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Desporto
Por Bruno Roseiro, Editor de Desporto
Bruno nasceu em Cabo Verde. Tinha jeito para o futebol e, como tantos outros miúdos, quis arriscar uma carreira. Foi atrás desse sonho. Trocou o calor pelo frio e chegou a Trás-os-Montes, ainda júnior, com 17 anos, para representar o Desp. Chaves. A passagem para sénior nunca é fácil e acabou no Campeonato de Seniores, o terceiro escalão nacional. Passou pelo Montalegre e pelo Oleiros. Por circunstâncias da vida que queria muito controlar mas não consegue (nem ele nem ninguém), procurou clube em Lisboa para o início da temporada 2019/20 e assinou pelo Sacavenense. Mesmo no final de fevereiro, mudou-se para o União de Santarém.
Aos 22 anos, num contexto de pandemia sem precedentes que parou quase toda a atividade nacional durante mais de um mês, o médio acaba por simbolizar as dificuldades que a indústria do futebol, como tantas outras, já está a atravessar. Os 200 euros que recebeu, equivalentes a metade do mês de março, foram escassos para quem tem de ajudar a mãe que se encontra a debelar um problema do foro oncológico e o pai que, também por doença, não podia ficar sozinho em Cabo Verde. Pelo feitio tímido e entre apenas nove treinos que fez no novo clube (mais três minutos de um jogo), os que agora o rodeiam só perceberam o problema quando o mesmo se tornou público.
Nessa terça-feira, o telefone de Bruno não parou de tocar. Uma das chamadas (duas na verdade porque a primeira não foi atendida) foi do Observador. “Peço desculpa, não leve mesmo a mal, mas não queria falar mais nem dar mais entrevistas, nunca pensei que isto ganhasse estas proporções”, atirou. Ainda assim, deixou também uma mensagem. “Sinto-me grato. É esse o sentimento que tenho: gratidão. Percebi que podia contar com muita gente”, disse. Antes, Paulinho, Ibra e Hugo Machado, jogadores do Real Massamá e do Loures, tinham ajudado com alimentos; nesse dia, entre presidente, capitão e claque do clube, até um jogador da Primeira Liga pediu via Instagram do União de Santarém o seu contacto para se disponibilizar (com a condição de manter o anonimato).
O caso de Bruno não foi o único, não é único e não será o único. Mas o caso de Bruno é o espelho da realidade que muitas pessoas e instituições passam ou podem passar. E o reflexo de como também podem existir soluções.
Se no futebol não profissional a temporada chegou ao fim (estando ainda por saber quem serão as duas equipas a subir ao segundo escalão), a Primeira Liga e a Segunda Liga começam a preparar-se aos poucos naquilo que é um regresso possível aos trabalhos com muitas medidas de segurança à mistura como aconteceu esta semana com o Sporting, já sem Jesé Rodríguez e Bolasie que, por não contarem para a próxima temporada, foram dispensados – o que, no caso do espanhol, correspondeu a uma passagem que custou 2.674 euros por cada minuto jogado.
A UEFA coloca a decisão nos governos locais e é aqui que se encontram caminhos diferentes: se na Alemanha a possibilidade de voltar a jogar a 9 de maio ganha força, em Espanha (como em muitos outros países) começam a preparar-se os planos de ação e protocolos e na Holanda não vai haver futebol até setembro. Por cá, o Sindicato de Jogadores pede que se respeitem as condições de segurança. Futebol à porta fechada é uma inevitabilidade.
Esta quinta-feira, uma notícia virou notícia e manteve-se como “notícia”. O New York Times publicou uma peça com o título “O clube de futebol como Estado Soberano” que acrescentava no lead “Juízes, procuradores e até o primeiro-ministro de Portugal são apoiantes do Benfica. Mas o que acontece quando esses fãs podem presidir casos que afetam os interesses do clube?”. O “gancho” do trabalho era o caso de Paulo Registo, juiz que foi sorteado (num ato eletrónico e público) para liderar o coletivo de juízes que iria julgar o caso de Rui Pinto mas que pediu esta semana para ser afastado depois das notícias que foram saindo e que davam conta da ligação como adepto ao Benfica. Após ter sido publicado, foram acrescentadas declarações de um porta-voz dos encarnados mas a defesa do clube não ficou por aí e, horas depois, foram colocadas no site oficial das águias as seis perguntas e respostas trocadas com o jornal americano.
Ainda na Luz, Domingos Soares de Oliveira, administrador da SAD e financeiro de todo o universo Benfica, falou em entrevista à BTV sobre o pagamento do obrigacionista de 50 milhões de euros que será feito esta sexta-feira (de novo sem recorrer a financiamento extraordinário) e aproveitou para abordar a situação da tesouraria e dos resultados financeiros dos encarnados. Três notas a reter: 1) depois de um pico máximo de endividamento de 300 milhões de euros em 2013/14, houve uma redução de quase 250 milhões que se explica com a venda de João Félix mas não só; 2) grosso modo, e somando receitas de Red Pass, camarotes e executive seats com variações de 10%, cada jogo à porta fechada poderá “custar” um milhão de euros (se forem feitos 25 jogos na Luz); 3) o clube adiou alguns investimentos que estavam previstos, no estádio ou no Seixal por exemplo, mas apenas entrará num processo de redução de custos se for mesmo necessário, algo que nesta altura não se está ainda a colocar.
Nas modalidades, a semana ficou marcada não por uma notícia mas por um documentário que levou a uma multiplicação de notícias: “The Last Dance”, que conta a história do sexto e último título dos Chicago Bulls na NBA nos anos 90 com várias alusões a episódios passados em épocas anteriores, é o melhor retrato possível do que faz uma equipa campeã (além de Michael Jordan, ou “Deus disfarçado de Michael Jordan”, como disse há 34 anos um outro mítico, Larry Bird dos Boston Celtics). Nota ainda para o dilema confessado por Novak Djokovic caso o regresso do ténis obrigue a que os jogadores sejam vacinados e para o caso inusitado dos três top-10 mundiais que ficaram de fora de um torneio organizado pela Liga Profissional de Dardos pela falta de condições em casa.
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