Desporto
Por Bruno Roseiro, Editor de Desporto
Percebia-se que era uma questão de tempo. Ainda havia aquela remota esperança de que outra solução pudesse ser encontrada mas aquela chamada por conferência estava destinada. Aconteceu na quarta-feira, de manhã. Foi nesse momento que os funcionários do Sporting começaram a ser informados que, por suspensão do trabalho ou redução da carga horária, iriam passar para um regime de lay-off. Quase 90%, só aí. E ainda houve pelo menos um que, não entrando no plano desenhado pelo clube para os próximos 30 dias (que pode ser prolongado), se colocou à disposição para baixar também o vencimento, em forma de solidariedade com outras pessoas no departamento. “É a única hipótese para conseguir sustentabilidade e manter todos os postos de trabalho”, justificou-se na conversa.
A Sporting SAD já tinha conseguido alcançar um acordo com o plantel principal de futebol. A primeira proposta, de corte de 50%, foi rejeitada, a fasquia dos 30% como contra proposta também era insuficiente, a redução ficou pelos 40% nos próximos três meses, caso não exista competição. Aí, a fasquia desce para 20% a menos, sendo que a diferença será paga em fatias iguais até ao final de 2020 e no epílogo da época 2020/21. E existe uma hipóteses mais remota de “recuperar” o resto do salário (20%), caso a equipa consiga apurar-se para a Liga dos Campeões. Em paralelo, a acompanhar a decisão, os administradores da sociedade receberão também 50% a menos até junho.
Seguiu-se o clube e outros serviços que, juntos, olhando para todo o universo Sporting, colocou 95% das pessoas ligadas ao clube através de contrato ou recibos verdes em lay-off. E ainda falta fechar por completo os cortes nas modalidades, neste caso não só a curto prazo a pensar nos próximos meses (onde não se sabe se haverá ou não um regresso às competições para finalizar a época 2019/20 mas é certo que existirão reduções salariais) mas também tendo em vista a temporada seguinte. Ou seja, e neste caso em particular dos leões, se já era um dado certo que haveria cortes no orçamento para adequar custos às receitas, essa quebra vai subir e rondar os 30%.
Nem todos os clubes portugueses avançaram para este caminho. Benfica e FC Porto, por exemplo, têm resistido ao máximo nos cortes que pareciam certos, seja no futebol, nas modalidades ou no próprio clube. No entanto, é certo que, olhando para a época 2020/21, as coisas serão diferentes. Seja no mercado de transferências, seja no fecho dos orçamento, seja nos próprios serviços que são oferecidos. Porque houve uma brutal quebra de receitas durante esta pandemia, porque ninguém consegue prever o decréscimo na bilhética, nos lugares anuais e na quotização, porque os patrocinadores serão menores e mais modestos. No fundo, porque todos sabem a realidade de temos hoje mas ninguém consegue vislumbrar ao certo como será daqui para a frente. No desporto e na sociedade.
É aqui que entronca a guerra surda que agora não poderia ser mais audível entre Sp. Braga e Sporting por causa da transferência de Rúben Amorim e do não pagamento da primeira tranche do acordo que possibilitou a chegada do treinador a Alvalade, apenas uns dias antes de chegar a Portugal uma pandemia que acaba de motivar o terceiro período de 15 dias de Estado de Emergência (aliás, o técnico fez até agora apenas um jogo nos leões).
Os minhotos deveriam receber até ao final do mês de março cinco milhões de euros (mais IVA, de 2,3 milhões, que por ser dedutível entra nas contas em efeito boomerang). Não receberam, considerando que existia dinheiro na tesouraria pela venda de Bruno Fernandes ao Manchester United. Agora, por causa da moratória existente no contrato, exigem o pagamento de todo o valor previsto e acordado até setembro, com juros e multa de 10% pelo incumprimento, num total que rondará quase 14 milhões de euros. E parecem dispostos a ir até onde puderem nessa luta, considerando que a crise toca a todos e não se pode congelar compromissos e pagamentos.
Já os lisboetas assumem a dívida, recusam pagar multas pelo incumprimento ao abrigo da lei que prevê casos em que o contexto muda de forma fundamentada, garantem que o fair-play financeiro para a inscrição nas provas europeias da próxima temporada está assegurado, justificam-se com outras verbas que deveriam também entrar no clube e que foram canceladas ou renegociadas e catalogam a decisão como “um ato ou uma medida de mera gestão”, tendo em conta o período que se vive e a necessidade de garantir o mínimo de sustentabilidade a curto e médio prazo, numa era de pós-Covid-19. E parecem dispostos a ir até onde puderem nessa luta, considerando que a crise toca a todos e que é possível (ainda que não desejável) congelar compromissos e pagamentos.
Ninguém consegue prever como (e por quanto) irá terminar este litígio, existem opiniões distintas entre os vários especialistas na matéria sobre quem tem razão – não sobre o pagamento da dívida mas sobre os prazos que estão em causa – mas o caso entre Sp. Braga e Sporting (e a própria situação que os verde e brancos assumiram estar agora a atravessar) é sobretudo um reflexo dos efeitos diretos da pandemia e da paragem das competições, no futebol e no desporto. Porque se é certo que os próximos três meses constituem um grande desafio à sustentabilidade e até à sobrevivência dos clubes, de maior ou menor dimensão no panorama nacional, os próximos três anos serão um exercício ainda mais complicado de superar. Para os clubes e para todos.
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