Antes de irmos à praia e aos mergulhos “messiânicos” de Marcelo, deixe-me dar um salto ao Parlamento.
Apesar de ausente,
Mário Centeno foi o grande vencedor da sessão parlamentar do fim da tarde desta quinta-feira. Tanto barulho em torno do programa de estabilidade e afinal
todas as resoluções sobre o documento foram chumbadas. Com destaque para a do CDS, a mais contundente, que defendia, preto no branco, a rejeição do documento. Mas a política é mesmo assim, na hora da votação os críticos BE e PCP chumbaram a resolução dos centristas –
terão tido um daqueles episódios amnésicos?Não sei, mas o PSD fez questão de puxar-lhes pela memória.
Leitão Amaro sublinhou a incoerência de ver os partidos
“choramingar por algumas décimas” e na hora do voto “estão todos com esta consolidação orçamental”. Depois veio o conselho: os deputados do Bloco podem deixar de usar a
hastag #somostodoscenteno e optar por
#somosdecimasdecrocodilo ou
#afinalnovotosomostodoscenteno. Mota Soares acrescentou: “são contra as cativações mas depois votam os documentos que
mantêm essas cativações".
Pois, o que mais me espanta é que a
direita se mostre tão acossada. Acharam mesmo que ia nascer ali uma
crise política? É que se isso lhes passou pela cabeça, as coisas estão bem piores do que eu pensava. Enfim, encenações à parte, ao PS bastou-lhe uma frase simples para contrapor às construídas e acutilantes tiradas da direita. João Paulo Correia disse tudo:
a "geringonça está sólida”.
Pelo menos, até ao próximo embate.
Nem de propósito.
“Mais vale prevenir do que remediar”, Marcelo Rebelo de Sousa
explicou, de forma simples e eficaz, que era esta a mensagem que queria deixar no discurso do
25 de abril. Perante a ironia e as dúvidas de António Costa –
“é muito difícil interpretar a arte moderna e nem sempre é possível interpretar os discursos modernos"-,
Marcelo respondeu no mesmo tom: o discurso era tão claro que até um jovem com quem se cruzou num banho no mar o percebeu
. "Mais vale prevenir do que remediar"."Era mais ou menos o que eu queria dizer, olhando a outras experiências à volta de Portugal, pela Europa e no mundo". Nas entrelinhas da explicação, Marcelo parece deixar um aviso: as boas notícias da conjuntura e da governação não devem bastar e
podem mesmo acabar. Já que falamos de mar e de mergulhos, é preciso olhar o
horizonte – para lá das eleições - com todas as
cautelas.
Amor com amor se paga.
Vamos então às contas. Nas notícias do dia há a registar a
melhoria ligeira no primeiro trimestre do
défice orçamental. As finanças garantem que a execução orçamental está em linha com o previsto. Sem surpresas, o Conselho de Ministros aprovou o
fim do corte de 5% nos salários dos gabinetes, no entanto os membros do Executivo mantêm a redução salarial. Os pilotos da TAP vão ter um
aumento de 15% (mais a inflação) nos ordenados ao longo dos próximos 5 anos.
Também do Conselho de Ministros saíram
novas políticas para a habitação. Entre as novidades, o governo propõe um
arredamento vitalício para inquilinos com mais de 65 anos que vivam há mais de 25 na mesma casa. Esta alteração também se aplica a inquilinos que tenham um grau de incapacidade superior a 60%.Os proprietários já vieram contestar a medida que dizem ser
inconstitucional. Os jornais dedicam vários artigos ao assunto: o
Negócios explica que arrendar casas com hipoteca vai ser mais fácil, o pacote de habitação remove obstáculos ao arrendamento de casas com crédito. O
JN adianta que mais de metade dos despejos estão concentrados em Lisboa e no Porto e a principal razão é por falta de pagamento de renda. No
DN: PS estuda proposta para congelar despejos.
Por falar em casas.
Sabia que António Costa vai trocar São Bento pelo Terreiro do Paço? A falta de condições do palacete do chefe de Governo obriga à mudança dos gabinetes do PM até outubro. Já
Marcelo terá a sua residência particular em Cascais mais vigiada. O
Público escreve que a PSP andava preocupada com a “possível intrusão nos domicílios vizinhos” e conseguiu juntar videovigilância (duas câmaras) à vigilância física permanente.
Ainda no capítulo domicílio. Está de regresso a
polémica do Infarmed e já há uma ameaça de demissão. O
JN conta que a dois meses da entrega do relatório que vai determinar se o Infarmed muda ou não para o Porto, o presidente do Grupo de Trabalho, Henrique Luz Rodrigues pode bater com a porta. E porquê? Parece que o Conselho Diretivo e funcionários estão a colaborar muito pouco, aliás têm sido mesmo força de bloqueio na disponibilização de informação considerada relevante para se chegar a alguma conclusão.
Alguém tinha dúvidas que este é um processo mal feito desde o início?António Costa já entregou a
moção que vai levar ao Congresso de Maio e segundo a leitura dos jornais quase não fala da “geringonça”. No levantamento feito pelo
Observador, nas 31 páginas de texto, Costa só fala da solução de esquerda que lhe permitiu formar Governo em 2015 por
duas vezes e em ambas para fazer um elogio ao próprio PS. E nunca refere nenhum dos parceiros.
FRASES“A intensidade da violência contra seres humanos contida no decreto judicial do acórdão do Tribunal Constitucional (...) e em alguma da sua fundamentação forçam-me a protestar com a proporcional violência intelectual que esse decretamento merece”.
Eurico Reis demitiu-se do Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida em protesto contra o chumbo do Tribunal Constitucional à lei da gestação de substituição
“Não acho reprovável uma pessoa [Sócrates] viver com dinheiro emprestado”. Arons de Carvalho, fundados do PS, ao jornal i.
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