”, pelo que me tornei de imediato seu admirador e necessariamente cliente, já que sou coleccionador. A amizade e a defesa acérrima do seu trabalho, surgiram depois e continuam para o que der e vier. Uma encomenda Em devido tempo e pela segunda vez, contactei a barrista de quem queria possuir figuras que já tinha doutros criadores. “Roma e Pavia não se fizeram num dia”, pelo que só em finais de Setembro, a encomenda me seria entregue por fiel portador. A encomenda vinha acompanhada de uma carta, da qual cito um excerto: “Caro Hernâni: Espero que estas peças o encantem bem, e cheguem até si inteiras e ao seu gosto. Como tenho mau feitio e, tem que ser admitido, dificuldade em fazer o que me pedem, quando me pediu o Peralta e eu o comecei a modelar, digamos que o barro falou comigo e as minhas mãos comandaram. Quando fui a ver, o dito Peralta já tinha bigode e era um rapaz todo janota que enfim poderia ser o Hernâni, caso se fizesse uma versão “Peralta” do amigo Hernâni”. (…). Aviso de recepção Conferida a encomenda e lida a carta, expedi de imediato, via correio electrónico, o seguinte aviso de recepção: “Joana: A encomenda chegou nas melhores condições. E aconteceu um facto inesperado que nunca me passaria pela cabeça. A lotação era superior ao previsto e vinha um passageiro a mais. Brevemente, vou ter que falar dele, assim como das senhoras que o acompanhavam. Mas, para já, aqui fica a primeira impressão, em jeito de quadra popular: “É um peralta. Está a matar. Nada lhe falta para destoar.” E assim terminei o aviso de recepção. A estrofe de quatro versos pentasilábicos de rima alternada, com que encerrei a missiva, foi a primeira de um conjunto mais vasto que integra um poema dedicado a todos os Peraltas que tenho. Oportunamente será feita a apresentação pública dos mesmos, envergando vaidosos as estrofes que lhes compus. Peralta à vista Trata-se de um Peralta elegantemente vestido com traje de cerimónia. Do conjunto sobressai um casaco preto, tipo paletó com lapelas em cetim da mesma cor (smoking), bem como um par de calças às listras pretas e cor de cinza, com bainhas. Sob o casaco uma camisa branca, decerto com a frente trabalhada e cujo colarinho ostenta um vistoso laço (papilon) de seda preta. A camisa está supostamente cingida à cintura por uma faixa de seda preta que não é visualizável. Nos pés, os clássicos sapatos pretos, de verniz, encimados por polainas brancas de veludo, que protegem a parte inferior das pernas. O cabelo e bigode são de cor cinza, reveladora da patina do tempo. Os olhos grandes e profundos dão conta do muito que já viu e do muito que ainda anseia ver. Por isso tem os olhos bem abertos. O chapéu às três pancadas dá-lhe um ar de “bon vivant”, que ainda está pronto para as curvas. A postura das mãos indicia que se está a preparar para iniciar uma pirueta. A figura lembra-me de imediato o actor, cantor e bailarino Fred Astaire na canção “Andando Com Estilo” (Puttin´on The Ritz -1930). E se fosse verdade? Bom, se fosse verdade, o meu bigode teria de ter um penteado diferente, como disse em 2011 em texto dirigido a uma amiga: “O meu bigode é um bigode com as pontas reviradas para baixo. Você já me imaginou com o bigode revirado para cima, com ar de monárquico órfão à espera que El-Rei D. Sebastião regresse numa manhã de nevoeiro? (Que me perdoem os meus amigos monárquicos, que os tenho, por tecer considerações sobre os seus reais bigodes). Mas eu, que sou realmente republicano, só posso usar um bigode com as pontas reviradas para baixo.” Para além disso nada de apontamentos a sugerir que estou pronto para as curvas, já que as únicas que me são permitidas são as curvas da caligrafia. Finalmente nada de insinuações que danço sapateado à maneira do Fred Astair. Creio ser mais credível sugerir que pertenço à tribo dos pés de chumbo. Agradecimentos Quero agradecer à barrista o ar simpático que conferiu ao meu rosto, que na prática é uma carantonha capaz de assustar um feroz touro Miura. Quero agradecer-lhe também a linda roupa com que presenteou o meu representante e que me daria muito jeito, para me vestir à Peralta de vez em quando. Quero agradecer-lhe finalmente toda a frescura e simpatia irradiantes que soube imprimir à representação de uma pessoa idosa, fruto da sua visão transformadora do mundo e da vida, em sintonia com a sua alma de criadora, transmitida ao barro pela dupla magia das sua mãos e da paleta de cores usadas. Obrigado Joana por mais esta “pedrada no charco” e por partilhar connosco tesouros como este, que ficam a honrar a barrística de Estremoz. | ||
Atributos, pormenores e estilo Posted: 14 Dec 2020 08:19 AM PST Prólogo A barrística de Estremoz é diversificada, pelo que legitimamente se põe a questão de saber quais as características que os exemplares produzidos ao modo de Estremoz, não podem deixar de ter. Vou procurar dar uma resposta a essa questão num caso concreto. Atributos Na barrística de Estremoz, cada um dos chamados “Bonecos da Tradição”, goza de determinados atributos. Estes não são mais que as particularidades invariantes que obrigatoriamente um barrista deve ter em conta na confecção de cada uma dessas figuras. Essas particularidades estão associadas a cada uma dessas figuras e ajudam a identificá-las. No caso da figura conhecida por “Mulher a passar a ferro” (Figs. 1 a13) esses atributos são quatro: mesa, peça de roupa, ferro de engomar e mão direita da mulher a segurar o ferro; Pormenores Para além das particularidades invariantes atrás referidas, existem outras particularidades variáveis (pormenores) cuja inclusão na manufactura de uma figura, depende do livro arbítrio do barrista. No caso da figura conhecida por “Mulher a passar a ferro”, esses pormenores são os seguintes: - MESA: pode variar o tipo de mesa, bem como a sua cor e a cor do tampo; - FERRO DE ENGOMAR: pode ser de diferentes tipos; - PEÇA DE ROUPA A SER ENGOMADA: de tipo e cor variável; - PEÇAS DE ROUPA EXSTENTES EM CIMA DA MESA: Em número, tipo e cor variável; - COBERTURA DO TAMPO DE MESA: pode existir ou não; - MÃO ESQUERDA DA MULHER: pode estar assente sobre a mesa, segurando ou não a peça de roupa, mas pode estar também apoiada no corpo, em posição variável; - VESTIDO DA MULHER: de tipo, cor e componentes variáveis; - OUTRO VESTUÁRIO DA MULHER: pode trajar avental ou ter um xaile nas costas; - CABELO DA MULHER: o penteado é variável; - CABEÇA DA MULHER: a cabeça pode estar a descoberto ou ser protegida por um lenço ou ainda estar ornamentada com uma canoa; - GEOMETRIA DA BASE: rectangular ou trapezoidal, com as pontas vivas, adoçadas ou aparadas em bisel; - TOPO DA BASE: verde-escuro simples ou pintalgado de zarcão, branco e amarelo. Em alternativa pode ter uma decoração que simula um chão, como por exemplo, de tijoleira; - ORLA DA BASE: zarcão, castanho ou pintalgado com as cores da base. Estilo O estilo é o modo como cada barrista se exprime, revelando a sua individualidade através de marcas identitárias que lhe são próprias e que se repetem ao longo da sua produção. Epílogo A pluralidade de resultados distintos possíveis de obter na confecção de uma figura, mesmo dos chamados “Bonecos da tradição”, é reveladora da riqueza da barrística de Estremoz. Oficinas de Estremoz do séc. XIX. Colecção do autor. Ana das Peles (1859-1945). Colecção Jorge da Conceição. Mariano da Conceição (1903-1959). Colecção Jorge da Conceição. Sabina da Conceição (1921-2005). Colecção do autor. Liberdade da Conceição (1913-1999). Colecção Jorge da Conceição. José Moreira (1926-1991). Colecção do autor. Jorge da Conceição (1963- ). Colecção do autor. Carlos Alves (1958- ). Colecção do autor. Ricardo Fonseca (1986- ). Colecção do autor. José Carlos Rodrigues (1970- ). Colecção do autor. Luís Parente (? - ). Colecção do autor. | ||
Posted: 05 Oct 2020 12:20 PM PDT Peralta e Senhora de pezinhos. Os Bonecos de Estremoz não são só figuras vistosas e alegóricas, como ”O Amor é cego” e a “Primavera”, nem só imagens devocionais como o “Santo António” e o “Milagre das Rosas”. São também isso, mas são muito mais. São Bonecos de outras tipologias e funcionalidades, contextualizados em termos de passado e/ou de presente. Alguns têm dimensões minúsculas como o caso dos “Ganchos de meia”, cujo tamanho ronda os 5 cm. Por isso fazem arregalar a vista, que simultaneamente se encanta com a sua visualização. Mas também despertam ternura, já que como diz o Povo, “Tudo o que é pequeno tem graça”. Hoje chegou a vez de vos mostrar os “Ganchinhos da Madalena”, que bem perto de nós, na Freguesia de Arcos, modela com amor os Bonecos que tanto amamos e que nos fazem sonhar. São parte de uma encomenda que lhe fiz e que aqui mostro com orgulho semelhante ao da Barrista que os modelou e decorou a partir duma massa informe de barro, com a mestria das suas mãos e a sensibilidade da sua alma, que cria Poesia que nos faz sentir bem. Parabéns Madalena pela beleza e graça dos Bonequinhos que criou. E sabe o que lhe digo? Fico à espera do resto da encomenda. Nota biográfica Madalena Bilro (1959- ) é uma barrista que frequentou o Curso de Formação sobre Técnicas de Produção de Bonecos de Estremoz, que no ano transacto teve lugar em Estremoz, no Palácio dos Marqueses de Praia e Monforte. Anteriormente já tivera formação na Academia Sénior de Estremoz, orientada por Isabel Água, do Museu Municipal de Estremoz. Neste momento já tem “Carta de Artesão” e aguarda a todo o momento a sua Certificação como Produtora de Bonecos de Estremoz. Nossa Senhora e Freira de Malta. Padre e Sacristão. Sargento. | ||
Figuras da realidade local e inovação Posted: 02 Oct 2020 07:56 AM PDT Figuras da realidade local da tradição Nos anos 40 do séc. XX existiam 14 figuras representativas da realidade local na barrística popular de Estremoz, as quais são habitualmente distribuídas por 3 grupos: - FIGURAS CIVIS: Aguadeiro com burro, Leiteiro, Mulher das castanhas, Mulher a vender chouriços, Senhora de pezinhos, Peralta, Homem do harmónio, Cavaleiro e Amazona. - FIGURAS MILITARES: Lanceiro, Lanceiro com bandeira, Sargento e Sargento no Jardim. - FIGURAS RELIGIOSAS: Frade a cavalo. Figuras da realidade local e inovação Actualmente e na sequência de complexo levantamento por mim efectuado, sujeito ao risco de omissões involuntárias, foram identificadas mais 64 figuras representativas da realidade local, produzidas desde então, as quais distribui por 3 grandes áreas: - PROFISSÕES E ACTIVIDADES: Aguadeiro com carroça, Almocreve, Amola-tesouras, Barrista a modelar Bonecos de Estremoz, Barrista a pintar Bonecos de Estremoz, Brinholeira, Caçador, Caiadoras, Carteiro, Carteiro motorizado, Cauteleiro, Cavaleiro tauromáquico a cavalo, Cavaleiro tauromáquico a pé, Cigana, Cirurgião, Educadora de infância, Engraxador, Ervanário, Farmacêutico(a), Florista de lambreta, Forcado, Fotógrafo “à la minuta”, Frade orando, Geólogo, Homem dos foguetes, Hortelão a vender no mercado, Lavadeira, Louceiro, Maestro de orquestra, Médico, Militar do RC3, Mulher a vender queijos, Oleiro, Peixeiro, Polícia do exército, Polícia sinaleiro, Professor (a), Químico(a), Sapateiro, Taberneiro, Talhante, Tapeteira de Arraiolos, Tecelã, Tocadora de concertina, Turista, Vendedora de criação no mercado, - CONTEXTOS: Bêbado, Casal de velhotes, Confissão, Homens a petiscar, Pega de caras, Professor no mercado das velharias, Velhote de capote. - JOGOS E BRINCADEIRAS: A brincar se constrói a personalidade, Cavalinho de pau, Corrida de rodas, Jogador de bilhar, Jogo do botão, Jogo do pião. Grandes inovadores Todos os barristas têm contribuído em maior ou menor grau para a inovação. Todavia, no âmbito das figuras da realidade local, os maiores inovadores foram indiscutivelmente as Irmãs Flores e Ricardo Fonseca, respectivamente com 31 e 11 figuras, num total de 64. Balanço Final Analogamente ao que já se tinha verificado em domínios como “Figuras Devocionais”, “Presépios” e “Figuras dos ciclos agro-pastoris”, também no âmbito das “Figuras da realidade local”, ressalta a importância assumida pela “Inovação” como factor de enriquecimento e valorização. Engraixador. Carlos Alves. Sá Lemos trocando impressões com Ana das Peles numa sala de aulas da Escola Industrial António Augusto Gonçalves, em Estremoz. Vendedora de criação no mercado. Irmãs Flores. Vendedora de queijos. Irmãs Flores. Brinholeira. Irmãs Flores. Padeiro. Irmãs Flores. Talhante. Irmãs Flores. Taberneiro. Irmãs Flores. Homens a petiscar. Irmãs Flores. Tecelã. Irmãs Flores. Carteiro. Irmãs Flores. Polícia sinaleiro. Irmãs Flores. Professor. Irmãs Flores. O Professor no Mercado das Velharias. Irmãs Flores e Ricardo Fonseca. Homem dos foguetes. Irmãs Flores. Pega de caras. Irmãs Flores. Confissão. Irmãs Flores. Jogador de bilhar. Irmãs Flores e Ricardo Fonseca. Casal de velhotes. Isabel Pires. Barrista a modelar Bonecos de Estremoz. Jorge da Conceição. Barrista a pintar Bonecos de Estremoz. Jorge da Conceição. Médico. Jorge da Conceição. Florista de lambreta. José Carlos Rodrigues. Carteiro motorizado. José Carlos Rodrigues. Barrista a modelar Bonecos de Estremoz. Maria Luísa da Conceição. Tapeteira de Arraiolos. Maria Luísa da Conceição. Professora. Maria Luísa da Conceição. Sapateiro. Maria Luísa da Conceição. Fotógrafo "à la minuta". Maria Luísa da Conceição. Caçador. Maria Luísa da Conceição. Amola tesouras. Ricardo Fonseca. Cauteleiro. Ricardo Fonseca. Educadora de infância. Ricardo Fonseca. Geólogo. Ricardo Fonseca. Educadora de infância. Ricardo Fonseca. Cavaleiro tauromáquico a cavalo. Ricardo Fonseca. Forcado. Ricardo Fonseca. Maestro de orquestra. Ricardo Fonseca. Turista. Ricardo Fonseca. Sabina Santos. Polícia do Exército. | ||
Figuras da faina agro-pastoril e inovação Posted: 26 Sep 2020 01:23 PM PDT Carreteiro transportando sacos de trigo. Irmãs Flores. Figuras da faina agro-pastoril da tradição A recuperação da produção de Bonecos de Estremoz, extinta desde 1921, foi concretizada em 1935 e nos anos seguintes, graças à acção do escultor José Maria de Sá Lemos (1892-1971), que para o efeito recorreu primeiro à velha barrista Ana das Peles (1869-1945) e depois ao mestre oleiro Mariano da Conceição (1903-1959). Uma tal recuperação incluiu as figuras que retratam as actividades agro-pastoris do Alentejo do passado e que podem ser agrupadas nos seguintes grupos: PASTORÍCIA – Inclui: Pastor de tarro e manta, Pastor com um borrego ao ombro, Pastor com dois borregos, Pastor das migas, Pastor a comer, Maioral e ajuda a comer, Pastor do harmónio, Mulher dos carneiros, Mulher dos perus, Mulher das galinhas, Matança do porco e Mulher dos enchidos. CICLO DO PÃO – Inclui: Ceifeira.CICLO DO AZEITE – Inclui: Mulher da azeitona. Todos estas figuras são “Bonecos da tradição”, possuem todas elas os seus próprios atributos e ainda são modeladas na actualidade por barristas seguidores da estética de Sá Lemos. Figuras da faina agro-pastoril e inovação Para além das figuras atrás referidas, existe um número considerável de outras, retratando igualmente as actividades agro-pastoris do Alentejo do passado, as quais foram criadas por iniciativa dos barristas ou por sugestão de coleccionadores ou de estudiosos da barrística popular estremocense. Fruto de um levantamento por mim efectuado, decerto correndo o risco de omissões, dada a complexidade do levantamento, identifiquei 81 dessas figuras, as quais por oposição às anteriores, são designadas por “Bonecos da inovação”. Tais figuras distribuem-se por 8 grandes áreas da actividade agro-pastoril, a saber: - COLECTA: Caçador, Pescador. - PASTORÍCIA: Pastor sentado a fazer uma colher, Pastor junto à fogueira, Pastor de tarro e alforge, a comer sentado, Pastor de barrete com alforge ao ombro, Pastor com alforge e cornas, Pastor de capote com cabeça descoberta, Pastor de capote com cão, Pastor de capote com tarro e manta, Pastor com tarro, Pastor de colete com tarro e manta sentado, Pastor deitado debaixo da árvore a tocar gaita de beiços, Pastor sentado debaixo da árvore com borregos, Pastor a dormir a sesta debaixo da árvore com borregos, Pastor a fazer as migas de cabeça descoberta, Pastor de tarro e manta com corna e barril a comer, Pastor sentado a limpar o suor, Pastor na choça, Pastor a tirar água do poço, Ordenha de ovelhas, Tosquia de ovelhas, Mantieiro, Roupeiro a caminho da rouparia, Homem a ordenhar vaca, Mulher a ordenhar vaca, Roupeiro na rouparia, Porqueiro, Matança do porco e mulheres dos enchidos, Mulher dos enchidos junto à chaminé, Vendedora de criação a caminho do Mercado. - CICLO DO PÃO: Lavrador abastado, Ganhão a lavrar, Semeador, Mondadeira, Mondadeira a mondar, Mondadeira a comer, Mondadeira sentada a descansar, Ceifeiro, Ceifeiro com alforge e canudos, ceifeira com canudos, Ceifeira sentada, Aguadeira da ceifa, Coqueira, Carreteiro transportando molhos de trigo, Debulha com trilho na eira, Carreteiro transportando sacos de trigo, Moleiro junto ao moinho, Moleiro a entregar sacos de farinha, Amassadeira, Forneira. - CICLO DO AZEITE: Varejador, No rabisco, Juntando a azeitona, Rancho do acabamento, Lagareiro. - CICLO DO VINHO: Vindimadora a vindimar, Vindimadora, Vindimador a carregar cesto com uvas, Transporte de uvas no tino, Pisadores, Taberneiro, - CICLO DA CORTIÇA: Tirador de cortiça, Empilhador, Carreiro transportando cortiça. - NA HORTA: Hortelão a cavar, Carroça com hortelão a caminho do mercado. - NO MONTE: Namoro junto ao poço, Mulher ao pé do poço, Mulher a transportar água à cabeça, Mulher ao poial dos cântaros, Aguadeiro rural, Mulher com taleigo e cesto de ovos, Fiandeira com cesto de ovos na cabeça, Cozinha dos ganhões, Família a comer, Serão rural à lareira, Mulher a bordar, Mulher a fazer meia, Bailarico rural. O contributo da Irmãs Flores A esmagadora maioria destes “Bonecos da inovação” (54 num total de 81) foram criados pelas barristas Irmãs Flores (1957,1958 - ), criação à qual não sou estranho e convém explicar porquê. Colecciono Bonecosde Estremoz há mais de 40 anos, pelo que a minha insaciável curiosidade intelectual me levou à condição de investigador da Barrística Popular Estremocense. Trata-se de uma temática multidimensional, que me interessa nos seus múltiplos aspectos. Um deles é o registo etnográfico contido nas figuras que representam os personagens das fainas agro-pastoris do Alentejo de finais do séc. XIX – meados do séc. XX. Em 2009 publiquei o livro “Bonecos da Gastronomia”, ilustrado com 16 imagens de Bonecos de Estremoz da temática homónima, por mim encomendados às Irmãs Flores, dos quais 11 eram “Bonecos da tradição” e 5 eram “Bonecos da inovação”. O livro foi reeditado em 2010, reproduzindo então 36 figuras da mesma temática, todas elas encomendadas às Irmãs Flores, das quais 16 eram “Bonecos da tradição” e 20 eram “Bonecos da inovação”. Em 2011 lancei às Irmãs Flores o desafio de criarem Bonecos que integrassem uma colecção que designei por “Alentejo do Passado”, que registasse com rigor e fidelidade o que eram as fainas agro-pastoris do Alentejo de finais do séc. XIX – meados do séc. XX, estruturada em 8 grandes áreas: Colecta, Pastorícia, Ciclo do pão, Ciclo do azeite, Ciclo do vinho, Ciclo da cortiça, Na horta, Na cidade. Esta colecção absorveu a colecção “Bonecos da Gastronomia” e com vista à sua concretização, foram criados 34 novos “Bonecos da inovação”. A colecção “Alentejo do Passado” integrou assim 54 “Bonecos da inovação”, todos eles criados pelas Irmãs Flores, muitas vezes recorrendo ao meu arquivo fotográfico e documental, o que permitiu conferir rigor à contextualização de cada figura. A criação dos “Bonecos da inovação” de que venho falando, veio enriquecer (e de que maneira!), a barrística popular estremocense. Nalguns casos ocorreu mesmo uma mudança de paradigma, com a nossa barrística a atingir a sua mais alta expressão, na confecção de figuras mais complexas e de execução mais morosa. Cito como exemplo, figuras como: Ganhão a lavrar, Lagareiro, Carreteiro transportando molhos de trigo, Debulha com trilho na eira, Carreteiro transportando sacos de trigo, Moleiro no moinho, Transporte de uvas no tino e Carreteiro transportando cortiça. Na altura, tive a oportunidade de escrever: “As Irmãs Flores estão de parabéns, pois sem se afastarem um milímetro sequer dos cânones tradicionais da barrística popular estremocense, têm sabido inovar, criando novos públicos com apetência por aquilo que é diferente dentro do tradicional. E elas estão no caminho certo, pois se a sua mestria é pautada, por um lado, pela mais estrita fidelidade aos materiais, à tecnologia e às cores, não deixam todavia de manifestar inquietude que se expressa na criação de novos modelos de Bonecos de Estremoz, que têm a ver com a nossa identidade cultural, local e regional.” Outros contributos A seguir às Irmãs Flores, o barrista que mais inovou no número de figuras do âmbito agro-pastoril foi José Moreira (1926-1981) com um modo de representação igualmente popular como as Irmãs Flores, ainda que com um estilo bastante diferente. Segue-se o barrista Rui Barradas (1953- ) com um modo de representação mais erudito, seguido de Jorge da Conceição (1963- ), expoente máximo da representação erudita. Balanço Final À semelhança do que se passou com as Imagens Devocionais e com os Presépios, creio ter ficado comprovado de uma forma clara, o papel desempenhado pela inovação como agente de enriquecimento e valorização do domínio das figuras da faina agro-pastoril. Namoro junto ao poço. Afonso Ginja. Serão rural. Afonso Ginja. Pastor de barrete com alforge ao ombro. Aclénia Pereira. Pastor deitado debaixo da árvore a tocar gaita de beiços. Aclénia Pereira. Pastor sentado a limpar o suor. Aclénia Pereira. Mulher a ordenhar vaca. Aclénia Pereira. Ceifeiro. Duarte Catela. Caçador. Irmãs Flores. Pescador. Irmãs Flores. Mantieiro. Irmãs Flores. Tosquia de ovelhas. Irmãs Flores. Roupeiro. Irmãs Flores. Mondadeira a mondar. Irmãs Flores. Mondadeira a comer. Irmãs Flores. Ceifeiro a ceifar. Irmãs Flores. Carreteiro transportando sacos de trigo. Irmãs Flores. Moleiro junto ao moinho. Irmãs Flores. Moleiro a entregar sacos de farinha. Irmãs Flores. Amassadeira. Irmãs Flores. Forneira. Irmãs Flores. Família a comer. Irmãs Flores. Vindimadeira. Irmãs Flores. Transporte de uvas no tino. Irmãs Flores. Pisadores. Irmãs Flores. Taberneiro. Irmãs Flores. Pastor de tarro e manta com capote. Isabel Pires. Pastor de capote com cão. Isabel Pires. Lavrador abastado. Jorge da Conceição. Pastor com tarro. Jorge da Conceição. Pastor com alforge e cornas. Jorge da Conceição. Mondadeira. Jorge da Conceição. Ceifeiro e ceifeira com canudos. Jorge da Conceição. Aguadeiro rural. Jorge da Conceição. Mulher a transportar água à cabeça. Jorge da Conceição. Pastor a tirar água do poço. José Moreira. Pastor sentado debaixo da árvore com borregos. José Moreira. Pastor a dormir a sesta debaixo da árvore com borregos. José Moreira. Fiandeira com cesto de ovos na cabeça. José Moreira. Mulher dos enchidos junto à chaminé. José Moreira. Varejador. José Moreira. Tirador de cortiça. José Moreira. Camponesa de taleigo e cesto de ovos. Liberdade da Conceição. Coqueira. Quirina Marmelo. Cozinha dos ganhões. Quirina Marmelo. Pastor de capote, de cabeça descoberta. Rui Barradas. Pastor de colete com tarro e manta, sentado. Rui Barradas. Pastor a fazer as migas, de cabeça descoberta. Rui Barradas. Pastor de tarro e manta, com corna e barril, a comer. Rui Barradas. Pastor junto à fogueira. Rui Barradas. Mondadeira sentada. Rui Barradas. Ceifeira sentada. Rui Barradas. Mulher a fazer meia. Rui Barradas. Mulher a bordar. Rui Barradas. Matança do porco e mulheres dos enchidos. Ricardo Fonseca e Vasco Fonseca. Porqueiro. Sabina da Conceição. Semeador. Sabina da Conceição. |
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