Filomena Martins
Diretora AdjuntaQuinta-feira, 30 janeiro 2020
Diretora AdjuntaQuinta-feira, 30 janeiro 2020
Enquanto dormia…
… as notícias sobre o coronavírus não pararam de chegar, tornando-se cada vez mais preocupantes, o que deve levar hoje a Organização Mundial de Saúde a declarar a emergência nacional de saúde pública: os países começam a repatriar os seus cidadãos das zonas infectadas com todos os cuidados (já falaremos de Portugal) e na China até muros se constroem para travar a propagação do vírus. Por cá, também continuou a cadeia de reacções às declarações racistas de André Ventura sobre Joacine Katar Moreira sobre as quais o PS quer um voto de condenação no Parlamento: o CDS foi o último a demarcar-se do Chega ao mesmo tempo que via (re)nascer uma polémica interna (semelhante). E Bruno Fernandes partiu oficialmente para o Manchester United, numa venda repartida em cinco partes para o Sporting, que se resume nesta fórmula: 55+5+5+15 (e 10%).
Coronavírus: do alerta ao isolamento e à alta, qual o percurso de um doente com suspeitas em Portugal?
No dia em que parte do aeroporto de Beja o primeiro avião fretado pela União Europeia para fazer o repatriamento dos europeus, incluindo 17 portugueses, que estão em Whuan, a cidade-berço da nova estirpe de coronavírus, os casos não páram de aumentar. É quase certo que quando estiver a ler esta newsletter os números já estejam desactualizados, mas o último balanço (às 9h00) ia em 170 mortos e mais de 7.700 infectados em território chinês, com o vírus já espalhado em todas as províncias (e com uma propagação muito mais rápida do que a da última epidemia, a do SARS, sendo que o pico do surto só é esperado para daqui a dez dias). O contágio já chegou à Finlândia, que se tornou o 10.º país a registar a doença, a França confirmou um novo caso, pelo que a Organização Mundial de Saúde teme a propagação mundial e vai decidir hoje se declara o estado de emergência de saúde internacional.
Se é que é possível fazer um ponto da situação, aqui vai:
- Se algum dos portugueses que chegarem a Portugal revelarem sintomas, o que lhes acontece? Na maioria dos países que foram a Wuhan buscar os seus cidadãos (EUA, Reino Unido, França ou Espanha), a quarentena é obrigatória em alas isoladas de hospitais ou até em bases militares. Por cá, depois de uma suspeita negativa, está tudo “muito calmo”, como a Carolina Branco foi verificar. Ter só febre não é sinal de alerta, nem ter estado na China vai ser sinónimo de isolamento: quem não tiver sintomas irá para casa. Mas há três hospitais preparados, entre eles o Curry Cabral, que reservou alguns quartos especiais, de pressão negativa: se alguém tiver sido contagiado ficará num deles.
- Os bombeiros portugueses ainda não têm instruções sobre como reagir a casos de coronavírus. Segundo o Jornal de Notícias, a Direcção Geral de Saúde preferiu dar primeiro ao INEM um conjunto de normas específicas sobre como agir em casos de contacto (ou suspeita de) com o vírus.
- Outros países tomaram outras medidas drásticas. A Rússia encerrou a fronteira com a China ao tráfego rodoviário e ferroviário e a companhia aérea alemã Lufthansa (tal como a Ibéria e a British Airways haviam feito) cancelou os voos de e para a China. Já a McDonald’s decidiu encerrar centenas de restaurantes no país.
- Na própria China, há vilas a construir muros de cimento e check points para controlar a entrada de pessoas e travar a propagação do coronavírus (há 15 cidades e 60 milhões de pessoas isoladas), enquanto os laboratórios aceleram o desenvolvimento de vacinas.
- Do lado da tecnologia, houve uma alerta ignorado que podia ter dado uma grande ajuda: um algoritmo de inteligência artificial detectou uma epidemia dias antes de a China ter detetado primeiros casos; mas também uma tendência online muito dispensável nesta altura: um jogo que espalha uma epidemia global voltou a ganhar popularidade.
A condenação geral a Ventura, o caso do CDS e afinal o que está em causa na devolução do património
As reacções às declarações racistas do líder do Chega, André Ventura, sobre a deputada do Livre, Joacine Katar Moreira, também não páram de chegar. A última foi de Ferro Rodrigues, que esta manhã, numa nota à agência Lusa, afirmou que “o ódio não pode ser uma arma política”; ontem, durante as jornadas parlamentares, o PS tinha anunciado a apresentação de um voto de condenação a tais afirmações e a ministra da Justiça, Francisca Van Dunem condenou o “discurso xenófobo” numa conferência em Coimbra. O CDS-PP marcou distâncias ao fim da tarde, dizendo que “não se revê” nas posições de Ventura, mas só vai esclarecer a posição sobre o voto de condenação depois de ler o texto dos socialistas.
O problema dos centristas é que antes mesmo de se pronunciarem sobre o que tinha dito André Ventura já tinham os seus próprios problemas para resolver dentro de casa. Um dos novos dirigentes do partido, agora liderado por Francisco Rodrigues dos Santos, elogiou a PIDE e Salazar e acusou Aristides Sousa Mendes de ser “agiota de judeus”. Abel Matos Santos, que passou a fazer parte da Comissão Executiva, disse ao Expresso que as frases foram expurgadas de textos antigos (2012 e 2015) e descontextualizadas e que o novo líder é alheio ao que escreveu. Mas internamente a polémica está a causa desconforto (para dizer o mínimo), como se percebe neste texto de Adolfo Mesquita Nunes, ainda pré-congresso, no Jornal de Negócios, ou neste de Pedro Gomes Sanches hoje publicado no Observador.
Voltando à questão inicial, neste caso à proposta que levou Ventura a insultar Joacine, a historiadora Raquel Henriques da Silva disse, em entrevista na rádio Observador, que devolver património das ex-colónias (algo que o PAN também defende) é uma medida populista, “provocatória e bombástica”, “para provocar reacções mais do que para fazer trabalho”.
Toda esta polémica não travou ou amenizou as relações entre o Livre e a sua deputada. A Assembleia do partido decide esta noite sobre se retira a confiança política a Joacine e até sobre a convocatória para a reunião há divisões.
A fórmula matemática que deixou o Sporting sair Bruno Fernandes: 55+5+5+15 (+10%)
Confirmada a venda, faltavam apenas saber os pormenores do negócio. O Bruno Roseiro explica numa fórmula matemática os valores que levaram o Sporting a aceitar, desta vez, a proposta do Manchester United e a deixar sair Bruno Fernandes: 55+5+5+15 (+10% da mais-valia). Traduzindo: o clube português irá receber um montante fixo de 55 milhões de euros e poderá ficar com mais 25 milhões por objetivos: cinco sobre os jogos realizados pelo médio; outros cinco em função do desempenho do Manchester na Liga dos Campeões; e 15 pelo que conseguir o português, nomeadamente a nível de prémios individuais. Trata-se da maior transferência do clube de Alvalade e que pode superar a segunda maior venda de sempre da Liga portuguesa, apenas atrás dos 126 milhões pagos pelo Atl. Madrid por João Félix mas à frente dos 60 milhões pagos pelo Zenit por Hulk.
Bruno Fernandes despediu-se dizendo que não era sportinguista de berço, mas passara a sê-lo de coração e partiu ontem mesmo para Inglaterra a tempo de ver o “seu” United vencer o dérbi com o City, mas falhar a final da Taça. Deve ser apresentado ainda antes do Brexit e do fecho do mercado de Inverno (são ambos no mesmo dia à mesma hora, meia noite de sexta-feira). Esta é a história do rapaz que sonha muito antes dos jogos e reclama a dormir que lhe passem a bola.
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Seja por que razão for (raiva ou convicção), os que à direita dão a mão ao Chega para o normalizar estão simultaneamente a passar para o lado de lá e a abdicar da identidade republicana da direita.
Os imóveis da segurança social não são instrumento da política de habitação nacional, muito menos da política de habitação de uma autarquia. É comprar um Ferrari para ajudar no problema do transporte.
Há que evitar a alteração dos programas de História para que lá caibam as matérias e as versões que os activistas querem que sejam ensinadas (e para que se suprimam outras, que eles detestam).
Para um partido como o CDS, defensor e fundador da Democracia Liberal, esta deriva, que é democrata na medida em que é populista, mas é iliberal na medida em que é intolerante, preocupa. Muito.
Acredito que chegou a hora de confiar e descentralizar a decisão de recrutamento de professores, revendo o atual modelo centralista, cada vez mais ultrapassado.
Dos testemunhos dos sobreviventes, retenho um: “Eis que um dos guardas me olha, com um sorriso de crueldade que jamais esquecerei, e me diz: «Vês o fumo a sair daquela chaminé? É a tua família.»”
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