sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

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Valdemar Cruz
VALDEMAR CRUZ
JORNALISTA
 
A tentação do fio de Ariadne
9 de Fevereiro de 2018
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Nada como uma incursão na mitologia gregapara iniciar a jornada. No tempo de Ariadne, filha de Pasíafae e de Minos, soberano de Creta, não se falava ainda de trabalho à jorna, nem se discutiam leis do trabalho, mas sabia-se muito de paixões. Ariadne apaixona-se pelo Minotauro, um meio homem, meio touro, que ocupava o labirinto criado por Dédalos. A jovem perdida de amores oferece ao amado uma espada para o ajudar a lutar contra o monstro, e um fio, depois conhecido por fio de Ariadne, para não se perder no labirinto e encontrar o caminho para o exterior.

A esquerda portuguesa parece tentada a procurar uma Ariadne capaz de a ajudar a sair do labirinto em que podem transformar-se as relações entre PS, PCP e BE, como se percebe pelas discussões dos últimos dias e de ontem em particular sobre a revisão da legislação laboral. O ministro do trabalho, Vieira da Silva, não se compromete a procurar novos caminhos e assegura que serão feitas as mudanças na lei “em linha com aquilo que está comprometido no programa do Governo”. No essencial, a revogação do banco de horas, a diferenciação da TSU nas empresas com práticas de contratos a prazo, e a flexibilização da contratação coletiva.

Aqui bate o ponto e talvez seja aqui onde mais necessária será a intervenção de Ariadne. PCP e BE defendem a eliminação da caducidade da contratação coletiva. É, sustentam, um caminho para assegurar um maior equilíbrio de forças nas relações laborais, o que não sucede quando as entidades patronais denunciam unilateralmente os CCT e os trabalhadores acabam desprotegidos, numa relação desigual.

PSD e CDS exploram as contradições e não escondem a satisfação por perceberem no PS uma indisponibilidade para proceder a alterações de fundonaquela que foi, verdadeiramente, a única grande reforma daqueles dois partidos, escudados na Troika: a profunda revisão da legislação laboral, com uma intensa desvalorização do trabalho e uma enorme precarização do emprego. Portugal está hoje entre os países da União Europeia que mais usam os contratos a prazo, com uma taxa de 22%, contra os 15 a 16% da média.

Será tudo isto motivo para os acordos à esquerda se perderem num labirinto? Está demonstrada alguma vantagem real para a economia portuguesa decorrente das mudanças na lei laboral efetuadas nos anos PSD/CDS? Tem sentido a pressão de Bruxelas para reduzir o que apelida de excesso de proteção dos trabalhadores efetivos? António Costa responde “não” à última destas perguntas. Não acreditará num “sim” para a primeira, mas o que verdadeiramente importa é perceber como responderá o PS à questão do meio. Aquela que implica assumir um caminho. Com ou sem a ajuda de Ariadne.
 

OUTRAS NOTÍCIAS

Os juízes Rui Rangel e Fátima Galante estarão hoje de novo no Supremo Tribunal de Justiça para conhecerem as medidas de coação que lhes serão atribuídas. Convocados para serem ouvidos no âmbito da Operação Lex, os dois magistrados decidiram remeter-se ao silêncio em tribunal. Alegam a necessidade de mais tempo para consultar o processo em que são arguidos.

O dossiê de acompanhamento do processo que deu origem à Operação Fizz desapareceu quando o Departamento Central de Investigação e Ação Penal mudou de instalações, em 2015. Cândida Almeida estava à frente do DCIAP quando o procurador Orlando Figueira arquivou o processo que procurava determinar se eram lícitos os fundos usados por Manuel Vicente, ex-vice-presidente de Angola, para comprar um apartamento de luxo no Estoril

Pelos vistos somos bons no Futsal. A seleção portuguesa venceu a Rússia por 3-2 na meia-final do Campeonato da Europa, que está a ser disputado na Eslovénia. A final disputa-se amanhã e o adversário chama-se Espanha. A melhor classificação até agora obtida pela equipa portuguesa foi um segundo lugar, em 2010, na Hungria.

Hugo Figueiredo, ex-presidente da Público SAe ex-diretor de Marca e Comunicação da NOS será o novo administrador da RTP com o pelouro dos Conteúdos. Figueiredo ocupará vaga criada com a polémica não recondução de Nuno Artur Silva, justificada pelo Conselho Geral Independente da RTP com a "irresolução do conflito de interesses" entre a posição de Nuno Artur Silva como administrador da RTP e o facto de continuar proprietário, em simultâneo, da empresa Produções Fictícias. Está a circular um abaixo-assinado de contestação da decisão do CGI.

A Google assegura que o espaço que vai abrir em Oeiras para a Europa, Médio Oriente e África não será um 'call center', mas sim um centro de operações com vários serviços, nomeadamente financeiros.

O festival NOS Primavera Sound já mexe. Decorrerá no Parque da Cidade do Porto de 7 a 9 de junho e anuncia um cartaz com, entre muitos outros, Nick Cave & the Bad Seeds, Lord, Ar on Drugs ou Father John Misty.

A Raríssimas, Associação Nacional de Deficiências Mentais e Raras convocou para as 11 horas de hoje, em Lisboa, uma sessão de esclarecimento durante a qual a nova presidente, Sónia Margarida Laygue, falará sobre o futuro da instituição e a sua situação financeira.

LÁ FORA

Angela Merkl está a receber duras críticas de alguns setores do seu partido por ter atribuído a pasta das Finanças ao SPD. Jornais como o BILD e o Süddeutsche Zeitung criticaram com ironia as cedências da chanceler para conseguir um acordo de governo.

Os Jogos Olímpicos de InvernoPyeongchang2018 começam hoje na Coreia do Sul. A cerimónia de abertura não deverá ser o único chamariz de uns jogos que poderão juntar as duas Coreias. Pelo menos ocasionalmente.

Em Espanha, o Governo de Mariano Rajoy “tolelaria”, é o verbo utilizado pelo El País, um papel simbólico de Carles Puigdemont nas estruturas de poder da Catalunha. Elsa Artadi, porta voz de Junts per Catalunya e muito próxima de Puigdemont, é o nome de que se fala para presidente da Catalunha como candidata de consenso dos independentistas.

Chama-se Camila Cabello a nova estrela da músicade inspiração latina. A jovem de 20 anos, de origem cubano-mexicana, está a rebentar os tops e o Spotify decidiu organizar-lhe uma festa no próximo domingo em Miami, onde não deixará de ter lugar de destaque a sua “Havana”, aqui num delicioso e divertido vídeo.

Sente muito frio? Então veja esta galeria de imagens colhidas da Galiza.

MANCHETES

OCDE pede investimento sem precedentes no ensino superior – Público

Multas nos transportes dão penhora do Fisco – JN

Recurso a pulseiras eletrónicas aumentou cinco vezes – DN

“Ser mulher não me prejudica” (entrevista a Ana Paula Vitorino) – I

Escutas revelam pacto suspeito – CM

Gasolineiras pedem tempo para alterar faturas – Negócios

Bravos de Portugal – A Bola

Soares recusou desistir do FC Porto – O Jogo

Estamos na final! – Record

FRASES

Se eu não estivesse preparado para ser líder do grupo parlamentar com 9 anos de deputado teria a certeza que me passaria um atestado de imbecilidade”. Fernando Negrão, deputado do PSD, no International Club of Portugal

A legislação laboral (…) surge como questão decisiva. Não há nesta matéria postura de meias-tintas”. Jorge Cordeiro, dirigente do PCP, no DN

A criação de um espaço de influência económica foi um bom negócio para os industriais alemães. Porque uma parte significativa dos fundos europeus destinados aos novos países membros acabou, como que por magia, em Berlim”. Pierre Rimbert, jornalista, na edição portuguesa de fevereiro do Le Monde Diplomatique

A população da franja de Gaza vive em condições inaceitáveis devido ao bloqueio pelo Governo de Israel, que destruiu de forma sistemática a economia da zona até a tornar completamente dependente do exterior”. Ignacio Álvarez-Ossorio, professor de Estudos Árabes no El País

Michael Jacson roubou muitas canções. Como ‘State of Independence’ ou ‘Billie Jean’. As notas não mentem”. Quincy Jones, músico e compositor norte-americano em entrevista à Vulture

O QUE ANDO A LER E A VER

Pode um conto, um simples e breve conto, impor-se ao nosso olhar como grande literatura? Pode um conto, um simples e breve conto, surgir-nos como um encadeado de palavras trabalhadas como quem acaricia o mais puro cristal? Pode um conto, um simples e breve conto, desencadear um fervor de leitura tamanho, que a chegada à última frase, à última letra, se transforma num incontrolável impulso de regresso à primeira letra, à primeira palavra? Para usufruir de novo, uma vez mais, continuadamente, daquele prazer único de uma leitura envolta no sabor, no saber imenso da poesia.

Pode. Vivi essa rara experiência ao ler o conto “Dores”, de Maria Teresa Horta, incluído na coleção Inéditos, distribuída com o Expresso. Já me surpreendera e seduzira a leitura/descoberta de Bruno Vieira Amaral com o seu conto “O mal dos outros”, publicado no primeiro volume da coleção. Já me deixara levar pelo estranhamento contido em “As súplicas”, de João Tordo.

“Dores” acompanha o atribulado crescimentode uma rapariga, estranha aos olhos dos outros. A mãe parte com outro homem, fica a viver com um pai indiferente, uma avó madrasta e a permanente nostalgia da mãe ausente ou das conversas com a avó natural. É Judite. “Ela, que sempre soubera da vida apenas pelo lado do susto ou da ferida, afastava o olhar mareado, assustada com a sua própria vulnerabilidade; pele áspera, tisnada pelos dias inteiros passados ao sol e à chuva, num solitário caminho através da infância,
para sempre inacabada”.

O cinema Trindade, na baixa do Porto, está a celebrar um ano desde a reabertura. Todas as noites desta semana tem apresentado antestreias. São filmes que em breve vão aparecer no circuito comercial. Quero chamar a atenção para dois em particular. Primeiro “Olhares Lugares”, da nonagenária e cheia de vitalidade Agnés Varda e do desconcertante fotógrafo e muralista JRO resultado é surpreendente. Pelo modo como se ligam às gentes da França profunda e as fotografam, e também pelas instalações e imagens de grande formato coladas nas fachadas de edifícios.

O outro é “Human Flow” do chinês Ai Weiwei. Com a sua equipa percorre mais de duas dezenas de países ao encontro da desolação e da tragédia contida no mundo dos refugiados. Se “Olhares Lugares” é de uma beleza comovente, o documentário de Weiei retrata um desolado e comovente desespero.

Está servido o seu Expresso Curto, mas não parta sem deitar uma olhada a esta curta viagem pela exposição das fantásticas capas construídas para a New Yorker por Lorenzo Mattotti. Tenha um bom dia.
 

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