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Por Miguel Cadete
Diretor-Adjunto
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14 de Julho de 2016 |
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Adeus Euro, a má vida continua
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Éder foi ao Jornal da Noite da SIC e disse que eles “vão perceber que somos justos vencedores”. Eles, neste caso, são os franceses; os mesmos que ainda não parecem ter digerido a vitória de Portugal no Euro 2016. Ou os dirigentes da UEFA (o organismo que gere a Europa do futebol). Eles, que atribuíram o melhor golo do torneio que terminou domingo a um golo vulgar contra Portugal, eles que não iluminaram a Torre Eiffel com as cores da bandeira portuguesa, eles os que já tinham a festa da vitória preparada mesmo antes da vitória acontecer, “eles” ( o mesmo “eles” de “O Processo”, de Kafka), os que, como o jornal desportivo “L’Équipe”, não reconheceram a façanha de Éder e nem sequer lhe atribuíram pontuação naquele jogo.
O jogo em que o português resolveu a final do Euro 2016 com um golo que
hoje podemos continuar a ver nas redes sociais com as mais diversas
bandas sonoras (aqui com banda sonora de Carlos Paredes) foi o “patinho feio” (palavra de Fernando Santos) que se transformou em cisne negro da primeira competição maior conquistada pelo futebol português. Bem, eles não sabem o que dizem. Mas nós iremos agradecer a Éder até ao resto das nossas vidas. Ao Éder que viu a brecha capaz de abrir o caminho para a baliza e para a glória, mas que o Governo português não está a conseguir encontrar: aquela aberta no muro defensivo das sanções impostas pela Comissão Europeia, a UEFA do outro Euro. Um braço de ferro
que parece muito mais difícil de ultrapassar que todos obstáculos que a
França e a UEFA terão colocado, dentro e fora de campo, à Seleção de
Portugal. O “Diário de Notícias” escreve hoje na sua manchete que
António Costa “recusa visto prévio” e que o Orçamento do Estado para 2017 irá chegar em simultâneo a Bruxelas e ao Parlamento português.
“Comissão queria ver um esboço de cortes adicionais no défice deste ano
e no do próximo antes de o Orçamento do Estado para 2017 chegar à
Assembleia. Mas o governo rejeita a ideia. O documento chegará a ambas as instituições a 15 de outubro, depois de acertadas as medidas com o Bloco e PCP”, pode ler-se na primeira página daquele diário de Lisboa. Esperemos então, provavelmente sentados, que ainda antes do 79º minuto desta partida entre em campo o Éder que vai resolver a contenda. Aguardemos pela entrada em campo do ponta de lança capaz de marcar o nosso golo de ouro e virar o resultado do Euro (mesmo que o jogo já tenha registado um autogolo marcado por uma anterior equipa de Portugal). Por ora, ainda se discute se a equipa em campo é menos beneficiada pela UEFA de Bruxelas do que a anterior. E mesmo que o resultado final seja salomónico, como se atreveu a sugerir o presidente Marcelo, a questão já está, para a maioria dos espectadores, do lado da politiquice. As sanções são “injustas e contraproducentes”, disse justamente o primeiro ministro, porque esta equipa não está, como não estava o Portugal de Éder, a jogar em casa, ao contrário do Executivo anterior. Será mister Fernando Santos o único capaz de resolver mais este imbróglio? No “Jornal de Negócios” diz-se que a desvantagem no marcador ainda pode ser agravada e que o “défice de 2015 ainda pode mudar” devido a um contributo negativo da banca ameaçar as promessas deste Governo. A banca,
está de bom de ver, ainda pode ser o Payet que lesiona o nosso capitão
de equipa e põe fora desta final o melhor trunfo de Portugal.
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OUTRAS NOTÍCIAS
Theresa May tomou ontem posse como chefe do Executivo britânico. Nas suas primeiras palavras na qualidade de Primeiro Ministro,
May prometeu unir o seu eleitorado, que vale a pena lembrar está
partido entre quem quer ficar na União Europeia e quem pretende sair.
Entre o campo e a cidade, entre ricos e pobres ou entre a Inglaterra e a
Escócia. Mas a ideia de convergência pode ter ficado por aí. Theresa May nomeou Boris Johnson, o mais mediático defensor do Brexit, chefe da diplomacia britânica. E despediu George Osborne, o anterior responsável pelas finanças no Governo de David Cameron, por Philip Hammond, que volta a entrar em campo depois de ter ocupado o lugar que agora foi entregue a um jogador truculento como o louro Boris. Apesar do tom conciliatório, o governo de Theresa May acolhe neste Governo a fação mais à direita do Partido Conservador, além de muitos defensores do Brexit. Espanha: terceiras eleições à vista? Essa é a solução que ninguém pretende,
conclui-se depois de Mariano Rajoy, líder do PP, ter terminado a
primeira ronda de conversações com as restantes forças partidárias.
Sucede que os partidos espanhóis, mais uma vez, não se entendem. Pedro
Sánchez, do PSOE, jura a pés juntos que “no dia de hoje”, votaria contra
um novo governo do PP, não garantindo então uma solução governativa. O
braço de ferro prossegue. Más notas a Português e Matemática.
Os resultados dos exames nacionais do ensino secundário, ontem
conhecidos, mostram que os alunos responderam mal na prova de História,
onde a média nacional não ultrapassou os 9,5. Lê-se na notícia que faz manchete do “Público”,
que acrescenta terem sido melhores os resultados de Biologia, por
contraste com as notas a Português e Matemática, onde as médias
baixaram. Banca chumba Ongoing. 99% dos credores rejeitaram o plano de reestruturação da Ongoing. A empresa de Nuno Vasconcellos segue para insolvência, diz o “Jornal de Negócios”, também na primeira página. Festivais recomeçam hoje. Elton John no Marés Vivas, o festival de Vila Nova de Gaia, e The National no Super Bock Super Rock,
em Lisboa, são os principais nomes de uma nova jornada festivaleira que
tem início esta quinta-feira. Os espectáculos prosseguem amanhã e
depois, com Kendrick Lamar e Iggy Pop (em Lisboa) e James Bay e Tatanka (em Gaia). Sporting perde na estreia. A equipa de Alvalade sofreu ontem uma pesada derrota no primeiro jogo, ainda que amigável, desta temporada. A equipa de Jorge Jesus perdeu por 4 – 1 com o Monaco, treinado por Leonardo Jardim. A imprensa especializada é, porém, unânime, a destacar a exibição de Podence, aparentemente a nova pérola do centro de formação dos leões. FRASES
“Vamos ser eternos”. Éder, em “A Bola” “Martin (Schulz) fala comigo ao telefone todas as manhãs. A nossa amizade vai além da política”. Jean-Claude Juncker, no “DN” “Não termos sempre a mesma opinião é algo que acontece constantemente”. Martin Schulz, no “DN” “A Grã Bretanha terá um novo papel no mundo”. Theresa May, no discurso que sucedeu à sua tomada de posse “Eles trazem drogas. Eles trazem o crime. Eles são violadores”. Donald Trump discursando sobre os mexicanos O QUE VOU QUERER LER O novo livro de Gay Talese,
o jornalista de 84 anos que entre muitos outros feitos produziu uma das
melhores biografias alguma vez publicadas de Frank Sinatra. Apesar de
nunca ter falado com The Voice. “The Voyeur’s Motel” é obra envolta em controvérsia, tal como já teve ocasião de explicar o meu camarada Valdemar Cruz. Mas é coisa que promete, apesar de ainda não ter sido anunciada data para o seu lançamento em Portugal. Começando pelo fim, o próprio Talese renegou o livro por “falta de credibilidade”
quando o “Washigton Post” pôs em causa as suas fontes. E de que trata
então? Vale a pena ler a pré-publicação na revista “New Yorker” mas isto
anuncia-se como o relato minucioso do que se passou num motel durante
vários anos, em que o seu proprietário montou um sistema que permitia
vigiar a intimidade dos hóspedes. O livro de Talese é, por isso, um encontro com a privacidade que, diz quem já o leu, transforma cada pormenor sem a mínima importância das nossas vidas em algo realmente maior que a própria vida.
Esta promete ser a história da vida conjugal que ainda não foi escrita,
de casais heterossexuais, de casais lésbicos, de como nos comportamos
de forma mais ou menos repressiva na intimidade, do que sucede
verdadeiramente quando, supostamente, ninguém está a ver. São pessoas – o que contam são as pessoas –
expurgadas de contexto (ou com nada mais senão contexto), num mundo em
que o dinheiro desapareceu. Um universo onde predominam corpos e as
ações desses corpos. Como nos relacionamos uns com os outros? O normal existe? Um mergulho na vida real, como nenhum reality show pode prometer até hoje. A não perder: a partir de sábado, o Expresso oferece boa literatura a todos os seus leitores. A coleção Camilo Castelo Branco
começa com o inevitável “Amor de Perdição” e conta com mais sete
volumes resgatados de uma grandiosa obra. A coordenação editorial coube a
João Bigotte Chorão. Por hoje é tudo. Todas as notícias serão atualizadas no Expresso Online. Lá para as 18 horas, chega mais um Expresso Diário.
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