sexta-feira, 14 de outubro de 2016


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Pedro Candeias
Por Pedro Candeias
Coordenador
 
14 de Outubro de 2016
 
Às vezes, tudo o que é preciso para mudar o mundo está numa canção
 
Por onde começar?
Talvez pelo apelido roubado ao poeta Dylan Thomas, porque Bob não nasceu Dylan e sim Robert Allen Zimmerman, embora tenha a impressão, por esse revirar de olhos, de não lhe estar a dar novidades. Bom, talvez possa recuperar o dia em que Dylan disse ao editor John Hammon, “olha, sou órfão”, para assinar pela Columbia sem a rubrica dos pais por ser menor de idade - e já percebi que leu isto noutro lugar, noutro tempo até. Talvez.

Talvez fosse bom recordar-lhe que a única canção de Dylan que chegou a número 1 nas Billboard Charts foi a “Mr. Tambourine Man” na versão dos Byrds, o que é perverso face ao número de melodias publicadas por ele e trauteadas por nós – mas vejo que isto também não é original para si e, provavelmente, para ninguém. E se lhe disser que Dylan passou uns tempos em Portugal com uma das mulheres, Sara, e que nessas férias nasceu a canção “Sara”? Nada.

Esgotei as opções.

Para um homem tão privado e recluso quanto Bob Dylan é curioso que se saiba tanto sobre ele (este perfil, de 1964, da New Yorker, é o mais próximo da sua verdade que se pode encontrar). É mais ou menos isto: gravou 37 álbuns de estúdio, editou 11 ao vivo, 58 singles e ainda compilou os 12 discos aos quais chamou “The Bootleg Series; pôs a viola na garganta, tocou-a e trocou-a pela guitarra eletrificada e sofreu com isso; fez folk, blues, country e rock, covers de Sinatra e as suas canções de protesto tornaram-no a “Voz de uma Geração”, alcunha que ele sempre recusou tal como sempre repudiou as perguntas pessoais e renegou a filiação; e escreveu sobre política, desigualdades, mas também sobre sonhos e amor, amores e desamores, com metáforas e imagens alucinantes; sem ele os Beatles não tinham deixado o ié-ié e o Bruce Springsteen não existiria. Dylan venceu 12 Grammys, 1 Oscar e 1 Globo de Ouro, “Like A Rolling Stone” é tida como a melhor canção de sempre, enfim, muitos prémios vitoriados por todos nós sem nos questionarmos porquê, porque o homem foi, era e é único. E profícuo.

Mas essa aparente unanimidade e imunidade acabaram quando Dylan, o camaleão que cruzou géneros musicais ao longo do tempo, protagonizou o truque de todos os truques: misturou duas artes e ganhou o Nobel da Literatura. Na “Estética” de Hegel distingue-se Arquitetura de Escultura de Pintura de Música e de Poesia e o “Manifesto” de Ricciotto Canudo juntou-lhes a Dança e o Cinema – Bob, o construtor de pontes, fez o dois-em-um e foi um trinta-e-um.

Já era difícil defini-lo enquanto músico, experimente agora fazê-lo enquanto artista. Difícil. As questões andam, mais estrofe, menos estrofe, à volta do que se segue: Dylan é um poeta ou um cantor? E a poesia cantada não é um objeto estético, isto é, literatura? É possível desassociar a música da letra, ou melhor, Dylan seria Dylan se a “Visions Of Johanna”, por exemplo, não tivesse melodia? E se o Nobel da Literatura decidiu dar este prémio a um músico/poeta/escritor, porque não o deu a Leonard Cohen, Bruce Springsteen ou Chico Buarque?

Li várias opiniões, umas contra, outras a favor.

Bruno Vieira Amaral, no Observador, diz que Dylan não merecia e que a Academia só quis “celebrar-se a si própria e à sua veia provocatória”. “Alguém consegue imaginar o Nobel ir para aquele grande letrista checo? Ou para um grande baladeiro turco?”, ironiza Amaral. Anna North, no New York Times, faz a sua argumentação: “Ele é grande porque é um grande músico, e quando o comité dá este prémio a um músico, perde a oportunidade de honrar um escritor”. O autor Irvine Welsh, que escreveu o “Trainspotting”, foi ao Twitter mostrar que sabe de anatomia: “Eu sou fã de Dylan, mas este é um prémio à nostalgia mal concebido, arrancado das próstatas rançosas dos senis”.

Aqui, no Expresso Diário, pediram-se testemunhos ao analista Pedro Adão e Silva, ao cantautor Sérgio Godinho, ao letrista Carlos Tê, ao escritor Valter Hugo Mãe e ao crítico literário José Mário Silva - e todos eles, entre elogios a Dylan e alguma estupefação pelo momento, chegaram à mesma conclusão, resumida na frase que já lhe entrou nos ouvidos como o slogan deste Nobel: os tempos estão a mudar. Neste ponto, o José Mário Silva interroga-se e interroga-nos: “A questão de saber o que a Academia Sueca considera ‘literatura’ vai certamente estar no centro do debate durante os próximos tempos”. Nota do José Mário: no ano passado, o Nobel foi para a jornalista Svetlana Alexievich.

E, de todos os lugares digitais onde estive à busca de informação, o do Guardian pareceu-me o melhor. E o mais completo. E o mais longo, porque foi feito minuto a minuto, até às tantas. Nele cabem os elogios de Bill Clinton e Bruce Springsteen, as críticas aos livros de Dylan (sim, ele editou livros), o ataque do escritor francês Pierre Assouline (“sempre pensei que isto era gozo”), e este curioso texto de um músico de country norte-americano chamado Mark Guarino: “As músicas do Dylan são alta e baixa cultura. Os seus fãs vão desde os camionistas aos tipos das faculdades Ivy League. As músicas dele fazem sentido para quem esteve em Woodstock mas também para quem as ouviu no final da Guerra do Iraque. A literatura é, em última análise, sobre linguagem, não sobre género. Esta é a afirmação daquilo que a cultura pop pode fazer: chegar à alta cultura”.

O que a Academia parece querer dizer, a partir de agora, é que não há alta cultura, baixa cultura, nem contracultura. Há, apenas, cultura.

O triunfo da Pop Art chega mais de meia centena de anos depois de ter nascido
 

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OUTRAS NOTÍCIAS
Dez horas depois de se terem reunido uma última vez antes do dia OE, o Conselho de Ministros aprovou o documento que o Governo irá apresentar, hoje, às 17h, no Parlamento. O Orçamento do Estado, já se sabe, é aquele manual de instruções para seguir durante um ano, e algumas delas saltaram cá para fora antes de tempo - ou mesmo a tempo de preparar os portugueses para o que aí vem. (Para realmente saber, passo a passso, o que se faz e como se faz nestas coisas, leia o que a Joana Mateus escreveu no Expresso Diário.)

Mas vamos às novidades, que são algumas, e aqui enumeramos as principais: aumento do subsídio de refeição para os funcionários públicos, “fat tax” aplicada a alimentos com muito açúcar, apoio extraordinário a desempregados de longa duração, congelamento de 25% da verba destinada aos estudos, fim da sobretaxa por fases.
Isto é o que as primeiras páginas dos jornais de hoje trazem sobre este tema:
  • No DN titula-se que a “Tarifa social quadriplica beneficiários”. Lê-se, também, o seguinte: “sobretaxa acaba faseadamente com corte de 25% para todos já em janeiro”; “negociação das pensões é o foco de maior tensão entre os parceiros”; “Governo volta aos cortes intermédios para cumprir défice imposto por Bruxelas”;
  • No Público, escreve-se que “automóveis, tabaco e álcool [serão] mais caros em 2017”. Além disso, “a subida das pensões será faseada”, o IVA na restauração fica como está, e o que falta do acordo que continua “pendurado à esquerda”;
  • No Jornal de Notícias assegura-se que a “sobretaxa do IRS será eliminada em quatro fases”;
  • No i, avança-se que o Bloco recuou e “já aceita que a sobretaxa não seja devolvida por inteiro”;
  • No Jornal de Negócios garante-se que o Governo sobe limiar do novo imposto sobre o património para 600 mil euros;
De Portugal para as Nações Unidas, onde António Guterres foi confirmado pela segunda vez como Secretário Geral. O português discursou em três línguas, reforçou palavras como “humildade” e “gratidão” e perguntou pela “dignidade do ser humano” que se perdeu no mundo em que vivemos, como escreve a Helena Bento. Guterres, aclamado e aplaudido de pé, elogiado por Hillary Clinton e por outros líderes mundiais pela sua “transparência”, tem a ONU a seus pés.

Fugido a sete pés está Pedro Dias, o suspeito dos crimes de Aguiar da Beira, ainda a monte. Durante o dia de ontem, correram informações de que o homem poderá ter pulado a fronteira para o lado de lá, e, em Salamanca, as autoridades estão em alerta (entre São Pedro do Sul e Salamanca estão, em linha reta, 264 quilómetros). Hoje, ao Expresso, uma fonte da PJ não exclui a fuga para Espanha, mas descarta Salamanca como destino final. Continua a procura de algo mais que leve a investigação no caminho dele.

E no caminho do Sporting estava o Famalicão, que acabou derrotado por 1-0 (golo de Markovic) na 4.ª eliminatória da Taça de Portugal. Diz a Lídia Paralta Gomes que Jorge Jesus quis baralhar tanto a equipa, que quase não ganhou para o susto. “Não fomos tão criativos ofensivamente como costumamos ser”, analisou J.J. Hoje, o Benfica joga com o 1.º Dezembro, em Sintra, e lá mora o Martim Águas, filho de Rui, neto de José. O Diogo Pombo falou com ele e traçou-lhe a pinta numa entrevista na Tribuna.

FRASES
Eu adorava fingir que isto não estava a acontecer, que eu não estava aqui a falar de um candidato à presidência que se gabou de ter assediado sexualmente mulheres. Não podemos ignorar isto. Não é conversa de balneário, é comportamento de um predador sexualMichelle Obama, sobre o homem que diz querer fazer a América grande outra vez, que já insultou mulheres e que foi apanhado em vídeo e áudio a gabar-se de supostas conquistas sexuais, que é contra os refugiados e a favor de um muro. E que é o candidato Republicano à presidência dos EUA.

“Costa queria eleições já para se livrar do BE e do PCP” Ferraz da Costa, presidente do Fórum para a Competitividade ao i, a completar uma ronda intervenções em jornais e televisões

A política não se pode fazer com meninos do coro” João Soares, ao Jornal de Negócios. Relembrar: os meninos do coro não dão “bofetadas

“Quero retirar-me no Real Madrid, ficar aqui muitos anos, porque é o clube do meu coração” Cristiano Ronaldo ao jornal Marca e à atenção de Bruno de Carvalho.

O QUE ANDO A LER
No verão de 1986 eu tinha seis anos e sabia o que era o futebol, embora não o nosso futebol, mas o dos outros, porque era fora de Portugal que estava – e o português, já se sabe, é mestre na arte de perder a portugalidade para encontrar conforto nos costumes alheios.

Portanto, os cromos que me passavam pelas mãos eram de equipas italianas, sobretudo do Inter, mas a rapaziada da futebolada também me falavam da Fiorentina e da Juventus, porque eram do norte de Itália, mas pouco do Nápoles, que era do sul - e o italiano do norte, já se sabe, não é fã do italiano do sul.

Só que o Nápoles, em 1986, era o clube do genial Maradona que inverteu a realidade do futebol em Itália – e na Europa – pelo que os italianos andavam a contar-me só metade da história. E eu descobri a outra metade ao vê-lo jogar pela Argentina, no Mundial do México, na televisão do meu tio.

Se bem me recordo, vi o Itália-Argentina (1-1) e o Argentina-Bélgica (2-0) – também havia lá uns quantos belgas por onde andavam os Candeias – mas não me recordo do Argentina-Inglaterra (2-1), o da mão de Deus e do golo do século. E nunca mais me esqueci do Maradona, tal como a grande generalidade do habitantes deste planeta que já tinham dois dedos de testa quando este argentino apareceu.

Desde então, o Maradona ficou sempre o tipo a quem os outros seriam comparados, com prejuízo para os que vieram depois dele, que nunca tiveram aquela centelha que distingue os imortais: o carisma. Maradona está na história porque também é uma grande história – talvez só a de Garrincha a supere – e sempre que a revisitamos, encontramos alguma coisa diferente. E é isso que espero neste “A Mão de Deus - A Minha Verdade”, uma autobiografia de Maradona sobre o que se passou em 1986: a preparação, as lesões, os arrufos com o selecionador e o governo e as brigas com Passarella, o seu maior obstáculo e inimigo quando tentou tomar o controlo da seleção argentina.
Recebi-o ontem, li os primeiros dois capítulos antes de começar este Curto – e não estou arrependido.

Por hoje, é tudo. Acompanhe esta jornada orçamental no Expresso, receba as últimas do Diário às 18h, leia a crónica do jogo 1ºDezembro - Benfica à noite na Tribuna, e comece bem o fim de semana com uma visita aos quiosques.
 

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