Independência de Portugal
Em terras de Portugal habitavam em tempos remotos diversos povos : celtas, iberos, lusitanos (autóctones), romanos e árabes (invasores). Da sua presença existem inúmeros vestígios arqueológicos. Deles restam também termos linguísticos que se mantêm vivos no português dos nossos dias.
No início do século VIII existia já uma identidade nacional consequente dos valores cristãos adotados pelas populações residentes. É essa consciência que, a par de interesses de certos senhores feudais, dá inicio à conquista, de norte para sul, dos territórios ocupados pelos árabes (Mouros). [1] [2]
Índice
A Reconquista e o Condado[editar | editar código-fonte]
Foi rápida a ocupação muçulmana da Península Ibérica no ano 711 d.C., e a reconquista pelos visigodos foi mais lenta. A rapidez da conquista moura e árabe deveu-se à cavalaria superior e ao facto de os visigodos serem os únicos a ter permissão de uso de armas. Muitas cidades não ofereceram resistência. Este processo gradual originou o nascimento de pequenos reinos que iam sendo alargados à medida que a reconquista era bem sucedida. Primeiro, o Reino da Galiza, que viria a dividir-se entre os filhos de Afonso III da Galiza quando morreu. Assim nasciam os reinos de Leão e, mais tarde, de Navarra e Aragão, Portugal e de Castela.
Alguns anos mais tarde, em 1096, descontente com as políticas bélicas do conde Raimundo de Borgonha, o rei Afonso VI de Leão e Castela entrega o governo do Condado Portucalense a um primo de Raimundo, o conde D. Henrique de Borgonha, juntamente com a sua outra filha, a infanta D. Teresa, passando Henrique a ser conde de Portucale.
A formação do Reino[editar | editar código-fonte]
Deste condado, nasceria o reino de Portugal. D. Henrique governou no sentido de conseguir uma completa autonomia para o seu condado e deixou uma terra portucalense muito mais livre do que aquela que recebera. Aquando a morte de D. Henrique (1112), sucede-lhe a viúva deste, D. Teresa, no governo do condado durante a menoridade do seu filho Afonso Henriques de Borgonha. Inicialmente, o pensamento de D. Teresa foi idêntico ao do seu marido: fortalecer a vida portucalense, conseguir a independência para o condado. D. Teresa começou (1121) a intitular-se rainha, mas os muitos conflitos diplomáticos e a influência que concedeu a alguns nobres galegos (principalmente a Fernão Peres) na gerência dos negócios públicos prejudicou o seu esforço de tal maneira a que D. Teresa foi obrigada a abdicar das suas pretensões, e mudar de política.
Aos catorze anos de idade (1125), o jovem Afonso Henriques, com o apoio da nobreza portuguesa da época, arma-se a si próprio cavaleiro – segundo o costume dos reis – tornando-se assim guerreiro independente. A posição de favoritismo em relação aos nobres galegos e a indiferença para com os fidalgos e eclesiásticos portucalenses por parte de sua mãe, D. Teresa, originou a revolta destes, sob chefia do seu filho, D. Afonso Henriques.
A luta entre D. Afonso Henriques e sua mãe desenrola-se, até que a 24 de Junho de 1128 se trava a batalha de São Mamede (em Guimarães) e D. Teresa é expulsa da terra que dirigira durante 15 anos. Uma vez vencida, D. Afonso Henriques toma conta do condado, declarando-o reino independente, dado que ele era neto de Afonso VI, Imperador de toda a Hispânia, passando a assinar todos os documentos oficiais não como conde, mas sim como rei.
Continuou, no entanto, a lutar contra as forças do seu primo, o rei Afonso VII de Leão e Castela(inconformado com a perda das terras portuguesas, pois à semelhança de seu avô, Afonso VI, ele também se intitulava como Imperador), enquanto paralelamente travava lutas contra os muçulmanos. Em 1139, depois de uma estrondosa vitória na batalha de Ourique contra um forte contingente mouro, D. Afonso Henriques afirma-se como rei de Portugal, e com o apoio dos nobres portugueses, é aclamado como rei soberano.
Nascia, pois, em 1139, o Reino de Portugal e a sua primeira dinastia e Casa Real: os Borgonha. D. Afonso Henriques, torna-se rei, o rei Afonso I de Portugal.
O reconhecimento e a consolidação do Reino de Portugal[editar | editar código-fonte]
Contudo, o estatuto de independência carecia de reconhecimento, e foi no Torneio de Valdevez ou Recontro de Valdevez nas margens do rio Vez, em Arcos de Valdevez, que D. Afonso Henriques, após a vitória na Batalha de Ourique (1139), rompeu a paz de Tui (1137) e invadiu a Galiza. Em resposta, as forças de Afonso VII de Leão e Castela entraram em terras portuguesas, arrasando os castelos à sua passagem, e desceram as montanhas do Soajo em direção a Valdevez.
Para evitar a batalha campal, foram selecionados os melhores cavaleiros de ambos os lados para lutarem entre si num torneio ou justa, conforme o uso na Idade Média. A sorte das armas pendeu para o lado português, tendo os cavaleiros leoneses ficado detidos, conforme o código da cavalaria medieval.
Com a vitória dos seus cavaleiros no Recontro de Valdevez, Afonso Henriques aproveitou as boas graças da Igreja, e, por intermédio do Arcebispo de Braga, D. João Peculiar, fez com que o Papa Inocêncio II aceitasse a sua vassalagem contra o pagamento de um censo (quantia que os reis pagavam ao Papa) de quatro onças de ouro por ano.
O Arcebispo enviou depois o Cardeal Guido de Vico junto de Afonso VII, obtendo deste, no tratado de Samora (Zamora), o título de rei que D. Afonso Henriques passou a usar, no papel, e de facto e de direito a 5 de Outubro de 1143, data em que o rei Afonso VII assinou o Tratado de Zamora, que assinalaria a separação entre os reinos. Desde então, D. Afonso Henriques (Afonso I) procurou consolidar a independência por si declarada. Fez importantes doações à Igreja e fundou diversos conventos. Dirigiu-se ao papa Inocêncio II e declarou Portugal tributário da Santa Sé, tendo reclamado para a nova monarquia a proteção pontifícia. Em 1179 o papa Alexandre III, através da Bula Manifestis Probatum, confirma e reconhece a Portugal como reino independente e soberano protegido pela Igreja Católica.
Na continuação das conquistas procurou também terreno ao sul, povoado, até então, por mouros. Após ver malograda a primeira tentativa de conquistar Lisboa em 1142, conquista-a em 24 de Outubro de 1147, após conquistar Santarém no dia 15 de março, com o auxílio de uma poderosa esquadra com 160 navios e um contingente de 12 a 13 mil cruzados que se dirigiam para a Terra Santa.
Ver também[editar | editar código-fonte]
Bibliografia[editar | editar código-fonte]
- ARCO Y GARAY, Ricardo del. Sepulcros de la Casa Real de Castilla (em espanhol). Madrid: Instituto Jerónimo Zurita. Consejo Superior de Investigaciones Científicas, 1954.OCLC 458504262
- MARTIN, George. (Dezembro 2010). "Hilando un reino. Alfonso VI y las mujeres" (em espanhol). e-Spania. Revue interdisciplinaire d'etudes hispaniques médievales e modernes (10). Paris: Sorbonne Université. ISSN 1133-1240.
- MARTÍNEZ DIEZ, Gonzalo. Alfonso VI: señor del Cid, conquistador de Toledo (em espanhol). Madrid: Temas de Hoy, 2003. ISBN 978-84-8460-251-4
- Pallares Méndez, María del Carmen; Portela, Ermelindo. La Reina Urraca (em espanhol). San Sebastián: Nerea, Seria media, 21, 2006. ISBN 978-84-96431-18-8
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