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Do Tempo da Outra Senhora |
Posted: 15 Apr 2020 07:43 AM PDT
Assobios compostos: Sargento a cavalo, Amazona e Peralta a cavalo. Irmãs Flores.
O conjunto dos Bonecos da Tradição incorpora entre outros apitos, três figuras a cavalo: Amazona, Peralta a cavalo e Sargento a cavalo. Estas imagens têm base rectangular e o apito está localizado na cauda do cavalo. Um rolo de barro foi aí colado com barbotina e depois furado com um arame grosso da base exterior do rolo para o interior, até cerca de metade do comprimento. Na parte superior do rolo foi depois efectuado outro furo, até encontrar o primeiro. Esta particularidade da manufactura dos apitos induziu a que, no domínio dos ditos e apodos colectivos, aplicados aos estremocenses, se dissesse “Têm o apito no cú” [David de Morais (1)]. Daí que, quando alguém disparava um traque, acompanhado ou não de pestilenta semeadura de fedores fecais, se dissesse: “És como os de Estremoz: tens o apito no cú” (1). Outro dito e apodo colectivo aplicado aos estremocenses era o de “Bonecos” [Soeiro de Brito (5)], numa clara alusão à produção de figuras em barro de Estremoz. De acordo com este autor, quando faltava qualquer coisa, costumava dizer-se: “Então o que quer que lhe faça? Quer que o mande vir de Estremoz?” Por outro lado (2) “Há curiosidades dispersas nos dizeres da região, a respeito de perfeições físicas ou morais que se exigiam a uma pessoa: - olha “se queres mais perfeito, manda-o fazer de barro de Estremoz”, ou esta outra: - “Queres noiva como desejas, só no Outeiro de Estremoz. Pintam-se e são bôas de génio”. Também Portugal Dias (4) refere “…a fama proverbial dos Bonecos de Estremoz exaltada em ditos familiares quasi sempre alusão ás perfeições moraes de qualquer: - “Só feito de encomenda em Estremoz” – “Se queres melhor manda-o vir de Estremoz!”… - e ainda na intenção satírica da quadra:
“Vergonha da minha cara
Se contigo tenho amores!
- Se quizesse amar bonecos…
Mandava-os vir de Estremores.”
Até na ironia da cantiga se contem a ideia de superioridade do boneco de barro que ao menos não tem falhas moraes. - Só feitos de encomenda, concerteza!” A nível de cancioneiro popular é conhecida a moda alentejana “Se eu quisesse amar bonecos”, recolhida em Reguengos de Monsaraz por Pombinho Júnior (3):
“Se eu quisesse amar bonecos,
Mandav’òs vir de ‘Stremôris,
Vergonha da minha cara
Se eu contigo tinha amôris.
Se eu contigo tinha amôris,
Se eu era o tê namorado,
Mandav’òs vir de ‘Stremôris,
Mandav’òs vir do Chiado!”
Os exemplos apontados mostram bem como os Bonecos de Estremoz estão perpetuados na literatura oral, um filão com potencial que urge explorar, para bem da Cultura Popular.
BIBLIOGRAFIA
(1) - DAVID DE MORAIS, J. A. Ditos e Apodos Colectivos. Colibri. Lisboa, 2006. (pág. 55)
(2) - Indústrias em Estremoz – mármores e barros in Brados do Alentejo nº 210, 3/2/1935. Estremoz, 1935 (pág. 17).
(3) - POMBINHO JÚNIOR, J.A. Cantigas Populares Alentejanas. Maranus, 1936.
(4) - PORTUGAL DIAS, Maria. A Vida Eterna das Cousas, Tradição e Arte I in Brados do Alentejo nº 8, 22/03/1931. Estremoz, 1931 (pág. 5).
(5) - SOEIRO DE BRITO, J.M. Ditados tópicos alentejanos. Tipografia Progresso. Elvas, 1938 (pág. 17).
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Posted: 28 Jan 2020 05:25 PM PST
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