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RICARDO MARQUES
JORNALISTA
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Florence and the Geringonça
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“And I never wanted anything from you / Except everything you had / And what was left after that too, oh.”
Dog Days Are Over, Florence and the Machine
Há tempestades e tempestades. Algumas levam-nos a fugir a sete pés. Outras, nem por isso. Ao fim de um tempo é como se fizessem parte da mobília de casa.
Hoje é um bom dia para falar de ambas e bem provável que ouça falar bastante de ambas.
As que metem medo primeiro. Há duas a atravessar o mar e, juntas, vão afetar mais de 50 milhões de pessoas. A mais distante, o Mangkhut, está no Sudeste Asiático, a caminho das Filipinas, de Taiwan e da China. A outra chama-se Florence e é um furacão lento e violento que avança, a esta hora, em direcção à costa leste dos EUA - pode encontrar aqui várias ligações para acompanhar o trajeto da tempestade. O The New York Times tem a cobertura em tempo real.
O estado de emergência já foi declarado em várias regiões, milhões de pessoas em risco foram aconselhadas a abandonar as suas casas e, devido à forma lenta como o furacão parece mover-se, as autoridades norte-americanas temem que os efeitos do Florence durem vários dias. Prepare-se para imagens de ventos com velocidade superior a 200km/h, de chuva intensa e de muitas inundações.
“Um soco à Mike Tyson”, disse ontem um responsável da protecção civil, antevendo a chegada do furacão à costa. Apesar de ter diminuído de intensidade durante o dia de ontem, poucos têm dúvidas sobre o potencial destrutivo do Florence. Um monstro, como lhe chamou o governador da Carolina do Norte, Roy Cooper. Donald Trump já garantiu que as autoridades estão “absolutamente preparadas” para tudo.
O Guardian tem uma boa reportagem em Wilmington, Carolina do Norte, sobre aqueles que ficam para trás. Prateleiras vazias nos supermercados, uma corrida ao contraplacado necessário para proteger as janelas e as palavras do costume.
“Alguém tem de ficar para cuidar do que é nosso”, explicou um homem de 68 anos, Christian Endreson, que tinha quatro anos em 1954, quando o furacão Hazel atingiu os locais agora novamente ameaçados. Foi uma das tempestades mais violentas da história e é o termo de comparação para o Florence.
Meteorologicamente, 1954 foi um ano estranho. Lisboa, por exemplo, parou com um nevão em fevereiro, o que surpreendeu a jornalista americana Mary McCarthy. Numa carta dirigida à amiga Hannah Arendt ( que fui recuperar a um post com dois anos no blog Malomil), McCarthy contava que ela e o marido eram os “únicos hóspedes” de uma pensão perto do Chiado (mesmo) e traçava um curioso retrato do país:
“Por todo o lado, nos subúrbios, e até no centro da cidade, florescem projectos habitacionais que, devo dizê-lo, são melhores do que os nossos. Ainda nada sei sobre a situação política, Economicamente, é um país singular, com uma estranha mistura de prosperidade e de pobreza. As classes médias da cidade parecem ter alguma riqueza, mas não consigo perceber de onde ela vem.”
Fast-forward umas décadas, como dizem os americanos, e eis-nos a discutir a habitação, a riqueza e a riqueza que resulta da habitação. Da compra e venda dela, claro. Ou, na gíria nacional, do Método Roblesiano - o episódio mais recente da tempestuosa Geringonça que temos na sala cá de casa.
Ontem à noite, na SIC, João Galamba disse claramente que o PS vai votar contra a proposta do Bloco de Esquerda, que visa penalizar a especulação imobiliária, porque “não concorda com ela”. O líder parlamentar socialista, Carlos César, já tinha dito que o Governo "não está a negociar com o Bloco de Esquerda essa medida”. “Isso não é verdade”, afirmou. O ‘isso’, parece, é a garantia de Catarina Martins de que o Bloco está a discutir a proposta com Mário Centeno desde junho.
À direita, o CDS já disse ser contra a ideia e, ontem à noite, no Conselho Nacional do PSD (pode ler aqui a reportagem fresquinha), Rui Rio, que não afastou à partida a ideia bloquista, avançou uma espécie de progressividade fiscal: quanto mais tempo passar desde compra, menos imposto se paga na altura da venda.
Só o Ministério das Finanças é que ainda não disse absolutamente nada.
Pode acontecer que seja hoje. Ou amanhã. Ou sábado, quando chegar o mau tempo aos Açores.
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OUTRAS NOTÍCIAS
Enquanto esperamos, sugiro que avancemos para outros temas de que provavelmente vai ouvir falar nas próximas horas. E para mais alguns que podem dar bons tópicos de conversa.
Um bombeiro ficou ferido num incêndio que destruiu uma fábrica em Santo Tirso.
Começa daqui a pouco a reunião do Conselho de Ministros e o tema forte deverá ser a descentralização. Ao final da manhã, o Conselho de Finanças Públicas divulga o relatório da Execução Orçamental da Administração Local no primeiro semestre deste ano.
Não há nada melhor do que um bom ‘indicador’ antes do almoço …exceto um indicador melhor logo a seguir. Por isso, nada como esperar pelas duas e meia da tarde para ficar a conhecer as projeções macro-económicas do Banco Central Europeupara a zona euro. Até lá, pode ler no Expresso tudo o que o FMI tem a dizer sobre a economia portuguesa. É o habitual “está-bom-mas…” Comece por aqui e, qual detetive, vápuxando o fio da meada até chegar a esta, que fala dos maus ventos que sopram dos EUA.
A Polícia Judiciária, que ontem efetuou buscas na Câmara Municipal e na Casa Municipal da Cultura de Pedrógão Grande, promete ser rápida na conclusão do processoque investiga alegadas irregularidades na atribuição de verbas para a reconstrução de casas na zona atingida pelos incêndios de junho do ano passado.
Na altura, como revelou ontem o ministro do Planeamento e Infraestruturas, Pedro Marques, mais de 500 mil clientes ficaram sem comunicações. Hoje, garantiu o governante, ainda há 100 sem telefone.
Matemática e português. A propósito, e como deve ter reparado pelo aumento de trânsito um pouco por todo o país, as aulas já começaram. Pelo menos para alguns alunos. Outros ainda aproveitam os últimos dias de férias, antes de regressarem à escola. Estas são algumas das novidades que os esperam. Pelo menos até a escola encerrar, em outubro,devido à anunciada greve de professores motivada pela contagem do tempo de serviço. Marcelo Rebelo de Sousa já assumiu que terá uma palavra a dizer no conflito. O ministro Tiago Brandão Rodrigues foi entrevistadoontem na Rádio Renascença.
Outro assunto incontornável da atualidade é a questão dos abusos sexuais cometidos por membros da Igreja Católica e o seu encobrimento pela hierarquia da Igreja. A revista Der Spiegel publicou ontem os resultados preliminares de um estudo encomendado pela Conferência Episcopal Alemã e, como pode ler aqui, avança que 3677 crianças alemãs foram abusadas por 1670 clérigos entre 1946 e 2014.
Este será, por certo, um tema abordado quando o Papa Francisco se encontrar, esta manhã, com o líder da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos, cardeal Daniel DiNardo, que se desloca ao Vaticano para discutir a situação do antigo cardeal Theodore McCarrick, acusado de molestar sexualmente menores e adultos. Ontem, Francisco anunciouuma cimeira com todos os líderes das conferencias de bispos, a realizar em fevereiro do próximo ano, para discutir a protecção de crianças.
Vinte e quatro horas passadas sobre o discurso de Jean-Claude Juncker acerca do estado da União Europeia, pode encontrar aqui um resumo com as ideias-chave do presidente da Comissão Europeia.
Há 25 anos eram assinados os Acordos de Oslo e o mundo parou para ver o aperto de mão entre Rabin e Arafat. Só que a tão desejada paz nunca chegou realmente…
Na Europa, desenha-se aos poucos o esboço de uma ‘guerra’. A Hungria parece ter entrado definitivamente em rota de colisão com o resto da União. O Parlamento Europeu aprovou um relatório que prevê a suspensão de voto de um Estado-Membro. Os eurodeputados portugueses do PCP votaram contra, e o partido emitiu um comunicado a explicar porquê.
Em Espanha, a sessão parlamentar também foi animada, muito devido à discussão sobre a tese de licenciatura do primeiro-ministro Pedro Sánchez…
Por cá, o ministro da Defesa deu mais um precioso contributo para a já de si claríssima questão do furto de material de guerra em Tancos. "Continuo sem ter a certeza sobre se falta material ou se é uma falha de inventário. Não digo nem que não, porque não tenho elementos para validar qualquer das teses. E aguardo tranquilamente que o Ministério Público diga de sua justiça", afirmou Azeredo Lopes, o tranquilo ministro da Defesa que há mais de um ano se dedica ao esclarecimento público dos portugueses acerca de tudo o que diz respeito à defesa dos paióis de Tancos, palco, ou não, de um furto, ou não, de material, ou não…
Não se esqueça destes dois momentos às trêsda tarde
- O presidente executivo do conselho de administração da TAP, entrevistado há dias pelo Expresso, vai estar no Parlamento
- O ministro do Planeamento e Infraestruturas vai falar sobre comboiosno ciclo de debates preparatórios do Programa Nacional de Investimentos 2030
Agora, falemos de bicicletas. Pode acompanhar a prestação dos portugueses na Volta à Espanha aqui e, com um pouco mais de coragem, tentar acompanhar o que vai fazendo a equipa Sporting-Tavira na Volta a China.
Eis algo que já não volta: a partir de hoje, quando usar o telefone, vai deixar de ouvir o aviso que está a ligar para “um número que agora pertence à…”. Ou melhor, para continuar a ouvir vai ter de pedir à operadora.
Sim, mesmo se usar o 'novo' e gigante e caro iPhone, que a Apple apresentou ontem em três versões .
Quatro notícias rápidas, mas importantes
- Realiza-se hoje o funeral do antigo secretário-geral das Nações Unidas Kofi Annan, que morreu no dia 18 de agosto, aos 80 anos. António Guterres, atual secretário-geral, estará no Gana.
- Começam daqui a poucas horas as eleições primárias democratas no estado de Nova Iorque
- Há 12.800 crianças migrantes detidas nos Estados Unidos da América, revela o The New York Times. O número mais elevado de sempre
- A Food and Drug Administration considerou “epidémico” o uso de cigarros eletrónicos por parte dos jovens norte-americanos e deu um prazo de 60 dias para que os fabricantes e retalhistas tomem medidas destinadas a impedir a venda destes produtos a menores
Manchetes
Correio da Manhã: “Menores seduzidas na Net e violadas”
JN: “Universidades privadas crescem com inscrições de alunos estrangeiros”
i: “Novo vereador do BE não reconduziu a filha, escolhida por Robles”
Público: “FMI quer Governo a poupar mais com função pública e pensionistas”
Sábado: “O pirata que roubou os segredos do Benfica”
Visão: “O futuro dos empregos”
O QUE ANDO A LER
Comecei o livro mal acabaram as férias e, confesso, tenho lido tão depressa quanto consigo. Mais mérito do livro do que meu, claro. Chama-se “12 Regras para a Vida - Um Antídoto para o Caos”, de Jordan B. Peterson.
Tem todo o ar de livro de auto-ajuda e, convenhamos, no limite até podemos dizer que sim, que é um livro de auto-ajuda. Mas não é só. Aliás, é muito mais do que isso. Peterson, um psicólogo canadiano com uma aversão ao politicamente correto, é uma das estrelas da atualidade no meio literário mundial e “12 Regras…” é uma prova irrefutável.
Combinando pormenores da sua própria vidacom casos reais de pacientes, muitas histórias bíblicas e uma estranha obsessão com lagostas, Peterson leva-nos a refletir, acima de tudo, na nossa relação com os outros e com o complexo e malvado mundo que nos rodeia.
A propósito de complexidade e maldade e problemas, e enquanto não deito a mão ao mais recente livro de Yuval Noah Harari (uma estrela ainda maior do panorama literário global) “21 Lições para o Século XXI”, entretive-me ontem a ler a crítica de Bill Gates ao livro que o The New York Times publicou há dias. Como diz o fundador da Microsoft, mesmo quando não concordamos com Harari é difícil parar de ler.
Eis algo a que ambicionam todos os que escrevem.
Pode ler tudo sobre o mundo no site do Expresso a qualquer hora e mais um pouco no Expresso Diário, às seis da tarde.
Tenha um bom dia, e não um dia de cão.
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