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CRISTINA PERES
JORNALISTA DE INTERNACIONAL
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Prelúdio significativo para “conter Guam”
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É assim que Kim Jon-un, líder supremo norte-coreano, classifica o lançamento do míssil balístico norte-coreano que sobrevoou território do Japão antes de mergulhar nas águas do Pacífico. A este seguir-se-ão mais testes, garante hoje Kim Jon-un. Guam é a ilha que alberga as bases militares e efetivos norte-americanos naquela região, e a ameaça direta ao território norte-americano é uma espécie de teaser neste jogo perigoso.
A China diz que a tensão na península coreana está “no pico” e a China sabe do que fala, considerando o equilíbrio a Oriente. Na tarde de ontem, Pequim tentava fazer parar os exercícios militares norte-americanos e sul-coreanos numa tentativa de acalmar os ânimos enquanto a Casa Branca insistia que “todas as opções” continuam em cima da mesa. O timing do lançamento de teste do míssil norte-coreano sobre território japonês terá tido em conta a “distração” da presidência americana, ocupada com a devastação provocada pela tempestade tropical Harvey. E prova a quem tenha andado a analisar os testes norte-coreanos desde o início do ano, que Pyongyang está a dar passos seguros em capacidade e sofisticação. A parada está muito alta e o primeiro-ministro japonês classificou a manobra norte-coreana uma “séria ameaça à segurança” nipónica “sem precedentes”. Sem opções airosas, as autoridades chinesas insistem no refreio geral das partes e aproveitam para tomar o “pico da crise” como uma oportunidade para reatar as opções diplomáticas depois de a Coreia do Norte ter marcado pontos relativamente aos vizinhos do Sul e ao Japão. O Conselho de Segurança das Nações Unidas reuniu de emergência esta terça-feira a pedido dos Estados Unidos e do Japão. Os dois países acordaram aumentar a pressão sobre Pyongyang e sublinhando a condenação do órgão supremo da ONU.
Os líderes dos países ocidentais reagiram condenando o estado das coisas que, para os cidadãos japoneses, é muito claro: não há para onde fugir da ameaça da Coreia do Norte. “Mesmo que houvesse uma evacuação, não saberia para onde fugir”, diz uma habitante de Tóquio à BBC. Tem aqui as respostas às principais perguntas sobre sua crise respondidas num vídeo de 1:24’ por Robert Kelly, aquele perito em relações internacionais que alcançou a fama após se ter tornado viral o vídeo que registou o seu comentário político em direto ser invadido pelos seus dois filhos pequenos. Neste outro vídeo, também da BBC, pode ficar a saber o que pensa um habitante (guerreiro) da ilha de Guam sobre a ameaça norte-coreana à ilha do Pacífico. |
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OUTRAS NOTÍCIAS Donald Trump voou ontem para o Texas onde prometeu que o Governo federal providenciaria todas as respostas às cheias provocadas pela tempestade tropical Harvey naquele estado americano, a primeira catástrofe natural desde que é Presidente. Houston tem imposto o recolher obrigatório, o Harvey está a voltar a ganhar força e ameaça agora alagar a Louisiana. No quarto dia das inundações, mais de 30 mil pessoas procuram assistência, já há 18 mortes confirmadas. Trump disse que queria que ficasse registada a mais eficaz resposta a uma situação destas, aludindo ao furacão Katrina, que matou 1.800 pessoas em Nova Orleães há 12 anos sob a presidência de George W. Bush. Mais de 3.500 já foram resgatadas das águas na área de Houston neste dias. Veja aqui imagens aéreas das cheias e consulte aqui como se incendiaram as redes sociais com o estilo “top gun” do casal presidencial ao chegar ao Texas.
A Vice News conta-lhe aqui o quanto o Congresso tem estado ocupado a desmantelar completamente o legado de Barack Obama. É o quinto Congresso mais produtivo dos últimos 30 anos, segundo o Pew Research Center, que pode consultar aqui.
Também a Índia está vergada às bátegas de água das monções, que este ano paralisaram Bombaim. Já morreram 1.200 pessoas e milhares de outras perderam as suas casas nas várias províncias indianas e no Bangladesh.
No outro extremo do espectro, Roma está obrigada a cortar a pressão de água durante a noite devido à seca. Onze das 20 regiões de Itália estão à beira de declarar o estado de emergência por causa da seca provocada pelas temperaturas altas e ausência continuada de chuva.
Theresa May chega hoje ao Japão para preparar o terreno das negociações pós-Brexit. Segurança informática, engenharia de software e defesa são áreas de topo que a delegação de 15 peritos leva na bagagem para as várias reuniões agendadas com o primeiro-ministro Shinzo Abe. São três dias de visita, durante os quais está previsto que May apanhe o comboio bala que une Kyoto a Tóquio. Abe estará interessado em fortalecer a defesa contra a imprevisibilidade da vizinha Coreia do Norte.
Alguém na Europa parou de assobiar para o lado relativamente a Estados-membros que parecem ter parado de se comportar como Estados-membros. Angela Merkel avisou ontem na conferência de imprensa de verão em Berlim que não será impunemente que se fecham os olhos à possibilidade de o Estado de direito desaparecer na Polónia com a reforma judicial defendida por este Governo que prevê que o ministro da Justiça possa demitir os juízes. Este é um poder que mina a independência dos tribunais e viola leis da União, cuja Comissão lançou um inquérito em julho. Varsóvia desdenhou-o alegando não ter fundamento e a chanceler alemã disse: “É um assunto sério porque os requisitos de cooperação no âmbito da UE são o Estado de direito”. Por muito que queiram paz e calma, os europeus não podem simplesmente calar-se sobre este assunto, defendeu.
“Não há plano B para a solução dos dois Estados”, disse o secretário-geral das Nações Unidas na sua primeira visita à Cisjordânia desde que desempenha o cargo. Perante a complexidade do momento que vivemos, se calhar já nem se lembrava desta questão para a qual António Guterres exprimiu o seu “total empenho” para avançar na solução para o conflito israelo-árabe.
Dois milhões de peregrinos convergem para Meca onde começa hoje o haj, um exercício religioso com a duração de seis dias que qualquer muçulmano deve fazer pelo menos uma vez na vida, assim tenha condições e saúde para tal. Esperam-se em Meca 90.000 iranianos(xiitas no bastião do reino sunita), que não participaram no ano passado após acusações de responsabilidade na morte acidental de mais de 2.000 pessoas (entre as quais, calcula-se, mais de 400 iranianos). Apesar do boicote saudita ao Qatar desde junho, as portas foram abertas aos cidadãos daquele país do Golfo para que participem no festival.
Por cá, o disse-que-disse criado pela referência do primeiro-ministro António Costa à líder centrista Assunção Cristas como “aquela senhora” no comício da rentrée socialista provocou mal-estar entre os centristas. Mais um episódio na “extensa lista de queixas mútuas”, como lhes chama o Adriano Nobre. Veja aqui os pormenores.
Voaram para a China pagos pela NOS. Uma vez chegados a Hong Kong, os quadros do ministério da Saúde ficaram a cargo da Huawei em hotéis de cinco estrelas, com refeições tomadas em restaurantes de luxo e viagens pelo interior do país. Foi em 2015 e Hugo Franco, Pedro Santos Guerreiro e Rui Gustavo contam agora o envolvimento destas empresas nas viagens dos altos quadros do MS. Depois do ministro da Saúde, também a ministra da Administração Interna decide avançar com uma investigação.
Soube-se ontem que 20 de Novembro será a data-limite dos procuradores do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) para deduzirem a acusação, uma vez que já chegou a resposta às últimas cartas rogatórias enviadas pela equipa de Rosário Teixeira às autoridades de outros países, escreve o Público. O núcleo duro de procuradores que está a redigir a acusação contra o antigo primeiro-ministro José Sócrates e restantes arguidos da Operação Marquês não quer esgotar o mais recente prazo dado pela procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal, e tenciona terminar o inquérito o mais tardar até Outubro. Ou seja, 1604 dias depois de o processo ter sido aberto, em julho de 2013.
“Governo garante alívio no IRS para 1,6 milhões de famílias” é a manchete do DN hoje enquanto a do Público diz que “PS já admite mudar lei para evitar mais cortes de pessoal na PT”. “Condenação de funcionários das Finanças travada por escutas ilegais”, escolhe o JN, e o Negócios sublinha: “Governo rasga contrato com a Venezuela”.
FRASES “Ao longo destes anos, algumas carreiras tiveram a felicidade de ver as suas progressões não congeladas. Essas não vão ser a prioridade”, António Costa, primeiro-ministro citado pelo Público a propósito da negociação da progressão das carreiras
“É de respeitar esta tentativa de atender ao bem dos filhos e das mães”, Manuel Barbosa, porta-voz da Conferência Episcopal a propósito da assunção da paternidade por parte dos padres tendo em conta que há mais de 4.000 casos no mundo à espera de solução
“[A saída do PDE] mostra que as políticas que seguimos no último ano meio estavam certas e é possível fazer mais e melhor”, Mário Centeno, ministro das Finanças citado pelo Negócios
“A menos que os Estados Unidos entrem em guerra não esperamos um impacto significativo”, Daniel Murray, investigador da EFG Asset Management ao Negócios a propósito do impacto da crise coreana nas bolsas
O QUE ANDO A LER E A VER O formato long read conquista-me. Tem uma medida de profundidade e largueza perto de perfeita. Alguns dos que são publicados pelo Guardian não me deixam dúvida de como gostaria de ter sido eu a escrevê-los. Por várias razões, mas a principal - e que é bem ilustrada pela história cuja leitura sugiro vivamente - prende-se com uma qualidade de atenção ao mundo que os media foram deixando de ter. Deixaram de poder ter, ou de querer ter. Em 11 de março de 2011, o tsunami que se seguiu ao terramoto ao largo da costa nordeste do Japão varreu terra, estradas, casas, uma central nuclear, 18 mil pessoas. Passados seis anos, um jornalista que cobriu o que se seguiu ao desastre, e voltou entretanto ao Japão várias vezes, conta agora a história da escola básica de Okawa onde morreram 74 das “únicas” 75 crianças que perderam a vida naquele dia estando entregues ao cuidado dos professores. Sem spoiler alert, é uma história extraordinária, que provavelmente muitos dos que a viveram gostariam de poder reescrever. É uma aventura com desenlace escrita por Richard Lloyd Parry.
O segundo long read que recomendo chegou-me via Facebook e faz sentido porque discorre sobre a nossa relação com as redes sociais. Está cheio de palavras como “fake” “reality” “buzz feed” e conta como aconteceu o primeiro suicídio em direto, o primeiro suicídio das redes. Foi Rana Dasgupta que escreveu e foi The Guardian que publicou. Ao contrário de muitos outros, não é fácil de ler e pode parecer demasiado longo. Pior: demasiado real. É o nosso mundo.
A terceira sugestão foi consumida sem nenhuma moderação. O “efeito Netflix” veio desta vez por meio de Ozark, um surpreendente script em dez episódios (para já) cuja descrição não conquista à partida mais do que qualquer outra série sobre tráfico, lavagem de dinheiro e América profunda. Tem das melhores construções de personagens que já vi e um enxerto do Twin Peaksoriginal (passei intensos meses da minha vida em 1990 a inventar motivos em conjunto com os meus colegas do jornal Se7e para que Twin Peaks fosse capa do jornal tipo… sempre!?), se ainda fosse possível imaginar o mundo sem redes sociais e com as pessoas sentadas à frente da TV à espera do episódio seguinte…
A última, também um Netflix Original, é a série Dear White People. Argumento sofisticado que dificulta a vida a quem gosta de negar que as questões raciais são exatamente questões raciais e não num disfarce qualquer na sociedade norte-americana bem como nas outras!
O curto chega ao fim. Encontra as cenas dos próximos capítulos em www.expresso.pt e no Expresso Diário, lá para as 18h. Boa quarta-feira! |
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