NO RASTO DAS CRIANÇAS AÇORIANAS O seu jornal está nas bancas. Em alternativa também o pode ler em versão digital, mas para mim nunca será a mesma coisa. Nesta edição tem o melhor exemplo disso. A E, a revista do Expresso, tem as honras de abertura deste Expresso Curto.
Há histórias que depois de contadas têm de ser lidas pelo folhear de páginas impressas. Só assim conseguirá absorver toda a extensão e impacto das palavras e imagens. Esta é uma delas.
Durante anos, entre a década de 40 e os primeiros anos da década de 80,
centenas de crianças foram levadas da ilha Terceira por militares americanos. A base da Lajes chegou a ter seis mil efetivos que com eles traziam mais do que dólares. Nas malas carregavam esperança e o sonho de uma vida melhor. Entre as histórias que contamos no Expresso não há uma igual mas todas partiam da mesma pobreza que atirava crianças para os braços de outra mãe ou o colo de outro pai. Eram tempos diferentes, com leis escassas e incapazes de proteger estas situações. A grande maioria das crianças saiu sem papéis legais de adoção, em aviões militares, num anonimato quebrado apenas por fotografias a preto branco que muitas carregam ainda hoje como tesouros. Décadas depois
há alguns reencontros, possíveis pela coragem e empenho de um polícia da Terceira (Paulo Ormonde), e muitas lágrimas. Iguais às que não vai conseguir conter ao ler este trabalho fantástico publicado pelo Expresso.
Mas há mais para ler no Expresso.
SHAKESPEARE E A ECONOMIA Ainda na E não perca um
texto fantástico de João Duque. O professor de Economia explica como é possível estudar finanças com base na peça “O Mercador de Veneza”, de William Shakespeare. Delicioso.
KERSHAW EM ENTREVISTA O historiador inglês e biógrafo de Hitler,
Ian Kershaw, fala sobre o passado e o futuro da Europa. Deixo como degustação duas perguntas e respetivas respostas.
“P: Acha que o ‘Brexit’ vai mesmo acontecer?
R: Acho que sim, infelizmente. Lamento imenso esta decisão de 2016. Quem me dera que fosse possível manter o Reino Unido dentro da União Europeia. Mas a inversão do processo do referendo abriria a porta a inúmeros problemas políticos.
P: A repetição do referendo seria, sobretudo, uma atitude muito pouco britânica, não acha?
R: Concordo consigo. Mas se não podemos ficar na União, espero que ao menos a solução passe por um modelo próximo dos [modelos] da Noruega ou da Suíça. Manteríamos os benefícios do acesso ao mercado comum. Na década de 80, curiosamente, o Reino Unido lutou imenso pela criação do mercado único. No famoso (ou tristemente célebre) discurso de Bruges, em 1988, a primeira-ministra Thatcher diz, no fundo, que o nosso futuro é na Europa.”
CENTENO DESILUDE Para fechar as minhas sugestões da E,
um texto sobre o “Ronaldo das Finanças”, que desde que assumiu a presidência do Eurogrupo tem defraudado as expectativas e está longe de brilhar. Ou como diz o correspondente do "El Mundo" em Bruxelas: “Tenho a impressão de que ele nunca diz o que pensa sobre tema nenhum.”
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