segunda-feira, 22 de outubro de 2018

EXPRESSO CURTO

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Pedro Cordeiro
PEDRO CORDEIRO
EDITOR DA SECÇÃO INTERNACIONAL
 
Paz fria
22 de Outubro de 2018
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Bom dia e boa semana.

Dentro de dias os Estados Unidos da América vão anunciar à Rússia que abandonam o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário. Assinado em 1987 pelo Presidente americano Ronald Reagan e Mikhail Gorbachev, então líder da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, o tratado proíbe todos os mísseis nucleares e não nucleares de curto e médio alcance, exceto os que são lançados do mar. Ao abrigo deste documento, ratificado em plena Guerra Fria, foram destruídos 2692 mísseis com alcances entre os 500 e os 5500 quilómetros. Agora, porém, o Presidente Donald Trump quer rasgar o tratado, conta “The New York Times”. Não quererá, explica a BBC, que os russos “andem a arranjar armas [enquanto] nós não podemos”.

O jornal explica que a administração Trump considera que os russos andam a violar o acordo desde pelo menos 2014 (acusação que não é nova e já foi feita na direção oposta) e disponibiliza uma análise do Departamento da Defesa sobre esta questão. Os americanos afirmam que o míssil de médio alcance russo Novator 9M729, que permitiria atacar países membros da NATO, é um exemplo de tais quebras do pacto.

Terá sido por recear suscitar uma corrida às armas que Barack Obama não denunciou o tratado, preocupação partilhada por vários países europeus, com a Alemanha à cabeça. Mas a decisão — que ainda não foi formalizada — também estará associada ao domínio crescente da China no Pacífico Ocidental. Trump abriu, ainda assim, a porta a uma renegociação deste ou de outro tratado: “Teremos de desenvolver armas dessas, a não ser que a Rússia venha ter connosco e a China venha ter connosco e todos venham ter connosco e digam: ‘vamos ser inteligentes e nenhum de nós vai desenvolver armas dessas’”.

A rescisão não é bem vista em Moscovo, tendo o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo usado a palavra “chantagem” para qualificá-la. Sergei Ryabkov, citado pelo “Politico”, refere “um passo muito perigoso” num assunto “que tem importância para a segurança internacional e na esfera das armas nucleares e na manutenção da estabilidade estratégica”. O governante russo enquadra este gesto numa tendência “desajeitada e cruel” que deteta em Washington e promete “medidas de retaliação, incluindo o desenvolvimento de tecnologia militar”. Vladimir Putin espera satisfações do conselheiro de segurança nacional de Trump, o “falcão” John Bolton, que visita a Rússia esta semana. A verdade, contudo, é que há 11 anos foi o Presidente russo quem deplorou o tratado, reagindo à decisão de George W. Bush de abandonar outro documento similar, o Tratado Anti-Mísseis Balísticos.

Gorbachev, um dos signatários do tratado agora em causa, pensa que Trump está a cometer “um erro”. “Em nenhuma circunstância devemos rasgar os velhos acordos de desarmamento… em Washington não compreendem onde isso pode conduzir?”, interrogou o homem que ajudou a derrubar o comunismo na antiga URSS, em declarações à agência Interfax. Um porta-voz do Governo alemão também “lamentou” a decisão de Trump e pediu um debate na NATO. A única voz proeminente no concerto das nações a dar uma mão a Washington foi, como é hábito, o Reino Unido.

Entre um cheirinho a anos 30 e uma pitada de Guerra Fria, assim vai o mundo. Mas, para pormos as coisas no lugar, estamos melhor do que nunca. Por muito que tenhamos dificuldade em reconhecê-lo.
 
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NOTÍCIAS DE CÁ

Em Portugal continua-se a escandir o orçamento de Estado e a recente remodelação governamental. O “Observador” analisa os desafios que esperam João Galamba, novo secretário de Estado da Energia, que passam em grande medida por assuntos em que o seu antecessor, Jorge Seguro Sanches, enfrentou os interesses de grandes firmas como a EDP. Outra dor de cabeça será a nomeação de um administrador da ERSE (entidade reguladora do sector): como explicam no Expresso a Rosa Pedroso Lima e a Mariana Lima Cunha, a esquerda vai ajudar a chumbar o nome proposto pelo PS, um deputado da sua própria bancada.

Já quanto ao último orçamento da legislatura, soube-se este fim de semana que o PSD vai votar contra e o BE a favor. Já era sabido que o PAN vai dar luz verde ao documento, como o PS, e que o CDS o chumbará. O PCP ainda não anunciou formalmente o seu sentido de voto, mas a insistência na hashtag #marcasdopcp nas redes sociais, a reivindicar a autoria de muitos melhoramentos ao OE, faz adivinhar um “sim”. No Expresso, Ricardo costa traça o balanço da legislatura. Já Bruxelas quer mais consolidação.

Sobre remodelação e orçamento, vale a pena revisitar as duas-edições-duas (uma ordinária, outra extra) do podcast de política do Expresso, a Comissão Política, emitidos. Os mesmos assuntos foram ontem analisados no Governo Sombra, que gosto sempre de ouvir.

O que não desaparece (e ainda bem, até esclarecimento cabal) é o caso de Tancos. Azeredo Lopes e Rovisco Duarte já não moram cá, mas Marcelo Rebelo de Sousa está em todo o lado. O Presidente voltou a falar deste tema, para jurar desconhecimento do alegado encobrimento ao roubo das armas e exigir “toda a verdade, doa a quem doer”. A edição semanal do Expresso de anteontem chama o assunto à manchete e revela na íntegra o memorando secreto que compromete o ex-ministro da Defesa. No “Público”, Vicente Jorge Silva defende que o primeiro-ministro não pode mascarar as responsabilidades políticas evidentesque há em tudo isto.

O ex-Presidente Cavaco Silva lança na quarta-feira “Quinta-feira e Outros dias: Da Coligação à Geringonça, segunda parte de um livro que escreveu após sair de Belém. O “Público” pré-publica um capítulo sobre a nomeação de Joana Marques Vidal para procuradora-geral da República. Mas a obra promete tiradas sobre a demissão “irrevogável” de Paulo Portas em 2013 e o nascimento da hoje trivializada mas um dia insólita solução de governo encabeçada por António Costa.

O “Diário de Notícias” deixou de existir em papel há meses, mas não deixou de merecer ser lido. Hoje recomendo uma investigação sobre notícias falsas na Internet criadas em Portugal uma análise sobre a sua relação com o populismo.

Na frente desportiva, o fim de semana foi de Taça de Portugal e os três grandes saíram-se bem. O Sporting bateu o Loures por 2-1 no sábado, o Benfica deu três secos ao Sertanense e o Porto fez o dobro disso com o Vila Real. Os relatos são da Tribuna Expresso. Seguem-se as taças europeias. Na Liga dos Campeões, os azuis e brancos vão a Moscovo, quarta-feira, defrontar o Lokomotiv. Na véspera as águias visitam o Ajax em Amesterdão. Na quinta-feira os leões jogam em casa com os londrinos do Arsenal.
 

NOTÍCIAS DE LÁ

A campanha das presidenciais brasileiras entra na reta final, com Jair Bolsonaro a consolidar a vantagem nos estudos de opinião (59%-41%) sobre o adversário Fernando Haddad. Tem-se discutido se o candidato favorito a ocupar o Palácio do Planalto é fascista e, a esse respeito, gostaria de aconselhar este trabalho da Ana França e da Sofia Miguel Rosa, no Expresso. O ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso — que, para surpresa de muitos, não quis optar entre os dois finalistas — sente um aroma a fascismoem declarações recentes de um dos filhos de Bolsonaro (Eduardo, eleito deputado na primeira volta) sobre encerrar o Supremo Tribunal Federal. Já o pai desmente ter tal intenção. Nem este caso nem a difusão de mensagens anti-PT na aplicação WhatsApp, que gerou um pedido de impugnação da candidatura de Bolsonaro vindo de Haddad e Ciro Gomes (terceiro classificado na primeira volta), parecem travar a marcha do capitão jubilado rumo aos píncaros da política brasileira. A disputa polarizada levou o recatado escritor Raduan Nassar, prémio Camões em 2016, a tomar posição.

Bem menos rápida é a marcha do ‘Brexit’, atolado nas negociações com a UE e a esbarrar na fronteira da Irlanda. A primeira-ministra Theresa May vai hoje ao Parlamento assegurar que 95% do trabalho está feito, noticia “The Guardian”. Já “The Daily Telegraph” acha que os 5% que faltam podem custar o cargo à governante conservadora. Entretanto, sábado, mais de meio milhão de pessoas desfilaram por Londres a exigir novo referendo à saída da UE, conta “The Independent”.

assassínio com requintes de malvadez de Jamal Khashoggi continua a indignar o mundo, que exige a verdade ao regime do príncipe Mohammed bin Salman, com a Turquia a liderar as reivindicações. Riade já assumiu a morte do jornalista crítico do poder — que explica como um erro infeliz — e até o aliado Donald Trump já mudou de tom, dizendo-se agora “enganado” pelos sauditas.

Por fim, um vídeo repugnante: em pleno avião, um passageiro da Ryanair lança um chorrilho de insultos racistas sobre uma senhora com dificuldade em andar, dizendo não querê-la no lugar ao seu lado. A vítima deste ato vil nunca perde a compostura. Em vez de fazer como num anúncio pertinente de há anos ou de, como defenderam outros viajantes, expulsar o grunho do voo, a companhia aérea mudou a senhora de lugar. Shame on you.
 

MANCHETES DE HOJE

Jornal de Notícias: Casas de pobres da Igreja pagam imposto de luxo
Público: Tempestade Bolsonaro varre as ruas do Brasil
i: Carlos Carreiras “Sinto que não tenho capacidades para ser primeiro-ministro...”
Diário de Notícias: IGAI contra nova lei que permite a seguranças apalpar ao fazer a revista
Correio da Manhã: FC Porto antecipa 165 milhões em receitas
Negócios: Santa Casa já pagou mas ainda não entrou no Montepio
O Jornal Económico: “Podemos pagar mais dois mil milhões ao FMI ainda este ano” [diz o secretário de Estado Adjunto e das Finanças]
A Bola: Manuel Fernandes “Não vejo muito futebol, prefiro ler, fazer pilates e lutar boxe”
Record: Sousa Sintra “Jesus não voltou por um fio”
O Jogo: Yuran “O FC Porto vai ganhar”
 

O QUE ANDO A OUVIR


Dose dupla de música em português, ontem à noite, por efeito do furacão Leslie. No Coliseu, os 25 anos da Ala dos Namorados, com convidados como Shout, Carlão e João Gil. Agradável desfile de canções quase sempre encantadoras, com Nuno Guerreiro em forma, ainda que a voz não atinja alguns agudos de outrora. Vão ao Porto a 9 de novembro.

Mas a maravilha da noite estava reservada para a Altice Arena, onde os Tribalistas deram um show de antologia. Com produção cuidadíssima, entre vestes deslumbrantes, projeção vídeo e encenação; sem pejo em cantar por cima de um pequeno problema técnico na fase inicial da atuação; e com as vozes de Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown a declinar o repertório coletivo e alguns pedaços do individual, o concerto foi do melhor a que tenho assistido. Amanhã é no Coliseu da Invicta, quem tiver oportunidade que não perca!

ONDE ANDO A MERGULHAR


Na instalação Over Flow, de Tadashi Kawamata, que está até 1 de abril de 2019 no MAAT, em Belém. A proposta é submergirmo-nos no mar, o nosso, o de todos, aquele que todos ajudamos a matar, aquele de que tanto precisamos para viver. Esteticamente fascinante, eticamente interrogante, depois não digam que não avisei.

E por aqui termino, recordando que o Expresso e a SIC online estão sempre a atualizar a informação e que pode contar com o resumo do dia, às 18h, no Expresso Diário. Aproveite para ler o que lhe tiver escapado da edição semanal, nomeadamente a grande reportagem sobre os meninos sem infância da ilha Terceira, levados dos Açores pelos militares americanos da base das Lajes e separados de suas famílias. Poderão recuperar o passado? Desejo-vos, caros leitores, um presente feliz e um futuro melhor.
 
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