terça-feira, 17 de janeiro de 2017

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Expresso
Bom dia, já leu o Expresso CurtoBom dia, este é o seu Expresso Curto
Pedro Candeias
POR PEDRO CANDEIAS
Coordenador
 
17 de Janeiro de 2017
 
“Uma em cada dez pessoas sobrevive com dois dólares por dia” - este é um mundo desigual, distóptico e obsceno
 
Bom dia,
Não é boa política começar seja o que for com um resumo, ainda por cima quando o resumo é o resumo de um resumo de um documento escrito em inglês.

Por outro lado, ninguém diz que a Política é necessariamente boa.

Talvez se diga que é distante e distópica ou então desigual, o que calha bem, porque desigualdade é a palavra que nos leva de volta a este Expresso Curto. E à realidade.

Não à realpolitik, mas à realidade real que afinal é o mundo em que vivemos. Distópico e desigual.

Um estudo da Oxfam publicado a 24 horas do início do Fórum Económico Mundial diz-nos o seguinte: que há oito homens que têm tanto dinheiro como a metade mais pobre do planeta; que daqui a 20 anos 500 pessoas vão passar 2 milhões de biliões de dólares aos seus herdeiros; que os rendimentos dos mais pobres subiram três dólares/ano entre 1998 e 2011 (por comparação, os 1% dos mais ricos viram os seus rendimentos aumentar 182 vezes mais); que o crescimento dos rendimentos dos 50% mais pobres foi zero nas últimas três décadas (enquanto os 1% dos mais ricos cresceram mais de 300%); e que, por exemplo, o homem mais rico do Vietname ganha mais num dia do que o mais pobre em dez anos.

São muitos “ques” para alguns “porques”. Segundo a Oxfam, isto acontece porque as maiores empresas do planeta têm mais receitas do que 180 países todos juntos; e porque os trabalhadores dessas empresas são espremidos a bem dos salários de quem manda.

Ponhamos isto assim: um patrão de uma das maiores companhias de informação da Índia recebe 486 vezes mais do que um seu empregado normal. 

Isto não é normal.

A esta lista acrescem as fugas aos impostos e os paraísos fiscais, e as leis que beneficiam os mais influentes. Sendo que os mais influentes são os mais ricos e que os mais ricos são estes: Warren Buffett (investidor), Bill Gates (Microsoft), Amancio Ortega (Inditex), Carlos Slim (Telmex, America Movil, Samsung México e Grupo Carso), Jeff Bezos (Amazon), Mark Zuckerberg (Facebook), Larry Ellison (Oracle) e Michael Bloomberg, antigo mayor de Nova Iorque.

Quem preferir a versão longa a este resumo do resumo, encontra-la em português aqui. E lá está a frase de Winnie Byanyima, a diretora executiva da Oxfam, que dá ao título a este Curto: “É obsceno que tanto dinheiro esteja na mão de tão poucos quando uma em cada dez pessoas sobrevive com dois dólares por dia”.
 
OUTRAS NOTÍCIAS
Agora, nós e as siglas TSU, PS, BE, PCP, PSD e o PR: o Conselho de ministros aprovou a redução em 1,25 pontos percentuais (para 22,5%) da Taxa Social Única para os patrões num decreto-lei. Fê-lo digitalmente e o documento seguiu para Marcelo Rebelo de Sousa que o estudará e promulgará durante o dia de hoje. Depois, é seguir-lhe o rasto até ao Parlamento onde a coisa promete não passar do e-mail: o Governo do PS está isolado, porque BE, PCP e – helás – PSD são contra esta redução; Marcelo diz que é a favor, mas impõe uma condição, um Plano B cozinhado por António Costa que não desconserte a Concertação Social. Já o CDS-PP de Assunção Cristas prefere ver no que isto dá. (Para quem perdeu o início desta história inusitada, em que se vê uma singular aliança entre BE, PCP e PSD, vá por este link; depois, é acompanhar o resto da trama em expresso.pt e no Expresso Diário.)

Ainda na política portuguesa: o PSD não apoiará Assunção Cristas nas eleições autárquicas à Câmara de Lisboa, Passos Coelho sondou José Eduardo Moniz para o efeito, Moniz disse que não a Passos e Cristas ficou à espera que alguém lhe dissesse porque é que ninguém a avisou à primeira vez. 

À segunda, o embaixador do Iraque pagou €40 mil à família de Rúben Cavaco por danos morais (há algumas semanas, o diplomata já dera €12 mil para cobrir as despesas médicas). Saad Mohammed Ali e Vilma Pires, mãe do rapaz agredido pelos filhos do diplomata, encerraram o último capítulo de um enredo que começou na noite de 17 de agosto de 2016.

Hoje também é dia 17 e daqui a três dias tomará posse o presidente eleito norte-americano mais polémico, desbocado, destemperado, impreparado e disruptivo – no pior dos sentidos da palavra – da História. Há festas para organizar, contra e a favor, de elementos da alt-right e da comunidade gay, de ativistas pelos direitos civis e de cowboys do Texas, que prometem enfernizar o juízo da polícia em Washington (a Quartz tem o guia completo dos lugares para frequentar ou evitar).

Até sexta-feira, é contar e recontar o dia-a-dia porque nem contado alguém acredita no que ele diz. Eis as últimas trumpices, chamemos-lhes assim, porque rimam com parvoíces: ameaçar taxar em 35% os BMW importados do México e criticar Angela Merkl por ter deixado entrar “aqueles ilegais [refugiados]” na Alemanha. Os alemães disseram-lhe que os americanos deviam construir carros melhores; Manuel Valls, primeiro-ministro da França, ouviu naquelas palavras uma “declaração de guerra à Europa”.

A meio caminho entre a Europa e a Ásia está a Turquia, que entrou em 2017 com um ataque terrorista a uma discoteca de Istambul que levou 39 pessoas. Ontem, soube-se que o principal suspeito, Abdulkadir Masharipov, foi detido pelas autoridades turcas.

No desporto, hoje é mesmo #DiadeSporting porque o Sporting joga em Chaves a continuidade na Taça de Portugal num contexto pouco simpático: Bruno de Carvalho e Jorge Jesus estiveram ontem reunidos durante horas a discutir o que se passa, sendo que o que se passa não é bom. Porque o Sporting está a oito pontos do Benfica, porque o Sporting está em quarto lugar e fora da Taça da Liga (leia mais à frente, nas manchetes).

Continuando no desporto, a tribunaexpresso.pt traz-lhe um relato de superação de Inês Henriques, a “mulher mais rápida do planeta a marchar durante 50 quilómetros”. Na entrevista que deu ao Diogo Pombo, a portuguesa de Rio Maior fala dos sacrifícios de quem leva a vida a andar depressa num país onde os miúdos preferem estar sentados. O Diogo Pombo, além disso, também lhe traz o balanço da primeira volta do campeonato, que acabou no passado domingo, com a vitória do Porto frente ao Moreirense. E como a arbitragem ainda está na ordem do dia, a Lídia Paralta Gomes mostra-lhe, aqui, como é difícil ser-se árbitro: ameaças, insultos, contentores do lixo, e-mails e estratégias para evitar o perigo.

As primeiras páginas de hoje:
  • Correio da Manhã: “Marcelo decide baixa da TSU”, “Mais um menor morto por comboio” e o “Dia D para Jesus e Bruno”;
  • Jornal de Notícias: “Farmácias vão controlar obesos e diabéticos”, “Patrões pressionam Costa e levam chumbo da TSU à Presidência da República”, “Vaga de frio põe termómetros abaixo de zero”;
  • Público: “Empresas com apoio de 60 milhões para contratar desempregados”, “Merkl desvaloriza aemaça de Trump ao sector automóvel”;
  • Diário de Notícias: “Todos os anos há quatro mil crianças que não são vacinadas”, “Jesus não admite sair mesmo que perca na Taça”, “País do Mar exporta 98% dos seus licenciados náuticos”;
  • jornal i: “Ainda estou a tentar perceber o significado de chegar aos 70 anos” (entrevista a Francisco George);
  • A BOLA: “Futuro em Jogo” (lembra-se do que escrevi atrás sobre o Sporting?), “Grimaldo já está em Madrid para ser operado”, “Soares a chegar para o ataque”;
  • Record: “Capitão falou às tropas” (ou seja, Adrien pediu juízo para o jogo com o Chaves), “Jiménez recusa China”
  • O Jogo: “Goleador a chegar (FC Porto à procura de um ponta de lança)”, “Estreia de Hermes em equação” (Hermes é lateral-esquerdo) e “Leão foge ao caos”

FRASES
O recém-empossado director do Público, David Dinis, propôs reduzir a minha crónica semanal a mensal e cortar para metade a remuneração de cada crónica. Recusei por considerar que essa proposta esvazia o diálogo com o leitor e reduz a remuneração a algo indigno. [...] encerra-se a minha relação de 19 anos com este jornal
Alexandra Lucas Coelho, jornalista, no Facebook

Se o afastamento de Jesus o ajudar, Bruno [de Carvalho] vai fazê-lo sem pestanejar
Pedro Madeira Rodrigues, candidato às eleições presidenciais do Sporting

O desafio dos Estados Unidos de hoje forjou o destino do homem de amanhã
Eugene Cernan, quando entrou no módulo lunar na missão Apolo 17. Cernan foi o último homem a pisar a lua e faleceu ontem

Uma das primeiras ordens que vou dar – no primeiro dia – que eu considero ser segunda-feira e não sexta-feira ou sábado. Certo? Ou seja, o meu primeiro dia será segunda-feira porque não quero andar a assinar coisas e misturar isso com muitas celebrações, mas uma das minhas primeiras ordens que vamos assinar será para termos fronteiras fortes
Donald Trump, noutro momento incrível de oratória (a tradução é da minha responsabilidade; a construção frásica e o conteúdo são dele)

O QUE ANDO A LER
“Born To Run” chegou-me no Natal e ando às voltas com ele desde então, a descobrir coisas como esta: para quem foi escrita a The River. Ler a autobiografia na língua original é como escutar as suas canções, porque as expressões, as palavras e as imagens que ele usa são as mesmas que encontramos nas suas canções. Ali estão Freehold, New Jersey, o pai, os carros, os relâmpagos, as raparigas, o amor falhado, os sonhos desfeitos, as corridas, os amigos, os que sistematicamente perdem para o poder.

É um texto cantado, a sua voz está sempre presente, e é um retrato dos subúrbios norte-americanos pela mão de um dos seus, genuíno e honesto, que viu além da casa e da família disfuncional em que nasceu e cresceu.

Obviamente, Bruce Springsteen é um dos meus heróis.

Por hoje é tudo e vá passando os olhos pelo Expresso, pela Tribuna (o Diogo Pombo fará a crónica do jogo do Sporting), e às 18h leia o Expresso Diário. E agaselhe-se, tenha cuidado com o frio, e ouça a Racing in The Street. Ou a Thunder Road. Ou a Atlantic City. Ou a Darkness in The Edge Of Town. E perceba que há mais neste homem do que Born in the USA.
 

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