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POR HENRIQUE MONTEIRO
Redator Principal
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19 de Janeiro de 2017 |
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Amanhã começa o fim do (nosso) mundo
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E pronto, é já amanhã ao meio dia de Washington, cinco da tarde de Lisboa, que Donald J. Trump toma posse, jurando cumprir a Constituição dos Estados Unidos da América (aquela que começa por “Nós, o povo…”) perante o presidente do Supremo Tribunal de Justiça. A fórmula, que a maioria dos presidentes terminaram com a expressão “So help me God” (Assim Deus me ajude), deveria terminar, neste caso, com “So help us God” (Assim Deus nos ajude). É um pequeno contributo do escriba para o verdadeiro sentimento de certas tomadas de posse. Não digo que o mundo acabe, nem que comece outro. Mas há qualquer coisa na cerimónia de amanhã muito marcante, capaz de alterar o ecossistema em que nos habituámos a viver. Não é um homem qualquer que sobe ao mais elevado posto dos EUA e do planeta. E a sua singularidade é, aos olhos de muita gente negativa. Nunca, nos últimos largos anos, um presidente começou um mandato com índices tão baixos de popularidade. O discurso já está feito. Quem o afirma é o próprio Trump num dos 33 500 twitts que já enviou aos seus 20,3 milhões de seguidores. Foi escrito há três semanas em Mar-a-Lago. O que considera serem "As oito promessas de Trump que ameaçam mudar o mundo" é o maior destaque no 'Público'. E quais são elas? Bem, é quase tudo - do comércio, à armas, passando pela China, o Médio-Oriente, o Irão, os refugiados e o consenso sobre as alterações climáticas. A administração de Obama escreveu 275 memorandos (cerca de mil páginas ao todo), destinados ao presidente eleito, com material classificado, que vai desde o tema nuclear na Coreia do Norte, aos conflitos no Mar da China, passando pela campanha contra o Daesh. Mas não sabe se alguém do lado de Trump os leu. Ninguém acusou a receção. O mesmo não se pode dizer da última conferência de imprensa do ainda Presidente, ontem à hora do jantar em Portugal: foi bem recebida, sobretudo a parte em que pediu aos jornalistas para serem céticos e não servis.O balanço que fez do seu mandato foi positivo, mas não seria de esperar outra coisa. A despedida do Presidente é o que o 'Diário de Notícias' chama para assunto principal. Já o discurso da ‘inauguration’, ou tomada de posse, de Trump é aguardado com ansiedade, embora Jurek Martin lembre, no ‘Financial Times’ que a maioria não foram memoráveis. Recorda apenas as frases de Roosevelt, em 1933, plena recessão – “A única coisa que temos de recear é o próprio medo” – e de Kennedy em 1961, em plena ‘Guerra Fria’ – “Não perguntem o que o vosso país pode fazer por vós, mas sim o que podem fazer pelo vosso país”.
Mas, antes do arrepio de amanhã, teremos o de hoje. É o dia mais frio dos últimos tempos (estão 3º C em Lisboa, cerca das oito da manhã). E, embora notícia fosse estar tempo de praia em janeiro, estamos repletos de recomendações. O Presidente da República aproveitou para expressar a sua solidariedade aos sem-abrigo no pavilhão do Casal Vistoso e saudar os voluntários ali presentes, seguindo depois numa ronda por outros locais de Lisboa. |
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OUTRAS NOTÍCIAS Ricardo Salgado é oficialmente arguido no mesmo caso do que José Sócrates e suspeito de ter dado as ordens para que dinheiro fosse transferido para o ex-primeiro-ministro (veja a conversa do diretor do Expresso, Pedro Santos Guerreiro, com o editor de Sociedade, Rui Gustavo). O Ministério Público, que baseou as suas investigações em notícias do Expresso sobre os ‘Panama Papers’, pediu medida de coação pesada, mas além do tradicional termo de identidade e residência Salgado apenas ficou impedido de se deslocar ao estrangeiro sem prévia autorização e de contactar com os restantes arguidos do processo (ao todo já são 20 na ‘Operação Marquês’), bem como algumas pessoas e entidades ligadas ao BES. O jornalista Hugo Franco, também em parceria com Rui Gustavo, explica-lhe por que motivo Salgado – já arguido em três processos – é uma espécie de ‘homem-velcro’. Já o 'Correio da Manhã' afirma em manchete que '19 milhões ligam Salgado a Sócrates", puxando por um assunto que o 'Jornal de Negócios' e o jornal 'i' também tratam como principal destaque.
E ontem António Costa, distanciou-se literalmente 2300 km do caso que anda a abrir as notícias, quando chegou a Davos, Suíça, para o 47º encontro do Forum Económico Mundial (ou do grande capital, como diriam os parceiros parlamentares do PS) para reuniões bilaterais, participar num almoço promovido pelo ‘Washington Post’ e ser orador numa sessão interativa intitulada “Shaping a national digital strategy” (Moldando uma estratégia digital nacional). Além de Costa, marcam presença com intervenções em Davos António Guterres, já como secretário-geral da ONU, o ministro da Economia, Caldeira Cabral, o Comissário Europeu Carlos Moedas e António Horta Osório, CEO do Lloyd’s Bank. Entre os três mil participantes na luxuosa estância de ski, está pela primeira vez o presidente da China, Xi Jinping, que na sessão de abertura fez um ataque cerrado à política internacional de Donald Trump.
Ao mesmo tempo, o Bloco de Esquerda, receando que a medida fosse já aplicada este mês antecipou a discussão sobre a baixa da TSU como compensação ao salário mínimo para o plenário do Parlamento de 25 deste mês. Os patrões enviam cartas a Passos Coelho, pedindo-lhe que recue e aceite a descida da TSU e a UGT pressiona no mesmo sentido..
Hoje seria o dia em que a AR devia eleger a nova composição da Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC), mas não há entendimento entre PS e PSD para os dois terços necessários.
O Tribunal da Relação deu provimento a uma queixa da Assembleia da República e acordou que todos os organismos têm de entregar todos os documentos sobre a Caixa Geral de Depósitos, ainda que os considerem confidenciais. Dura lex, sed lex, que é como quem diz, a lei é dura, mas é a lei. O PSD e o CDS já saudaram a medida. O Banco de Portugal, a CMVM e a própria Caixa têm de entregar a papelada à Comissão de Inquérito.
Já o Ministério Público disse que é imprescindível o levantamento da imunidade diplomática dos filhos do embaixador do Iraque para averiguar criminalmente as agressões a Ruben Cavaco em Ponte de Sôr. Algo que já se sabia...
Uma avalancha de neve em Itália provocou vários mortos (talvez mais de 20) ao atingir um hotel na região de Abruzzo. O incidente pode estar relacionado com os três terramotos sentidos ontem, que arruinaram ainda mais o centro do país, fazendo desabar os escombro dos últimos abalos e provocando um morto. O maior dos termores teve a magnitude de 5,7 na escala de Richter. O ‘Observador’ tem uns bons gráficos explicativos.
Vladimir Putin mostrou-se indignado com as insinuações sobre o facto de o seu país ter segredos de alcova relativamente a Trump (os segredos de alcova seriam com senhoras demasiado dadas e de cama incerta). Mas o presidente russo, com a sua habitual subtileza aproveitou para fazer umas piadas com prostitutas russas, afirmando-as como as melhores do mundo.
O ano de 2016 bate o recorde e é o terceiro consecutivo com as temperaturas mais elevadas desde que há registo (não será o melhor dia para dar esta notícia, mas enfim...). Se quer perceber melhor, recomendo esta infografia do ‘The New York Times’.
Bruno de Carvalho assume as responsabilidades dos maus resultados no Sporting e prepara-se para mudanças. Em março há eleições no clube. Se quiser saber tudo é ver aqui, aqui, aqui, aqui e podia continuar, claro… Ah! E O Benfica ganhou 6-2 ao Leixões... sem crises lá vai para as meias-finais da Taça da Liga.
Passam 30 anos (incrível como o tempo voa) sobre a morte de José Afonso já no próximo dia 23 de fevereiro. Há um conjunto de atividades programadas que encontra aqui, mas eu prefiro deixar-lhe o que eu penso ser um dos seus tesouros escondidos (ou vá lá, pouco mostrados). Redondo vocábulo. Ora ouça, mas com ouvidos de ouvir. E já que está aí ouça mais umas. Ou todas as que encontrar. Quase nunca se desiludirá.
FRASES "Não vislumbro outra saída a curto ou médio prazo que eleições legislativas antecipadas", Francisco Assis no 'Público' explicando que a crise da TSU mostra que o PS só pode exercer em pleno o Governo caso pudesse contar com o apoio de duas maiorias alternativas e contraditórias.
"Está muito frio cá fora, tomem cuidado", Ricardo Salgado para os jornalistas, depois de ser ouvido no Tribunal de Instrução Criminal como arguido. Prometi a mim próprio não fazer uma piada fácil com a frase.
“Nunca estive tão preocupado com o meu país. Por muitas razões, mas sobretudo pelo afã impulsivo, irrelevante e juvenil tuítar do presidente eleito durante esta transição”, Thomas L. Friedman, editorialista do ‘The New York Times’.
“O Euro não tem sido usado como uma moeda, mas como uma arma – uma faca encostada às costelas de cada país para o forçar a ir para onde o seu povo não quer ir”, Marine Le Pen citada pelo “The Wall Street Journal” que afirma que a líder da Frente Nacional quer transformar as eleições de maio num referendo sobre a permanência da França na zona Euro.
“Como adepto do Sporting, e apesar de ter um acordo até 2020, não podia fazer isto ao clube que adoro”, Abelardo Fernández, ao explicar porque tendo sido despedido de treinador não reivindica a indemnização de 4 milhões de euros do Sporting… de Gijón. Ainda há homens honrados.
O QUE EU ANDO A LER Habituados à ideia antiga de que após o caos surgiu a ordem, como Hesíodo (séc. VIII a.C) celebrou na Teogonia e está no Génesis da Bíblia, os homens parecem sempre surpreendidos quando verificam que há períodos caóticos após largos séculos ordeiros. A Idade Média, por exemplo, deixou às aranhas o positivista e progressivista Auguste Comte (séc. XIX) por não entender como podia haver um recuo na História em relaçao ao que fora o esplendor de Roma. Porém, na Ciência, a progressão era visível e compreensível, até que a relatividade de Einstein, mas sobretudo os quanta de Max Planck veio travar alguma euforia. Porém, foi já nos anos 80 que a Teoria do Caos (ou do efeito borboleta, ou das equações de Lorenz) veio demonstrar (livro de divulgação de James Gleick, bastante acessível) que os nossos conceitos de ordem podiam (ou podem estar todos errados). Lorenz, meteorologista de formação, demonstrou como os sistemas climáticos são caóticos e que a sua previsão tem de ser feita com bases em equações que levem em conta a incerteza; outros diziam que o bater de asas de uma borboleta em Pequim pode provocar um tufão no Texas; outros, ainda, que uma corrente de água dividida rigorosamente ao meio não implicava a passagem da mesma quantidade de água em cada metade, sendo impossível prever em que lado passava mais. Tudo isto somado, dava a Teoria do Caos, que ainda hoje se discute na comunidade científica. Mas eis que chega Federico Rampini, um jornalista e italiano (correspondente do ‘La Repubblica’ nos EUA), que escreve “A era do caos – uma viagem pela desordem mundial”, (debate com o autor aqui) considerando que, sobretudo na Europa, o caos é, de facto, a nova normalidade. Não concordo com ele em muitos pontos, nomeadamente, nas reticências que coloca à globalização, mas é um livro que merece a pena ler. Sobretudo porque desmente dois conceitos sócio-políticos muito divulgados: o primeiro é que o caos não transporta em si mesmo a resolução de problemas; o segundo é que, tendo em conta o caos, não vale a pena fazer previsões. O caos, como afirma Leonard Smith, professor de Oxford citado no livro, apenas nos diz que pequenas alterações no modo como as coisas são atualmente podem trazer enormes consequências no futuro. Para o bem e para o mal. E como este pensamento, esperemos por amanhã, o Dia T.
Porque, caros leitores, por hoje é tudo. Logo, às 18 horas o Expresso Diário já lhe dará mais informação, ao passo que o Expresso online vai atualizando as notícias ao minuto, ou mesmo ao segundo… Amanhã, pela fresquíssima matina, cá estará mais um Curto.
Tenha um excelente dia agasalhado. |
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