terça-feira, 20 de novembro de 2018

Elisabete Miranda
ELISABETE MIRANDA
JORNALISTA
 
Quem não morre herói, vira vilão
20 de Novembro de 2018
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Esta segunda-feira o meio empresarial mundial assistiu, “boquiaberto”, à queda de mais um dos seus mitos: Carlos Ghosn, o arquiteto da aliança entre a Nissan e a Renault, foi preso no Japão por suspeitas de desvios de fundos e de fraude fiscal.

A notícia faz capa de vários jornais internacionais, do El Pais, ao La Vanguardia, do Le Monde ao Les Echos, do Financial Times ao New York Times, onde a notícia ainda mal digerida é acompanhada de evocações da sua capacidade de trabalho (desdobrava-se entre as funções de chairman da Nissan, presidente executivo da Renault, e chairman da Mitsubishi), do seu génio e da sua racionalidade e frieza.

Nascido no Brasil no seio de uma família libanesa e educado em universidades francesas, Carlos Ghosn era adulado no Japão (onde foi transformado em herói de uma banda desenhada), recebido com honras de Estado no México, em Marrocos, na Rússia e no Brasil (segundo o Le Monde), e enaltecido pela comunicação social como uma figura impar na constelação empresarial. A sua excecionalidade granjeou-lhe vários epítetos – foi chamado de “Samurai”, “Imperador”, "Mr. Fix It", “Cost-Killer” – e, por isso, na hora da sua queda, não faltam trocadilhos com os superlativos que foi acumulando ao longo da vida.

No meio de sentimentos de “desespero, frustração, indignação e raiva”, o presidente executivo da Nissan, diz que, no futuro, vai garantir que a empresa “não fique tão dependente de uma só figura”. Afinal, os superheróis só existem mesmo na banda desenhada, e mesmo aí, "os que não morrem heróis, acabam por virar vilões".
 
Future
 
  
O jovem prodígio que transformou o cubo de Rubik numa consola de videojogos
Com uma idade em que a maioria das crianças pensa apenas em conseguir acabar os estudos, Savva é um perito em desenvolvimento de software e um engenhoso inventor que se presume ter desenhado a primeira consola portátil de videojogos que se pode girar como se fosse um cubo de Rubik, para mudar o seu conteúdo.
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OUTRAS NOTÍCIAS
Uma tragédia anunciada ou um acidente imprevisível? Uma antiga estrada de paralelos que liga Borba a Vila Viçosa, ladeada por duas pedreiras, uma ativa, outra inativa, aluiu esta segunda-feira, arrastando consigo um número ainda indeterminado de pessoas. Para já, estão confirmadas duas vítimas mortais, que trabalhavam numa retroescavadora, mas testemunhos oculares dizem que há pelo menos mais dois carros, com pelo menos duas pessoas dentro, que ficaram sem chão e acabaram engolidas pela lama.

As imagens aéreas mostram uma estrada com as suas margens esventradas pelas escavações das pedreiras, mas o presidente da câmara de Borba garante que, à luz das últimas informações de que dispunha,“a situação estava perfeitamente segura” e as “pedreiras estavam licenciadas” pelo Ministério da Economia.

Já para os moradores da região, esta era uma tragédia anunciada desde pelo menos 2015, altura em que um jornal da região lançou o alerta.

Ao nascer do dia as equipas técnicas tinham agendada uma reunião para avaliar as manobras que podem ser levadas a cabo para continuar as operações de resgate, num terreno instável, onde, segundo as autoridades, um passo em falso pode fazer novas vítimas.

Hoje é dia Internacional dos Direitos das Crianças, e o Público assinala a efeméride lembrando que, em Portugal, o meio em que se nasce continua a ser determinante para o percurso de vida que se tem. É um jogo de sorte e azar, como lhe chama a demógrafa Maria João Valente Rosa, que não tem merecido suficiente atenção dos poderes públicos. Não por acaso, Portugal está entre os países com menos mobilidade social, ou, dito de outro modo, onde o filho de um pobre tem mais dificuldade em chegar a rico.

Os juízes dão início a 21 dias de greve intermitente, que se estenderão entre este ano e o próximo, para forçar ajustamentos à proposta de estatuto dos juízes e alterações remuneratórias. Em conversa com o Expresso, o presidente da Associação Sindical de Juízes reconhece que o protesto cria um ambiente de crispação indesejável, mas garante que o Governo não lhes deixou saída.

A tourada continua a marcar o debate político, com a Prótoiro - Federação Portuguesa de Tauromaquia :- a pedir uma audiência ao Presidente da República, para lhe pedir que os defenda do que consideram ser um ataque à Constituição da República, escreve o Público. O tema já ocupou sozinho mais espaço de debate e comentário do que as 300 páginas de proposta de orçamento do Estado mais as 1000 propostas de alteração juntas, dividiu o PS e o Governo e já chegou à quadratura do círculo, onde se debateu se estamos perante uma questão de “arrogância cultural” do Governo.
Por falar nisso, Manuel Alegre voltou este fim de semana a sair em defesa das touradas, mas desta vez para dizer que “quem não percebe a corrida também não percebe a poesia, não percebe a literatura”.

De crise em crise, passamos para o Brexit, onde, do lado europeu, as mais de 500 páginas que formalizam o divórcio entre o Reino Unido e a União Europeia estarão prontas a serem ratificadas no próximo domingoapesar de ainda haver algumas pontas soltas como Gibraltar (que Espanha quer negociar diretamente com Londres, à margem do Brexit) por resolver. O sinal de unidade que os 27 tentaram passar contrasta com a divisão interna que Theresa May enfrenta. James Corbyn já veio dizer que “se a primeira-ministra é incapaz de negociar um acordo que consiga ganhar uma maioria no Parlamento e funcionar para o país todo, o plano alternativo do 'Labour' pode e deve tomar o seu lugar".

No Brasil, enquanto Dilma Rousseff promete alianças até com o diabo para derrubar o governo “neofascista” de Jair Bolsonaro, a justiça desfere mais um golpe no PT, acusando Fernando Haddad de corrupção passiva e de lavagem de dinheiro. As suspeitas remontam a 2012, altura em que a UTC, uma empresa de construção civil, terá pago a uma gráfica dívidas da campanha de 2012 à prefeitura de São Paulo. Jair Bolsonaro, por seu turno, em conversa com os jornalistas após uma chamada telefónica a Victor Órban, descreveu os húngaros como "um povo que sabe o que é ditadura", por contraposição ao "povo brasileiro não sabe o que é ditadura aqui ainda".


Na Califórnia, uma nova contabilidade dos incêndios eleva o número de mortos para 79 e dá conta da existência de 700 desaparecidos. Os bombeiros, que contam que as primeiras chuvas comecem a cair esta quarta-feira, apenas esperam ter o fogo controlado no final do mês.
FRASES
Discute-se touradas como se fosse uma questão de "civilização" ou de "liberdade", mas evita-se fazer a definitiva pega de cernelha: que política de cultura se quer para Portugal? Fernando Sobral, no Negócios

"Na primeira ocasião em que haja a oportunidade de ser convidado para ir a Angola - porque, como sabe, a casamentos e batizados não se vai se não convidado -, ir a Angola para mim era ao mesmo tempo um grande casamento, um grande batizado, era uma grande festa. 'Ti Celito'perdãoMarcelo Rebelo de Sousa

Nós, cientistas, estamos a chegar gradualmente a um ponto em que poderemos dar uma resposta verdadeira àquilo que os teólogos fingem compreender. Peter Atkins, professor de Química da Universidade de Oxfordem entrevista ao Público

“A maioria parlamentar PS-Bloco-PCP responde global e solidariamente por toda a governação e pelo seu balanço. A “geringonça” (…) radicou-se, institucionalizou-se, entranhou-se.” Paulo Rangel, no Público

"O juiz que julgou e condenou Lula transformou-se em ministro de Justiça. Então, ou o rei ficou nu ou há batom nessa cueca", Dilma Rousseff

O QUE ANDO A LER
1. Guiada pelo bom gosto literário do Celso Filipe, estou mesmo a chegar ao fim de A consciência de Zeno, de Italo Svevo, um livro que conta a história de um homem que, chegado à idade madura, resolve consultar um psicanalista para tentar curar-se das inquietações que ao longo dos anos perturbaram a sua tranquila existência burguesa.

Filho único de um comerciante abastado de Trieste e dono de uma personalidade hesitante, Zeno Cozini (a personagem) cursou entre Química e Direito, sem nunca ter exercido nenhum, herdou uma fortuna que não era competente para gerir e casou-se com uma mulher que não escolheu - mas agradeceu. Hipocondríaco, entediado com a vida e aterrorizado com a morte, oscila com demasiada facilidade entre os prazeres mundanos e o remorso, dramatizando o significado de todas as suas escolhas.

O psicanalista – identificado no livro como "Doutor S." – desafia-o a escrever uma autobiografia como um passo natural para a cura, e sugere-lhe que comece o relato pelo maior dos seus vícios – o cigarro. E é assim que o fumo acaba por nos conduzir por uma narrativa cativante, que faz a crítica social à burguesia do centro da Europa na dobra do século XIX para o século XX, e uma abordagem bem disposta à psicanálise, que na altura começava a afirmar-se.
António Lobo Antunes, que prefacia a edição da dom Quixote, resume-o assim: “Parece desajeitado mas não é, descuidado e nada tem disso, dá a sensação que o autor vai tropeçar em si mesmo e não tropeça nunca”. Para quem ainda não leu, está lançado isco.

2. O que é uma empresa e que interesses serve? Há uns anos, a teoria dominante daria uma resposta perentória garantindo que as empresas existem para criar valor para os acionistas e tudo o que se desviasse dessa preocupação seria má gestão. Hoje em dia, contudo, depois de termos passado por uma crise financeira que mostrou as complexas interdependências entre o privado e o público, ganharam predominância as teorias que defendem que os modelos de gestão centrados no valor para o acionista têm de ser substituídos por outros que garantam preocupações de sustentabilidade a longo prazo e integre interesses sociais mais amplos.

Em “A Better Future for Corporate Governance: Democratising Corporations for their Long-Term Success”, um grupo de académicos britânico analisou criticamente o estado da arte para concluir que, apesar do caminho que se fez na área da responsabilidade social e do governo das sociedades, na prática, os gestores continuam sobretudo preocupados nos resultados de curto prazo e em distribuir dividendos aos acionistas. Isto, em prejuízo do bem-estar dos seus trabalhadores, do investimento, da investigação e desenvolvimento, da qualidade dos produtos oferecidos, das boas práticas comerciais.
O trabalho, encomendado pelo Partido Trabalhista de James Corbyn, que no Reino Unido já espreita a oportunidade de novas eleições, avança com um conjunto alargado de propostas para democratizar as empresas e melhorar a sua relação com a sociedade. Citando os exemplos da Áustria, Croácia, Dinamarca, França, Alemanha, Holanda, Noruega e Suécia, tudo países onde os trabalhadores têm alguma forma de representação nas decisões da empresa (tendo assento ou na administração ou nos conselhos de supervisão), os autores defendem quetodas as grandes sociedades passem obrigatoriamente a ter trabalhadores e também cidadãos e consumidores nos seus conselhos de administração, em pé de igualdade com os administradores designados pelos acionistas.

O que acha, caro leitor? Sendo parte interessada no que por aqui vamos produzindo, estaria preparado para ser administrador do grupo Impresa?
Enquanto pesa os prós e os contras de uma proposta tão arrojada, vá passando por cá. Encontra-nos com atualizações permanentes da atualidade no Expresso online e no Expresso Economia, no Tribuna, no Blitz e no Vida Extra.
Às 18H00 fazemos-lhe uma súmula do que de mais importante de passou no dia no Expresso Diário.
Tenha uma boa terça-feira.
 

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