sábado, 18 de julho de 2020

OBSERVADOR - DESPORTO - 17 DE JULHO DE 2020

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Observador

Desporto

Fotografia de Bruno Roseiro
Bruno Roseiro
Editor de Desporto
Sexta,17 Jul 2020
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“Ele vai ficar chocado comigo mas tenho de dizer isto… Eu estive a ajudar a fazer uns contactos com os nossos grandes craques do futebol, treinadores, e quando ligo para o Sérgio, e digo ao Sérgio o que está a acontecer no Campeonato de Portugal, só me disse assim ‘Paulinho, envia-me a direção de todos os jogadores aqui da minha zona’. Não vou falar em nomes de clubes, não vale a pena, mas ali a zona de Coimbra e à volta. Dois dias depois, e eram vários, isto há fotografias, há comentários, há tudo, cada jogador tinha uma ‘loja’, entre aspas, na sua casa. O Serginho meteu uma loja, que aquilo devem ter comer para mais de dois anos, uma loja em casa de cada um. Fiquei sem palavras, ainda estou sem palavras… Pensei: ‘Que grande campeão’. Recordo-me que fiquei sem palavras, até chorei com aquilo. Serginho, mereces tudo, por aquele momento, pela atitude”, contou o ex-jogador na CMTV.

O Paulinho era Paulo Futre, o Serginho era Sérgio Conceição. Até pela diferença de idades, nunca se cruzaram nem como companheiros nem como adversários no Campeonato, assim como nunca jogaram em simultâneo na mesma liga por uma diferença de dois anos (em Portugal, o extremo chegou ao Felgueiras em 1995 quando o avançado saíra do Benfica em 1993; em Itália, o extremo assinou pela Lazio em 1998 quando o avançado tinha deixado o AC Milan em 1996). São homens do futebol, genuínos, frontais, com um passado comum ligado ao FC Porto, ligados por uma amizade construída pelas vezes em que se foram cruzando, com um sem números de pessoas próximas em comum. Na quarta-feira, após a conquista do título pelos dragões, Paulo Futre revelou uma daquelas histórias que costumam ficar reservadas a encontros entre amigos para mostrar o outro lado daquela que é a grande figura de uma temporada a todos os níveis atípica mas que consagrou, sobretudo, a coragem de quem nunca deixou que o chão que pisava se tornasse movediço e construiu a partir daí um caminho sólido para o sucesso.

A vitória do FC Porto contou com Pepe, o líder que voltou a casa para ser outra vez campeão sem precisar de ter a braçadeira para guiar um grupo. Contou com Alex Telles, a figura com uma atração pelo golo que nunca foi lateral. Contou com Corona (ainda que castigado no clássico), uma espécie de empregado de todos os meses que foi uma verdadeira assistência em viagem. Contou com Danilo, o capitão que teve a época mais inconstante no Dragão mas que chegou a tempo de marcar dois golos decisivos para a festa em jornadas consecutivas. Contou com oito miúdos, sete lançados na presente época, que conseguiram dar prolongamento à glória europeia na Youth League para chegarem ao plantel dos azuis e brancos, incluindo aquele que é a grande figura do momento: Fábio Vieira. Mas contou sobretudo com uma figura sem a qual Pinto da Costa não teria chegado ao 22.º Campeonato e 61.º título em 38 anos na liderança do FC Porto. Uma figura que, até na hora dos festejos, não deixou de ser ele mesmo.

“O que diria o Sérgio Conceição de julho ao Sérgio Conceição de janeiro após a final da Taça da Liga? Diria ‘Parabéns, foste igual a ti próprio’. Disse o que tinha de dizer na altura. Se há pessoas que não gostam de perder é o nosso presidente e sou eu, somos mesmo muito competitivos”, referiu na flash interview da SportTV. “Jogar como o Barcelona jogava quando era a equipa mais forte do mundo também eu queria mas não é possível. Sei que há alguns treinadores de bancada, inclusive no Porto Canal, mas quem prepara o jogo sou eu, somos nós. E só um FC Porto forte e rigoroso conseguiria ganha”, atirou no relvado, ao Porto Canal – e ainda acrescentou que era tempo de festa, com mais folclore e sem desculpas, em alusão à tarja que foi deixada já depois da pandemia no Olival. Mais tarde, à saída da garagem do Dragão, vibrou quase como um adepto dentro do carro quando se cruzou com a multidão que chamava pelo seu nome e colocou no volume máximo o “Azul e Branco é o coração”, aquela música que funcionara em 2018 como principal ex-libris da festa que agora não houve por causa da pandemia mas que ainda assim levou milhares de pessoas às ruas, dos Aliados (onde a noite acabou da pior forma) ao Marquês.

Quando atirou a frase “Agora só sai daqui quando eu morrer”, entre várias ironias que tinha deixado ao Porto Canal entre os jogos à porta fechada, a falta de crença na equipa quando tinha sete pontos a menos do que o Benfica ou a formaçãoPinto da Costa quis reforçar a importância de Sérgio Conceição naquele que foi o segundo Campeonato em três temporadas depois do maior jejum de títulos das últimas décadas e num contexto nada favorável. O treinador não teve problemas em fazer faísca para criar fumo e nunca perder o fogo, sendo que por cada jogador “perdido” ia ganhando uma equipa. Esse foi apenas mais um dos traços que colocaram a figura do técnico ao nível de tudo o que representou José Maria Pedroto no arranque do presidente portista para o currículo que ainda hoje é tão elogiado lá fora. Mas olhando para o atual plantel, para as necessidades de tesouraria no final da época (com a salvaguarda de ter a entrada na Champions garantida) e para o mais do que provável investimento do rival Benfica em ano de eleições, nasce uma nova pergunta: o que dirá o Sérgio de julho ao Sérgio de 2021?

FC Porto v Sporting CP - Liga NOS

Antes do clássico que terminou com a vitória do FC Porto frente ao Sporting com dois golos de Danilo e Marega na segunda parte (um pormenor que quase passou ao lado no meio da festa), o Benfica tinha cumprido a “obrigação” de adiar por 24 horas o título dos azuis e brancos, vencendo na Luz o V. Guimarães num jogo que terminou com Rúben Dias a lamentar a vitória que já vinha tarde. No entanto, a semana foi marcada por outras notícias, nomeadamente a constituição de Benfica SAD, Benfica Estádio, Luís Filipe Vieira e Domingos Soares de Oliveira como arguidos por um alegado crime de fraude fiscal qualificada (sendo que a PGR veio depois falar também em branqueamento de capitais, algo refutado pelos advogados que representam os encarnados) e também a anulação por parte do TAD e do Tribunal da Relação dos jogos à porta fechada com que as águias tinham sido punidas.

Em relação ao assunto mais importante para a próxima temporada, a escolha do novo treinador, falou-se muito mas as novidades, espremidas, continuam em stand byJorge Jesus não gostou de alguns episódios recentes que envolveram a sua pessoa e vai sentar-se com Luís Filipe Vieira para poder trocar o Flamengo pelo Benfica mas o que já estava certo na madrugada de quarta para quinta-feira sofreu agora uma ligeira travagem por três aspetos em específico: um pedido de aumento em relação às condições financeiras apresentadas, a escolha dos elementos da equipa técnica que irão acompanhar o treinador e o resto da estrutura que trabalhará à sua volta – entre nomes como Luisão, Lourenço Coelho, Pietra, Marco Pedroso e até o médico do Flamengo, Márcio Tannure. Antes da viagem para Portugal, Jorge Jesus conquistou o sexto troféu e o quinto título (esta diferença torna o currículo mais “correto”): depois de ter ganho a primeira mão da final do Campeonato Carioca frente ao Fluminense por 2-1, nova vitória por 1-0 carimbou o primeiro título estadual do treinador que se juntou a Campeonato do Brasil, Taça dos Libertadores, Supertaça Sul-Americana, Supertaça do Brasil e Taça Guanabara (responsável pela nuance acima).

Agora, na próxima jornada, já depois do jogo da consagração do FC Porto com o Moreirense onde será entregue a taça de campeão (segunda-feira, 21h15), o Benfica desloca-se à Vila das Aves na terça-feira (21h15) num daqueles jogos que não aquecem nem arrefecem típicos de ponta final do Campeonato. No entanto, há discussões em aberto: depois da derrota no clássicoa primeira de Amorim na Liga e em Alvalade que carimbou a época com mais desaires de sempre dos verde e brancos, o Sporting recebe o aflito V. Setúbal na terça-feira (19h15) para tentar manter o terceiro lugar, que ainda lhe pertence porque o Sp. Braga, que joga na casa do também aflito Tondela na segunda-feira (19h15), não foi além de um empate frente ao Belenenses SAD. Outros jogos importantes nesta 33.ª ronda, pelo quinto lugar ou na luta pela permanência: Rio Ave-Santa Clara (sábado, 19h), Famalicão-Boavista (sábado, 21h15), Belenenses SAD-Gil Vicente (domingo, 19h) e P. Ferreira-Portimonense (segunda-feira, 17h).

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Título em Portugal, título em Espanha e logo numa noite que confirmou não só a superioridade do Real Madrid mas também a queda completa do Barcelona. Depois do triunfo arrancado “a ferros” com o Granada, os merengues voltaram a contar com o seu goleador de serviço, Karim Benzema, para ganharem ao Villarreal, somarem a décima vitória consecutiva desde o regresso do futebol e alcançarem o 34.º Campeonato da história, que teve mais uma vez uma influência determinante de Zidane no dia em que se cumpriram 20 anos da chegada de Florentino Pérez à liderança do clube (com tudo o que isso mudou em Espanha e no futebol mundial). Do outro lado, e com o triunfo com o Valladolid a adiar por uma ronda o título do rival, os catalães foram derrotados pelo Osasuna em casa na noite em que Messi voltou aos golos de livre direto antes de deixar duras críticas internas à época. A Liga vai terminar este domingo com jogos como Leganés-Real Madrid (20h), Alavés-Barcelona (16h), Atl. Madrid-Real Sociedad (20h), Sevilha-Valencia (20h), Espanyol-Celta Vigo (20h) e Villarreal-Eibar (17h30).

Em Itália, mesmo perante os vários deslizes dos adversários diretos desde a retoma, a Juventus vai complicando a sua vida na liderança somando já três encontros consecutivos sem ganhar: depois da derrota com o AC Milan, só duas grandes penalidades transformadas por Ronaldo resgataram um empate frente à surpreendente Atalanta (que está a sete pontos do primeiro lugar) no Allianz Stadium e, esta quarta-feira, Vecchia Signora voltou a perder pontos fora com o Sassuolo (3-3). Com isto, o Inter, que goleou a SPAL, já está a seis pontos do primeiro lugar. Esta semana haverá jogos grandes (e decisivos) para as contas finais como o Roma-Inter (domingo, 20h45), Juventus-Lazio (segunda-feira, 20h45), Atalanta-Bolonha (terça-feira, 18h30), Inter-Fiorentina (quarta-feira, 20h45), Udinese-Juventus (quinta-feira, 18h30) e Lazio-Cagliari (quinta-feira, 20h45).

Por fim, em Inglaterra, com o campeão Liverpool a quebrar de vez e a colocar em risco os recordes que pareciam certos na Premier League com o empate em Anfield frente ao Burnley e a derrota em Londres diante do Arsenalas atenções estão centradas na luta pelos duas vagas em aberto na Champions (que serão mesmo duas, porque o TAD deu razão ao Manchester City e a equipa de Guardiola poderá jogar as provas europeias em 2020/21) com o Manchester United em igualdade de pontos com o Leicester e a um ponto do Chelsea depois do empate com o Southampton e a vitória com o Crystal Palace (com mais uma assistência de Bruno Fernandes). Em paralelo, o Tottenham de José Mourinho deu dois passos importantes para assegurar uma vaga na Liga Europa, vencendo o dérbi do Norte de Londres frente ao Arsenal e a sempre complicada deslocação a Newcastle, enquanto os Wolves de Nuno Espírito Santo, que ganharam ao Everton com Daniel Podence em destaque antes do empate fora com o Burnley, mantêm o sexto lugar com mais um ponto do que o Tottenham. Depois das meias-finais da Taça de Inglaterra, com os jogos Arsenal-Manchester City (sábado, 19h45) e Manchester United-Chelsea (domingo, 18h), volta a Premier League com o Tottenham-Leicester (domingo, 16h), Wolverhampton-Crystal Palace (segunda-feira, 20h15), Manchester United-West Ham (quarta-feira, 18h) e Liverpool-Chelsea (quarta-feira, 20h15).

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Este fim de semana vai marcar também o regresso do Mundial de MotoGP, com 13 provas confirmadas (todas na Europa) que começam com o Grande Prémio de Espanha, no circuito de Ángel Nieto em Jerez de la Frontera (domingo, 13h). Este será o segundo ano de Miguel Oliveira no principal escalão e as ambições estão altas apesar de todas as condicionantes que o Campeonato de 2020 teve por causa da pandemia. “Para mim é assumido que a vontade é terminar dentro do top 10. É um resultado muito ambicioso da minha parte mas sinto-me com capacidades para o fazer. Depende de muitos fatores mas sem dúvida que, para mim e para toda a estrutura da KTM, terminar um campeonato dentro do top 10 é algo que nós sentimos que é um objetivo possível de alcançar já este ano. Sendo um ano atípico como é, será complicado avaliar à partida mas nós sentimo-nos com capacidade”, revelou o piloto em junho numa entrevista ao “Nem tudo o que vai à rede é bola” da Rádio Observador.

Também a Fórmula 1 fará o terceiro fim de semana consecutivo com prova, desta vez com o Grande Prémio da Hungria (domingo, 14h10). Depois da vitória de Valtteri Bottas na corrida inicial e do triunfo de Lewis Hamilton no Grande Prémio da Estíria, o britânico poderá passar para a frente da classificação naquela que será uma prova importante para perceber em que ponto está a Ferrari depois do “desastre” que tirou Charles Leclerc e Sebastian Vettel da última corrida logo na primeira volta e que poderá levar a mudanças na equipa a breve prazo.

EU, A TV E UM COMANDO

19 de Julho

13hMotoGP: Grande Prémio de Espanha

19 de Julho

14h10Fórmula 1: Grande Prémio da Hungria

20 de Julho

20h45Serie A: Juventus-Lazio

O JOGO EM PALAVRAS

PÓDIO

1

Pepe, o líder que voltou a casa para ser campeão /premium

Saiu em 2007 e andou pelo estrangeiro durante 12 anos. Voltou a meio da época passada para nada ganhar mas para tudo construir. Agora, Pepe é o jogador de campo mais velho a ser campeão pelo FC Porto.

2

Corona, o empregado de todos os meses /premium

Corona foi titular durante 35 jogos seguidos e serviu sempre como ponto de equilíbrio entre o passado e uma pretensão de futuro. A lateral, médio ou avançado, o mexicano foi o "faz tudo" de Sérgio.

3

Alex e uma atração pelo golo que nunca foi lateral /premium

Chegou para ser titular e foi ficando mesmo quando associado a gigantes europeus. Alex Telles é dos defesas mais goleadores da história do FC Porto e uma das chaves para o título.

O PERCURSO

Fotografia
FC PORTO

Pinto da Costa e os largos dias com 61 títulos /premium

Em 46 anos, entre 1935 e 1981, o FC Porto ganhou 12 títulos; nos 38 seguintes subiu para 73, dos quais sete em provas europeias. Dos técnicos aos goleadores, o raio-x à era Pinto da Costa nos dragões.

TERCEIRO TEMPO

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