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Por Miguel Cadete
Diretor-Adjunto
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30 de Junho de 2016 |
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Portugal, os Euros e a alieNação
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Portugal joga mais logo contra a Polónia a qualificação para as meias finais do Euro 2016.
Se ganhar fica entre as quatro melhores equipas do torneio. Em caso de
derrota, fica interrompida uma caminhada que começou a 14 de junho. O país voltará à dita normalidade. A partida anterior, contra a Croácia, foi vista, só num canal, por mais de três milhões de espectadores.
Se juntarmos os outros canais em que foi transmitida, mais os
emigrantes que estão lá fora, é natural que esse número cresça para os quatro milhões de portugueses.
Mas a mancha de visibilidade da seleção é muito maior: nos canais de
televisão, rádio, jornais, revistas e na internet, nas redes sociais e
nas conversas do dia-a-dia, o espaço dedicado a Cristiano Ronaldo e seus camaradas é muito mais vasto que o dos jogos propriamente ditos. Como se ouviu num dos relatos radiofónicos do golo frente à Croácia, trata-se um país com “fome de glória”. Outros já disseram que se tratava de alienação, ou de alguém que não tem nada no plano económico e, sobretudo, político com que se orgulhar. “O
futebol, pelo menos, são 90 minutos de fantasia onde os portugueses
ainda acreditam no talento, no esforço e até na benevolência do destino”, disse João Pereira Coutinho. No nosso caso é bem possível que, dada a maneira de jogar do treinador Fernando Santos, exista um tempo extra e esses 90 minutos passem, pelo menos, a 120. Foi assim no jogo dos oitavos de final. E será assim se mantivermos o mesmo desempenho dos jogos da fase de grupos, em que Portugal também não foi capaz de levar de vencida qualquer dos adversários nos 90 minutos
regulamentares. Bem vistas as coisas, já levamos 360 minutos de tempo
regulamentar sem conseguir derrotar os nossos adversários. E no jogo
contra a Croácia, o golo milagroso surgiu apenas a três minutos do fim do prolongamento. Mais ainda, durante os 390 minutos que Portugal esteve em campo, apenas se encontrou na posição de vencedor ao longo de uns míseros 23 minutos. Liderámos durante 5,9% do tempo de jogo, o que não é retumbante. Mas ainda estamos lá. Os comentadores – que também são quase quatro milhões – exigem, na sua grande maioria, a entrada no onze titular de Renato Sanches, o médio de 18 anos que transporte a bola lá para a frente e anima as hostes com um futebol que a espaços é vistoso. Mas o selecionador não tem ido em conversas. E sabe que quando entra Renato Sanches, nunca antes da segunda parte ter início, o meio campo de Portugal fica partido, perdem-se passes e a defesa começa a passar as passas do Algarve. Se Renato entra de início ou não, é o tema que hoje interessa aos portugueses. Mas já se viu que o conservador Fernando Santos – “não vou em cantigas do bandido”, disse ontem - só o põe a jogar, tal como a Ricardo Quaresma, em caso de extrema necessidade.
Um mistério que só ficará resolvido pouco antes das 20h, quando for
conhecida a equipa, mas tenho para mim que num jogo a eliminar como o de
hoje jogam Rui Patrício, Raphael Guerreiro, Pepe, José Fonte,
Cédric, William Carvalho, Adrien, João Mário, João Moutinho, Nani e
Cristiano Ronaldo. É com eles que Fernando Santos, muito provavelmente, vai “acreditar na benevolência do destino”. Porque, lá está, nos jogos que acontecem em Bruxelas, onde também se disputa a “benevolência do destino” de Portugal, continuamos a não ser tão bem vistos. Em Berlim, Wolfgang Schaüble, o ministro das Finanças alemão, que nos faz tremer mais do que Lewandovski, disse que “Portugal cometeria um grave erro se não cumprisse os seus compromissos (anteriores)”. E acrescentou “Portugal
precisaria então de pedir um novo resgate. Os portugueses não querem um
novo programa de ajuda nem precisam dele se cumprirem as regras
europeias”. Claro que isto gerou um sururu maior do que aquele que João Pinto aprontou no Mundial de 2002 quando, durante um jogo contra a Coreia do Sul, deu um murro no árbitro. Claro que as declarações de Schaüble vêm na sequência dos menos bons resultados da execução do Orçamento do Estado português, como sublinha João Vieira Pereira. Claro que o primeiro-ministro tinha sossegado o país, vindo a público dizer dois dias antes que “não haverá medidas adicionais”. Claro que isto deixa nas pessoas a mesma segurança que as defesas sentem quando a seleção da Alemanha começa a massacrar as equipas adversárias. Mas também é claro que o ministro germânico disse o que disse no dia em que o FMI constatou que a Alemanha precisa das mesmas reformas que gosta de fazer aplicar a outros países. Que a sua estrutura demográfica, demasiado envelhecida, requer cuidados intensivos. E que a escassez de força de trabalho
está a conduzir o país a uma desaceleração do crescimento. Que são
precisas mais mulheres a trabalhar a tempo inteiro, que a idade da
reforma deve aumentar ou que a formação dos imigrantes de é essencial
para inverter a situação. Claro que as declarações de Schaüble também sucederam no dia em que se soube que a divisão norte-americana do Deutsche Bank (e o Santander) não passou, mais uma vez, nos testes de stress. Claro que isto não é alienação, ao contrário de 22 tipos atrás de uma bola. Claro que precisamos de ganhar o jogo de hoje. Dê lá por onde der.
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OUTRAS NOTÍCIAS Espanha e França rejeitam entrada da Escócia no Reino Unido. “Se o Reino Unido sai, a Escócia também sai”, disse Mariano Rajoy em Bruxelas precavendo os movimentos independentistas que tem na Catalunha ou no País Basco. François Hollande está com o recém vencedor das eleições legislativas em Espanha: “as negociações para a saída serão com o Reino Unido, não com uma parte do Reino Unido”. Ao mesmo tempo, Nicola Sturgeon,
líder do SPN, o maior partido escocês, tentava convencer Jean-Claude
Juncker a descolar a Escócia, onde 62% dos eleitores votaram a favor do
“Remain”, do Brexit. Rajoy quer governo de coligação com o PSOE. À segunda é de vez? O líder do PP, que ganhou pela segunda vez as eleições sem se vislumbrar uma solução de governo, vai oferecer a Pedro Sanchéz, líder do PSOE, um lugar no próximo executivo.
Além das reformas genéricas (crescimento e emprego, pacto social,
reforma fiscal, educação e administração pública) já apresentadas nas
eleições de dezembro, Rajoy está disposto a discutir uma reforma
constitucional na negociação com o PSOE. Atentado no aeroporto de Istambul fez 41 mortos. A contagem das vítimas do atentado de Atatürk não parou de subir até ontem à noite: 41 mortos e 239 feridos. O “Libération” discute hoje, logo na primeira página, a segurança nos aeroportos e começa por considerar essa uma missão “impossível”. Nenhuma organização reivindicou até agora a autoria da carnificina. António Ramalho no Novo Banco. O “Diário de Notícias” dá como certa, na primeira página, a substituição de Stock da Cunha (que regressa ao Lloyds Bank) por António Ramalho
(ex-BCP, Infraestruturas de Portugal). Entretanto, o prazo para a
apresentação de ofertas para a compra do Novo Banco termina hoje. Alvin Toffler morreu.
O autor de livros de enorme sucesso, como “A Terceira Vaga”, publicados
na segunda metade do século XX morreu na segunda-feira, em Los Angeles,
aos 87 anos. Toffler estimava que a convergência entre ciência, capital e comunicações iria transformar profundamente as nossas sociedades. Luaty Beirão libertado.
O rapper luso-angolano e os outros 16 ativistas detido nas prisões de
Angola foram ontem libertados ao final da tarde, permanecendo com termo de identidade e residência. Beirão, assim como outros 11 revus, encontravam-se presos no Hospital Prisão São Paulo. A esse propósito vale a pena ver o 2:59 de Pedro Santos Guerreiro, Anabela Campos, Joana Beleza e João Roberto que procura responder à questão “De onde vem o dinheiro e o poder da princesa de África?” Indispensável. Theresa May na corrida à liderança do Partido Conservador. É anunciada esta manhã a candidatura de Theresa May,
atual responsável pelos assuntos internos de Inglaterra e do País de
Gales, à liderança do Partido Conservador britânico, depois de conhecida
a demissão de David Cameron. Boris Johnson, ex-presidente da Câmara de
Londres, também irá divulgar a sua candidatura esta manhã. FRASES
“Os portugueses estão fartos de nós até ao tutano”. Pedro Delgado Alves, deputado no Parlamento, a propósito da auditoria à CGD “Não há mercado único à la carte”. Jean-Claude Juncker em Bruxelas “Vá-se embora, homem”. David Cameron para Jeremy Corbyn, em Westminster
“É um caso político, eles não querem saber da lei”. Luaty Beirão em entrevista à SIC
“O melhor é entrarmos logo acordadinhos”. Fernando Santos na conferência de imprensa de ontem O QUE ANDO A LER
A propósito de mais um relançamento em português de “Watchmen”
(Levoir), não resisti a voltar a pegar na banda desenhada que, tenho
para mim, é das mais importantes entre todas as que foram publicadas no
último quartel do século passado.
Para o caso, nem tanto importa que a obra magna de Alan Moore
tenha conhecido uma primeira edição ainda em 1986. Afinal, o que estava
ali em causa era reverter toda a imagem infantilóide que, consciente ou
inconscientemente, ela havia conquistado. E não me refiro apenas à
famosa linha clara franco-belga.
A par de “O Regresso do Cavaleiro das Trevas”, de Frank Miller, e de “Killing Joke”, também com argumento de Alan Moore, “Watchmen” foi capaz de elevar o universo dos comics a um patamar inédito e, diria, único.
Não vale a pena tirar as medidas através do filme entretanto produzido. O portento de Alan Moore e Dave Gibbons
só ganha a devida densidade em papel. Por várias razões e mais esta.
Nunca se fez a auto-crítica (e aqui não me refiro ao batmobile) dos
super-heróis como neste longo ensaio sobre anjos. Por vezes, caídos.
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