EDRO SANTOS GUERREIRO
DIRETOR
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Ensina-se que tudo tens dois lados, que o mundo não se divide entre bons e maus, que a realidade não é preto e branco, que no meio está a virtude, que por um lado há sempre por outro lado. E depois aprende-se que há assuntos sobre os quais não pode haver relativização. Chame-lhe direitos humanos, se quiser, mas chame-lhe também política.
O mesmo Donald Trump que ordenou separar crianças dos seus pais na fronteira dos Estados Unidos com o México, e que disse estar apenas a aplicar a lei, afirma agora que o grito lançado contra ele “é uma distração” criada pelo partido Democrata. Sim, “distração”, disse ele, atacando Hillary Clinton.
Trump muda de assunto e tem milhões de apoiantes, como vão mostrando manifestaçõese estudos de opinião nos EUA. “A política cruel de Trump para as fronteiras criou uma crise desnecessária”, escreve Richard Wolffe no The Guardian. “Está longe de acabar”. Apesar do recuo, “não estamos prestes a ver uma política humana substituir uma política desumana”.
Sim, é “um recuo”, depois do choque e protesto. Os Estados Unidos vão deixar de separar crianças dos pais imigrantes na fronteira, mas a política de “tolerância zero” é para continuar. E um ministro de Trump recusou as comparações com os nazis da seguinte forma: “Na Alemanha eles queriam evitar que os judeus partissem”.
Nos Estados Unidos, foram usadas jaulas para crianças, que personalidades como Laura Ingraham, putativa secretária de Imprensa, desvendaram com gentilezas como esta: “no fundo, são campos de férias”.
“Mais de dois terços dos norte-americanos têm vergonha do que está a passar-se na fronteira sul com o México, onde cerca de duas mil crianças foram separadas dos pais, todos eles imigrantes ilegais, enquanto as autoridades processam as suas entradas”, conta o correspondente do Expresso nos Estados Unidos. “As imagens dos menores a dormir no chão em celas que mais se assemelham a jaulas foi a gota de água que fez transbordar um copo que se encheu aos poucos, fruto do paulatino endurecimento das políticas de integração.”
“Os norte-americanos foram confrontados com a ignomínia e obrigados a ver os rostos e a ouvir as vozes da crueldade do seu governo”, escreve Daniel Oliveira no Expresso Diário, que pede à esquerda e à direita que não se acobardem. “Querem derrotar Trump, Salvini e a AfD? A resposta é proteção social, emprego e regulação económica.”
Aqui ao lado, o “Aquarius” já zarpou de Valência para regressar às águas internacionais frente à Líbia, depois do acolhimento por Espanha daqueles que Itália recusou receber. O nosso continente está desunido e Pedro Sánchez já estabeleceu como prioridade reforçar a relação de Madrid com Paris e Berim, escreve o El Pais. O presidente do governo espanhol estará com Macron no sábado e com Merkel na próxima semana.
Como escreve Cristina Peres, “Angela Merkel é a diplomata do momento”: desde segunda-feira que a líder do país que mais migrantes e refugiados recebeu e recebe na União Europeia anda numa roda viva. “A tarefa é tentar convencer os líderes europeus a remendarem com ela os rasgões no tecido comum provocados pelas punhaladas dos eurocéticos”. Na Alemanha, “o ministro do Interior e parceiro de coligação mostrou que pode enfrentá-la, impondo-lhe um prazo desconfortável para que resolva a crise que mais divide os Estados-membros”.
“Como é possível não vermos e não temermos o abismo que se abre diante de nós?”, pergunta Henrique Monteiro. É possível que não o vejamos? Ou temamos? |
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OUTRAS NOTÍCIAS No debate quinzenal ontem no Parlamento, Jerónimo de Sousa e Heloísa Apolónia mostraram-se desconfiados da relação do Governo com o PSD: deles veio o tom mais duro com o Governo. O PEV quis saber se Costa contava com o PSD para aprovar as leis laborais; o PCP comparou o PS à coligação de direita e ao FMI.
Já o Bloco de Esquerda nem tocou nos temas complicados no debate quinzenal desta quarta-feira, um dia depois de se terem reunido com Costa por causa do orçamento. “António Costa teve uma tarde parlamentar facilitada pelo BE e pelo PSD”, analisa o editor do Expresso. O Bloco diz que a convergência com PCP foi importante, mas quer ser força de Governo em 2019.
António Costa rejeitou o desafio de Assunção Cristas para debater sobre Habitação. Depois de uma discussão acesa no Parlamento, a líder do CDS Cristas lançou o desafio, mas o primeiro-ministro foi seco na resposta: "Pode fazer o debate com as pessoas que têm sido vítimas da lei dela".
“Seria um suicídio o PSD inviabilizar o acordo de concertação social", defende José Silva Peneda, coordenador do partido para a área da Solidariedade, na Renascença.
Rui Nunes, o primeiro candidato a anunciar a candidatura à liderança da maior distrital do PSD, afirma que há “um clima de medo” junto dos militantes nas eleições da Distrital do PSD Porto, marcadas para 30 de junho.
Por dentro da queda da Mossack Fonseca. A investigação dos Panama Papers prossegue, com uma nova fuga de informação, com documentos recentes que revela como houve pânico e caos dentro da operadora de offshores depois da primeira vaga de notícias, em 2016.
O Turismo do Porto e Norte de Portugal, o Sporting de Braga e o Vitória de Guimarães foram alvo de buscas da Judiciária. Em causa estão suspeitas de corrupção envolvendo entidades e empresas que, nos últimos anos, realizaram contratos com o Turismo do Porto. Melchior Moreira, presidente do organismo, é um dos cinco arguidos.
Os procuradores que investigam Manuel Pinho e EDP sofrem nova derrota. O Tribunal da Relação pronunciou-se desta vez dando razão ao juiz de instrução criminal Ivo Rosa, que decidiu invalidar qualquer prova obtida com uma pesquisa informática abrangente no processo do Ministério Público sobre o BES.
A Altice vendeu as torres de telecomunicações de Portugal e de França por 2,5 mil milhões de euros. No caso português, são 2961 torres vendidas por 660 milhões de euros, ficando 75% na posse da Morgan Stanley Infrastructure Partners, onde participa o fundo português Horizon Equity Partners, de Pires de Lima e Sérgio Monteiro.
A CMVM enviou dez processos de investigação criminal para o Ministério Público em 2017. O regulador do mercado de capitais concluiu 20 processos de investigação no ano passado, a maioria relacionados com suspeitas de abuso de informação privilegiada. O relatório anual da CMVM foi ontem publicado.
“Para fazer um penico é preciso um estudo de impacto ambiental”, ironiza Fernando Carpinteiro Albino, gestor da marca Cereais do Alentejo, que se queixa da burocracia. E deixa o alerta: “O ano até acabou por ser de chuva, mas o problema da falta de água é estrutural”. Se nada for feito, vamos ter repetidamente problemas na agricultura. O
Lisboa saberá esta noite se será a "Capital Verde Europeia" em 2020. O DN explica a candidatura.
Lisa Marie Presley perdeu a fortuna: 85 milhões ficaram reduzidos a 12 mil euros. A filha de Elvis Presley apresentou queixa contra o ex-manager, alegando que este lhe esvaziou a conta.
Em Angola, João Lourenço exonerou três oficiais generais das casas de Segurança e Militar do Presidente da República. Um foi o tenente-general Leopoldino Fragoso do Nascimento (“Dino”), um dos maiores empresários do país e próximo de José Eduardo dos Santos.
Voltará a Grécia a financiar-se nos mercados? Mário Centeno espera que sim. Hoje, o Eurogrupo, que o ministro português preside, reúne-se no Luxemburgo para discutir um pacote de medidas que seja considerado “credível” pelos mercados financeiros, de modo a abrir caminho a uma saída “limpa” em agosto do terceiro resgate da Grécia.
A esclerose lateral amiotrófica, doença neurológica degenerativa rara e sem cura, afeta cerca de 800 pessoas em Portugal e 70 mil em todo o mundo. O Expresso relata aqui “O teorema da singularidade das mentes livres condenadas à prisão do corpo”
Trabalhou no Expresso, deixou-nos esta semana: Lucília Santos “vai fazer falta a muita gente”, escreve Francisco Pinto Balsemão, num texto de despedida.
Morreu Fernando Guedes, ex-presidente da Sogrape e um dos primeiros enólogos portugueses. Em homenagem, a AEP recorda “a figura de grande relevância de um dos maiores empresários portugueses das últimas décadas”.
No desporto, começamos pelo que não é desporto. A comissão de gestão do Sporting foi impedida de trabalhar em Alvalade. Segue-se queixa e auditoria às contas.
Os olhos estiveram no entanto durante a tarde de ontem na Rússia. Portugal ganhou 1-0 a Marrocos e a Tribuna Expresso, que está a acompanhar tudo do Mundial de Futebol, publica a informação, as crónicas e as contra-crónicas:
“Valeu-nos (outra vez) o nosso G.O.A.T.”, Ronaldo, ou como se explica aquele princípio de barbicha do jogador português. A seleção ganhou mas aflita, o que revelou alguns problemas: maus posicionamentos e demasiadas bolas longas na frente. Olhos ainda noutro jogador, “João Pequeno”. “Depois disto, ainda não percebi se precisamos da Susana Torres ou de um exorcista”, desabafou Um Azar do Kralj. Já Lá em Casa Mando Eu diz que“Pepe foi fintado na área e não espetou um pontapé nas trombas que iria parar com aquela brincadeira”. E Diogo Faro fala da “Segurança Social, o tajin marroquino, o Miguel Ângelo dos Delfins e as versões dos plágios de Tony Carreira”.
Dois outros jogos de ontem são importantes para Portugal. Espanha ganhou 1-0 ao Irão (A crónica: “O Diego Costa de sempre na vitória de duas caras da Espanha”.) E o Uruguai bateu a Arábia Saudita. (“Mais uma bola parada a decidir um jogo parado”.)
FRASES “A decisão de regressar à semana de 35 horas foi uma promessa política irresponsável que colocou em causa a prestação de cuidados de saúde”. João Vieira Pereira, no Expresso Diário.
“Fará sentido Portugal rejeitar alguns milhões de passageiros por ano porque o aeroporto de Lisboa, nomeadamente, tem a capacidade mais do que esgotada?” Pedro Santana Lopes, no Negócios.
“Somos dos países onde menos se lê: só compramos 1,3 livros por ano”. Francisco José Viegas, no Correio da Manhã.
“A cultura não evita guerras nem debela conflitos estruturais, mas acentua em todos nós a responsabilidade de sermos humanos e de fazermos dessa condição a ponte que nos permite evitar os caminhos de fogo, de medo e de cinza para os quais a vida e o mundo tantas vezes nos empurram sem remissão ou remédio”. José Jorge Letria, no DN.
O QUE EU ANDO A LER Numa daquelas banquinhas de pechinchas da Feira do Livro de Lisboa apanhei “Nostalgia do Absoluto”, um conjunto de textos de conferências de George Steiner proferidas 1974 (da Relógia d’Água). É um pequeno grande livro, que se lê de uma penada, que parte de uma premissa: a de que a erosão da teologia deixou o Ocidente seco de um sistema de pensamento que procurou substituir com outras “mitologias”.
“A história política e filosófica do Ocidente ao longo dos últimos 150 anos poderá ser vista como uma série de tentativas (…) de preenchimento do vazio central deixado pela erosão da teologia”, escreve Steiner, que desenvolve uma análise do marxismo e da psicanálise precisamente como “substitutos” com uma suposta mas não confirmada validação científica.
O livro, escrito pouco depois do 25 de abril, dá aliás o exemplo do nosso país: “Caso amanhã, ao abrirmos o jornal, descobríssemos que o golpe português tinha sido uma fraude, ou que fora, na realidade, financiado por sinistras forças da Direita, ou que estava a ser esmagado, ficaríamos tristes e amargurados”. Ao abrir o jornal, Steiner não se desiludiria.
Tenha um excelente dia. A primavera vai-se despedindo com calores de trovoada. |
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