terça-feira, 11 de abril de 2017

NATIONAL GEOGRAFIC

D. Afonso Henriques, a verdade e o mito do reinado mais longo.

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Datado do século X, o castelo de Guimarães está intimamente ligado ao reinado de D. Afonso Henriques. A infra-estrutura defensiva está classificada desde 1881. Fez aliás parte do primeiro rol de monumentos protegidos e era, à data, o único castelo com estatuto de monumento de primeira classe.
Egas Moniz era um destacado membro da elite político-militar duriense, representada pelas cinco linhagens dos antigos infanções (isto é, nobres por nascimento) de Entre Cávado e Douro. Geograficamente implantados dos dois lados do curso inferior do Douro, então a fronteira com o território muçulmano, tinham assegurado a sua defesa entre finais do século X e a primeira metade do século XI, preenchendo o lugar dos velhos condes de Portucale e de Coimbra, autores da conquista militar do núcleo primitivo do território português em nome de Afonso III, rei das Astúrias e Leão, no terceiro quartel do século IX. 
Egas Moniz simbolizava, pois, a autonomia portucalense, que se opunha ao reenquadramento de Portucale na Galiza, necessariamente subalternizador do jovem condado.
O novo poder condal de D. Henrique e D. Teresa já fizera deles ricos-homens (isto é, grandes senhores com responsabilidade pelo governo de grandes territórios). Egas Moniz simbolizava, pois, a autonomia portucalense, que se opunha ao reenquadramento de Portucale na Galiza, necessariamente subalternizador do jovem condado.
Os portugueses com mais de 45 anos recordam-se, da instrução primária, de lerem sobre a ida de Egas Moniz com a sua família, de baraço ao pescoço, à presença do imperador Afonso VII, por incumprimento da palavra dada pelo chefe de família. Poderoso símbolo de honra, o maior valor da nobreza da época, ele não tem quase certamente base histórica, mas servia ainda no século XIX a Alexandre Herculano, nas suas “Lendas e Narrativas”, para ilustrar os “valores medievais”. 
Nos antigos programas de história, aliás,  aprendia-se também que o infante D. Afonso Henriques derrotara na batalha de São Mamede, em 1128, perto de Guimarães (“A Primeira Tarde Portuguesa”, na emblemática designação do artista Acácio Lino), as forças antipatrióticas encabeçadas pelo amante de sua mãe, Fernão Peres de Trava, inaugurando a primeira de quatro dinastias de reis de Portugal, símbolos da nação até ao princípio do século XX. Curiosamente, sabe-se hoje que a propaganda nacionalista do século XX transformou o marido em amante para diminuir a figura do conde galego, mas, nos restantes pormenores, o relato confirma-se.
Após transferir a corte de Guimarães para Coimbra, D. Afonso Henriques beneficiaria do apoio de influentes nobres da Galiza.
No entanto, é abusivo descrever um ambiente antigalego (muito menos o erróneo “antiespanhol”), uma vez que, depois de, em 1131, transferir a corte de Guimarães para Coimbra, D. Afonso Henriques beneficiaria do apoio de influentes nobres da Galiza. Estes reforçariam o seu poder, contrabalançando a hegemonia política das já referidas cinco linhagens – dos senhores de Sousa, da Maia, de Ribadouro, de Baião e de Bragança – que tinham prevalecido sem rival na corte do conde D. Henrique. 
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 Guimarães é seguramente a cidade portuguesa que mais se apropriou da memória colectiva do reinado de D. Afonso Henriques, integrando-a na sua oferta turística. Até o clube de futebol local usa a imagem estilizada do monarca. 
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A oficina de Gaspar Carreira, escultor vimaranense especializado em réplicas metálicas do primeiro rei de Portugal e respectivo armamento. A sua oficina dá resposta a encomendas de lojas, museus e outras instituições.
Outro apoio regional de peso foi o dispensado pela elite política e militar dos cavaleiros de Coimbra. Situada na fronteira com o Islão, em 1111 a cidade arrancara a sua carta de liberdades ao conde D. Henrique, após ter garantido com êxito a sua própria defesa. Tendo por base a urbe conimbricense a partir de 1131, ao longo daquela década e da de 1140 o infante D. Afonso alcançaria sucesso como defensor da fronteira, passando à condição de atacante após o desmembramento do espaço político muçulmano registado nesse período.
Nenhum historiador que estude o século XII desliga o processo da reconquista cristã do quadro mais vasto das Cruzadas.
Foi então que, a 25 de Julho de 1139, obteve contra o Islão a mais emblemática das suas vitórias, na batalha de Ourique, mitificada pela historiografia posterior em elaborada lenda, como provaram o filólogo Luís Filipe Lindley-Cintra e o historiador Luís Krus. Lenda, porém, parece não ter sido a aclamação de D. Afonso Henriques como rei após a batalha, sendo muito provavelmente alçado pelos cavaleiros sobre o seu escudo (pavês). Este poderia já apresentar-se com as armas reais afonsinas, isto é, carregado de cinco escudetes em cruz cobertos de carbúnculos simbolizadores do granizo de São Miguel Arcanjo, chefe da milícia celeste e destruidor dos reis inimigos no “Livro de Josué” – texto bíblico referido na “Vida de São Teotónio”, composta em finais do século XII, como invocado na oração rezada antes da batalha, a pedir a intercessão divina. Este assunto foi aprofundadamente debatido na década de 1980 pelos heraldistas Luís Gonzaga de Lancastre e Távora (marquês de Abrantes) e o barão Hervé Pinoteau. 
Uma inscrição de 1138 na capela de Santa Luzia de Campos, perto de Vila Nova de Cerveira não só lhe dá o tratamento de rei como refere que já reinava. Antes da batalha de Ourique.
A partir de 1139, com efeito, a documentação régia começou a referir com mais frequência D. Afonso com o título de rei, parecendo sugerir a ligação entre o resultado de Ourique e o reconhecimento interno da realeza. No entanto, uma inscrição de 1138 na capela de Santa Luzia de Campos, perto de Vila Nova de Cerveira, publicada por Mário Barroca, não só lhe dá o tratamento de rei como refere que já reinava. Antes da batalha de Ourique. 

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