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POR MIGUEL CADETE
Diretor-Adjunto
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6 de Abril de 2017 |
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Uma anedota de Ricardo Araújo Pereira e muito dinheiro deitado à rua
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É permitido começar o Expresso Curto com uma anedota? Não! OK. Se não é possível, deixo a piada do Ricardo Araújo Pereira sobre a venda do Novo Banco à Lone Star lá mais para o fim.
Mas há outras. No Expresso Diário de ontem, apesar dos nós que ainda é preciso desatar, percebe-se que os 4,9 mil milhões que o Estado injetou em agosto de 2014 estão hoje, se tudo correr bem, transformados em 333 milhões de euros. Uma desvalorização de 93%.
Mário Centeno, ministro das Finanças, diz que o negócio com a Lone Star foi o que se conseguiu arranjar. O PS diz que a culpa é do anterior governo. E o PSD tenta colar o PCP e o BE ao que chama um “mau negócio”. Ou seja, todos concordam que a venda de 75% do Novo Banco à Lone Star foi mazinha. A culpa não é de ninguém. Mas o dinheiro era nosso.
Se acha que já gastou – ou vai gastar – muito dinheiro no Novo Banco, veja aqui as contas do Pedro Santos Guerreiro. Não são apenas esses 4,9 mil milhões que por artes mágicas se transformaram em 333; são, ao todo, com empréstimos obrigacionistas e mais injeções intra-musculares, cerca de 11 mil milhões de euros o que vai custar o “banco bom” do antigo BES.
Caso, ao ler as notícias do início da semana, tenha achado um disparate que Portugal, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística, já gastou 13 mil milhões de euros a salvar os bancos desde 2007, fique com mais essa.
O que vale é que este inferno da banca portuguesa está prestes a terminar. Ah, espera: ainda há o Montepio. Ontem, no Expresso Diário, diz-se que a Santa Casa da Misericórdia “não assume riscos indevidos” e que, então, é preciso estudar a sua entrada no capital da Caixa Económica do Montepio Geral. Santana Lopes a meter água na fervura do Governo.
E a CGD? Bem, a Fitch decretou também ontem que a dívida de 500 milhões de euros emitida pelo banco do Estado, em março, tem notação igual a lixo. Diz o “Dinheiro Vivo” que “o ‘rating’ de ‘B-‘ (é) o sexto dentro do grau de não investimento ou ‘lixo’”.
E agora, que está quase na hora de contar a anedota do Ricardo Araújo Pereira, terei que inventar uma péssima notícia sobre o Novo Banco. Eis que chega a Moody’s, outra agência de rating, em meu socorro: a notícia tem, também, a data de ontem, está no “Jornal de Negócios” e diz que Troca de dívida leva Moody’s a cortar “rating” do Novo Banco. Como é possível? Lê-se ainda, logo na entrada, “a agência baixou a notação da dívida sénior do Novo Banco para o oitavo nível de ‘lixo’. E os ‘ratings’ estão sob vigilância negativa”.
Parece uma confusão? A manchete do “Diário de Notícias” diz que o caso BES tem mais de 1500 processos nos tribunais. Sete inquéritos-crime à gestão, 200 queixas de privados e 50 para impugnar decisões de resolução do Banco de Portugal ajudam a compor um imbróglio em que 19 mil pessoas e empresas reclamam créditos.
O que vale é que tristezas não pagam dívidas. Vamos ao RAP. Está na edição de hoje da revista “Visão”, acabada de chegar às bancas a anedota sobre a venda do Novo Banco à Lone Star: “tal como sucede com o Lone Ranger [herói-justiceiro da banda desenhada americana, criado em 1932 por George W. Trendle e que em Portugal ficou conhecido como O Mascarilha], a identidade da Lone Star também é mais ou menos misteriosa. Sabemos apenas que vai tomar conta do banco coadjuvado pelo Estado (…). O que significa que, como já desconfiávamos, nesta história, o Estado português é, obviamente, o Tonto”.
Não tem piada? Pois não! Mas fique sabendo que o BCP está a processar Hélder Bataglia pela módica quantia de 14 milhões de euros. Conta o Expresso que a ação pretende cobrar esse valor “à empresa Domuslisboa, uma imobiliária controlada por Helder Bataglia e Luís Horta e Costa, ambos ligados à empresa que detém o empreendimento turístico Vale do Lobo”.
Vale de Lobo – Operação Marquês – Operação Marquês – José Sócrates – José Sócrates – Armando Vara. Chegamos finalmente à manchete do Expresso Diário de ontem e à do Expresso online de hoje: Armando Vara viu a sua pena no caso Face Oculta confirmada pelo Tribunal da Relação. “A pena de cinco anos de prisão a que Armando Vara (ex-ministro da Juventude e do Desporto) e José Penedos (ex-secretário de Estado da Energia e ex-presidente da REN) foram condenados (…) não permite qualquer recurso para o tribunal imediatamente superior, o Supremo.” Vara havia sido condenado por tráfico de influências. Mas não vai já para a prisão.
Já José Sócrates, de acordo com o despacho de indiciação do Ministério Público que é hoje tornado público pela revista “Sábado”, terá tido cuidados acrescidos na ocultação de dinheiros a partir do momento em que os casos Freeport e Face Oculta passaram a ser mediatizados. Isto mesmo foi-lhe apresentado quando se apresentou para ser interrogado a 13 de março. Na mesma ocasião soube-se que o seu amigo Carlos Santos Silva terá feito mais de 120 levantamento, em dinheiro vivo, a seu pedido.
Só mais uma! Dias Loureiro: “estou estarrecido. É um arquivamento com insinuações”. Diz o “Diário de Notícias” que o Ministério Público por falta de provas decidiu arquivar o inquérito contra Dias Loureiro e Oliveira e Costa no caso BPN. O despacho conclui que não houve crime. Segundo o “DN”, Dias Loureiro admite recorrer ao Tribunal dos Direitos do Homem.
Crime! Qual crime? Crime é começar o Expresso Curto sem uma boa anedota. |
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OUTRAS NOTÍCIAS
(Lá nos EUA, onde os maus são realmente maus) Steve Bannon foi afastado do Conselho de Segurança Nacional. Fonte da Casa Branca disse ao “Washington Post” que a sua missão estava cumprida pois o objetivo era “monitorizar” Michael Flynn, que se demitiu em fevereiro passado por alegadas relações próximas com os russos. Flynn pediu, na semana passada, “imunidade” para poder falar sobre o seu caso.
Donald Trump mudou de perspetiva quanto à Síria. O Presidente dos EUA disse ontem que não iria tolerar a utilização de armas químicas na Síria o que foi entendido, segundo o “New York Times”, como um primeiro passo para uma maior participação do seu país na guerra da Síria. Até ontem, Trump tinha-se sempre manifestado contra a participação dos EUA numa guerra civil que dura há seis anos.
Prometeu também endurecer a sua posição face à Coreia do Norte de maneira a fazer face às provocações coreanas. O anúncio acontece horas antes de Donald Trump se encontrar com o Presidente da China, Xi Jinping, no seu resort de Mar-al-Lago, onde, de acordo com o “The Guardian” se irá debater, precisamente, o programa nuclear de Pyongyang. Segundo o jornal inglês, Trump terá telefonado ao primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, não colocando de parte uma intervenção militar na Coreia do Norte.
Deputados do PS e do PSD defendem o regresso do serviço militar obrigatório. Como é da tradição, e é recordado hoje no trabalho que faz manchete do jornal “i”, o PCP é o único partido que está contra o atual sistema. Também a Suécia vai voltar a ter SMO e na França, à beira de eleições presidenciais, o tema também está em cima da mesa.
A ETA está pronta para se dissolver, lê-se na manchete do “El País”. O grupo terrorista basco vai entregar todo o seu arsenal de armas no próximo sábado. David Pla, o líder do seu braço político, atualmente numa prisão francesa, declarou que depois do desarmamento a ETA irá entrar num “processo de reflexão”.
Dívida dos hospitais às farmacêuticas cresce um milhão por dia. A manchete do “Público” revela que, segundo a Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica, a dívida dos hospitais voltou a disparar nos primeiros meses deste ano. Segundo as últimas contas, ascende a 844 milhões de euros.
O Estoril esteve quase a transformar o Estádio da Luz num Casino. Na meia-final da Taça de Portugal foi empatar com o Benfica por três golos e teve, nos momentos finais, a hipótese de virar o resultado da primeira mão não fosse Kleber ter falhado o cabeceamento que seria fatal. Quatro extremos não fazem um ponta de lança, avisa Pedro Candeias.
Já houve um treinador que levou o Estoril à Liga Europa. Depois disso, ofereceu a Taça de Portugal ao Sporting, mas foi despedido. Seguiu para a Grécia, onde se sagrou campeão pelo Olimpiakos. E este ano partiu para o Reino Unido. Foi treinar o Hull, que estava no último lugar da tabela. Ontem, depois da sétima vitória em oito jogos, retirou a equipa inglesa da zona de despromoção. Chama-se Marco Silva.
Estreia-se hoje, numa sala perto de si, o filme de Nick Willing dedicado à sua mãe, Paula Rego. “História e Segredos” é uma viagem à vida e obra da pintora que há muito trocou Portugal pelo Reino Unido. A Alexandra Carita foi visitar o seu ateliê, num bairro da zona norte de Londres, e contou o que por lá viu numa reportagem que fez capa do último número da Revista do Expresso. Às vezes, não é bonito.
A BLITZ anunciou ontem que Father John Misty vai estar de novo em Portugal. É em novembro, no Coliseu dos Recreios, para o 15º aniversário da Rádio Radar.
FRASES
“Matteo Renzi é uma espécie de José Sócrates de mochila”. Paulo Portas na revista “Egoísta”, citado pelo jornal “i”
“Entrada das misericórdias no Montepio é um disparate”. Bagão Félix no “Público”
“Até sairmos somos membros da União Europeia”. Lord Boswell, presidente da Comissão de Assuntos Europeus da Câmara dos Lordes, no “DN”
“Os chineses estão a estudar Trump”. Federico Rampini, jornalista italo-americano, no “DN”
O QUE ANDO A LER
Faz falta alguém assim. Alguém como Kenneth Clark ,que entre todas as façanhas que protagonizou no mundo da história de arte – aos 30 anos já era diretor da National Gallery de Londres – se transformou ainda no seu maior divulgador através de um documentário em série que a BBC transmitiu em 1969 e que se chamava “Civilization”.
Os vários episódios podem ser vistos no YouTube e neles salta aos olhos não só a sua eloquência mas também o fervor com que defendia os valores da nossa civilização, de acordo com um arreigado classicismo. Desde a Idade Média até aos alvores da I Guerra Mundial, Clark, que havia de aderir ao partido conservador e converter-se ao catolicismo, passou a limpo a história da arte como ninguém o fez na TV.
Passou também as suas “Memórias” para o papel e foi objeto de estudo por parte de vários biógrafos. Provavelmente, nenhuma dessas biografias é tão complexa como aquela assinada por James Stourton: “Kenneth Clark – Life, Art and Civilisation”publicada pela Harper Collins no final do ano passado.
Uma constatação logo nas primeiras páginas, enquanto o autor descreve o ambiente familiar de Clark, antes de ir para os colégios: o seu gosto e adoração pelas artes não passava de mediano. Não há ninguém que sinta a urgência da arte – ou da civilização - se cresceu sempre rodeado das mais belas obras. Da mesma maneira, as civilizações podem ser obliteradas, como sucedeu com o Império Romano. Mas isso é regressar ao primeiro episódio da série de TV que Clark popularizou
Por hoje é tudo. Acompanhe toda a atualidade no Expresso Online. Às 18 horas chega mais um Expresso Diário. E amanhã estará por aqui Nicolau Santos para servir mais uma bica escaldada pois o vate, depois de umas merecidas férias, há-de vir cheio de ganas.
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